Número de membros de associações de Esperanto por País:
1-49 membros
50-99 membros
100-499 membros
500-1600 membros
Oesperanto[nota 1] é alíngua planejada mais falada no mundo (Esperantujo, 120 países[2]). Ao contrário da maioria das outras línguas planejadas, o esperanto já saiu dos níveis de projeto (publicação de instruções) e semilíngua (uso em algumas poucas esferas da vida social).[3]
Seu iniciador, omédicoLudwik Lejzer Zamenhof, publicou a versão inicial do idioma em 1887 com a intenção de criar uma língua de mais fácil aprendizagem e que servisse comolíngua franca internacional para toda a população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes).
O esperanto é empregado em viagens, correspondência,intercâmbio cultural, convenções, literatura, ensino de línguas, televisão e transmissões de rádio e na atualidade principalmente na Internet. Alguns sistemas estatais de educação oferecem cursos opcionais de esperanto, e háevidências de que auxilia na aprendizagem dos demais idiomas.
Atualmente é uma língua com uma comunidade de mais de 400.000 - 2.000.000 de falantes de todos os níveis espalhados pelo mundo, segundo estimativas de final de século unidas às mais recentes. Apenas naDuolingo há mais de 400.000 estudantes ativos mensais para a versão em inglês do curso de esperanto[4] e mais de meio milhão nos cursos disponíveis em espanhol, francês e português[5] e estima-se que mais de 210.000 concluíram o curso até 2020.[6] De todos os falantes, cerca de 1.000 sãofalantes nativos de esperanto.[7] Na Polônia, o esperanto está na lista do patrimônio cultural imaterial.[8][9][10] Como idioma, goza de certo reconhecimento internacional, por exemplo, duas resoluções daUnesco (sua revista está em esperanto)[11] ou o apoio de personalidades da vida pública.
Apesar da facilidade gramatical, o esperanto enfrenta dificuldade de ser adotado comolíngua auxiliar universal.[12]
"Esperanto" é formado pela junção doradicalesper (em esperanto, com origem nolatimsperare, "esperar"), dadesinênciaant (própria doparticípio presente) e da desinênciao (dossubstantivos). Significa, portanto, " aquele que espera", "aquele que tem esperança".[13]
Tabela comparando o protoesperanto com o esperanto atual e apresentando uma tradução em português
Ludwik Lejzer Zamenhof vivia emBiałystok na atualPolônia (na épocaImpério Russo). Em Białystok, moravam povos com diversas línguas diferentes que, por esta causa, fazia com que dificultasse a comunicação no cotidiano da população da cidade. Estes motivos motivaram Zamenhof a criar uma língua neutra.[14]
Durante aadolescência, criou a primeira versão dalingwe universala, uma espécie de esperanto arcaico. O seu pai, entretanto, fê-lo prometer deixar de trabalhar no seu idioma para se dedicar aos estudos. Zamenhof então foi paraMoscou estudarmedicina. Em uma de suas visitas à terra natal, descobriu que seu pai queimara todos os manuscritos do seu idioma.[15]
Zamenhof pôs-se então a reescrever tudo, adicionando melhorias e fazendo a língua evoluir.
O primeiro livro sobre o esperanto foi lançado em 26 de julho de 1887, emrusso, contendo as 16 regrasgramaticais, a pronúncia, alguns exercícios e um pequeno vocabulário.[16] Logo depois, mais edições doUnua Libro foram lançadas emalemão,polaco efrancês. O número de falantes cresceu rapidamente nas primeiras décadas, primordialmente noImpério Russo e naEuropa Oriental, depois naEuropa Ocidental, nasAméricas, naChina e noJapão. Muitos desses primeiros falantes vinham de outro idioma planificado:volapük. As primeiras revistas e obras originais em esperanto começaram a ser publicadas.
Todo o movimento esperantista avançava a passos largos e seguros, mas, com o advento das duasguerras mundiais, o movimento teve um recuo: as tropas comandadas porHitler perseguiam e matavam os esperantistas naAlemanha e nos países dominados por esta; as tropas deStalin faziam o mesmo naRússia; a família de Zamenhof foi dizimada; no Japão e na China, a perseguição ao esperanto também ganhou proporções assustadoras.
Após a segunda guerra mundial, o esperanto reergueu-se. Em 1954, aOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura passou a reconhecer formalmente o valor do esperanto para aeducação, aciência e acultura, e, em 1985, a mesma Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura recomendou, aos países-membros, a difusão do esperanto.
Após 1995, com a popularização e disseminação dainternet, o movimento esperantista ganhou uma nova força propulsora. Uma evidência do maior interesse contemporâneo pelo esperanto é o considerável número de artigos naWikipédia em esperanto: mais de 189 000, em dezembro de 2013, com índice de profundidade 18 — número maior que o de muitas línguas étnicas.[17]
Em 2022, aWikipédia em Esperanto contava com 322.216 artigos. Em abril de 2024 já possuía 352.076 artigos.
Como uma língua construída, o esperanto não é relacionado genealogicamente a nenhumalíngua étnica; pode ser descrito como uma língua deléxico predominantementeromânico e de morfologiaaglutinante. Afonologia, agramática, ovocabulário e asemântica são baseados emlínguas indo-europeias ocidentais. Os fonemas são essencialmenteeslavos, assim como muito da semântica, enquanto o vocabulário é derivado primordialmente de línguas românicas, com uma menor contribuição delínguas germânicas e algumas palavras de várias outras línguas (o dicionário etimológico de esperanto "Konciza Etimologia Vortaro", de André Cherpillod, faz referência a 110 línguas).
Apragmática e outros aspectos da língua não descritos especificamente nos documentos originais de Zamenhof foram influenciados pelas línguas nativas dos primeiros falantes, principalmente russo,polonês, alemão efrancês. A relação entregrafemas efonemas ébiunívoca (uma letra para cada som e um som para cada letra) e amorfologia é extremamente regular e fácil de aprender.
Tipologicamente, a ordem sintática padrão do esperanto ésujeito-verbo-objeto e adjetivo-substantivo. Novas palavras podem ser formadas a partir de processos de construção commorfemas já existentes na língua, ou podem ser introduzidas comoneologismos.
O esperanto tem cincovogais e 23consoantes, das quais duas sãosemivogais. Não hátons. A sílaba tônica é sempre a penúltima (paroxítona), a não ser que a palavra tenha apenas uma vogal ou que a vogal final tenha sido omitida (situação em que é tónica a última sílaba; neste caso, é graficamente substituída por umapóstrofo:kastelo =kastel’) - recurso estilístico para apoesia.
A gramática segue poucas regras simples, entre elas as chamadas16 regras do esperanto, sendo porém necessário algum estudo para uma aprendizagem satisfatória.
As palavras são formadas pela junção regular de radicais (prefixos, sufixos e outros), de modo que "novas" palavras criadasad hoc são compreendidas trivialmente através da sua análise morfológica (inconsciente, no caso de falantes fluentes).
As diferentes classes gramaticais são marcadas por desinências próprias: substantivos recebem a desinência-o, adjetivos recebem a desinência-a, advérbios derivados recebem a desinência-e e todos os verbos recebem uma de seis desinências de tempos e modos verbais.
A pluralidade é marcada nos substantivos e adjetivos concordantes pela desinênciaj, e o caso acusativo é marcado pela desinêncian, cuja ausência indica o nominativo. Assim,bela birdo significa "bela ave",belaj birdoj, "belas aves", ebelajn birdojn, como emmi vidas belajn birdojn ("eu vejo belas aves"), "belas aves" complementando diretamente uma ação (nesse caso, sendo vistas).
As seis inflexões são três tempos e três modos verbais. O tempo presente é marcado poras, o futuro poros, e o passado poris; o modo infinitivo é marcado pori, o condicional porus, e o volitivo (imperativo + conjuntivo) poru. Assim:mi vidas, "vejo";mi vidos, "verei";mi vidis, "vi";vidi, "ver";mi vidus, "eu veria";ni vidu, "vejamos". As desinências não variam de acordo com a pessoa.
Além dessas formas, o verbo pode se apresentar na forma de particípio. São os particípios do esperanto:
Desinência do Particípio
Tempo
Ativo
Passivo
Presente
-anta
-ata
Passado
-inta
-ita
Futuro
-onta
-ota
Terminados em -a, os particípios são usados com o verboesti (ser/estar) para a formação de tempos compostos. A desinência -a pode também designar um adjetivo do particípio. Trocando-se o -a por -o, constrói-se um substantivo do particípio, e por -e, um advérbio do particípio.
O vocabulário original do esperanto foi definido emLingvo internacia, publicado por Zamenhof em 1887. Trata-se de uma compilação de 900 radicais, passíveis de expansão para dezenas de milhares de palavras com prefixos, sufixos e composição. Em 1894, Zamenhof publicou o primeiro dicionário de esperanto,Universala Vortaro, com uma maior quantidade de radicais. As próprias regras da língua permitem a introdução de novos radicais de acordo com a necessidade, recomendando apenas que isso seja feito a partir das formas mais internacionais.
Desde então, muitas palavras têm sido "emprestadas", basicamente mas não apenas de línguas da Europa ocidental. Nem todas as novas palavras propostas entram em uso generalizado, mas muitas o fazem, especialmente termos técnicos e científicos. Termos para uso cotidiano, por sua vez, geralmente são feitos a partir de outros radicais — por exemplo,komputilo (computador) a partir dekomputi (computar) com o uso do sufixoil (para indicar ferramentas). Há frequentes debates entre esperantófonos sobre a justificabilidade da introdução de uma palavra em particular e sobre as possibilidades de alcançar o sentido pretendido através da construção de palavras com elementos já existentes.
O esperanto é escrito através de uma versão modificada doalfabeto latino, ao qual foram incluídas seis letras com sinais diacríticos:ĉ,ĝ,ĥ,ĵ,ŝ eŭ. A língua não inclui as letrasq,w,x ey, que podem porém ser encontradas em textos no seio de palavras não assimiladas oriundas de outras línguas.
O alfabeto contém 28 letras:
a b c ĉ d e f g ĝ h ĥ i j ĵ k l m n o p r s ŝ t u ŭ v z
Todas as letras são pronunciadas como seus equivalentes minúsculos noAlfabeto Fonético Internacional, à exceção das seguintes:
Letra
Pronúncia
c
[ʦ]
ĉ
[ʧ]
ĝ
[ʤ]
ĥ
[x]
ĵ
[ʒ]
ŝ
[ʃ]
ŭ
[u̯]
A impossibilidade de se escrever as letras com sinais diacríticos em certos meios fez com que se adotassem convenções substitutivas. Zamenhof, ainda nos primeiros anos da língua, recomendou o uso de "h" após as letras "c", "g", "h", "j" e "s" para formar "ĉ", "ĝ", "ĥ", "ĵ" e "ŝ". Uma convenção semelhante, mas com o "x", usando-o também para o "ŭ" ("cx" = "ĉ", "ux" = "ŭ", etc.), foi criada originalmente para utilização em telegrafia,[19] evitando situações de ambiguidade entre o "h" ortográfico e este "h" substituto de diacrítico; muito usado nas últimas décadas, principalmente em meio eletrônico, com a popularização dainternet.
Em setembro de 2006, a Seção de Pronúncia da Academia de esperanto propôs uma resolução sobre o uso de sistemas diferentes de escrita sob circunstâncias e necessidades especiais: a "substituição [das letras acentuadas por outros signos ou combinação de signos], quando for apenas um meio técnico que não objetive reformas da ortografia do esperanto, e quando ele não causar confusão alguma, não deve ser visto como contrária ao Fundamento".[20] Assim, o uso do esperanto emcódigo Morse,braile,taquigrafia e com a letra x em substituição aos sinais diacríticos é considerado correto por esta Academia, sob circunstâncias específicas.
Muitos esperantófonos tomaram a iniciativa de aprender esperanto pelo chamadolingva problemo (literalmente, problema linguístico). Uma das maiores faces desse problema é o chamadoimperialismo cultural, que encerra, em si, o favorecimento a poucos grupos linguísticos, e a pouca praticidade da estrutura vigente de comunicação entre sujeitos sociais de línguas diferentes. Vários estudiosos têm se debruçado sobre esses aspectos. Izabel Cristina Oliveira Santiago levanta várias ocasiões históricas em que o custo de traduções alcança níveis questionáveis: "Nova Délhi, 1968. A Conferência daOrganização das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento custou mais de 2 milhões dedólares dos Estados Unidos, sendo que mais da metade disso foi gasto com o uso de apenas quatro línguas — tidas como predominantes. [...] só em 1976, por exemplo, em vez de serem investidos na alimentação das multidões de famintos, 700 mil dólares dos Estados Unidos foram gastos para traduzir, em seis línguas, os relatórios sobre a fome mundial."[21] O psicólogo e ex-tradutor dasOrganização das Nações Unidas,Claude Piron (Bélgica, 1931 - 22 de janeiro de 2008), dedicou-se à temática, abordando-a sob um ponto de vista psicológico a partir de vastíssimo material bibliográfico e documental, tratando a insistência no atual modelo de comunicação internacional como umaneurose.[22]
Uma estimativa do número de esperantófonos foi feita por Sidney S. Culbert, um professor de psicologia aposentado daUniversidade de Washington e esperantista de longa data que rastreou e avaliou esperantófonos em áreas de amostragem em dezenas de países por mais de vinte anos. Culbert concluiu que entre um e dois milhões de pessoas falam esperanto nonível 3 da escala ILR (competência linguística para trabalho profissional).[24] A estimativa de Culbert não foi feita apenas para o esperanto; incluía-se numa listagem de estimativas para todas as línguas com mais de um milhão de falantes, publicada anualmente noThe World Almanac and Book of Facts. Uma vez que Culbert nunca publicou os resultados detalhados para países e regiões particulares, é difícil verificar a precisão de seus resultados.
O cantor derock JoMo (Jean-Marc Leclercq) lançou seu primeiro disco solo com composições em esperanto em 2001.
Como uma língua planejada, o esperanto realmente não possuía a princípio umacultura, mas os mais de 130 anos de história (desde 1887) e divulgação da língua geraram o que poderíamos chamar como uma cultura multinacional esperantista. Algumas pessoas acusam-no quanto a ser um "idioma universal" por não apresentar cultura,literatura, falantes nativos e por outras razões. Em contrapartida, já há elementos de cultura própria do esperanto, há um acervo considerável de músicas e obras literárias originais na língua (inclusive alguns escritores, como William Auld, que já foram indicados aoNobel de Literatura por suas obras originais em esperanto), há pessoas que têm o esperanto como língua materna (na maioria dos casos, poliglotas) e a língua é usada em todos os continentes.
O esperanto não veio de uma cultura específica, mas formou uma. Esperantistas falam em esperanto e sobre esperanto, usando termos, gírias, sarcasmos e uma série de expressões próprias do meio esperantista, alguns aspectos comuns de todos os esperantistas podem definir tal cultura.
A literatura em esperanto, consistindo de obras traduzidas e escritas diretamente na língua é altamente universalista, pois são adicionadas à literatura esperantista as melhores obras de cada nação, juntamente com os aspectos particulares de cada uma, assim como as crenças e costumes típicos de cada povo. Nas obras escritas diretamente em esperanto, vemos a mesma universalidade presente em toda a cultura esperantista.
Devido à ideia inicial de fraternidade do esperanto, a tolerância e respeito aos costumes e crenças dos vários povos consiste em um dos componentes dessa cultura; o repúdio ao imperialismo cultural é comum entre os esperantistas, e o desejo de intercâmbio e contato com outros povos apresenta-se na absoluta maioria dos esperantistas, muitas vezes consistindo um dos motivos do aprendizado da língua. Isso é comprovado na leitura doManifesto de Praga, documento que sintetiza os objetivos comuns a todos os falantes do esperanto.
49ºInternacia Seminario (2005-2006), emXanten (Alemanha), encontro jovem internacional organizado pela Juventude Esperantista Alemã.
Além do desenvolvimento da cultura em torno da língua, é interessante notar que a causa esperantista parece atingir um grupo especial de indivíduos, tendo eles em comum o desejo dedemocracia eigualdade entre asnações. A constante entrada desses indivíduos no meio esperantista, faz com que sua cultura se desenvolva e se torne mais universalista a cada dia. Um excelente exemplo das particularidades da cultura esperantista são as expressões idiomáticas surgidas ao longo da evolução da língua, frutos diretos da comunicação internacional entre esperantistas.
Um argumento comum dos esperantistas é que o esperanto é uma língua democrática, pois através dela uma cultura não é imposta aos novos falantes, como é o caso doinglês, então caberia perguntar se essa cultura nova, gerada ao longo da evolução esperantista pós guerras não seria imposta aos povos que a adotarem como língua auxiliar. Isso certamente pode acontecer, mas por ser altamente universalista, ela tenderia a não causar males às culturas locais, e sim absorver para si mais e mais dessas culturas locais, a cultura da língua esperantista, se adotada pelos povos, seria então uma cultura comum, gerada por todas as nações, e que poderia até mesmo servir para aproximar algumas populações. NoManifesto de Praga, a democracia cultural é tratada como algo extremamente forte no esperanto.
OsCongressos Universais de Esperanto, realizados anualmente desde 1905 (excluindo-se o período das grandes guerras), alimentam e aprimoram a cultura esperantista. Nesses congressos é visível a plena existência de uma cultura geral, independente da nacionalidade de cada participante. OsDiscursos de Zamenhof mostram alguns indícios dessas características de forma clara.
Há alguns símbolos atribuídos pelo movimento esperantista a si mesmo ou à língua. Não há unanimidade no movimento esperantista a respeito da política do uso de símbolos, mas a maioria dos esperantistas reconhecem três símbolos: a estrela verde, a bandeira e oJubilea Símbolo. Argumenta-se contra a estrela e a bandeira que elas dão um ar nacionalista ao objeto representado, podendo também ser confundido com ideários de outra natureza (oIslão e o movimento dito comunista, por exemplo).
Memorial de 1959 emSopot, naPolônia, com a estrela verde gravada
O mais simples e antigo dos símbolos é a estrela verde de cinco pontas, usada, por exemplo, como broche ou adesivo para automóvel. Segundo a tradição, as cinco pontas representam os cinco continentes (segundo cálculo tradicional) e o verde simboliza a esperança. Zamenhof, entretanto, em 1911, já não tinha mais certeza de sua origem; a cor lhe fora proposta pelo irlandês A. Richard Henry Geoghegan, que depois lhe esclareceu que se tratava da cor nacional daIrlanda.[25] Já em 1893,Louis de Beaufront propunha o uso do verde e da estrela em tudo que se relacionasse ao movimento. A consolidação da estrela como símbolo do esperanto data dos últimos anos doséculo XIX; da estrela na cor verde, provavelmente apenas em 1904.[25]
A bandeira é uma espécie de extensão da estrela verde, retomando a mesma cor e significados, com a adição do branco, para representar paz e neutralidade. Era originalmente a bandeira do clube de esperanto deBolonha-sobre-o-Mar (França). Foi adotada generalizadamente nessa cidade por ocasião do primeiro Congresso Universal de Esperanto, em 1905.
Ojubilea simbolo ("símbolo do jubileu") é um símbolo alternativo proposto para o esperanto, contendo a ideia interna da língua: juntar todos. As suas duas metades laterais representam a letra latina E (Esperanto) e a letra cirílica Э (Эсперанто), simbolizando a união do ocidente e do oriente. A ideia de usar as duas letras ocorreu por causa daGuerra Fria, quando as duas grandes potências estatais a se enfrentar tinham como línguas maternas o inglês (com alfabeto latino) e o russo (com alfabeto cirílico).
A sua elaboração foi promovida através de um concurso em 1983, por ocasião do centenário da língua (1987). A ideia original é do brasileiro Hilmar Ilton S. Ferreira.[25] O símbolo é usado com cores diferentes, com ou sem contornos, de acordo com a opção do usuário.
Osanarquistas estavam entre os primeiros à propagar o Esperanto. Em 1905, o primeiro grupo Esperantista anarquista foi formado. Muitos outros seguiram: naBulgária,China e outros países. Os anarquistas eanarcossindicalistas, que antes daprimeira guerra mundial formavam a maior seção entre os esperantistas proletários, fundaramPaco-Libereco,[26] uma liga internacional que publicava o jornalInternacia Socia Revuo (Revista da Sociedade Internacional). Paco-Libereco se fundiu com outra associação progressista,Esperantista Laboristaro (TrabalhadoresEsperantistas). A nova organização se chamavaLiberiga Stelo (Estrela Libertadora).[27] Publicou, até 1914, muitas peças de literatura revolucionária em esperanto, algumas relacionadas ao anarquismo. Dessa maneira se desenvolveu uma correspondência dinâmica entre anarquistas em diferentes países, por exemplo, entre anarquistas europeus e japoneses. Em 1907, a convenção anarquista internacional emAmsterdão publicou uma resolução sobre as linguagens internacionais, e durante os anos seguintes outras resoluções similares ocorreram. Esperantistas que participaram da convenção se ocupavam principalmente das relações internacionais entre anarquistas.
OCentro de Mídia Independente (CMI) é uma rede internacional formada por produtores de informação de ordem política e social que se autodeclaram independentes de quaisquer interesses empresariais ou governamentais. O site brasileiro do CMI possui versão em esperanto.[28]
Bona Espero é uma escola e internato localizada no município deAlto Paraíso de Goiás, região norte do estado deGoiás, a 412 quilômetros deGoiânia (capital do estado) e a 280 quilômetros deBrasília (capital federal), que abriga crianças carentes da região onde a utilização e o ensino do esperanto é comum no dia a dia. A instituição vem sendo visitada por muitos esperantistas ao longo de seus mais de 50 anos de existência. Foi fundada por um gruponordestino de esperantistas; hoje, é administrada pelo casal Gratapagglia, por Ursula (alemã) e Giuseppe (italiano), além de outros três diretores.
Em 1910, foi fundada a União Internacional Católica Esperantista, cujo órgão, a revista Espero Katolika, é o periódico em esperanto mais antigo ainda em atividade.
AKristana Esperantista Ligo Internacia (Liga Internacional Cristã Esperantista) foi formada logo cedo na história do esperanto e é de orientação predominantemente protestante, mas também são filiados a ela católicos romanos e ortodoxos.
Há alguns apologistas e professores cristãos que usam o esperanto como um meio de comunicação. O pastornigeriano Bayo Afolaranmi tem um grupo no Yahoo! chamado "Spirita nutraĵo" (alimento espiritual), que hospeda mensagens semanais desde 2003.
Em 1908, oespírita Camilo Chaigneau escreveu um artigo intitulado "O Espiritismo e o Esperanto" na revista deGabriel Delanne (depois reproduzido no periódico "La Vie d'Outre-Tombe", deCharleroi, e na revista brasileiraReformador em 1909), recomendando o uso de Esperanto em uma "revista central" para todos os espíritas no mundo.[29][30]
O esperanto, então, foi divulgado ativamente noBrasil por espíritas. Este fenómeno originou-se através deIsmael Gomes Braga eFrancisco Valdomiro Lorenz, sendo o último um emigrante de origemcheca que foi pioneiro de ambos os movimentos neste país.[29]
Por causa disso, no Brasil, muitos não esperantistas mal-informados têm a impressão de que o esperanto é "língua de espírita";[33] a contradizê-lo é de notar a discrepância entre o número relativamente elevado de espíritas entre os esperantófonos brasileiros (entre um quarto e um terço) e a insignificância do recíproco (número de espíritas brasileiros que falam esperanto, cerca de 1%). Este fenómeno não se verifica noutros países.
Zamenhof promoveu uma doutrina filosófica e religiosa chamadahomaranismo, mas temeu que se confundissem as ideias da doutrina com o ideal pró-esperanto. Por esse e outros motivos, não se empenhou tanto em sua divulgação. Todavia, a maior parte dos adeptos do homaranismo hoje são esperantistas, tendo conhecido a doutrina através do esperanto.
Ayatollah Khomeini doIrã fez um chamado oficial aosislâmicos ao aprendizado do esperanto e elogiou o uso dessa língua como um meio para melhor compreensão entre povos de diferentes religiões. Após sugerir que o esperanto substituísse o inglês como uma língua franca internacional, a língua foi introduzida nos seminários deQom. Uma tradução doCorão em esperanto foi publicada pelo estado pouco tempo depois[35][36] Khomeini e o governo iraniano passaram a fazer oposição ao esperanto em 1981 após notar que seguidores da Fé Bahá'i estavam interessados no esperanto.[35]
A primeira tradução daBíblia para esperanto foi uma tradução doTanakh (Velho Testamento), feita por Zamenhof. A tradução foi revisada e comparada com traduções para outras línguas por um grupo de clérigos britânicos, antes de sua publicação naBritish and Foreign Bible Society em 1910. Em 1926, ela foi publicada junto com uma tradução doNovo Testamento, numa edição geralmente chamada deLondona Biblio. Nosanos 1960,Internacia Asocio de Bibliistoj kaj Orientalistoj tentou organizar uma nova eecumênica versão da Bíblia em esperanto.[38] Desde então, opastorluterano Gerrit Berveling traduziu os Livros Deuterocanônicos, além de novas traduções dosEvangelhos, algumas das epístolas do Novo Testamento e alguns livros do Tanakh; estes foram publicados em várias brochuras separadas, ou em série na revistaDia Regno, mas os deuterocanônicos apareceram numa edição recente daLondona Biblio.
O esperanto é, frequentemente, usado para se ter acesso a uma cultura internacional, dispondo ele de um vasto leque de obras literárias, tanto traduzidas como originais. Há mais de 25 000 livros em esperanto, entre originais e traduções, além de mais de uma centena de revistas editadas regularmente. Muitos esperantófonos usam a língua para viajar livremente pelo mundo usando oPasporta Servo, rede internacional de hospedagem solidária. Outros têm correspondentes em vários países diferentes através de serviços como o Esperanto Koresponda Servo.
Com o desenvolvimento dainternet e sua maior popularização, as iniciativas deimprensa em esperanto têm se tornado mais fáceis, e pouco a pouco ela se desenvolve.
A língua mostra-se útil essencialmente para a troca de informações entre indivíduos deetnias diferentes que, doutra maneira, só seria realizada através de elementos mediadores (uma língua estranha a pelo menos um deles, umintérprete, organizações privadas, Estados etc.).
Comparado a uma língua étnica, o esperanto apresentou algumas utilidades particulares:
Mapa que indica onde há anfitriões doPasporta Servo (2015).
Efeitopropedêutico: existem evidências de que estudar esperanto antes de estudar qualquer outra língua acelera e melhora a aprendizagem, pois aprender outras línguas estrangeiras a seguir é mais fácil que aprender a primeira, enquanto que o esperanto reduz os obstáculos associados com a "primeira língua estrangeira", esse fenômeno é conhecido como efeito propedêutico, sendo muito acentuado no esperanto.[39]
Num estudo, um grupo de estudantes do ensino secundário estudou esperanto durante seis meses e, depois, francês durante ano e meio, obtendo um melhor conhecimento de francês do que ogrupo-controle, que estudou só o francês durante dois anos.[39]É provável que outras línguas planificadas também apresentem esse efeito no mesmo grau que o esperanto, mas devido ao maior número de falantes e melhor disponibilidade de material didático, a língua esperantista parece ser a mais recomendável para obter o efeito propedêutico.[39]
Traduções: a enorme flexibilidade do esperanto, a possibilidade do uso de diversas nuances, e a sua simplicidade gramatical tornam a língua uma ótima candidata para uma língua intermediária nas traduções.[39] Um ótimo exemplo foi o uso do esperanto para a tradução de alguns livros da editoraFederação Espírita Brasileira para a língua japonesa, nesse caso, os originais em francês foram traduzidos para o esperanto, e do esperanto para o japonês, já que se tem um bom número de falantes de esperanto noJapão.[40]
Henri Barbusse, escritor francês, presidente honorário do primeiro congresso daSennacieca Asocio Tutmonda.
Kazimierz Bein, "Kabe", proeminente ativista e escritor esperantista que subitamente deixou o movimento Esperanto. Em sua referência, existe a expressão em esperanto”kabei”, que significa “apostatar-se”, “abandonar”.
Émile Boirac, escritor francês e primeiro presidente do comitê de língua esperantista (mais tarde a Academia de Esperanto)
Chuck Smith, esperantista americano e criador daWikipédia em esperanto, um dos mais popularessites de esperanto. Primeiro líder de equipe do curso esperanto doDuolingo.
Jean Jaurès, político francês. Ele propôs ao Congresso Socialista Internacional emStuttgart, em 1907, o uso do esperanto para a informação difundida pelo escritório da organização em Bruxelas.
Franz Jonas, presidente daRepública da Áustria, Secretário da Liga Laborista Esperantista Austríaca e fundador doInternacio de Socialistaj Esperantistoj ("Internacional dos Esperantistas Socialistas")
Guimarães Rosa, poliglota, diplomata, e médico brasileiro, considerado o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Autor de "Grande Sertão: Veredas".
František Lorenz (aportuguesado para Francisco Valdomiro Lorenz), tradutor e filósofo nascido noImpério Austro-Húngaro. Um dos primeiros esperantistas do mundo e o segundo no Brasil. Falava mais de cem línguas.
Júlio Verne, autor francês, incorporou o esperanto em sua última obra inacabada
Petr Ginz, menino falante nativo de esperanto que escreveu um dicionário Esperanto-Tcheco, mas depois morreu em um campo de concentração aos 16 anos. Seu desenho da Lua foi levado a bordo doÔnibus Espacial Columbia. Seu diário aparece em tcheco, espanhol, catalão e esperanto e foi publicado recentemente em inglês.
Louis Lumière, francês inventor do cinema, disse:"O uso do esperanto poderia ter uma das consequências mais felizes em seus efeitos nas relações internacionais e no estabelecimento da paz".
Egon Schaden, um dos pais da antropologia no Brasil e importante estudioso de línguas indígenas.
Muitos adeptos daFé Bahá'í são/foram envolvidos com o esperanto.Lidia Zamenhof, filha de Zamenhof, era bahá'í. Vários líderes bahá'ís falam o esperanto, mais notavelmente o filho deBahá'u'lláh,`Abdu'l-Bahá, aprendeu esperanto (verJohn Esslemont).
Ebenezer Howard, conhecido por sua publicaçãoGarden Cities of To-Morrow (1898), a descrição de uma cidade utópica em que as pessoas convivem harmoniosamente com a natureza
George Soros, bilionário húngaro-americano e filho de família judaica e esperantista ("Soros", nome escolhido por seu pai para evitar a perseguição antissemita, em esperanto significa "planará, subirá")
↑OVOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) registra as formas "esperanto" e "esperantista" como, respectivamente, substantivo masculino e adjetivo feminino.
↑Korĵenkov, Aleksander; Korženkov, Aleksandr (2010).Zamenhof: the life, works and ideas of the author of Esperanto. New York: Mondial.ISBN978-1-59569-167-5.LCCN2010926187