Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas peloInstituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 1 121 748 habitantes e área territorial de 78 342 km².[2][3]
Como em toda a Angola, a população original da província era constituída porcoissãs, cujo espaço foi progressivamente ocupado por povos bantos, no decorrer de uma migração que alcançou a região provavelmente entre os séculos XVI e XVII.
Devido às suas condições geográficas e ecológicas, esta região nunca chegou a ser densamente povoada. Oscuanhamas tiveram, porém, no século XVIII uma "massa crítica" suficiente para constituir uma unidade política com bastante estabilidade, oReino Cuanhama.
Colonos bôeres a atravessar orio Cunene com víveres para a coluna doGeneral Pereira d'Eça durante a Campanha do sul de Angola.
No século XIX, no quadro da "corrida europeia para África", as áreas ao sul e norte do rio Cunene suscitaram o interesse não apenas de Portugal, mas também da Grã-Bretanha e da Alemanha. Esta última obteve, naConferência de Berlim, o território daNamíbia de hoje, que a norte tem como limite o rio Cunene.[4]
Outra presença europeia de relevo para a região, no sentido de efetiva colonização, se deu na migração debôeres, nasjornadas para as terras de sede (Dorsland Trek), onde a mesma fez surgir um subgrupo étnico chamado deangobôeres.[4]
Portugal, na altura ainda com pouca presença na região, apressou-se a conquistar a área a norte do rio. Para tal teve que empenhar-se naCampanha do Sudoeste da África, somente conseguindo o seu objectivo só em meados dos anos 1910, depois de uma acirrada resistência da parte dos cuanhamas.[5]
O facto de o rio Cunene tornar-se assim uma fronteira entre duas colónias pertencentes a duas potências coloniais diferentes não impediu a população ovambo, dividida por esta linha, de continuar a manter laços estreitos com os seus congéneres da respectiva outra margem.
Os habitantes da província envolveram-se relativamente pouco na luta pela independência de Angola na década de 1960, fato que permitiu aos cuanhamas certa atenção do poder colonial português no desenvolvimento de suas áreas.
Mesmo assim, a região foi relegada à uma extensão da Huíla; esse quadro somente mudou quando ocorreu a desanexação do então distrito da Huíla, a 10 de julho de 1970, fundando-se a província do Cunene, através do decreto 330/70.[6]
Para osovambos como um todo, o panorama de envolvimento naGuerra de Independência Angolana só viria ter início na década de 1970, pelo facto de Portugal ter permitido a apropriação de extensos terrenos da província por colonos brancos.[7]
Logo após a abertura política em Portugal, o sul de Angola começou a ser alvo do regime sul-africano, no que viria a se tornar aGuerra de Independência da Namíbia. Esse período de ocupação militante estrangeira obrigou a retirada da administração governativa de Ondijiva paraMatala por oito anos (agosto de 1981 a 1989), seguindo-se a reposição politica administrativa emXangongo nos finais de 1989.[6]
O conflito na Namíbia e o terror doapartheid levaram os povos da província a tomar partido naGuerra Civil Angolana peloMPLA, mesmo diante de uma desconfiança geral com a liderança política por não alterar os problemas de transumância causados aos agro-pastores ainda pelos portugueses.
A totalidade dos serviços administrativos foram finalmente transferidos de Xangongo para Ondijiva somente em 2002, quando se inicia a reabilitação de infraestruturas da província.
Desde a independência e o final da guerra civil, a população da província encontra-se num processo de integração social e política que varia bastante de grupo para grupo.
A província do Cunene limita-se ao norte com a província deHuíla; ao leste com a província deCuando-Cubango; ao sul com a Namíbia, e; a oeste com província deNamibe.
O grosso da população, concentrada ao centro e sul, faz parte de diferentes grupos dos povosovambos, entre os quais oscuanhamas se destacam pelo seu peso demográfico. Osnhaneca-humbes, mais ao norte, da qual destacam-se os hingas, têm modo de vida semelhante ao dos ovambos. Grupos dispersos dechócues,hereros eganguelas distinguem-se pelo facto de serem exclusivamente agricultores, e grupos residuais decoissãs continuam a sobreviver pela caça e recoleção.[9] Com a excepção destes últimos, todas as etnias sãobantos.[10] Frações de populaçõesambundas, provenientes de migrações das guerras, habitam nas grandes cidades provinciais, enquanto que há nas mesmas grupos menores miscigenados de angobôeres e luso-angolanos.[11]
Na sua grande maioria, a população do Cunene é constituída por agro-pastores, ou seja, grupos étnicos que vivem essencialmente do seu gado bovino, mas complementarmente por uma (limitada) agricultura de subsistência. Em virtude da escassez do pasto, as manadas são criadas e mantidas num regime detransumância que implica migrações regulares.[12]
Domina o norte da paisagem da província a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[13] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio demiombo, além de pastagens abertas.[14] No oeste e sudoeste da província predominam as "florestas angolanas de mopane", caracterizada por árvores demopane de caule único,arbustos e matagais densos, existente graças aos canais de drenagem, conhecidos comoiishana (singularoshana) dabacia do Cuvelai-Etosha.[15] Na faixa sul e sudeste predominam as "florestas Zambezianas de Baikiaea", com matagais e pastagens numa floresta decídua seca dominada pela árvoreBaikiaea plurijuga.[15] Por fim, no extremo-sudoeste há as "florestas de escarpa do Namibe", ecorregião desértica de matagal xérico influenciada pelodeserto do Namibe.[15]
A fisiologia cunenense é dominada por três zonas principais, sendo: as franjas do Planalto da Huíla, que margeia todo o norte e noroeste; a Planície do Cuvelai, que domina a maior parte do território provincial, com grandes extensões arenosas de norte a sul, e; aSerra da Chela, com grandes cordilheiras ao oeste e sudoeste.[24]
Dado a característica árida que predomina em boa parte do território provincial, não é na agricultura que sustenta a economia do Cunene. O comércio e os serviços estão entre os principais fatores geradores de divisas para a província.
Ondijiva, a maior das cidades da província, está a sair lentamente de um longo período de estagnação.[25]
Na lavoura temporária o destaque está no cultivo damelancia, milho,massango, trigo, arroz e soja. O clima oceânico temperado permite ainda a existência de culturas de uva de mesa e hortícolas. Tais atividades só são possíveis graças às irrigação, usando as águas das bacias do Cunene e Cuvelai-Omuramba, além dabarragem do Calueque.[26]
Já no componente da pecuária para corte e leite, há uma relevância principalmente na criação de gado, suínos e cabras; ainda existe a criação de aves para carne e ovos, além da pesca fluvial.[26]
Os principais polos industriais da província estão em Ondijiva, especializada em construção civil, alimentos e bebidas, e; emSanta Clara do Cunene, na agroindústria e na transformação de diamantes.[27]
O setor de comércio e serviços é um grande motor da província na medida em que disponibiliza produtos básicos por meio de centros atacadistas na capital. Os centros atacadistas também suprem as necessidades do norte da Namíbia.
Já no setor de serviços os grandes sustentáculos estão nos serviços financeiros e de entretenimento, além dos centros hospitalares e na oferta de ensino.[29]
Os serviços relacionados ao turismo, como hotelaria, agências de viagens e lojas especializadas, concentram-se em atividades de ecoturismo ao longo do rio Cunene, noParque Nacional da Mupa e nasquedas do Ruacaná.
↑Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
↑Redinha, José. Etnias e culturas de Angola. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1975.
↑Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012).Angola: Private Sector Country Profile.(PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Eduardo Cruz de Carvalho & Jorge Vieira da Siva,The Cunene Region: Ecological analysis of an African agropastoral system, inFranz-Wilhelm Heimer (org.),Social Change in Angola, Munique: Weltforum Verlag, 1973, pp. 145-191
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↑Serrat-Capdevila, Aleix; Limones, Natalia; Marzo-Artigas, Javier; Wijnen, Marcus; Petrucci, Bruno.Resiliência à Seca e Segurança Hídrica no Sul de Angola. Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento/ Banco Mundial. 2022.
Elisete Marques da Silva,Impactos da ocupação colonial nas sociedades rurais do Sul de Angola, Lisboa: Centro de Estudos Africanos/ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2003