Eugenia (dogrego antigo:eû e-γενής) é, emepistemologia, um conjunto de ideias que almeja a melhoria genética dos seres humanos. O termo foi originalmente cunhadoFrancis Galton (1822-1911) em 1883, significando "bem nascido".[1] Galton definiu eugenia como"o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente".[2] Em uma perspectiva a eugenia seria então, em resumo, a tentativa de controle da genética da sociedade, podendo ela ser individual ou grupal. O tema é bastante controverso, particularmente após o surgimento daeugenia nazista, que veio a ser parte fundamental da ideologia de"pureza racial", a qual culminou noHolocausto. Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético usadas atualmente em plantas e animais, ainda existem questionamentos éticos quanto a seu uso com seres humanos, chegando até o ponto de alguns cientistas declararem que é de fato impossível mudar a natureza humana.
O termo "eugenia" é anterior ao termo "genética", pois este último só foi cunhado em 1908, pelo cientistaWilliam Bateson. Numa carta dirigida aAdam Sedgewick, datada de18 de Abril de1908, Bateson usou pela primeira vez o termo genética para descrever o estudo da variação ehereditariedade.[3]
Desde seu surgimento até os dias atuais, diversoshistoriadores,[4]filósofos esociólogos declaram que existem diversos problemas éticos sérios na eugenia, como adiscriminação de pessoas por categorias, pois ela acaba por rotular as pessoas como aptas ou não aptas para areprodução.
SirFrancis Galton iniciou o desenvolvimento de ideias sobre eugenia a partir de estatísticas sociais.
Ao longo da história, vários grupos humanos diferentes mantiveram práticas eugênicas. Gregos, celtas e diversos grupos de indígenas sul-americanos eliminavam crianças nascidas com defeitos físicos.[5][6] Já naGrécia antiga,Platão descrevia, emA República, asociedade humana se aperfeiçoando por processos seletivos (sem falar que emEsparta já se praticava a eugenia frente aos recém-nascidos, já que não existiampré-natais,abortivos eficientes,eutanásia e afins), já conhecidos na época. Modernamente, uma das primeiras descrições sobre a eugenia foram feitas pelo cientista inglêsFrancis Galton.
Foi também Galton quem lançou as bases dagenética humana e cunhou o termoeugenia para designar a melhoria de uma determinadaespécie através da seleção artificial, em sua obraInquiries into Human Faculty and Its Development (Pesquisas sobre as Faculdades Humanas e seu Desenvolvimento), de1883. Esta obra foi largamente elogiada em matéria da revista britânica "Nature", em1870.
Ao escrever seulivroHereditary Genius ("O gênio hereditário") em1869, Galton observou, compilou dados e sistematizou ainteligência em vários membros de várias famílias inglesas durante sucessivas gerações. Sua conclusão foi de que a inteligência acima da média nos indivíduos de uma determinada família se transmitehereditariamente. Bulmer argumenta que Galton estava tão tendencioso na explicação pela hereditariedade que nem sequer tomou o cuidado de analisar os meios neurossociais de forma imparcial, isenta e proporcional.[7]
Por acreditar que a condição inata, e não oambiente, determinava a inteligência, Galton propôs uma "eugenia positiva"[8] através de casamentos seletivos.
Na época, a população inglesa crescia nas classes pobres e diminuía nas classes mais ricas ecultas, e se temia uma "degeneração biológica". Portanto, a eugenia logo se transformou num movimento que angariou inúmeros adeptos entre a esmagadora maioria doscientistas e principalmente entre a população em geral na sua época áurea (1870-1933).
Em 1942, osEstados Unidos estavam em guerra contra aAlemanha e suas ideologias,desenhos animados — e outros recursos decomunicação de massa — eram usados como propaganda contra o regime totalitário.[9] Nesse contexto, eugenia enazismo são equiparados. Mas, somente após os horrores doholocausto, o termo eugenia caiu completamente em desuso. Suas ideias, no entanto, sobrevivem, pois seus métodos estatísticos foram incorporados na teoria Darwiniana nosanos 1930 e sintetizados com a genéticamendeliana.[7]
Contrariamente a uma crença popular, a eugenia é inglesa (e não alemã) em invenção e estadunidense (e não alemã) em pioneirismo legislativo.
O único consenso é que a eugenia foi praticada com alemães que possuíamdeficiências físicas ou mentais, através do extermínio e daesterilização. Entretanto, existem distinções entre as formas de eugenia, comoeugenia positiva eeugenia negativa.[10][11] A eugenia positiva incentiva pessoas saudáveis a terem mais filhos, enquanto que a eugenia negativa impede que pessoas com certas limitações se reproduzam. A eugenia positiva foi praticada também no TerceiroReich, com a criação de centros dereprodução humana do programaLebensborn.
Desde tempos pré-coloniais, diversos grupos indígenas eliminam crianças nascidas com defeitos físicos.[6] Em tempos modernos o Brasil foi o primeiro país daAmérica do Sul a ter um movimento eugênico organizado. ASociedade Eugênica de São Paulo foi criada em1918.[13] Omovimento eugênico brasileiro foi bastante heterogêneo, trabalhando com asaúde pública e com a saúdepsiquiátrica. Uma parte, que pode ser chamada de ingênua ou menos radical, do movimento eugenista se dedicou a áreas comosaneamento ehigiene, sendo esses esforços sempre aplicados em relação ao movimento racial.
Em 1931, foi criada a Comissão Central Brasileira de Eugenia (CCBE), presidida porRenato Ferraz Kehl, reunindo personalidades de destaque no debate das questões eugênicas no país, como Ernani Lopes, Presidente da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), Salvador de Toledo Piza Jr. e Octavio Domingues, renomados cientistas da ESALQ, Belisário Penna, Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), Gustavo Lessa, Assistente do DNSP, além de Eunice P. Kehl, esposa de Renato Kehl, ocupando a função de secretária da nova entidade, entre outros nomes.[14]
Propunha o fim daimigração de não brancos, e "prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração". Medidas que visavam a impedir amiscigenação,[15]higienismo e eugenismo se confundem, no Brasil.[16]
A Revista Brasileira de Enfermagem passa por três fases em relação à eugenia; conceituação (1931-1951), conflitos éticos, legais e morais (1954-1976) e eugenia como tema do começo doséculo XX (1993-2002). Expressa três categorias de conceitos:
2 - responsabilidade doenfermeiro em relação ao tema
3 - não há solução para os males sociais fora das leis dabiologia.[17]
A ciência deGalton, no início doséculo XX, teve muitos adeptos no Brasil, principalmente nos meios letrados. E entre os intelectuais eugenistas brasileiros que mais se empenharam na organização e divulgação do movimento destacam-seBelisário Penna (1868-1939),Edgar Roquette-Pinto (1884-1954),Monteiro Lobato (1882-1948),Juliano Moreira (1872-1933)[18][19],Oliveira Viana (1883-1951) e os três diretores doBoletim de Eugenia (1929-1933): Octávio Domingues (1897-1972)[20][21], Salvador de Toledo Piza Júnior (1898-1988)[22][23] eRenato Kehl (1889-1974)[24][25][26].
Dentre as fontes primárias para o estudo da eugenia no Brasil, destacam-se os conjuntos documentais: "Annaes de Eugenia" (1919), livro organizado por Renato Kehl reunindo as atividades e conferências da Sociedade Eugênica de São Paulo; o "Boletim de Eugenia" (1929-1933), periódico criado por Kehl como instrumento de propaganda eugênica; e as "Actas e Trabalhos do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia" (1929), presidido por Edgard Roquette-Pinto e secretariado por Renato Kehl, realizado em ocasião do centenário da Academia Nacional de Medicina (ANM).[27]
Nos Estados Unidos, surgiu a "eugenia negativa" — aliança entre as teorias eugênicas europeias e oracismo já existente naquele país —, que consiste na eliminação das futuras gerações de incapazes (doentes, de raças indesejadas e empobrecidos) através da proibição decasamento,esterilização coercitiva eeutanásia. Como teoria, vicejou no final doséculo XIX, quando osimigrantes nãogermânicos eram mal-vistos pelos descendentes dos primeiros colonizadores.
Nadécada de 1920,negros americanos criaram o termo "White trash" (pt. literalmente "lixo branco"), referindo-se aos brancos pobres que disputavam com eles os mesmos postos de trabalho.[28] Nos séculos XIX e XX, a população branca pobre do país foi alvo de práticas de eugenia negativa por ser considerada, pela elite, como ociosa, imoral, inculta e "suja".[29] Campanhas desaúde pública acusavam oswhite trash de responsáveis pela disseminação de doenças (como aancilostomose).[29] A esterilização foi extensivamente praticada em milhares destas pessoas, que também eram "diagnosticadas" como portadoras de "debilidade mental".[29]
Charles Davenport dirigia olaboratório debiologia doBrooklin Institute of Arts and Science, em Cold Spring Harbor, em1903, e, lá, o Instituto Carnegie instalou uma estação experimental de eugenia. Apoiado por criadores de animais e especialistas emsementes que participavam domovimento eugenista, criou, em1909, oEugenics Record Office, registro de antecedentes genéticos de americanos com que pretendia pressionar o governo a criar leis propícias à prevenção do nascimento de indesejáveis. O estado deIndiana foi o primeiro a legalizar a esterilização coercitiva, seguido por outros 27 estados. Foram esterilizadas por determinação legal, nos Estados Unidos, cerca de 60 000 pessoas, metade delas naCalifórnia.
O escritório deimigração deNova York era mantido por doações da companhia Harriman de trens, além de empresários como Carnegie (detentor de indústria de aço), Rockefeller (da indústria de petróleo), Draper (da indústria têxtil): em decorrência disto haviamdeportações,confinamento ou esterilização de diversos grupos considerados inadequados para procriação.[30]
Em1912, foi criado o Comitê Internacional de Eugenia, dominado pelos Estados Unidos, e o centro em Cold Spring Harbor era base de treinamento de eugenistas do mundo todo.
Começando nadécada de 1980, a história e conceito de eugenismo foram amplamente discutidos como avançados conhecimentos sobregenética. Empreendimentos como oProjeto Genoma Humano fizeram com que a alteração efetiva daespécie humana parecesse possível novamente (como ocorreu com ateoria da evolução deDarwin em1860, juntamente com a redescoberta deleis de Mendel no início doséculo XX). A diferença no início doséculo XXI foi a atitude cautelosa da sociedade em relação ao eugenismo, que tinha se tornado umtema a ser temido e não apoiado, principalmente depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Companhias de seguro, planos de saúde e centros de imigração estão usando descobertas científicas para detectar características genéticas. Diagnóstico pré-natal de possíveis defeitos permite a opção peloaborto. Estima-se que entre 91% e 93% das crianças diagnosticadas comSíndrome de Down sejam abortadas.[32] Estes temas, bem como aAIDS, têm sido discutidos com base em pressupostos eugênicos, sem que se explicite essa referência.
Pesquisadores científicos, como ospsicólogosRichard Lynn eRaymond Cattell e ocientistaGregory Stock, apoiam abertamente políticas eugênicas utilizando atecnologia moderna, mas eles representam uma opinião minoritária nos atuais círculos científicos e culturais.[33] Uma tentativa de implementação de uma forma de eugenismo era um "banco de esperma degênios" (1980–99), criado porRobert Klark Graham, a partir do qual quase 230 crianças foram concebidas (os doadores conhecidos eram ganhadores doPrêmio Nobel comoWilliam Shockley eJ.D. Watson). NosEstados Unidos eEuropa, no entanto, estas tentativas frequentemente têm sido criticadas como formas racistas de eugenismo, como as que ocorriam nadécada de 1930. Devido à sua associação comesterilização obrigatória e os ideais raciais dopartido nazista, a palavra "eugenismo" é raramente usada pelos defensores desses programas.
Eugenicistas argumentam que aimigração proveniente de países com baixoQuociente de inteligência (QI) é indesejável. De acordo com Raymond Cattell, "quando umpaís abre suas portas à imigração de diversos países, é como umagricultor que adquire suas sementes de diferentes fontes, com sacos com conteúdo de diferentes qualidades".[34]
Recentemente, Zhao Bowen iniciou uma desafiadora e potencialmente controversa missão: descobrir agenética dainteligência. Os seus estudos mostram que, pelo menos, metade da variação do QI (quociente de inteligência), é herdada.[35]
Na unidade deHong Kong, mais de 100 máquinas poderosas degene-sequenciação foram utilizadas para decifrar cerca de 2 200 amostras deDNA, a leitura fora de seus 3,2 bilhões de pares de bases químicas: uma letra de cada vez. Estas amostras de DNA colhidas foram específicas. A maioria vem de algumas das mais brilhantes pessoas dos extremos daAmérica nos sorteios de inteligência.
"As pessoas têm optado por ignorar a genética da inteligência por um longo tempo", disse Zhao, que espera publicar resultados iniciais de sua equipe neste verão. "As pessoas acreditam que é um tema controverso, especialmente noOcidente. Isso não é o caso da China, onde os estudos de QI são considerados mais como um desafio científico e, portanto, são mais fáceis de financiar."
Os pesquisadores de Hong Kong esperam quebrar o problema comparando osgenomas de indivíduos-super-QI alto com os genomas de pessoas retiradas da população em geral. Ao estudar a variação nos dois grupos, eles esperam isolar alguns dos fatores hereditários atrás QI. Segundo oThe Wall Street Journal[35] suas conclusões podem lançar as bases para um teste genético para prever a capacidade cognitiva herdada de uma pessoa. Tal instrumento poderia ser útil, mas também pode ser divisivo. "Se você pode identificar as crianças que vão ter problemas de aprendizagem, você pode intervir no início de suas vidas, através daescolaridade especial ou outros programas", diz Robert Plomin, professor de genética comportamental doKing's College de Londres, que está envolvido no projeto BGI.
Adisgenia é adegeneração genética nas populações humanas modernas, ela surge com amedicina moderna, quando diversasdoenças sérias de caráter genético começaram a ser tratadas, e as vítimas de tais doenças começaram a ter uma expectativa de vida maior, possibilitando a transmissão de certas doenças para as futuras gerações, o que tem contribuído no acúmulo de doenças a cada geração. Tal fato tem sido amplamente discutido entre os eugenistas modernos, e recentemente foi publicado um livro do cientista inglêsRichard Lynn tratando do assunto.
Observando-se do ponto de vistaético, tem-se discutido até que ponto oEstado tem o poder de interferir nas questões reprodutivas dos cidadãos. A comunidade científica sabe que ahereditariedade tem papel importante, porém nunca exclusivo sobre ainteligência de um determinado indivíduo, ou grupos de indivíduos, pois o fator inteligência não é determinado apenas por uma sequência genética, mas também é influenciado pelo ambiente do indivíduo. Logicamente não podemos afirmar que uma pessoa é menos inteligente do que outra apenas por ela não saber ler.
Apesar de o assunto eugenia sempre pôr à tona o aspecto cruel da manipulação genética, seria esta talvez uma forma de eliminarmos de vez doenças há muito conhecidas e sem cura por seremdoenças genéticas. Doenças bacterianas podem ser tratadas comantibióticos, por exemplo, mas uma doença genética não tem cura, e a única solução para essa doença seria necessariamente a eliminação de seusgenes causadores. São conhecidos mecanismosfisiológicos de transmissão e expressão de caracteres hereditários. Também são conhecidos métodos que possibilitam inibir o nascimento de indivíduos com defeitos físicos ou enfermidades. De acordo com a seleção natural, indivíduos com doenças congênitas seriam naturalmente incapazes de procriar, no entanto, isso nem sempre ocorre, pois, ainda que as anomalias congênitas constituam uma importante fonte de morbidade crônica, comprometimento intelectual e outras disfunções, elas nem sempre causam esterilidade de modo que alguns teóricos sugerem que a adoção de políticas eugênicas seriam a solução para refrear o nascimento de pessoas com características indesejáveis.
Em vários países, o movimento eugênico inspirou a promulgação de leis que determinavam aesterilização compulsória de portadores de certas doenças hereditárias graves. Como lei, a eugenia nasceu nosEstados Unidos, em1907.
"Idiocracy" ("Idiocracia") — um filme dehumor negro de2006 dirigido porMike Judge — descreve um futuro totalmente oposto ao deGattaca. Os dois principais personagens se inscreveram para um experimento militar dehibernação que dá errado, e eles despertam 500 anos no futuro. Descobrem, então, que o mundo se encontra numadistopia ondemarketing,consumismo eanti-intelectualismocultural funcionam desenfreadamente. Galton e muitos outros alegaram que os menos inteligentes eram maisférteis do que os mais inteligentes. Esta é a base do filmeIdiocracy, que narra um processo de disgenia ao longo de 5 séculos: desse processo, resulta uma sociedadehumanaparva.
↑abBulmer, M. (2003).Francis Galton: Pioneer of Heredity and Biometry (em inglês). Baltimore: The Johns Hopkins University Press. p. 357.ISBN0801874033
↑BONFIM, P. R. (2013). «A Educação no Movimento Eugênico Brasileiro (1917-1933)». Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade São Francisco (USF)Em falta ou vazio|url= (ajuda);|acessodata= requer|url= (ajuda)
↑(em inglês)The Society Pages -White Trash: The Social Origins of a Stigmatype. Página visitada em 6 de Outubro de 2013.
↑abc(em inglês)Not Quite White: White Trash and the Boundaries of Whiteness. Matt Wray, Duke University Press,2006.ISBN 9780822338734 (06/10/2013).