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Constantino

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Constantino I
Imperador Romano
Reinado25 de julho de306
a22 de maio de337
PredecessoresConstâncio I
Galério
SucessoresConstantino II
Constâncio II
Constante I
Coimperadores
ou rivais
Galério(306–311)
Valério Severo(306–307)
Magêncio(306–312)
Maximiano(306–308)
Licínio(308–324)
Maximino II(310–313)
Valério Valente(316-317)
Martiniano(324)
Dados pessoais
Nascimentoc.27 de fevereiro de272
Naísso,Mésia Superior,Império Romano
Morte22 de maio de337 (65 anos)
Nicomédia,Bitínia,Império Romano do Oriente
Sepultado emIgreja dos Santos Apóstolos
Nome completo
Flávio Valério Constantino
EsposasMinervina
Fausta
Descendência
Crispo
Constantino II
Constâncio II
Constantina
Constante I
Helena
DinastiaConstantiniana
PaiConstâncio I
MãeHelena
ReligiãoCristianismo
(anteriormentepoliteísmo romano)
 Nota: Para outros significados, vejaConstantino (desambiguação).

Constantino I (Naísso,27 de fevereiro de272Nicomédia,22 de maio de337), também conhecido comoConstantino, o Grande, foi umimperador romano, proclamadoAugusto pelas suas tropas em25 de julho de 306,[1] que governou uma porção crescente doImpério Romano até a sua morte.[2] Foi o primeiro imperador convertido aoCristianismo.[3][4]

Constantino derrotou os imperadoresMagêncio eLicínio durante as guerras civis. Ele também lutou com sucesso contra osfrancos,alamanos,visigodos esármatas durante boa parte de seu reinado, mesmo depois da reconquista daDácia, que havia sido abandonada durante o século anterior. Constantino construiu uma nova residência imperial emBizâncio, chamando-lhe Nova Roma. No entanto, em honra de Constantino, chamavam-lheConstantinopla. Viria a ser a capital doImpério Romano do Oriente durante mais de mil anos, razão pela qual Constantino é considerado um dos fundadores do Império Romano do Oriente. Hoje, a cidade tem o nome de 'Istambul', capital do Império Turco-Otomano, de 1453 até ao final deste em 1922.

Fontes

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Constantino era um governante de grande importância histórica e sempre foi uma figura controversa.[5] As flutuações na reputação de Constantino refletem a natureza das fontes antigas de seu reinado. Estas são abundantes e detalhadas,[6] mas foram fortemente influenciadas pela propaganda oficial do período,[7] e são muitas vezes unilaterais.[8] Não há histórias de sobreviventes ou biografias que lidaram com a vida de Constantino e do Estado.[9] Os mais próximos subsídios são aVida de Constantino deEusébio de Cesareia, uma obra que é uma mistura de elogio ehagiografia.[10] Escrito entre 335 e cerca de 339,[11] aVita exalta virtudesmorais ereligiosas de Constantino.[12] AVita cria uma imagem tendenciosamente positiva de Constantino,[13] de que os historiadores modernos vêm frequentemente contestando a fiabilidade.[14] A mais completavita secular de Constantino é do anónimoOrigo Constantini.[15] Uma obra de data incerta,[16] oOrigo concentra-se em acontecimentos militares e políticos, em detrimento de assuntos culturais e religiosos.[17]

Ascensão a Augusto do Ocidente

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Nascido emNaísso, naMésia Superior (actualNiš naSérvia), filho deConstâncio Cloro (ou Constâncio I Cloro) e da filha de um casal de donos de uma albergaria naBitínia,Helena de Constantinopla,[18] Constantino teve uma boa educação — especialmente por ser filho de uma mulher delíngua grega e haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue própria da elite romana — e serviu no tribunal deDiocleciano depois do seu pai ter sido nomeado um dos doiscésares, na altura um imperador júnior, naTetrarquia em 293. Embora a sua condição junto de Diocleciano fosse em parte a de um refém, Constantino serviu nas campanhas do césarGalério e de Diocleciano contra ossassânidas e ossármatas. Aquando da abdicação conjunta de Diocleciano eMaximiano em 305, Constâncio seria proclamadoaugusto, mas Constantino seria descartado comocésar em proveito deValério Severo (também conhecido modernamente como Severo II, título que jamais usou, para não ser confundido com o grande imperador do século anterior,Septímio Severo).

Pouco antes da morte do seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério para se reunir a ele no Ocidente, chegando a fazer uma campanha juntamente com Constâncio Cloro contra ospictos, estando junto do leito de morte do seu pai emEbóraco (atualIorque, naInglaterra) naBritânia,[19] o que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério, então feito "augusto" do Oriente.[20] Desde o início de seu reinado, assim, Constantino tinha o controle da Britânia,Gália,Germânia eHispânia, com sua capital emAugusta dos Tréveros, cidade que fez embelezar e fortificar.

Termas construídas por Constantino emAugusta dos Tréveros (Tréveris), capazes de atender milhares de pessoas

Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de batalhas e guerras que o fizeram o governador supremo doImpério Romano. Como Maximiano desejava retomar a sua posição de augusto, da qual se havia afastado a contragosto juntamente com Diocleciano, Constantino recebeu-o na sua corte e aliou-se a ele por um casamento em 307 com a filha de sete anos de Maximiano,Fausta,[a] o que lhe permitiu ser reconhecido tacitamente como Augusto em 308 por Galério numaconferência tetrárquica emCarnunto (atualPetronell-Carnuntum naÁustria). Em 309, no entanto, Constantino enfrentaria o seu sogro, que tentava recuperar abertamente o poder, capturando-o emMarselha e mandando assassiná-lo. Em 310, Constantino seria formalmente reconhecido como Augusto por Galério.[21] Severo havendo sido entrementes eliminado, em 307, porMagêncio, filho de Maximiano que se havia proclamado imperador emRoma, Constantino deveria acabar por enfrentar o seu cunhado para conseguir o domínio completo do Ocidente romano. Após uma série de mediações fracassadas e lutas confusas, Constantino, após apoiar ousurpador africanoLúcio Domício Alexandre, cortando o fornecimento de trigo de Roma, de 308 a 309, desceu em 312 até Itália para eliminar Magêncio.

Essas guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas à sua disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas de elite autossuficiente - um verdadeiro exército de campanha — principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a começar pelorei alamanoCroco II, que teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.[22]

Religião

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Fólis de Constantino, cunhada emLugduno, naGália, por volta de 310, com oDeus Sol Invicto

O facto de Constantino ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado aMaximiano, ele apresentou-se como o protegido deHércules, deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano na primeiratetrarquia. Ao romper com o seu sogro e após o ter eliminado, Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos imperadores-soldados do século anterior,Deus Sol Invicto, ao mesmo tempo que fez circular uma ficção genealógica (umpanegírico da época. Para disfarçar a óbvia invenção, dizia, dirigindo-se retoricamente ao próprio Constantino, que se tratava dum facto "ignorado pela multidão, mas perfeitamente conhecido pelos que te amam") pela qual ele seria o descendente do imperadorCláudio II — ou Cláudio Gótico — conhecido pelas suas grandes vitórias militares, por haver restabelecido a disciplina no exército romano, e por ter estimulado o culto ao Sol.[23]

Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como primeiro imperador romano a professar ocristianismo, na sequência da sua vitória sobreMagêncio naBatalha da Ponte Mílvia, em 28 de outubro de 312, perto deRoma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito emlatim:

In hoc signo vinces”

De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não é hoje considerada um facto histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de factos diversos encontrados na biografia de Constantino pelo bispoEusébio de Cesareia.

No entanto, é certo que Constantino era atraído, enquanto homem de Estado, pela religiosidade e pelas práticas piedosas — ainda que se tratasse da piedade ritual do paganismo: osenado, ao erguer em honra a Constantino o seu arco do triunfo, oArco de Constantino, fez inscrever sobre este que sua vitória se devia à "inspiração da divindade" (instinctu divinitatis mentis), o que certamente ia ao encontro das ideias do próprio imperador. Até um período muito tardio do seu reinado, no entanto, Constantino não abandonou claramente a sua adoração com relação aodeus imperial Sol, que manteve como símbolo principal nas suas moedas até 315.

Cristograma de Constantino

Só após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e símbolos cristãos,[24] como o "chi-ró", emblema que combinava as duas primeiras letras gregas do nome deCristo ("X" e "P" sobrepostos). No entanto, já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino se recusou a subir aoCapitólio para oferecer culto aJúpiter, atitude que repetiria nas suas duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração dos jubileus do seu reinado, em 315 e 326.[25]

A sua adoção docristianismo pode também ser resultado de influência familiar.Helena, com grande probabilidade, havia nascido cristã e demonstrou grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação àTerra Santa, localizou emJerusalém uma cruz que foi tida como aVera Cruz e ordenou a construção daIgreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo aAfrodite que havia sido instalado no local — tido como o dosepultamento de Cristo — pelo imperadorAdriano.

Mas apesar do seu batismo, há dúvidas se realmente ele se tornou cristão. AEnciclopédia Católica afirma: "Constantino favoreceu de modo igual ambas as religiões. Como sumo pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos". E a Enciclopédia Hídria observa: "Constantino nunca se tornoucristão". No dia anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício aZeus, e até o último dia usou o título pagão depontífice máximo (pontifex maximus). E, de facto, Constantino, até ao dia da sua morte, não havendo sidobatizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como amissa ou aeucaristia. No entanto, era uma prática comum na época retardar o batismo, que era suposto oferecer a absolvição a todos os pecados anteriores — e Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode ter percebido que as suas oportunidades de pecar eram grandes e não desejou "desperdiçar" a eficácia absolutória do batismo antes de haver chegado ao fim da vida.[26]

Qualquer que tenha sido a féindividual de Constantino, o facto é que ele educou os seus filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença institucional noEstadoromano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, aepiscopalis audientia, podia ser escolhida pelas partes de um processo como tribunal arbitral em lugar do tribunal da cidade[27]). E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma velha superstição".[28]

Esta clara associação da casa imperial ao cristianismo criou uma situação equívoca, já que o cristianismo se tornou a religião "pessoal" dos imperadores, que, no entanto, ainda deveriam regular o exercício do paganismo — o que, para um cristão, significava transigir com a idolatria. Opaganismo retinha ainda grande força política — especialmente entre as elites educadas do Ocidente do império — situação que só seria resolvida por um imperador posterior,Graciano, que renunciaria ao cargo depontífice máximo em 379 — sendo assassinado quatro anos depois por umusurpador,Magno Máximo. Somente após a eliminação de Máximo e de outro usurpador pagão,Flávio Eugénio, porTeodósio I é que o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal (395).

O imperador romano Constantino participou em grande parte na inclusão na igreja cristã, mas, não na questão dos dogmas, pois, isso cabia aos bispos e Constantino não tinha formação teológica para tal. Um Édito dos mais conhecidos foi oÉdito de Constantino, promulgado em 321, que determinou oficialmente odomingo como dia de repouso[29], com exceção doslavradores — medida tomada por Constantino. Na verdade Constantino utilizou-se da sua prerrogativa de, como Pontífice máximo, de fixar o calendário das festas religiosas, dos dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durante estes últimos).[30]

Reformas religiosas, militares e administrativas

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Ver também :Constantinismo,Perseguição religiosa no Império Romano, eReviravolta de Constantino
Constantino:mosaico emSanta Sofia

Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou imperador, com oÉdito de Milão, mas também não tornou o paganismo ilegal ou fez do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição depontífice máximo — cargo tradicionalmente ocupado por todos os imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer prática religiosa no império — estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia quando convocado, seguindo uma prática, no que diz respeito aos cristãos, que já havia sido inaugurada por um imperador pagão,Aureliano, que fora chamado a arbitrar uma querela entre o bispado de Antioquia e o bispado de Roma, que excomungaraPaulo de Samósata, bispo deAntioquia, por heresia. O imperador reafirmara o que já era do direito circunscricional da Igreja Romana — ou seja, que as igrejas cristãs locais, no que diz respeito a sua organização administrativa — inclusive quanto a eleição dosbispos — deveriam reportar-se à igreja de Roma, a capital.

A sua vitória em 312 sobre Magêncio resultou na ascensão ao título deaugusto ocidental, ou soberano da totalidade da metade ocidental do império, reconhecida pelo pagãoLicínio, único augusto do Oriente após a eliminação deMaximino Daia. A vitória de Constantino teve uma consequência militar imediata: Constantino aboliu definitivamente aguarda pretoriana, que havia sustentado Magêncio e, com ela, os interesses políticos da aristocraciaitaliana, substituindo-a por um corpo de tropas de elite ligadas à pessoa do imperador, asescolas palatinas, que, a partir daí, seriam o núcleo do sistema militar romano, enquanto os velhos corpos de tropa territoriais eram negligenciados.[31] As escolas eram principalmente regimentos decavalaria, que serviam como uma força-tarefa ligada à pessoa do imperador, e seu principal objetivo era garantir uma capacidade de ação imediata em caso de guerra civil ou externa; quanto às forças de defesa territorial, oslimítanes, estas acabaram por se reduzir a uma mera força policial de fronteira, entrando em declínio imediato na sua capacidade combativa.[32] O objetivo destas reformas militares era principalmente político, colocando a quase totalidade das forças militares móveis à disposição imediata do imperador — com a exceção de certas unidades territoriais que eram equiparadas às forças móveis e chamadaspseudocomitatenses — concentradas em áreas urbanas onde pudessem ser mantidas abastecidas pelos fornecimentos que eram agora a maior parte do soldo militar (os pagamentos em dinheiro, tornando-se recompensas esporádicas pagas aquando da ascensão ou dos jubileus de ascensão do imperador ao trono).[33]

Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino encontrou um pretexto para enfrentar o seu colega e, tendo negada permissão para entrar no Império do Oriente durante uma campanha contra ossármatas, fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, tornando-se imperador único.

Diante da ameaça da heresia ariana, que ameaçava as bases da Doutrina Cristã, Constantino, convocou oPrimeiro Concílio de Niceia, um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de Licínio. Duas questões principais foram discutidas emNiceia (atualİznik): a questão daHeresia Ariana que dizia queCristo não era divino, mas o mais perfeito das criaturas, etambém a data da Páscoa. É sabido que o imperador não tinha especial preocupação com discussões filosófico-doutrinárias, assunto que delegava aos "acadêmicos", nem fazia questão em ser a autoridade suprema da Igreja, pois reconhecia a autoridade do Bispo de Roma.[34] "O que encontramos aqui em Constantino ainda não é cesaripapismo bizantino, isto é, tutela absoluta da Igreja por parte do imperador. Bem mais, a forma do concílio imperial era tão nova quanto era novo o fato de um imperador amigo dos cristãos ser soberano do Império".

Constantino só foi batizado e cristianizado no final da vida. Ironicamente, Constantino poderá ter favorecido o lado perdedor da questãoariana, uma vez que ele foi batizado por um bispo ariano,Eusébio de Nicomédia (que não deve ser confundido com o biógrafo do imperador,Eusébio de Cesareia). A inclinação que Constantino e seu filho e sucessor na condição de augusto único,Constâncio II, demonstraram pelo arianismo, é bastante explicável, na medida em que ambos tentaram apresentar a figura do imperador como um análogo do Cristo ariano: uma emanação divina, reflexo terreno doVerbo.[35] A tempestuosa relação de Constantino com a Igreja da época dá conta dos limites da sua atuação no estabelecimento daOrtodoxia: pouco antes de sua morte, em 335, ele mandou exilar, na capital imperial deAugusta dos Tréveros (Tréveris), opatriarca de AlexandriaAtanásio, campeão da ortodoxia, por suas violentas atitudes antiarianas, e apesar do facto de que Atanásio continuou a ser perseguido pelos sucessores de Constantino, o abertamente ariano Constâncio II e o pagãoJuliano, o Apóstata, foi a sua visão teológica que acabou por prevalecer.

Estátua de Constantino emIorque, onde foi aclamadoaugusto

Ao mesmo tempo que velava pela unidade religiosa do império, Constantino quis resolver o problema da divisão da elite dirigente numa aristocracia senatorial com acesso exclusivo às "dignidades" (as velhas magistraturas republicanas, sem poderes ou responsabilidades, e transformadas numa mera hierarquia destatus) e numa hierarquia burocrática de funcionários imperiais com funções administrativas efetivas e pertencentes àordem equestre: após 326, os altos funcionários passam à pertencer à ordem senatorial (osclarissimi) e o número de senadores passa de 600 a 2 mil, com os requisitos de entrada elevados (em Roma, os ex-questores deixam de ser senadores, e a entrada no senado passa a depender dapretura; na nova capital de Constantinopla, o acesso ao senado seria garantido aos ex-titulares do posto detribuno da plebe, velha magistratura ressuscitada). Com a entrada do alto pessoal administrativo na ordem senatorial, quaisquer pretensões de independência política da velha aristocracia ficaram eliminadas; a escolha de todos os imperadores subsequentes seria feita exclusivamente na família do imperador ou através do exército.[36] Em contrapartida, no entanto, Constantino parece haver cedido aos senadores no final do seu reinado o direito de elegerem, eles mesmos, questores e pretores e assim determinarem que pessoas queriam fazer ingressar na sua ordem, abandonando a prática da nomeação imperial de novos senadores, aadlectio. O senado, assim, se continuou sem o poder de fazer uma política própria, passou a ter o poder de estabelecer um "cadastro de reserva" da administração imperial. Por outro lado, paralelamente à carreira senatorial "padrão", a qual se chegava pela eleição às magistraturas, forma-se uma carreira alternativa, pela qual indivíduos não oriundos da aristocracia tradicional se tornam automaticamente senadores ao serem nomeados pelo imperador para cargos de hierarquia senatorial.[37] Por outras palavras: o título de senador passou a significar uma posição na hierarquia administrativa, e não uma função pública (excetuando-se, aí, o governo local de Roma). O que aconteceu com os senadores romanos foi apenas o exemplo mais notável do que aconteceu em todo o império com sua cristianização: as identidades culturais e políticas locais deixaram de contar diante da hierarquia burocrática central.[38]

Fundação de Constantinopla

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Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega deBizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a de Nova Roma, dotando-a de umsenado e instituições cívicas (catorze regiões, um fórum, distribuições de trigo, umprefeito urbano) semelhantes aos da antigaRoma. Tratava-se, no entanto, de uma cidade puramente cristã, dominada pelaIgreja dos Santos Apóstolos, junto à qual se encontrava omausoléu onde Constantino seria sepultado.[39] Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas neles foram proibidos ossacrifícios e o culto das imagens dos deuses.[40] Após a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeadaConstantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital permanente do império. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado (foedus) realizado entre Constantino e seus descendentes com osgodos, que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira doDanúbio e fornecer homens ao exército romano, em troca de abastecimentos.[41] A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência dopapado de Roma e fortaleceu a influência dobispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocariam futuramente oGrande Cisma do Oriente.

Sucessão

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Um ano depois doPrimeiro Concílio de Niceia, em 326, portanto, durante uma viagem solene a Roma para a comemoração dos seus vinte anos de reinado, Constantino mandou matar o seu próprio filho e sucessor designadoCrispo, um general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para derrubar o pai. Pouco depois, sufocaria a sua segunda mulherFausta num banho sobreaquecido, provavelmente por suspeitar que ela tivesse intrigado contra o seu enteado Crispo. Mandou também estrangular o cunhadoLicínio, que se havia rendido em troca da vida echicotear até àmorte o seu filho (e sobrinho do próprio Constantino). Foi sucedido pelos seus três filhos com Fausta:Constantino II,Constante I eConstâncio II, os quais dividiram entre si a administração do império até que, depois de uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu comoaugusto único.

Alimesdanubiana e oriental no tempo de Constantino, com os territórios conquistados no curso das campanhasgermano-sarmáticas (de 306 a 337). O mapa representa também oImpério Romano pouco depois da morte de Constantino (337), com os territórios "repartidos" entre os seus três filhos (Constante I,Constantino II eConstâncio II)

Morte

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Na Páscoa de 337 Constantino havia percebido que a sua morte chegaria em breve. Dessa forma chamou Eusébio de Nicomédia e pediu-lhe os sacramentos.[42] Morreu em Ancirona, nos subúrbios de Nicomédia (atual cidade turca deIzmit), ao sul doMar de Mármara.[43]

Apreciações póstumas

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Constantino foi uma figura controversa já na sua época: o último imperador pagão, seu sobrinhoJuliano, dizia que ele era atraído pelo dinheiro e que buscou acima de tudo, enriquecer-se e aos seus partidários[44] — traço este (de saber enriquecer os seus amigos) que também foi reconhecido pelo historiadorEutrópio e pelo próprioEusébio de Cesareia.[45] O historiador pagãoZósimo criticou severamente as suas reformas militares.[46] Mas como primeiro imperador «cristão», Constantino foi reverenciado durante toda aIdade Média, seja pela cristandade oriental, que o tinha como fundador doImpério Bizantino — e aIgreja Ortodoxa acabou porcanonizá-lo — seja pela ocidental, que, sem lhe atribuir ostatus de santo, considerava haver ele criado osEstados Papais, territórios doados aoPapa pela chamadaDoação de Constantino. No século XV, o filólogoLorenzo Valla provou a falsidade da suposta doação, forjada no século VIII como forma de tentar legitimar os poderes temporais do papado. Só com oIluminismo o seu legado começou a ser pesadamente criticado, e o historiador inglêsEdward Gibbon, no seu livro clássico sobre a "A História do Declínio e Queda do Império Romano" caracteriza-o como um general romano de velha cepa a quem o poder absoluto (e, por extensão, o cristianismo) havia convertido num déspota oriental.[47] Com a secularização da sociedade moderna, a apreciação de Constantino em função exclusivamente das suas reformas religiosas perdeu acuidade - e ele passou a ser analisado em termos da sua própria época, como um dos fundadores, juntamente comDiocleciano, do Baixo-Império (ouDominato), do qual ele estabeleceu as estruturas políticas e sociais básicas.[39]

Notas

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OCommons possui umacategoria com imagens e outros ficheiros sobreConstantino
[a] ^ Constantino já era casado comMinervina e afastou-se dela para poder casar-se comFausta.

Referências

  1. M. A., Linguistics; B. A., Latin.«Constantine the Great's Legacy Included Spreading Christianity».ThoughtCo (em inglês). Consultado em 28 de setembro de 2020 
  2. «Constantine I - Christianity, Life & Death - Biography».www.biography.com. Consultado em 5 de outubro de 2020 
  3. Richards, Jeffrey (1979).The Popes and the Papacy in the Early Middle Ages, 476-752. [S.l.]: Routledge. pp. 13–16 
  4. Udoh, Fabian E. (2008).«Quand notre monde est devenu chretien».CBS Interative Resource Library (Arq. em Archive Today) 
  5. Barnes,Constantine and Eusebius, 272.
  6. Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 14; Cameron, 90–91; Lenski, "Introduction" (CC), 2–3.
  7. Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 23–25; Cameron, 90–91; Southern, 169.
  8. Cameron, 90; Southern, 169.
  9. Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 14; Corcoran,Empire of the Tetrarchs, 1; Lenski, "Introduction" (CC), 2–3.
  10. Barnes,Constantine and Eusebius, 265–68.
  11. Drake, "What Eusebius Knew," 21.
  12. Eusebius,Vita Constantini 1.11; Odahl, 3.
  13. Lenski, "Introduction" (CC), 5; Storch, 145–55.
  14. Barnes,Constantine and Eusebius, 265–71; Cameron, 90–92; Cameron and Hall, 4–6; Elliott, "Eusebian Frauds in the "Vita Constantini"", 162–71.
  15. Lieu and Montserrat, 39; Odahl, 3.
  16. Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 26; Lieu and Montserrat, 40; Odahl, 3.
  17. Lieu and Montserrat, 40; Odahl, 3.
  18. Cf. Jean-Michel Carrié & Aline Roussele,L'Empire romain en mutation: des Sévéres à Constantin, 192-337, Paris Seuil,1999, ISBN 2.02.025819.6, pgs.219/220
  19. Cf. Carrié & Roussele,ibid., pg.220
  20. Carrié & Roussele,ibid., pg.743
  21. Carrié & Roussele,ibid., pgs. 221/222 e 744; M. Christol & D. Nony,Rome et son Empire, Paris, Hachette, 2003,pg.236
  22. M. Christol & D. Nony,ibid.,pgs.235/236
  23. Christol e Nony,op.cit., pg.236
  24. Christol e Nony,op.cit., pg.237
  25. Carrié & Roussele,op.cit., pgs.254/255
  26. Cf. Paul Veyne,Quand notre monde est devenu chrétien, Paris, Albin Michel, 2007, pgs.111/114
  27. Brown, Peter.Power and Persuasion in Late Antiquity, Madison, The University of Wisconsin Press, 1992, pg. 100
  28. Código Teodosiano, 9.16.2, citado por Peter Brown,Rise of Christendom 2a. edição,Oxford, Blackwell Publishing, 2003, pg. 74
  29. Schaff, Philip (1867).From Constantine the Great to Gregory the Great, A.D. 311-600 (em inglês). [S.l.]: C. Scribner. Consultado em 3 de setembro de 2025 
  30. Carrié & Rousselle,op.cit., pg.258
  31. Ramsey MacMullen,Le Declin de Rome et la Corruption du Pouvoir, Paris, Les Belles Lettres,1991, pg.308
  32. Arther Ferrill,A Queda do Império Romano, Rio de Janeiro,Jorge Zahar Editor, 1989, pg.43
  33. Edward N. Luttwak,The Grand Strategy of the Roman Empire, Baltimore, The Johns Hopkins University Press,1979, pgs.178/179
  34. KAUFMANN, KOTTJE, MOELLER, WOLF (Orgs.), Thomas, Raymund, Bernd, Hubert (2012).História Ecumênica da Igreja Vol. 1. São Paulo: Paulus, Sinodal, Loyola. p. 135  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  35. Christol & Nony,op.cit., pg.259
  36. Christol & Nony,op.cit., pg.247
  37. Carrié & Roussele,op.cit., pgs.659/660 e 658
  38. Brown, Peter.op.cit., pg. 19
  39. abChristol & Nony,op.cit., pg.240
  40. Carrié & Roussele,op.cit., pg.257
  41. Christol e Nony,op.cit., pg.267
  42. MONTANELLI, Indro.História de Roma. 2ª ed. Trad. Luís de Moura Barbosa. São Paulo: Imbrasa, 1966, pág. 325.
  43. «Hoje na História: 337 - Morre o Imperador Constantino I, a tempo de receber o batismo».operamundi.uol.com.br. Consultado em 21 de maio de 2021 
  44. Long, Jacqueline. "Julian Augustus' Julius Caesar", IN Maria Wyke, ed.,Julius Caesar in Western Culture, Blackwell, Malden, MA,2006, pg.76
  45. Apud Paul Veyne,Le Pain et le Cirque, Paris, Seuil, 1976, pg.760, nota263
  46. Luttwak, Edward.op.cit., pg.188
  47. Gibbon,Decline and Fall of the Roman Empire, Chicago, Encyclopaedia Britannica, 1952, V.1, pg.256

Constantino I
Dinastia Constantiniana
c. 27 de fevereiro de 272 – 22 de maio de 337
Precedido por
GalérioeConstâncio I

Imperador Romano

25 de julho de 306 – 22 de maio de 337
comGalério(306–311),Valério Severo(306–307),Magêncio(306–312),
Maximiano(306–308),Licínio(308–324) eMaximino II(310–313)
Sucedido por
Constantino II,Constâncio II
eConstante I
Principado
27 a.C.–235 d.C.
Crise
235–284
Dominato
284–610
Império do Ocidente
395–480
Império do Oriente
395–610
Império do Oriente/
Bizantino

610–1453
Ver também
Itálico indica um coimperador júnior, enquantosublinhado indica um imperador cuja legitimidade é debatida
Jesus Cristo
Bíblia
Teologia cristã
Tradição cristã
História
Denominações
Católicos
Protestantes
Orientais
Antitrinitarismo
Cristianismo Esotérico
Outros
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