Chamado deLe Grand Français, Ferdinand de Lesseps foi o promotor dos dois projetos de canais mais ambiciosos da sua época - o canal de Suez e o canal do Panamá. Esse último projeto fez osacionistas perderem tanto dinheiro que Lesseps foi condenado a cinco anos de prisão, que ele não cumpriu em razão de seu precário estado de saúde, apesar de o primeiro ter sido concluído em 1869 e ter recebido muita honra e mérito pelo seu feito.[2][3]
Com efeito, este personagem é um dos muitos visionários daquela época, defendendo a intercomunicação entre os povos, através da abertura de estradas e canais. Este seu raciocínio reduziria as distâncias e aproximaram todas as regiões do mundo, aumentando assim, na sua perspetiva, o avanço industrial.
Ferdinand sempre tivera uma família rica e abastada, que também tinha uma história bastante rica. Seu pai era o famosíssimo Mathieu de Lesseps, diplomata, e a sua mãe Catherine de Grivegnée. A ascendência do seu pai, Mathieu, datava doséc. XIV. NaEscócia, os Lesseps haviam-se estabelecido, originalmente, noPaís Basco Francês (especialmente na cidade deBaiona ou Bayonne, em francês), quando a região foi ocupada pelos britânicos.
Mehmet Ali
Um dos seus bisavôs era o presidente da câmara da cidade e ao mesmo tempo secretário deMaria Ana de Neuburgo, a esposa viúva do reiCarlos II da Espanha. Noséculo XVIII, alguns membros da família do seu pai decidiram seguir acarreira diplomática. No final do século, o tio de Ferdinand, Barthélemy de Lesseps, participou na expedição deJean-François de La Pérouse através doOceano Pacífico quando, no segundo ano da viagem, foi enviado como mensageiro para a França, pretendendo informar o reiLuís XV da viagem; isto antes do desaparecimento da tripulação em 1788. Barthélemy foi, posteriormente, convertido a nobre pelo reiLuís XVI.
No que diz respeito ao seu pai, pode-se dizer que foi um diplomata que serviu comocônsul em vários países, nomeadamenteEspanha,Marrocos eLíbia. Entre 1803 e 1804,Napoleão Bonaparte concedeu-lhe o título deConde e nomeou-lhe Comissário-Geral do Egito, altura em que apoiava opaxáMehmet Alí, que viria a se tornar o fundador do estado moderno egípcio. Alí apoiou diversas vezes a França quando se tornou o governante hereditário do Egito. Esta ligação especial entre os dois países foi que selou o destino de Ferdinand no Egito meio século depois.
Quanto à mãe, Catherine, conta-se que tinha origemflamenga, mas que fora adotada porespanhóis. Assim sendo, era normal que tivesse ligações à nobreza espanhola, tornando-se tia deMaria Manuela Kirkpatrick, Condessa de Montijo. Ferdinand veio a reunir-se em Madrid com a filha da condessa,Eugénia de Montijo, sua sobrinha, que se tornariaimperatriz-consorte do reiNapoleão III.
Muito pouco se sabe sobre a sua infância. Sabe-se que, durante alguns anos, viveu naItália, quando o seu pai se encontrava lá comocônsul. Posteriormente estudou na Universidade Henri IV emParis. Quando tinha entre 18 e 20 anos, Ferdinand se alistou noexército francês.
Em 1825, aos 20 anos e a pedido do seu tio Barthélemy, começou a suacarreira diplomática comoEncarregado de Negócios (em francêsChargé d`affaires). Tornou-se adjunto da embaixada e, juntamente com o tio,cônsul emLisboa por dois anos. Pouco tempo depois, em 1828, tornou-se encarregado de negócios de seu pai naTunísia, como vice-cônsul.[1]
Em 1832 foi enviado para oEgito e nomeado vice-cônsul da França emAlexandria; já na época o Egito se havia tornado um país modernizado graças a Alí, com a construção de importantes obras realizadas pelos europeus, em especial os franceses que tinham uma posição dominante. Nesta cidade, ele estudou a proposta de umCanal do Suez. "E se pudéssemos ligar oMar Mediterrâneo e oMar Vermelho, facilitando o transporte marítimo global?", pensou. Em 1835, ele foi promovido acônsul emAlexandria. Esta posição foi muito importante para ele, porque, em 1835,Mehmet Alí confiou o seu filho mais novo, Muhammad Sa`id Pasha, à educação de Ferdinand, surgindo uma amizade duradoura que lhe levaria a forjar o seu destino com Mehmet no Egito.[1]
Encerradas as suas funções consulares no Egito, decide casar-se com Agathe Delamalle nesse mesmo ano, levando-o a ser pai de cinco filhos. Delamalle era filha de umprocurador da república no Tribunal deAngers e faleceu em 1853.
Lesseps continuou o seu trabalho diplomático por várias cidades europeias: em 1839 eracônsul emRoterdão, em 1841 emMálaga, de 1842 a 1848 emBarcelona, de 1848 a 1849, emMadrid, etc.[1]
Em 1849, ele pretendeu participar como negociador da França emRoma nasRevoluções de 1848, desde que a França mantivesse influências políticas e territoriais em estados diferentes e instruísse o seu exército contra a recém-criada República Romana. No entanto, foi usado comobode expiatório pelo governo francês para justificar o seu fracasso naItália. Isto levou ao fim da sua carreira comodiplomata.[1]