Dziga Vertov (nascidoDenis Arkadievitch Kaufman;Białystok, 2 de janeiro de 1896 — 12 de fevereiro de 1954) foi umcineasta,documentarista, experimental ejornalistasoviético, o grande precursor docinema directo, na sua versão decinema verdade. Irmão mais velho dos diretores de fotografiaMikhail Kaufman eBoris Kaufman.
Nascido em uma família judia, muito jovem ainda Vertov começa a escreverpoemas e estudamúsica durante quatro anos. Com 19 anos começa a estudarmedicina, na mesma época em que cria o "laboratório do ouvido" onde registra e monta ruídos de todo o tipo com um velhofonógrafo Pathéphone. É também nesse período que muda seu nome para DZIGA - palavra ucraniana que significa roda que gira sem cessar e VERTOV - do russo vertet que significa rodar, girar. Também se declarafuturista, muito influenciado porMaiakovski.[1]
Após o discurso em queLenin considera ocinema como o principal meio de divulgação da nova ordem social que se instala naUnião Soviética, Vertov se põe à disposição do Kino Komittet deMoscou (1918) tornando-se redator e montador do primeiro cinejornal de atualidades doEstado Soviético - o KINONEDELIA (Cinema Semana).[2]
Em1922, cria com sua mulherElizaveta Svilova e seu irmãoMikhail Kaufman, o "Conselho dos Três" denominando-se kinoks - um composto das palavras russas kino (cine) e oko (olho). Começam a trabalhar no Kinopravda (Cinema verdade) e produzem 23 números dessas atualidades cinematográficas.[2]
Em1923 o grupo publica seu primeiro manifesto teórico com o título "A revolução dos kinoks"
Desse momento em diante Vertov desenvolve uma febril atividade tanto prática, de realizações de documentários, quanto teóricas. Todos os seus experimentos com as imagens colhidas do real são objeto de textos-manifestos em que ele declara seus princípios das relações entreolho/câmera/realidade/montagem. Todos os seus experimentos cinematográficos baseiam-se no exercício exaustivo de construção da expressão através da articulação desses quatro elementos.[1]
| “ | ... Eu sou o cine-olho. Eu crio um homem mais perfeito que Adão. Eu crio milhares de pessoas diferentes a partir de esboços e de esquemas previamente concebidos. O cine-olho é entendido como 'aquilo que o olho não vê'...[3] | ” |
Em1929, Vertov lançou aquele que foi o mais revolucionário e experimental de seus filmes:Um Homem com uma câmera (Tchelovek s kinoapparatom). Silencioso e rico em imagens daUnião Soviética sob os mais diversos ângulos, a obra de Vertov pretendia desvelar os segredos do cinema, da técnica e da linguagem cinematográfica. Esse filme representou o rompimento definitivo entre o cinema de Vertov com aliteratura e oteatro. O foco estava na experiência, na "cinessensação do mundo", exemplificando na prática as teorias desenvolvidas pelos Kinoks. A produção do filme marcou também outro rompimento definitivo, o da parceria entre Vertov e seu irmão, Mikhail Kaufman, pondo fim ao movimento Kinoks.[3]
Fez parte domovimento construtivista, escrevendo inúmeros artigos sobre a teoria dofilme.
Seu filmeUm Homem com uma Câmera é um marco nahistória do cinema, como documentárioreflexivo (Bill Nichols). Filma o cotidiano de cidades russas, principalmente Moscovo (Moscou), com criatividade e lucidez. Planos pensados e repensados, a passagem de um simplesfotograma a complexa estruturanarrativa mantendo a intenção poética são, por si sós, uma aula de cinema. Para associar o olho humano ao da câmera, usa por exemplo planos de uma persiana, numametáfora daretina, dodiafragma daobjectiva, docinema-olho, capaz de apreender o real.
A sua teoria doKino Pravda, a do cinema-verdade, é fundadora de futuras teorias e práticas numa área fundamental docinema: o contato direto do olho da câmera com o evento filmado, averdadeira realidade, ao contrário da ficção, que precisa doplateau. Aí se diferencia Vertov deEisenstein: a ideia, a encenação e oplateau, tal como noteatro.
Em seu manifesto mais conhecido,NÓS (1922), Vertov reforça o compromisso com a construção de umcinema soviético revolucionário, livre dosentimentalismo burguês e guiado pelo cine-olho:
| “ | NÓS declaramos que os velhos filmes romanceados e teatrais têm lepra.- — Afastem-se deles!
- — Não os olhem!
- — Perigo de morte!
- — Contagiosos!
NÓS afirmamos que o futuro da arte cinematográfica é a negação do seu presente.[4] | ” |
A ideia é aquilo que tudo determina. Não escapa ao movimento da História e é expressão de um idealhumanista que se dinamiza na construção de uma sociedade justa.
O cinema-verdade foi amplamente explorado porJean Rouch, que, na teoria e na prática, fez a sua síntese de Vertov e deRobert Flaherty.
Dziga Vertov foi um dos primeiros cineastas russos a usar técnicas de animação e desenvolver certos princípios fundamentais da montagem no cinema. Estabeleceram o ABC das linguagem cinematográfica. Para Vertov a montagem é a alma do filme, o motor da sua estética e do seu sentido. O trabalho de Dizga Vertov foi fundamental para o desenvolvimento da construção dramática e melhoria do cinema e para o surgimento docinema direto nos anos sessenta, com o desenvolvimento das técnicas de filmagem com câmaras leves com som síncrono.
Dziga Vertov morreu emMoscou, no dia12 de fevereiro de1954, quando, aos 58 anos de idade, não foi mais capaz de resistir aocâncer que o afligia.[5]
Referências