Dada a sua preeminência militarista Esparta era reconhecida como a líder de todas as forças gregas combinadas durante asGuerras Greco-Persas.[3] Entre 431 e 404 a.C. a cidade foi o principal inimigo deAtenas durante aGuerra do Peloponeso,[4] conflito do qual Esparta saiu vitoriosa junto com suaLiga do Peloponeso, embora por um grande custo. A derrota de Esparta porTebas naBatalha de Leuctra em 371 a.C. acabou com o papel proeminente de Esparta na região e iniciou o período dahegemonia tebana. No entanto, ela manteve a sua independência política até aconquista romana da Grécia em 146 a.C.. Em seguida a cidade passou por um longo período de declínio, especialmente durante aIdade Média, quando muitos espartanos mudaram-se para viver emMistras. AEsparta Moderna é a capital daunidade regional daLacônia, naGrécia contemporânea, e um centro para produtos comofrutas cítricas eazeitonas.
A cidade era única naGrécia Antiga por conta de seu sistema social econstituição, que eram completamente focados no treinamentomilitar de excelência. Seus habitantes eram classificados comoesparciatas (cidadãos espartanos, que gozavam de plenos direitos),periecos (libertos) ehilotas (servos estatais, população local não espartanaescravizada). Os esparciatas realizavam oagōgē, um rigoroso regime de treinamento e educação, sendo que asfalanges espartanas eram amplamente consideradas entre as melhores no campo de batalha. As mulheres espartanas tinham consideravelmente mais direitos e igualdade em relação aos homens do que em outras partes domundo clássico.
Esparta foi objeto de fascínio em sua própria época, assim como noOcidente após oRenascimento dacultura clássica. Este amor ou admiração de Esparta é conhecido como laconismo ou laconofilia. No seu auge, por volta de 500 a.C., o tamanho da cidade teria sido de cerca de 20 mil a 35 mil habitantes livres, além dos inúmeros periecos e hilotas. Com entre 40 mil e 50 mil habitantes, seria uma das maiores cidades-Estado gregas.[5][6] No entanto, de acordo comTucídides, a população de Atenas em 431 a.C. era de 360 a 610 mil habitantes, o que torna improvável que Atenas fosse menor do que Esparta durante o século V a.C..[7]
Ruínas do teatro da antiga Esparta com o monteTaigeto ao fundo
Esparta surgiu em meados doséculo IX a.C.. Durante aépoca micénica existiram ao sul do local onde nasceria Esparta dois centros urbanos, Amiclas e Terapne. Nesta última cidade encontraram-sesantuários dedicados ao reiMenelau e à sua esposaHelena, personagens daIlíada deHomero.
À semelhança de outras partes da Grécia a Lacónia conheceu um decréscimo populacional com o fim daera micénica. Noséculo X a.C. osDórios penetraram na região. No século seguinte quatro aldeias daLacónia uniram-se para fundar Esparta. No século seguinte a cidade de Amiclas foi incluída em Esparta.
Ao final daSegunda Guerra Messênia Esparta estabeleceu-se como uma potência local no Peloponeso e no resto da Grécia. Durante os séculos seguintes a reputação de Esparta como força de combate terrestre foi inigualável.[8]
Perante o problema gerado pelo aumento populacional e pela escassez de terra Esparta optou pela via militar para solucionar a questão, ao contrário de outraspólis gregas que recorreram à fundação decolónias (Esparta fundou apenas uma colónia,Tarento, actualTaranto, no sul daItália). Assim, Esparta decidiu conquistar os territórios vizinhos, tendo conquistado toda aplanície da Lacónia no final doséculo VIII a.C. Na luta pelo domínio no Peloponeso Esparta teve como rivalArgos, cidade do nordeste do Peloponeso.
Em570 a.C. uma tentativa de conquista daArcádia revelou-se um fracasso, tendo Esparta optado por alterar a sua política no sentido dadiplomacia. Assim, Esparta ofereceu a outras localidades do Peloponeso a possibilidade de integrar uma liga por si liderada, a chamadaLiga do Peloponeso. A maioria dos estados do Peloponeso integraria esta liga, com excepção de Argos.
Durante asGuerras Persas Esparta liderou as forças que defenderam a Grécia em terra, enquanto queAtenas defendia pelo mar. Com o final da guerra as relações com Atenas deterioraram-se, culminando naGuerra do Peloponeso (431-404 a.C.), que os Espartanos venceram.
Eurotas foi sucedido porLacedemão, casado comEsparta.[10] Lacedemão mudou o nome da região para o seu e fundou a cidade de Esparta[10] - de modo que, naÉpoca Clássica, os espartanos também eram chamados de lacedemônios[carece de fontes?].
Várias gerações depois,Héracles interveio em Esparta, reinstalando o reiTíndaro, que havia sido deposto por seu irmãoHipocoonte.[11]
No seu auge, por volta de 500 a.C., Esparta tinha cerca de 20 000 a 35 000 cidadãos, além de numerososhilotas eperiecos. O total provável de 40 000 a 50 000 fez de Esparta uma das maiores cidades-estado gregas;[13] entretanto, de acordo com Tucídides, a população deAtenas em 431 a.C. era de 360 000 a 610 000, tornando-a muito maior. Segundo Tucídides, os cidadãos atenienses no início da Guerra do Peloponeso (século V aC) eram 40 000, perfazendo um total de 140 00 pessoas incluindo suas famílias. Os metecos, ou seja, aqueles que não tinham direitos de cidadão e pagavam pelo direito de residir em Atenas, somavam mais 70 000, enquanto os escravos eram estimados entre 150 000 e 400 000.[14]
Pertenciam, a este grupo, todos os que fossem filhos de pai e mãe espartanos, sendo os únicos que possuíamdireitos políticos (governo da cidade), constituindo o corpo dos cidadãos (homoioi,pares). Deviam dedicar sua vida aoestado espartano, permanecendo à disposição doexército ou dos negócios públicos. Além disso, para se pertencer a este grupo, era obrigatório ter recebido aeducação espartana e estar inscrito numasissítia, onde tomavam a refeição em comum.
SegundoPolíbio ePlutarco, todos os cidadãos de Esparta receberam uma parte igual dasterras públicas. A terra teria sido dividida em parcelas, osklêroi, no mesmo número dos cidadãos existentes. Estas parcelas de terras eram inalienáveis e indivisíveis, passando de pais para filhos. As mulheres podiam herdar oklêros, mas só no caso de não ter existido descendência masculina e com o objectivo de o transmitirem. Os espartanos não podiam exercer ocomércio.
Eram os habitantes das cidades daperiferia (que descendiam dos povos conquistados pelos esparciatas) que estavam integrados no estado espartano e ao qual pagavamimpostos. Apesar de serem livres, não tinham direitos políticos e dependiam dos Espartanos em matéria depolítica externa. Estavam obrigados a participarem dasguerras, mesmo não tendo recebido a mesma educação dos esparciatas. Eles combatiam ao lado dos Espartanos, embora em contingentes particulares. Ao contrário dos Espartanos, os periecos podiam dedicar-se ao comércio e à indústriaartesanal.
Eram os servos que, pertencendo ao estado espartano, trabalhavam noskleros (lotes de terra), entregando metade das colheitas ao Espartano. Eram duramente explorados. Deviam cultivar essa terra a vida inteira e não podiam ser expulsos de seu lugar. Levavam uma vida muito dura, sujeita a humilhações constantes. Foram protagonistas de váriasrevoltas contra o estado espartano. Para controlar as revoltas e manter os hilotas sob clima de terror, os espartanos organizavam expedições anuais de extermínio (cripteia), onde os hilotas eram obrigados a participar. Tratava-se de um massacre anual que consistia na perseguição e morte dos hilotas considerados perigosos, no qual os espartanos competiam para ver quem matava mais hilotas.
Os reis eram dois, oriundos das duas famílias reais que se afirmavam descendentes deHércules, através dos gêmeosEurístenes eProcles, cujos filhos,Ágis eEuriponte, teriam dado nome às dinastias reinantes: ágidas e euripôntidas. Entre suas funções, destacavam-se os serviços de caráter militar e religioso. Em tempo de guerra, um dos reis exercia o comando dos exércitos. Eram membros daGerúsia e gozavam de certos privilégios, como o direito a uma guarda pessoal, direito a refeição dupla na sissítia e a terem uma parte superior aos outros nodespojo de guerra.
A Assembleia de Esparta era composta por todos os Espartanos maiores de 30 anos, menos periecos e hilotas, e recebia o nome de Apela. Reunia-se uma vez por mês ao ar livre, em local que aarqueologia moderna ainda não conseguiu identificar. Elegia os membros daGerúsia e aprovava ou rejeitava asleis encaminhadas por eles.
Decidia sobre questões ligadas à política externa, elegia osmagistrados e designava os gerontes. Porém, na prática, tinha pouca influência na vida política dapólis. Segundo as informações legadas porPlutarco, não podia discutir as propostas que lhe eram apresentadas, mas apenas aprová-las ou rejeitá-las na totalidade.
A Gerúsia preparava as propostas que seriam apresentadas à assembleia (Apela), funcionando também comotribunal supremo.
Era constituída por trinta elementos (vinte e oito gerontes eleitos vitaliciamente, de entre os Espartanos com mais de sessenta anos, e os doisreis) eleitos através de um procedimento queAristóteles classifica de pueril na sua obraPolítica: os candidatos passavam diante da Assembleia, sendo eleito o que recebesse maior número deaplausos, avaliados por umjúri encerrado num compartimento próximo.
O Conselho dos Éforos - em número de cinco - formava um colégio que era eleito anualmente por altura doOutono pelaApela. Detinha amplos poderes: os éforos eram os verdadeiros chefes do governo espartano. Presidiam a assembleia (coordenavam as reuniões daGerúsia e da Apela), davam a ordem de mobilização em caso de guerra, controlavam a administração (a vida econômica e social da cidade) e a educação, podendo vetar os projetos de lei e fiscalizar as atividades dos reis.
Possuíam também poderes judiciais, podendobanir os estrangeiros e condenar os periecosà morte, sem necessidade dejulgamento.
Não era exigida nenhuma condição decenso ou de nascimento para se ser eleito éforo, pelo que o eforato representava o elemento deigualitarismo nas instituições políticas espartanas. A curta duração do seu mandato impedia eventuaisabusos de poder.
Aeducação espartana, que recebia o nome técnico deagogê, apresentava as particularidades de estar concentrada nas mãos do Estado e de ser uma responsabilidade obrigatória do governo. Estava orientada para a intervenção na guerra e a manutenção dasegurança da cidade, sendo particularmente valorizada a preparação física que visava a fazer, dos jovens, bons soldados e incutir um sentimentopatriótico. Nesse treinamento educacional, eram muito importantes os treinamentos físicos, comosalto,corrida,natação,lançamento de disco edardo. Nos treinamentos de batalha, as meninas se dedicavam aoarco e flecha. Já os meninos eram especialistas em combate corporal, assim como em táticas defensivas e ofensivas.
De acordo comPlutarco (50-120 d.C.), quando nascia uma criança espartana, pendurava-se, na porta da casa, um ramo deoliveira (se fosse um menino) ou uma fita delã (se nascesse uma menina). Haviarituais privados de purificação e reconhecimento da criança pelo pai, além de uma festa de nascimento conhecida comogenetlia, na qual o recém-nascido recebia um nome e presentes de parentes e amigos.[15]
Desde o nascimento até a morte, o espartano pertencia ao Estado. Acreditava-se que os recém-nascidos eram examinados por um conselho de anciãos que ordenava eliminar os que fossem portadores dedeficiência física oumental ou não fossem suficientemente robustos (uma forma deeugenia). As crianças Espartanas eramespancadas pelos pais: se não fossem fortes o suficiente, morriam. A crença também foi usada para justificar atrocidades modernas. Oseugenistas nazistas defenderam a morte de pessoas com deficiência citando o antigo precedente grego. Evidências arqueológicas e um olhar mais atento às fontes literárias sugerem que a lenda pode ser mito puro.[16] Embora oinfanticídio aconteça ocasionalmente na maioria das sociedades - inclusive nos tempos modernos - muitas culturas o evitam.[17]
A partir dos sete anos de idade, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos. As crianças eram entregues à orientação doEstado, que tinha professores especializados para esse fim. Os jovens viviam em pequenos grupos, levando vidas muito austeras, realizando exercícios de treino com armas e aprendendo atáctica de formação.
A educação espartana, supervisionada por um magistrado especial, opaidónomo, compreendia três ciclos, distribuídos por três anos:
Dos sete aos dez anos;
Dos doze aos quinze anos;
Dos dezesseis aos vinte anos (a efebia).
Vejamos alguns dos métodos da educação espartana, tendo, como base, o relato dos historiadores gregosXenofonte (A constituição dos lacedemônios) e Plutarco (A vida de Licurgo).
Em lugar de proteger os pés com calçados, as crianças eram obrigadas a andar descalças, a fim de aumentar a resistência dos pés. Usavam um só tipo de roupa o ano inteiro, para que aprendessem a suportar as oscilações do frio e do calor.
A alimentação era bem controlada. Se algum jovem sentissefome em demasia, era permitido e até estimulado quefurtasse para conseguir alimentos.[18] Castigavam-se comchibatadas, entretanto, aqueles que fossem apanhados roubando - não por terem roubado, mas por terem sido apanhados -, pois acreditava-se que era bom, para a formação, aprender a lutar contra a fome, e seresperto.[19]
NoLimnaeum, havia umaltar aÁrtemisOrthia, com uma estátua de madeira que, supostamente, fora trazida porOrestes eIfigênia daTáurida.[20] Umoráculo recomendara, aos espartanos, que eles deviam cobrir esta estátua comsangue.[21] No início, eles sorteavam quem seriasacrificado, masLicurgo mudou o costume, e fez com que os meninos fossemchicoteados no altar.[21]
Naadolescência, os jovens eram encarregados dos serviços de segurança na cidade. Qualquer cidadão adulto podia vigiá-los e puni-los. O respeito aos mais velhos era regra básica. Às refeições, por exemplo, os jovens deviam ficar calados, só respondendo de forma breve às perguntas que lhes fossem feitas pelos adultos.
Com sete anos, o jovem espartano entrava noexército. Mas só aos trinta anos de idade adquiria plenos direitos políticos, podendo, então, participar da Assembleia do Povo ou dos Cidadãos (Apela).
Depois de concluído o período de formação educativa, os cidadãos de Esparta, entre os vinte e os sessenta anos, estavam obrigados a participar na guerra. Continuavam a viver em grupos e deviam tomar uma refeição diária nos chamadossyssitia.
Para o historiador italiano Franco Cambi, a educação desenvolvida em Esparta e Atenas constitui dois modelos educativos diferentes. Em Esparta, a perspectiva militar orientava a formação de cidadãos-guerreiros, defensores do Estado. Já em Atenas, predominava um tipo de formação mais livre e aberta, que, de modo mais amplo, valorizava oindivíduo e suas capacidades.[22]
Os homens (esparciatas) eram mandados ao exército aos sete anos de idade, onde recebiam educação e aprendiam as artes da guerra e desporto. Aos doze anos, eram abandonados empenhascos sozinhos,nus e sem comida. Aos 18 anos, voltavam a Esparta, e até os 30 anos de idade eram considerados cidadãos de segunda classe, sem direito a voto, por exemplo. Podiam ser agredidos por qualquer esparciata acima de 30 anos, ficavam nus e recebiam pouca comida.[23][24]
Os jovens poderiam atacar servos (hilotas) a qualquer momento, a fim de lutar e se preparar para a guerra, mas, se fossem mortos por ele, o servo receberia dois dias de folga (por conseguir matar alguém que não era bom o bastante para o exército espartano). Existia uma temporada decaça aos hilotas, para treinarem os jovens para a guerra.
O homem que conseguisse viver até os trinta anos tornava-se umoficial, voltando aoquartel com todos os direitos de cidadão espartano, além de direito ao voto, direito a terrelações sexuais com mulheres e direito acasar. Os homensengravidavam suas mulheres, casavam-se com elas e voltavam ao quartel depois de deixá-las grávidas em suas casas. Aos sessenta anos, poderiam ir para a casa de suas esposas para viver com elas.
Areligião ocupou, em Esparta, um lugar mais importante do que em outras cidades. O grande número detemplos e santuários é disso revelador: quarenta e trêstemplos dedicados a divindades, vinte e dois templos deheróis, uma quinzena de estátuas de deuses e quatro altares. A esta lista, é necessário juntar os numerososmonumentos funerários, dado que, em Esparta, os mortos eram enterrados no interior das muralhas, sendo que alguns destes monumentos funcionaram como locais deculto.
As divindades femininas desempenharam, em Esparta, um papel bastante importante: dos cinquenta templos mencionados porPausânias, trinta e quatro estão dedicados a deusas. A deusaAtena era a mais adorada de todas. O deusApolo tinha poucos templos, mas a sua importância era crucial: desempenhava um papel em todas as festas espartanas e o monumento mais importante na Lacónia era o trono de Apolo em Amyclai.
Esparta prestava também culto aCastor e Pólux. Atradição afirmava mesmo que teriam nascido na cidade. A dualidade das personagens faz lembrar a existência de dois reis em Esparta. Váriosmilagres foram-lhes atribuídos, sobretudo relacionados com a defesa dos exércitos espartanos (representações dos gémeos emânforas eram levadas para o campo de batalha ao lado dos reis).
Por último,Héracles era, em Esparta, uma espécie de "herói nacional". Segundo a tradição, o herói teria ajudadoTíndaro a reconquistar o seu trono. O tema dos"Doze Trabalhos" foi largamente explorado pelaiconografia espartana.
Como consequência do exposto, ossacerdotes desempenhavam um papel importante em Esparta. Os dois reis tinham, eles próprios, umestatuto de sacerdotes: estavam encarregados de realizar os sacrifícios públicos, que eram bastante valorizados, sobretudo em tempos de guerra. Antes da partida de uma expedição militar, efetuava-se um sacrifício aZeus; no momento em que se passavam asfronteiras, realizava-se a Zeus eAtena e, antes da batalha, aAres Enyalios. Váriasanedotas mostram o respeito dos espartanos pelasfestas e sinais divinos, ao ponto de abandonarem o campo de batalha peranteaugúrios desfavoráveis, como quandoCleômbroto abandonou a defesa doistmo de Corinto por causa de umeclipse.[25]
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