Nota: Para o conceito de defesa da autoridade e poder do Estado em geral, em oposição ao libertarianismo, vejaEstatismo.
Estadista ouhomem de Estado, na definição deHouaiss, é pessoa versada nos princípios ou na arte de governar,ativamente envolvida em conduzir os negócios de umgoverno e em moldar a suapolítica; ou aindapessoa que exerceliderança política com sabedoria e sem limitaçõespartidárias.
ParaAristóteles, o que o estadista mais quer produzir é um certo carátermoral nos seusconcidadãos, particularmente uma disposição para avirtude e a prática de ações virtuosas.
EmTomás de Aquino, as virtudes e os valores cristãos são inseparáveis da prática política, dobuon governo e da figura dorex justus. Acosmovisão do governante inclui felicidade em Deus, homens bons e virtuosos, abnegaçãocristã (diversa da abnegaçãorepublicana), amizade honesta, unidade, paz e comunhão social. O governante pio e virtuoso inspira súditos igualmente pios e virtuosos, pelos quais é amado. A natureza é tomada como modelo para o governo dos homens e o governante tem o papel ordenador análogo ao de Deus.[1]
Já emMaquiavel, a condução do Estado é considerada uma arte, e o estadista, um autêntico artista. Para Maquiavel, assim como paraQuentin Skinner eMerleau-Ponty, o estadista é adaptável às circunstâncias, harmonizando o próprio comportamento à exigência dos tempos. Suavirtù é a flexibilidade moral, adisposição de fazer o que for necessário para alcançar e perenizar a glória cívica e a grandeza - quer haja boas ou más ações envolvidas - contagiando os cidadãos com essa mesma disposição. O estadista é visto como simulador e manipulador da opinião pública ("a ação acusa mas o resultado escusa"), em umasociedade acrítica e influenciável pelas aparências, constituída de indivíduos interessados exclusivamente em seu próprio bem estar. Mas a corrupção é vista como perda davirtù pelo conjunto dos cidadãos.
No ensaioMirabeau o el político,Ortega y Gasset[2] classifica os governantes em estadistas, escrupulosos e pusilânimes. O homem de Estado deve ter o que chama de "virtudes magnânimas" e não as "pusilânimes".Honoré Gabriel Riqueti de Mirabeau é tomado comoarquétipo do político, porém Ortega alerta que um arquétipo (aquilo que é) não se confunde com um ideal (aquilo que deve ser). Isto porque a confusão entre arquétipo e ideal levaria a pensar que o político, além de bom estadista, deva ser virtuoso, o que, segundo o autor, seria um equívoco. Tampouco, segundo Ortega, dever-se-ia confundir um político e um intelectual. Um político éaquele que se ocupa; intelectualaquele que se preocupa. Ou se vem ao mundo para fazer política ou para elaborar definições, mas não ambas as coisas, pois a política é clara no que faz, no que consegue, mas é contraditória na sua definição.
Normalmente ocorre de o estadista ser incompreendido pois preocupa-se com o longo prazo e toma decisões impopulares a curto prazo, enquanto a maioria dos políticos preocupa-se com resultados imediatos de suas ações. Assim se diz que:
O estadista se preocupa com a próxima geração e opolítico com a próximaeleição.
Já, um biógrafo deAlexander Hamilton, diz que o estadista pratica a política da colmeia, ao passo que os “políticos” praticam outra política – a política da abelha. No primeiro, tudo se subordina ao interesse coletivo. Nos segundos, tudo se subordina ao interesse individual.
A definição é a ideia clara, estrita, sem contradições; mas os atos que ela inspira são confusos, impossíveis, contraditórios. A política, por outro lado, é clara no que faz, no que realiza, e é contraditória quando é definida.
O indivíduo com uma missão criadora (o magnânimo) é radicalmente diverso do indivíduo sem missão alguma (pusilânime). Virtudes convencionais (honradez, veracidade, escrúpulos) não são típicas do político, que costuma ser propenso a certos vícios - desfaçatez, hipocrisia, venalidade. Portanto, diz Ortega, não se deve medir o grande homem político pela escala das virtudes usuais, pois a grandeza, inevitavelmente, vem acompanhada de suas próprias baixezas.
É possível não desejar a existência de grandes homens e preferir uma Humanidade plana como a palma da mão; mas se você quer grandes homens, não peça virtudes cotidianas.
Mirabeau é venal, mentiroso, cínico, pouco escrupuloso, mas isso não o impede de ser, segundo Ortega, um dos grandes políticos da História - por sua visão política certeira (elemento "que distingue o político do simples... governante"), por sua intuição, pela habilidade em unir interesses contrários e por sua perspectiva política central que é fazer do Estado um instrumento a serviço danação.
Como a maioria dos estadistas do mundo, por viverem a frente de seutempo, muitos estadistas brasileiros foram incompreendidos, como por exemploWashington Luís que quando quis construirrodovias, foi chamado de "General Estrada de Bobagem", mesmo tendo sido um presidentecivil.[5][6]