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Ciclo da borracha | |
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Mapa das cidades nas quais o primeiro ciclo da borracha, que durou de 1879-1912, impulsou expressivamente seus crescimentos; este fenômeno se deu naRegião Norte brasileira e na regiãoamazônica dos países vizinhos ao Brasil, que é representado no mapa, descrito nas cidades pelo ano de fundação; cidades do Brasil, em branco, cidades fora do Brasil em vermelho. | |
Localização | Brasil e regiãoamazônica da Bolívia, Peru e Colômbia |
Data | 1879-1912 |
Ociclo da borracha foi um momento dahistória econômica e social doBrasil, ocorrido na Região Norte, relacionado com aextração delátex daseringueira ecomercialização daborracha impulsionadas na segunda metade doséculo XIX pelo advento daRevolução Industrial (1760-1830). Tornando-se atividades basilares da economia com centro na regiãoamazônica, proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais, sociais, arquitetônicas principalmente dos município deManaus eBelém, até hoje capitais e maiores centros de seus respectivos estados,Amazonas ePará; Além de muitas outras cidades da região como:Itacoatiara,Marabá,Rio Branco,Eirunepé,Cruzeiro do Sul eAltamira.
Neste mesmo período, foi criado o Território Federal do Acre (atual Estado doAcre), área adquirida daBolívia em 1903 para obtenção de novas seringueiras para extração.
O ciclo da borracha viveu seu auge de fato entre 1879 e 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante aSegunda Guerra Mundial (1939-1945).[1][2]
O naturalista francêsCharles Marie de La Condamine ficou muito interessado quando tomou conhecimento da pegajosa e espessa seiva com a qual os índígenasamazonidas, noséculo XVIII, confeccionavam objetos. Assim relatou sua descoberta na Academia de Ciências da França, em 1774 (dando o primeiro passo para o advento do Ciclo da Borracha):
"Os índios fabricam garrafas, botas e bolas ocas, que se achatam quando apertadas, mas que tornam a sua primitiva forma desde que livres".
Em 1803, a primeira fábrica de produtos de borracha (ligas elásticas esuspensórios) surgiu naFrança (Paris). Contudo, o material ainda apresentava algumas desvantagens: à temperatura ambiente a goma mostrava-se pegajosa. Com o aumento da temperatura, a goma ficava mais mole e pegajosa, ao passo que a diminuição da temperatura era acompanhada do endurecimento e rigidez da borracha.
Foram osíndios centro-americanos os primeiros a descobrir e fazer uso das propriedades singulares da borracha natural. Entretanto, foi nafloresta amazônica que de fato se desenvolveu a atividade da extração da borracha, a partir daseringa ou seringueira (Hevea brasiliensis), umaárvore que pertence à família dasEuphorbiaceae, também conhecida comoárvore da fortuna. Que docaule é extraído um líquido branco, chamadolátex, cuja composição é formada, em média, por 35% dehidrocarbonetos, destacando-se o 2-metil-buta-1,3-dieno (C5H8) (comercialmente conhecido como isopreno, o monômero da borracha).
O látex é uma substância praticamente neutra, compH 7,0 a 7,2. Mas, quando exposta ao ar por um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e sofre coagulação espontânea, formando opolímero chamado de borracha, representada por (C5H8)n, onden é da ordem de 10 000 e apresentamassa molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol.
A borracha obtida in natura possuia desvantagens: era um produto volátil, derretia com o calor e endurecia com o frio;[3] a exposição ao ar também provocava a mistura com outros materiais (detritos diversos), o que a torna perecível e putrefável, e; pegajosa devido à influência da temperatura. Através de um tratamento industrial, eliminam-se do coágulo as impurezas e submete-se a borracha resultante a um processo denominadovulcanização (descoberto em 1839 nos Estados Unidos),[3] resultando a eliminação das propriedades indesejáveis. Torna-se assim imperecível, resistente asolventes e a variações de temperatura, adquirindo excelentes propriedades mecânicas e perdendo o carácter pegajoso.
A semente da seringueira é rica emóleo, que pode servir dematéria-prima para a produção deresinas,vernizes etintas,[4] e, por ser rica emnutrientes é usada na fabricação desuplementos alimentares.[5][6] Indígenas ainda usam as sementes da seringueira como alimento.[7]
Durante os primeiros quatro séculos e meio decolonização, como não foram encontradas riquezas de ouro ou minerais preciosos naAmazônia, as populações da hileia brasileira viviam praticamente em isolamento, pois nem acoroa portuguesa e, posteriormente, nem oimpério brasileiro conseguiram concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso na região, que vivia apenas do extrativismo vegetal. A economia regional se desenvolveu por ciclos (drogas do sertão), acompanhando o interesse do mercado nos diversos recursos naturais da região.
Para extração da borracha no período do século XIX, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do estado brasileiro doCeará, que sofria as consequências dassecas nesta época. O advento da Revolução Industrial impulsionou a comercialização da borracha na segunda metade doséculo XIX.
O desenvolvimento tecnológico e aRevolução Industrial naEuropa (1760–1840), foram o estopim que fizeram da borracha natural, até então um produto exclusivo da Amazônia, tornar-se muito procurado e valorizado internacionalmente, gerando lucros e dividendos a quem quer que se aventurasse nestecomércio.
Desde o início da segunda metade do século XIX, a borracha passou a exercer forte atração sobre empreendedores visionários.[8] A atividade extrativista do látex na Amazônia revelou-se de imediato muito lucrativa. A borracha natural logo conquistou um lugar de destaque nas indústrias europeias enorte americanas, alcançando elevado preço. Isto fez com que diversas pessoas viessem ao Brasil na intenção de conhecer a seringueira e os métodos e processos de extração, a fim de tentar também lucrar de alguma forma com esta riqueza.[9]
Assim a extração do látex e comercialização borracha tornaram-se atividades basilares da economia brasileira,[1] a partir daí surgiram váriasurbes epovoados, depois foram transformados em cidades. Belém e Manaus, que já existiam, passaram então por importante transformação e urbanização.[10] NoCenso de 1900, Belém já contava 96 560 habitantes, um número significativo na época.[11] Manaus e Belém foram umas das primeiras cidades do Brasil ainda no final do século XIX, a introduzir a eletricidade na iluminação pública, criando viabilidade para a instalação dosbondes elétricos.[12]
O inglês Henry Wickham foi o responsável pelo contrabando de cerca de 70 mil sementes[9] deseringueira,Hevea brasiliensis, na região de Santarém noPará em1876. As sementes foram encaminhadas ao Royal Botanic Gardens emLondres e, após selecionadas geneticamente, enviadas para plantações naMalásia. Quarenta anos mais tarde, quando as plantas cresceram, a Inglaterra dominou o mercado da borracha.[8]
Os trabalhadores trazidos do Nordeste padeciam de várias doenças devido ao clima úmido da selva. Mas suas condições de trabalho eram precárias por outros motivos também:
Não só a febre; também aguardava, na selva, um regime de trabalho bastante parecido com a escravidão. O trabalho se pagava em espécies — carne seca, farinha de mandioca, rapadura, aguardente — até que o seringueiro saldasse as suas dívidas, milagre que raras vezes ocorria. Havia um acordo entre os empresários para não dar trabalho aos operários que tivessem dívidas pendentes; os guardas rurais, postados nas margens dos rios, disparavam contra os fugitivos. As dívidas somavam-se às dívidas. À dívida original, pelo transporte do trabalhador do Nordeste, agregava-se a dívida pelos instrumentos de trabalho — facão, faca, baldes, e como o trabalhador comia, e sobretudo bebia, quanto mais antigo fosse o operário, maior seria a dívida por ele acumulada. Analfabetos, os nordestinos sofriam sem defesas os passes de prestidigitação [mágica] da contabilidade dos administradores—Galeano, Eduardo (29 de setembro de 2010).As veias abertas da América Latina. [S.l.]: L&PM Editores. p. 118
A ideia de construir uma ferrovia nas margens dos riosMadeira eMamoré surgiu na Bolívia, em 1846. Como o país não tinha como escoar a produção de borracha por seu território, era necessário criar alguma alternativa que possibilitasseexportar a borracha através doOceano Atlântico.
A ideia inicial optava pela via da navegaçãofluvial, subindo o rio Mamoré em território boliviano e depois pelo rio Madeira, no Brasil. Mas o percurso fluvial tinha grandes obstáculos: vintecachoeiras impediam a navegação. E foi aí que cogitou-se a construção de uma estrada de ferro que cobrisse por terra o trecho problemático.
Em 1867, no Brasil, também visando encontrar algum meio que favorecesse otransporte da borracha, osengenheiros José e Francisco Keller organizaram uma grande expedição, explorando a região das cachoeiras do rio Madeira para delimitar o melhor traçado, visando também a instalação de uma ferrovia.
Embora a ideia da navegação fluvial fosse complicada, em 1869, o engenheiro estadunidense George Earl Church obteve do governo da Bolívia a concessão para criar e explorar uma empresa de navegação que ligasse os rios Mamoré e Madeira. Mas, não muito tempo depois, vendo as dificuldades reais desta empreitada, os planos foram definitivamente mudados para a construção de uma ferrovia.
As negociações avançam e, ainda em 1870, o mesmo Church recebe do governo brasileiro a permissão para construir então uma ferrovia ao longo das cachoeiras do Rio Madeira.
O exagero do extrativismo descontrolado da borracha alimentada pelo aquecimento da indústria automobilística dos Estados Unidos,[10] estava em vias de provocar um conflito internacional, onde os trabalhadores brasileiros cada vez mais adentravam nas florestas do território da Bolívia em busca de novas seringueiras, gerando conflitos e lutas por questões fronteiriças no final do século XIX, sendo chamados de Questão doAcre, que exigiram inclusive a presença do exército, liderado pelo militarJosé Plácido de Castro.
Arepública brasileira, recémproclamada, tirava o máximo proveito das riquezas obtidas com a venda da borracha, mas a Questão do Acre preocupava. Então houve a intervenção do diplomataBarão do Rio Branco e do embaixadorAssis Brasil, em parte financiados pelos Barões da borracha, que culminou na assinatura do Tratado de Petrópolis em novembro de 1903 em negociação conduzida pelobarão de Rio Branco,[10] no governo dopresidenteRodrigues Alves. Pondo fim à contenda com a Bolívia, efetivando a compra do território por 2 milhões delibras esterlinas, garantindo o efetivo controle e a posse das terras e florestas do Acre por parte do Brasil,[10] em troca das terras deMato Grosso e do compromisso de construir uma ferrovia que superasse o trecho encachoeirado do rio Madeira e que possibilitasse o acesso das mercadorias bolivianas (sendo a borracha o principal), aosportos brasileiros do Atlântico (inicialmente Belém doPará, na foz dorio Amazonas).
As cidades deste novo Estado foram então nomeadas com os personagens da Questão Acre, a capital recebeu o nome deRio Branco e dois municípios receberam o nome deAssis Brasil ePlácido de Castro.
Aferrovia Madeira-Mamoré, também conhecida como Ferrovia do Diabo por ter causado a morte de cerca de seis mil trabalhadores (segundo a lenda: um trabalhador morto para cada dormente fixado nos trilhos), foi encampada pelo mega-empresárioestadunidensePercival Farquhar. A construção da ferrovia iniciou-se em 1907 durante o governo deAffonso Penna e foi um dos episódios mais significativos da história da ocupação da Amazônia, revelando a clara tentativa de integrá-la ao mercado mundial através da comercialização da borracha.
Em 30 de abril de 1912 foi inaugurado o último trecho da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Tal ocasião registra a chegada do primeiro comboio à cidade deGuajará-Mirim, fundada nessa mesma data.
Mas o destino da ferrovia que foi construída com o propósito principal de escoar a borracha e outros produtos da região amazônica, tanto da Bolívia quanto do Brasil, para os portos do Atlântico, e que dizimara milhares de vidas, foi o pior possível.
Primeiro, porque o preço do látex caiu vertiginosamente no mercado mundial, inviabilizando o comércio da borracha da Amazônia. Depois, devido ao fato de que o transporte de outros produtos que poderia ser feito pela Madeira-Mamoré foi deslocado para outras duas estradas de ferro (uma delas construída noChile e outra naArgentina) e para oCanal do Panamá, que entrou em atividade em 15 de agosto de 1914.
Alie-se a esta conjuntura o fator natureza: a própria floresta amazônica, com seu alto índice deprecipitação pluviométrica, se encarregou de destruir trechos inteiros dos trilhos, aterros epontes, tomando de volta para si grande parte do trajeto que o homem insistira em abrir para construir a Madeira-Mamoré.
A ferrovia foi desativada parcialmente nadécada de 1930 e totalmente em 1972, ano em que foi inaugurada aRodovia Transamazônica (BR-230). Atualmente, de um total de 364 quilômetros de extensão, restam apenas 7 quilômetros ativos, que são utilizados para finsturísticos.
A população rondoniense luta para que a tão sonhada revitalização da EFMM saia do papel, mas até à data 1º de dezembro de 2006 a obra ainda nem havia começado. A falta de interesse dos órgãos públicos, em especial das prefeituras, e a burocracia impedem o projeto.
A constante exploração e valorização da borracha amazônica, possibilitou um rápido desenvolvimento econômico da região, principalmente no desenvolvimento da cidade de Belém em centro urbano, sob o comando do intendente Antônio Lemos, que mais foi influenciada pelo modelo estético Europa, sobretudo o francês.[14] Absorvendo o modo de vestir e a arquitetura, baseada no estilo Art Noveau, o que a tornou a cidade brasileira mais europeia.[14] Posteriormente, as transformações ocorreram na cidade de Manaus, caracterizando o período de ouroBelle Époque Amazônica (1890-1920).[1][15]
As cidades deBelém eManaus, na época eram consideradas as cidades brasileiras mais desenvolvidas do Brasil. A planta da cidade de Manaus passou a ser construída em moldes dos padrões europeus. As ações do governo, a riqueza e o poder foram concentrados na cidade de Manaus, dando pouco importância ao interior do Estado, relegando ao esquecimento, onde os trabalhadores dos seringais tornaram-se prisioneiros do sistema patronal, sem meios para saldar suas dívidas. Ambas possuíamluz elétrica, sistema de água encanada eesgotos. Viveram seu apogeu entre 1890 e 1920, gozando de tecnologias que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais comobondes elétricos,boulevard, avenidas sobrepântanos aterrados, além deedifícios imponentes e luxuosos, como por exemplo, em Manaus: oTeatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, em Belém: oMercado de São Brás,Mercado Francisco Bolonha,Teatro da Paz,Palácio Antônio Lemos, corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais, construídos em boa parte pelo intendenteAntônio Lemos, o Grande Hotel, oCinema Olympia (a mais antiga casa brasileira de exibição de filmes), inaugurado no auge do cinema mudo internacional em 1912.
A influência europeia logo se fez notar em Manaus e Belém, naarquitetura da construções e no estilo de vida, fazendo doséculo XIX a melhor fase econômica vivida por ambas cidades. A Amazônia era responsável, nessa época, por quase 40% de toda a exportação brasileira. Os novos ricos de Manaus tornaram a cidade a capital mundial da venda dediamantes. Graças à borracha, arenda per capita de Manaus era duas vezes superior à da região produtora decafé (São Paulo,Rio de Janeiro eEspírito Santo).
Moeda da borracha:libra esterlina: como forma de pagamento pela exportação da borracha, os seringalistas recebiam em libra esterlina (£), moeda doReino Unido, que inclusive era a mesma que circulava em Manaus e Belém durante aBelle Époque amazônica.
A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, terminada em 1912, já chegava tarde. A Amazônia já estava perdendo a primazia domonopólio de produção da borracha, porque os seringais plantados pelosingleses naMalásia, noCeilão e naÁfrica tropical durante o período de crescente valorização da borracha no cenário internacional, comsementes oriundas da própria Amazônia, passaram a produzir látex com maior eficiência e produtividade. Consequentemente, com custos menores e preço final menor, o que os fez assumir o controle do comércio mundial do produto, superando a brasileira.[10]
A borracha natural da Amazônia passou a ter um preço proibitivo no mercado mundial, tendo como reflexo imediato a estagnação da economia regional. A crise da borracha tornou-se ainda maior porque a falta de visão empresarial e governamental resultou na ausência de alternativas que possibilitassem o desenvolvimento regional, tendo como consequência imediata a estagnação também das cidades.[carece de fontes?] A falta não pode ser atribuída apenas aos empresários chamados Barões da Borracha e à classe dominante em geral, mas também ao governo e políticos que não incentivaram a criação de projetos administrativos que gerassem um planejamento e um desenvolvimento sustentado da atividade de extração do látex.[carece de fontes?]
Por sinal, desde a época do Governo Imperial que eram descartados projetos de incentivo à produção ou proteção da maior fonte de renda do Brasil no final do século XIX, superando o decadenteciclo do café. Devido o Governo Monárquico que era atrelado ao interesse econômico dos barões do café,[15] que direcionava todos os esforços governamentais para manter a riqueza dosudeste brasileiro, mais influente ao poder que os barões da borracha. Atendendo ao pedido de industriais norte-americanos, também impediu que o governo do Pará criasse taxas alfandegárias protecionistas para os exportadores estrangeiros.[15]
Com a República, pouca coisa mudou. O baixo peso político era contrastante com o poder financeiro do riquíssimo Norte. O Poder, concentrado no Sudeste brasileiro, passou a ser controlado pelos interesses econômicos dos cafeicultores e dos pecuaristas,[10][15] resultando napolítica do café-com-leite, e excluindo os interesses dos barões da borracha (que também, pouco se movimentavam politicamente para serem incluídos, preferindo ir gastar seu dinheiro nos cassinos europeus[carece de fontes?] do que investir em "lobbies" por acharem que o ciclo da borracha nunca acabaria).
Embora restando a ferrovia Madeira-Mamoré e as cidades dePorto Velho eGuajará-Mirim como herança deste apogeu, a crise econômica provocada pelo término do ciclo da borracha deixou marcas profundas em toda a região amazônica: queda na receita dos Estados, alto índice dedesemprego,êxodo rural e urbano, sobrados e mansões completamente abandonados, e, principalmente, completa falta de expectativas em relação ao futuro para os que insistiram em permanecer na região.
Os trabalhadores dos seringais, agora desprovidos da renda da extração, fixaram-se naperiferia de Manaus em busca de melhores condições de vida. Por volta de 1920, começaram a formar o que seria chamado decidade flutuante, que se consolidaria até adécada de 1960.
O governo central do Brasil até criou um órgão com o objetivo de contornar a crise, chamado Superintendência de Defesa da Borracha, mas esta superintendência foi ineficiente e não conseguiu garantir ganhos reais, sendo, por esta razão, desativada não muito tempo depois de sua criação.
A partir do final dadécada de 1920,Henry Ford, o pioneiro da indústria americana deautomóveis, empreendeu o cultivo de seringais na Amazônia criando 1927 a cidade deFordlândia e posteriormente (1934)Belterra, no Oeste doPará, especialmente para este fim, com técnicas de cultivo e cuidados especiais, mas a iniciativa não logrou êxito já que a plantação foi atacada por uma praga na folhagem conhecida como mal-de-folhas, causada pelo fungoMicrocyclus ulei.
O período da Batalha da Borracha, popularmente chamado Segundo Ciclo da Borracha,[16][17] foi um segundo pico de produção da borracha no período de 1942 a 1945 no contexto daSegunda Guerra Mundial, quando a Amazônia teve novamente, embora por pouco tempo, um aumento na procura e produção da borracha financiado pelos Estados Unidos.[2] Quando as forçasjaponesas dominaram militarmente oPacífico Sul nos primeiros meses de 1942 e invadiram também a Malásia, o controle dos seringais passou a estar nas mãos dos nipônicos, o que culminou na queda de 97% da produção da borracha asiática.[18][8]
Na ânsia de uma solução para esse impasse e, também para suprir a borracha necessária para o material bélico dosForças Aliadas, em maio de 1941 o governo brasileiro fez acordos com o governo dos Estados Unidos, chamados deAcordos de Washington, que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.[18] Para o Brasil, além da grande movimentação realizada pela exportação daborracha, os investimentos realizados osEstados Unidos chegaram, de certa forma, a manter a economia brasileira estável e até - em alguns momentos - em alta durante o período em que se desenrolava o conflito. O país havia encontrado a química milagrosa da guerra por conta da abertura rumo às atividades rurais e extrativistas, no qual permitia perspectivas de propulsão e crescimento da economia. Parte desse ideal surgia da necessidade de viver com os próprios recursos, a fim de estimular o crescimento da riquezaagropecuária nacional e de produtos que poderiam ter desenvolvido suas exportações.[19]
No período já havia uma grande oportunidade de bons negócios entre Brasil e Estados Unidos: o Conselho Federal de Comércio Exterior, com sede no Rio de Janeiro, havia emitido uma circular aos governos e às associações comerciais e industriais dos Estados comunicando que tinham recebido um telegrama da Embaixada do Brasil emWashington, o qual informava que o Departamento de Guerra dos Estados Unidos iniciava algumas compras para armazenamento, no valor de 100 milhões dedólares em mercadorias necessárias à defesa nacional, tais como:bauxita,manganês,mica,cobre, borracha,lã,cristal de rocha, etc.
Isto resultaria na implantação de mais alguns elementos, inclusive de infraestrutura, apenas emBelém, desta vez por parte dos Estados Unidos. A exemplo disso, temos oBanco de Crédito da Borracha, atualBanco da Amazônia;o Grande Hotel, luxuoso hotel construído em Belém em apenas 3 anos, onde hoje é o Hilton Hotel; o aeroporto de Belém; a base aérea de Belém; entre outros.
Com o alistamento de nordestinos,Getúlio Vargas minimizou o problema da seca do nordeste e ao mesmo tempo deu novo ânimo nacolonização da Amazônia.
Como os seringais estavam abandonados e mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 mil homens.
O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede no nordeste, emFortaleza, criado pelo entãoEstado Novo. A escolha do nordeste como sede deveu-se essencialmente como resposta a umaseca devastadora na região e à crise sem precedentes que os camponeses da região enfrentavam.
Além doSEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar suporte à Batalha da borracha, a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) e o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (Snapp). Criou-se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha, que seria transformada, em 1950, no Banco de Crédito da Amazônia.
O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado com capital dos industriais estadunidenses, custeava as despesas do deslocamento dosmigrantes (conhecidos à época comobrabos). O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia.
Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil foram compulsoriamente levados àescravidão por dívida e à morte por doenças para as quais não possuíam imunidade. Só donordeste foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas doCeará. Esses novos seringueiros receberam aalcunha deSoldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão importante quanto o de combater oregime nazista com armas (ver:Soldados da Borracha (documentário).
Manaus tinha, em 1849, cinco mil habitantes, e, em meio século, cresceu para 70 mil. Novamente a região experimentou a sensação de riqueza e de pujança. Odinheiro voltou a circular em Manaus, em Belém, em cidades e povoados vizinhos e a economia regional fortaleceu-se.
Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um caminho sem volta. Cerca de 30 mil seringueiros morreram abandonados na Amazônia, depois de terem exaurido suas forças extraindo oouro branco. Morriam demalária,febre amarela,hepatite e atacados por animais comoonças,serpentes eescorpiões. O governo brasileiro também não cumpriu a promessa de reconduzir osSoldados da Borracha de volta à sua terra no final da guerra, reconhecidos comoheróis e comaposentadoria equiparada à dosmilitares. Calcula-se que conseguiram voltar ao seu local de origem (a duras penas e por seus próprios meios) cerca de seis mil homens.
Mas quando chegavam tornavam-se escravos por dívida dos coronéis seringueiros e morriam em consequência das doenças, da fome ou assassinados quando resistiam lembrando as regras do contrato com o governo.
Os finais abruptos do primeiro e do segundo ciclo da borracha demonstraram a incapacidade empresarial e falta de visão daclasse dominante e dos políticos da região. No primeiro, além da extrema confiança dos barões da borracha na perpetuação daquele ciclo, houve os interesses dos cafeicultores, que influenciavam o Governo Monárquico a proteger e fomentar apenas a sua produção (e, consequentemente, seus lucros), e culminando com a influência no Governo Republicano, comandado pelapolítica do café-com-leite, que pouco fez pela borracha da Amazônia. O final da Segunda Guerra conduziu, pela segunda vez, à perda da chance de fazer vingar esta atividade econômica, posto que o Governo Getulista fomentara o retorno à borracha apenas por interesses externos dospaíses aliados - notadamente os Estados Unidos. Não se fomentou qualquer plano de efetivo desenvolvimento sustentado na região, o que gerou reflexos imediatos: assim que terminou aSegunda Guerra Mundial, tanto as economias de vencedores como de vencidos se reorganizaram naEuropa e naÁsia, fazendo cessar novamente as atividades nos velhos e ineficientes seringais da Amazônia. Pois as indústrias passaram a adotar a borracha sintética, uma inovação tecnológica produzida em ritmo mais acelerado.[15]
O romanceManaos do espanholAlberto Vázquez-Figueroa é sobre o ciclo da borracha.[20]