Scandza é uma ilha domar Báltico no norte daEuropa, pelohistoriadorgótico-bizantinoJordanes doséculo VI, na sua obraGética. Parece ser um nome arcaico usado para referir apenínsula da Escandinávia, que os antigos julgavam ser uma ilha. Jordanes descreveu a área para contextualizar a sua descrição da mitológicamigração dos godos, da Escandinávia para aEuropa continental. Seu relato mistura observações corretas com descrições fantasiosas das regiões nórdicas e de várias tribos escandinavas doséculo VI, baseadas em informações provenientes de fontes diferentes.[1][2][3]
Jordanes mencionou a descrição razoavelmente precisa feita pelogeógrafogregoPtolemeu da região chamada por este deEscândia (emlatim:Scandia): "uma grande ilha com a forma de uma folha dezimbro" (ou seja, comprida e não redonda), "com extremidades laterais que se projetam para fora e que se afunila no sul, numa longa extremidade".[4]
O autor também mencionou a descrição feita pelo geógraforomanoPompônio Mela de Codanônia (também chamada de Escatinávia porPlínio, o Velho), que se localizava no "golfo Codano" (provavelmenteCategate). "Esta ilha se localizava na frente doVístula, e lá existia um grande lago" (provavelmente olago Vänern) "de onde flui o rio Vago" (Ván, antigo nome dorio Gota). "Nos lados oeste e norte é cercada por um enorme oceano" (oAtlântico), "porém no leste há uma ligação terrestre" (aLapônia) "que divide o oceano, a leste, formando o mar Germânico" (oBáltico). "Existiam também diversas ilhotas" (os arquipélagossuecos efinlandeses) "pelas quais oslobos podem passar quando o mar congela. Noinverno o país não só é cruel com as pessoas, mas também com as feras selvagens. Devido ao frio extremo não existemenxames deabelhas que façammel."[5]
No norte, Jordanes mencionou a nação dosAdogit (talvez referindo-se aos habitantes deHalogalândia, naNoruega, ou às pessoas da ilha deAndøya[6]), que viviam em meio à luz do sol contínua durante o meio do verão (por quarenta dias e noites), e em escuridão perpétua durante o meio do inverno. Devido a essa alternação, eles passavam rapidamente daalegria àtristeza (a primeira descrição dadepressão sazonal escandinava). O sol ali, segundo ele, parecia passar em torno daTerra, e não nascer de baixo dela.
Jordanes dá o nome de 26 tribos que vivem em Scandza, que ele chama deútero de nações, descrevendo os locais como mais altos e ferozes que osgermanos (a evidênciaarqueológica mostrou que os escandinavos da época eram realmente altos, provavelmente devido à sua dieta). A lista apresenta diversos exemplos de povos que são citados duas vezes, provavelmente devido ao acúmulo de informação obtida com diversos viajantes[7] e com escandinavos que haviam se juntado recentemente aos godos, comoRodulfo, doCondado de Bohus.[8] Os linguistas têm tentado estabelecer ligações entre os nomes destas tribos e diversos lugares na Escandinávia, embora algumas possam ser fruto de interpretações equivocadas.[1][9]
A "ilha" era habitada pelos escreréfenas (Screrefennae), identificados com oslapões,[6] que viviam comocaçadores-coletores, alimentando-se dos animais que viviam nos pântanos e de ovos de pássaros; os sueãs (suehans), identificados com ossuecos, "tinham, como osturíngios,cavalos esplêndidos" (o historiadorislandêsSnorri Sturluson menciona que noséculo VI o rei suecoAdelo tinha os melhores cavalos de seu tempo) e forneciam para omercado romano peles negras deraposa, com as quais também se vestiam, de maneira ostentosa, ainda que vivessem em condições de extrema pobreza; os teustas (theustes), associados por uns aos habitantes da região deTiúscia, naEsmolândia, e por outros a Tjuteån, naEscânia; osvalagodos, provavelmente habitantes deGotlândia[10], bérgios (que poderiam ser os habitantes deBjäre, emEscânia, ou deKolmården),Hallin (sul deHalândia) e os liócidas (Liócida; que podem ser deLuggude ou Lödde, em Escânia, porém outros já os associaram aSudermânia[11]) que viviam numa região fértil e plana, motivo pelo qual eram alvo constante dos ataques de seus vizinhos.[12]
Outras tribos eram osAhelmil, identificados com a região deHalmostádio,[12] os finaítas (finnaithae; possivelmente ligado aFinnheden, antigo nome deFinuídia), os ferves (Fervir), associados aFjäre e os gantigodos (ganthigoth), possivelmente osgetos (geati) deGotalândia Ocidental, uma nação ousada, ávida por guerrear. Jordanes também menciona os mixos (Mixi), evagretingos (Evagreotingis; também chamado evragros [fvagres] e otingos [Otingis] dependendo da interpretação), que "viviam como animais, entre as rochas" - provavelmente referindo-se aos diversoscastros da região, enquanto evagretingos poderia significar "povos dos castros ilhéus", descrição que poderia se aplicar aos habitantes do Condado de Bohus[13]). Além deles viviam osostrogodos (Gotalândia Oriental), raumaricos (Raumarici;Romerícia), os eragnarícios (Aeragnaricii) ou ragnarícios (Ragnaricii; provavelmente ligado aRanrícia, antigo nome dado a uma parte do Condado de Bohus) e os finos (segunda menção aos lapões,[14] descritos como "tranquilíssimos",mitissimi). Os vinovilodas (Vinoviloth), povo similar, possivelmente têm alguma relação com oslombardos que permaneceram na região após o deslocamento em massa do povo, que foram chamados de vinilos (vinili).[15]
Jordanes menciona pela segunda vez os suecos, desta vez como suécidos (suetidi)[14] e osdanos (dani), que eram "da mesma estirpe" e que teriam expulsado oshérulos de suas terras. Os membros destas tribos eram "os mais altos homens". Na mesma área também viviam os granos (granni;Grenlândia), augandzos (augandzi;Agder), eunixos (eunixi), teteis (taetel), rugos (rugi;Rogalândia), aroquos (arochi;Hordalândia) e rânios (ranii; possivelmente ligado aRomsdalen).[16] O rei Rodulfo era dos rânios, porém abandonou-os para juntar-se aTeodorico, o Grande doReino Ostrogótico.[17]