Eurasianismo (emrusso:евразийство;yevraziystvo) é ummovimento político naRússia, anteriormente dentro da comunidade deemigrantes russos "brancos", que postula que a civilização russa não pertence às categorias "europeia" ou "asiática", mas sim ao conceito geopolítico daEurásia. Originalmente desenvolvido na década de 1920, o movimento apoiou em parte arevolução bolchevique, mas não seus objetivos declarados de instituir ocomunismo, vendo aUnião Soviética como um trampolim no caminho para a criação de uma nova identidade nacional que refletisse o caráter único da posiçãogeopolítica da Rússia. O movimento viu um pequeno ressurgimento após adissolução da União Soviética no final do século XX, e é espelhado peloturanismo dospovos turcos e dasetnias delínguas urálicas.
OCongresso de Viena (Maio de1814 - Junho de1815)provocou a restauração doAntigo Regime naEuropa após as mudanças promovidas pelaRevolução Francesa, pelasGuerras Napoleônicas e, peloPrimeiro Império Francês. Durante o congresso,Alexandre I da Rússia pretendeu transformar aEuropa continental numafederação deestados sob liderança russa e conseguir maior liberdade nos mares mas, enfrentou forte oposição daInglaterra, que via nisto uma ameaça para sua supremacia naval.[1]
O eurasianismo é um movimento político que tem suas origens na comunidade deimigrantes russos na década de 1920. O movimento postulou que a civilização russa não pertence à categoria "europeia" (de certa forma tomando emprestado das ideiaseslavófilas deKonstantin Leontiev), e que aRevolução de Outubro dosbolcheviques foi uma reação necessária à rápida modernização da sociedade russa. Os eurasianistas acreditavam que o regime soviético era capaz de evoluir para um novo governocristão ortodoxo nacional, não europeu, lançando a máscara inicial dointernacionalismoproletário e doateísmo militante (ao qual os eurasianistas opunham-se fortemente).
Os eurasianistas criticaram as atividadesanticomunistas de organizações como aUnião Militar Russa, acreditando que as energias da comunidade emigrada estariam melhor focadas em se preparar para esse esperado processo de evolução. Por sua vez, seus oponentes entre os emigrados argumentaram que os eurasianistas estavam pedindo um compromisso e até apoio ao regime soviético, enquanto justificavam suas políticas implacáveis (como aperseguição daIgreja Ortodoxa Russa) como meros "problemas transitórios" que eram resultados inevitáveis do processo revolucionário.
Os principais líderes dos eurasianistas eram opríncipeNikolai Trubetzkoy, P.N. Savitsky, P.P. Suvchinskiy, D.S. Mirsky, Konstantin Chkheidze, P. Arapov e S. Efron. O filósofo Georges Florovsky foi inicialmente um defensor, mas desistiu da organização afirmando que "levanta as questões certas", mas "apresenta as respostas erradas". Uma influência significativa da doutrina dos eurasianistas pode ser encontrada noensaio deNikolai Berdiaev "As fontes e o significado do comunismo russo".[2]
Várias organizações semelhantes, em espírito, aos eurasianistas surgiram na comunidade de emigrantes no mesmo período, como o Smenovekhovtsy e omonarquista Mladorossi.
Vários membros dos eurasianistas foram afetados pela operação provocadora soviéticaТрест (Operação Trust), que montou uma falsa reunião na Rússia que contou com a presença do líder P.N. Savitsky em 1926 (uma série anterior de viagens também foi feita dois anos antes pelo membro P. Arapov). A descoberta do Трест como uma provocação soviética causou um sério golpe de moral do grupo e desacreditou sua imagem pública. Em 1929, os eurasianistas deixaram de publicar seus periódicos e desapareceram rapidamente da comunidade de emigrados russos.
A ideologia do movimento foi parcialmente incorporada a um novo movimento com o mesmo nome após adissolução da União Soviética em 1991, quando oPartido Eurásia (emrusso: Партия "Евразия";Partiya "Yevraziya") foi fundado porAleksandr Dugin que, também formulou a base ideológica do eurasianismo, aquarta teoria política.
O Partido Eurásia foi fundado por Dugin nas vésperas da visita do então presidente dosEUA,George W. Bush, à Rússia em maio de 2002. Em 21 de junho do mesmo ano, o partido foi registrado pelo Ministério da Justiça da Federação Russa. Críticos o consideramneofascista,[3] rótulo que Dugin rejeita.[4]
Muitas vezes vistas como uma forma denacional-bolchevismo, as teorias eurasianas que compõem a ideologia do partido se sustentam em ideias como a de queMoscou,Berlim eParis formam um eixo geopolítico natural. Dugin e o Partido Eurásia preveem um eterno conflito mundial entre os EUA e a Rússia. Segundo ele: "Em princípio, aEurásia e nosso espaço, o coração (Rússia), continuam sendo o palco de uma nova revolução antiburguesa eantiamericana". De acordo com seu livro de 1997,The Basics of Geopolitics: "O novo império eurasiano será construído sobre o princípio fundamental do inimigo comum: a rejeição doatlantismo, o controle estratégico dos EUA e a recusa em permitir que os valoresliberais nos dominem. Este impulso civilizacional comum será a base de uma união política e estratégica".[5][6]
O partido espera desempenhar um papel fundamental nas tentativas de resolver oproblema checheno, com o objetivo de preparar o terreno para o sonho de Dugin de uma aliança estratégica russa comestados europeus e doOriente Médio, principalmente oIrã.
Em 1992 o geopolítico e politólogo espanholJorge Verstrynge publicou "El sueño eurosiberiano. Ensayo sobre el futuro de Europa".
O neoeurasianismo ou neo-eurasianismo (em russo: неоевразийство) é uma escola russa de pensamento, popularizada naRússia durante os anos que antecederam e seguiram ao colapso daUnião Soviética, que considera a Rússia culturalmente mais próxima daÁsia do que daEuropa Ocidental.
A escola de pensamento se inspira nos eurasianistas da década de 1920, notadamente o príncipeNikolai Trubetzkoy, enquanto P.N. Savitsky.Lev Gumilev é frequentemente citado como o fundador do movimento neo-eurasianista, e ele foi citado como tendo dito que "eu sou o último dos eurasianistas".[7]
Ao mesmo tempo, grandes diferenças foram notadas entre o trabalho de Gumilev e os dos eurasianistas originais.[7] O trabalho de Gumilev é controverso por sua metodologia científica (o uso de sua própria concepção deetnogênese e a noção de "passionariedade" das etnoses). De qualquer forma, o trabalho de Gumilev tem sido uma fonte de inspiração para os autores neo-eurasianistas, o mais prolífico dos quais éAlexander Dugin.
A contribuição de Gumilev para o neo-eurasianismo está nas conclusões a partir da aplicação de sua teoria da etnogênese: que a ocupação mongol de 1240-1480 dC (conhecida como "jugo mongol") protegeu as etnias russas emergentes do vizinho agressivo doOcidente, permitindo-lhe ganhar tempo para atingir a maturidade. A ideia do eurasianismo contrasta com obizantinismo deKonstantin Leontiev, que é semelhante em sua rejeição ao Ocidente, mas se identifica com oImpério Bizantino, e não com a cultura tribal daÁsia Central.
A versão de eurasianismo de Dugin é uma combinação de quatro pontos docomunismo, donazismo, doecologismo e dotradicionalismo. Enquanto a oposição do comunismo àliberdade econômica foi adotada, o compromisso marxista com o progresso tecnológico foi abandonado para atrair osludistas e outros ambientalistas antitecnologia que se opunham aoindustrialismo e àmodernidade. O tradicionalismo foi derivado para suprimir opensamento livre. A maior parte vem do nazismo.[8][9]
O conceito político-cultural adotado por alguns naRússia é às vezes chamado de "Rússia Maior" (não confundir comGrande Rússia) e é descrito como uma aspiração política denacionalistas pan-russos eirredentistas para retomar alguns ou todos os territórios dasex-repúblicas soviéticas e território de o antigoImpério Russo e as amalgamar em um único estado russo.Alexander Rutskoi, vice-presidente da Rússia de1991 a1993, afirmou queNarva (Estônia),Crimeia (Ucrânia) eÖskemen (Cazaquistão), entre outros territórios, declaram-seirredentistas.[10]
Antes do inícioda guerra entre a Rússia eGeórgia em2008,Aleksandr Dugin visitou aOssétia do Sul e previu: "Nossas tropas ocuparão a capital georgianaTbilisi, o país inteiro, e talvez até a Ucrânia e a Península da Crimeia, que historicamente faz parte da Rússia."[11] O presidente da Ossétia,Eduard Kokoity, é eurasianista e argumenta que a Ossétia do Sul nunca deixou o Império Russo e deveria fazer parte da Rússia.[12]
O partido e movimento deextrema-direitahúngaro,Jobbik, defende uma forma de nacionalismo húngaro que promove o parentesco com outros povos "turanianos", incluindo ospovos turcos daÁsia.[13]
Oativista políticoSilviu Brucan esteve envolvido em moldar o eurasianismo como um conceito geopolítico, com artigos focados na política russa que foram publicados numa revista mensal chamada Sfera Politicii.[14]
Desde o final dadécada de 1990, o eurasianismo ganhou alguns seguidores naTurquia entre os círculos nacionalistasUlusalcılık. A figura mais proeminente associada aAleksandr Dugin éDoğu Perinçek, líder do Partido dos Trabalhadores.[15] Alguns analistas da moderna política turca sugeriram que as elites ultranacionalistas e seculares, as quais também são afiliados membros das forças armadas turcas, que foram escrutinadas com o caso do golpe Ergenekon, têm fortes laços ideológicos e políticos com os eurasianistas.[16]
No futuro representado noromance deGeorge Orwell,1984, aUnião Soviética sofreu uma mutação para a Eurásia, um dos três superestados que dominam o mundo.
Da mesma forma, a história deRobert A. Heinlein,Solution Unsatisfactory, descreve um futuro em que a União Soviética seria transformada em "A União Eurasiana".