
Ciência medieval é a expressão usada para designar as descobertascientíficas ocorridas durante aIdade Média.
AEuropa Ocidental entrou na Idade Média em grandes dificuldades que minaram a produção intelectual dessa parte do continente. Os tempos eram confusos e havia-se perdido o acesso aos tratados científicos daantiguidade clássica (emgrego), ficando apenas as compilações resumidas e até deturpadas que osromanos tinham traduzido para olatim.Entretanto, com o início do chamadoRenascimento do Século XII, renovou-se o interesse pela investigação da natureza. A ciência que se desenvolveu nesse período áureo da filosofiaescolástica dava ênfase àlógica e advogava oempirismo, entendendo a natureza como um sistema coerente deleis que poderiam ser explicadas pelarazão.[1]
Foi com essa visão que sábios medievais se lançaram em busca de explicações para osfenômenos do universo e conseguiram avanços importantes em áreas como ametodologia científica e afísica. Esses avanços foram repentinamente interrompidos pelapeste negra e são virtualmente desconhecidos pelo público contemporâneo, que muitas vezes ainda está preso ao rótulo do período medieval como uma suposta "Idade das Trevas".

Costuma-se dizer que osromanos eram um povo de orientação prática, preocupados com assuntos políticos e militares. Apesar de maravilhados com as descobertas do passadogrego, não chegaram a formar novas instituições que buscassem especificamente entender o universo ou o mundo natural. Os verdadeiros centros de produção deconhecimento do Império Romano localizavam-se no seu lado oriental, de cultura grega, comoAlexandria eAtenas. Eles tinham sido fundados antes dodomínio romano e já não mantinham a mesma força criativa de períodos anteriores.[2]
Devido ao fato daclasse rica do império ser bilíngue, emlatim e emgrego, não se sentia a necessidade de traduzir os tratados científico-filosóficos produzidos pela civilização grega. Entretanto, era comum encontrar compilações resumidas das principais correntes do pensamento grego nalíngua latina.[3]
A divisão do Império Romano em 395 fez com que oImpério Romano do Ocidente aos poucos perdesse contato cultural com ooriente e a língua grega acabou por ser esquecida. Desse modo, aEuropa Ocidental perdeu o acesso aos tratados originais dos filósofos clássicos gregos, ficando apenas com as versões resumidas desse conhecimento que haviam sido anteriormente traduzidas para o latim.[3]
A primeira idade feudal, que começa com uma tentativa falha de reunificação do império fragmentado politicamente, sofria com a distribuição desigual da população. As famílias haviam se fixado bastante longe umas das outras e, apesar de os perigos não as impedirem de se deslocar, cada deslocamento era uma expedição perigosa, quase uma aventura.
O uso da moeda era diferente do que no império anterior. Ela não deixou de circular, porém a sua circulação era mais limitada, em função das diferentes formas de produzir as moedas e da falta de um padrão, o que tornou o valor dessas moedas pouco confiável. Isso só começou a mudar e a melhorar com o posterior surgimento de bancos. Tudo isso tornava a economia limitada, mas ainda existente, havendo comércio, porém em escala muito menor.
O único serviço de cartas que funcionou durante toda a época feudal unia Veneza e Constantinopla, deixando o território praticamente alheio ao Ocidente, o que atrasou muito o avanço de novos conhecimentos. Com o passar dos séculos, foram ocorrendo mudanças de pensamento e de comportamento, culminando na segundaidade feudal.[4]
Com as transformações de pensamento e comportamento, a segunda idade feudal é caracterizada pelo avanço populacional, a mudança na infraestrutura e o fortalecimento monárquico de algumas cidades, econômica, política e militarmente. As distâncias que ainda existiam tornaram-se mais fáceis de transpor. Passou-se a exportar produtos manufaturados pelo Ocidente, não mais apenas a importar.
Ao final do século XI, a classe artesã e a de mercadores se tornaram cada vez mais vigorosas, até porque a economia medieval foi dominada pelos comerciantes e não pelos produtores. A complexidade dessas produções e comercializações foi aumentando, e a qualidade e a quantidade também. A importância, além do produtor e do comerciante, recaiu principalmente também sobre os banqueiros, que eram judeus, e os contadores.
Nesse momento, encontra-se a ideia de carência de instrução, o que gera aos clérigos a função de instruir os governantes. Os clérigos passam a ser protagonistas e a obter poder, tornam-se intérpretes do pensamento dos grandes e a instruir os leigos. Os discursos pautados no medo do juízo final eram exemplificados a partir de contos curtos chamados de exempla, que tinham uma função essencialmente retórica na sociedade.
O principal objetivo desses contos era instruir leigos, sendo um recurso didático ou uma ferramenta de persuasão. Essas histórias visavam levar os ouvintes a praticarem comportamentos virtuosos e a condenarem atitudes pecaminosas. Essa instrução não era usada apenas para os simples fiéis, mas também podia ser adaptada a fim de orientar os governantes.[5]
A relação com o conhecimento mudou. A ciência teórica, prática, lógica, mecânica e tática passou a ser apreciada. A manufatura, o teatro, a caça, a medicina, a arquitetura e a agricultura, todas as atividades que dependem das mãos e que exigem um saber específico – um domínio de uma técnica – ganharam destaque. Passou-se, então, a dar importância ao conhecimento técnico, habilidades que não é qualquer um que consegue desenvolver. Isso se deu devido à necessidade de se aprender a habilidade, ligado ao protagonismo das cidades e do comércio.
O autor Patrick Guilli traz para a análise as cidades italianas que são independentes. O comércio fica no interior, as feiras ficam perto das igrejas, alvos de promoção do uso da moeda para a aquisição de bens e serviços. Houve o uso de novas tecnologias: tecelagem, moinho de água, aparelho de levantar peso, e novas técnicas para evoluir economicamente. Com esses facilitadores, matérias-primas passavam por processos e se tornavam novos produtos comerciais.
Nas cidades, surgem novas instituições, novos trabalhos, feiras que ficavam perto das futuras universidades, corporações, novas redes de sociedade, estudantes, clérigos, prostitutas: houve mudanças sociais a partir disso. As cidades criam novas relações e conexões humanas, novos trabalhos. Muitas pessoas de tipos diferentes dentro de uma hierarquia vivendo e convivendo. Os bancos surgiram neste momento, juntamente com o uso e controle das moedas por feiras e bancos, como troca de produtos e de serviços.[6][7]
O fortalecimento do poder eclesiástico e clerical, juntamente com a criação e o fortalecimento das universidades, bem como a ênfase na ideia de conhecimento e memória, marcam esse período.
Na Idade Média, o acesso à literatura era muito raro, então a pessoa teria que memorizar um grande trecho para que esse fosse útil para se estudar e escrever obras. Por isso, se exercitava a memória. A memorização estava ligada a algo ético, porque, para refletir sobre si mesmo, você precisaria de certas informações, usadas como um filtro ou espelho. Informações essas que deveriam ser memorizadas de antemão. A reflexão sobre os textos era muito importante para fazê-los ter sentido prático.
Para Cícero, na Idade Média, um bom orador é aquele que consegue dialogar com a sua memória, buscando informações em sua mente, independente da ordem, e isso era importante para muitas funções da época, praticada por leigos e também por instruídos. A arte da memória teria sido criada para facilitar a memorização. É preciso conseguir fazer imagens mentais com o que se quer lembrar e criar um lugar na sua mente para tal informação, uma associação de coisas a lugares. Pregadores, advogados, médicos e clérigos tinham a memória como ponto central e fundamental da sua profissão.
A questão da memorização foi também muito importante nas universidades, já que era necessário memorizar para construir discursos dialéticos e debater, pois não havia suporte de informação e os livros eram de difícil acesso, com poucas bibliotecas.
Passa a haver o processo de institucionalização, onde as faculdades surgem, o estado se reveste de autoridade junto à igreja, e o papado absorve estruturas estatais. Com o surgimento e o fortalecimento das faculdades, passa a haver um apreço maior pela cultura escrita, que também se liga e se associa à cultura da memorização, e isso surge no palco da faculdade. A circulação de livros entre alunos e o fortalecimento da memória na aprendizagem acontecem. A Idade Média retoma a ideia de memória como algo essencial, como era em Roma, e que precisa ser treinada. Os alunos aprendem isso por meio da associação de uma informação a um lugar específico. As cidades são um novo centro de socialização de novos personagens nesse período, incluindo os universitários, que se encontravam próximos às catedrais. O centro da vida era em torno das catedrais.
Antes das universidades, havia as escolas urbanas que promoviam o ensino mais focado sobre as artes, com a ideia de formação moral e não formavam em áreas específicas, que é o objetivo das universidades, e também sem a produção de obras.
As universidades surgem de forma independente e formam doutores em áreas específicas, com divisão de graus e níveis, com segmentos específicos e especialização, o que gera novos trabalhos e demandas específicas na península que exigiam certos conhecimentos e formação. Essa ideia não surge do nada, mas acontece por meio de uma fomentação dessa construção de conhecimentos e de mestres.
As universidades obtinham autonomia na sua gestão, com a corporação de estudantes e professores. Havia concessão de títulos e graus, em que o conhecimento era colocado à prova. Estudantes podiam ser julgados em tribunais. Se criaram regras, uma regulamentação específica. O rei tinha que agir para a consolidação e autonomia universitária. Então, essa ideia de criar profissionais e medir as suas capacidades veio do medievo.
As universidades passam a valorizar o debate pelo raciocínio dialético, uma construção de raciocínio e defesa de argumento, com apresentação de síntese e apresentações orais, onde se soubesse defender seus argumentos. Eram ambientes das palavras, onde havia a valorização delas e se buscava entender a importância das palavras em toda essa sociedade. Aula unicamente expositiva não acontecia. Havia a disputa, o estímulo para aprender a usar a palavra.
Além das novidades em relação aos conhecimentos, os estudantes e mestres contribuem para a transformação da fisionomia das sociedades, pois criam novas e complexas formas de sociabilização. As universidades passam, então, a ser novas instituições responsáveis pela introdução de saberes e de novas pessoas na sociedade, pessoas que estavam em busca de formação e conhecimento, não apenas de relações econômicas.
Nas escolas urbanas que antecederam as universidades, a ideia da memória, do conhecimento livresco e da educação já existiam, mas o foco principal era disciplinar os alunos. Para que esse pudesse receber o conhecimento, ele deveria ser humilde, obediente, modesto e comedido, aceitar o que lhe era mandado e guardar na mente com fixação. Exigia-se que o professor tivesse um papel ético, pois estava ali para ensinar os alunos com todo o seu comportamento, que ele fosse um exemplo de disciplina e de transmissão de qualidades pessoais. Já no ambiente universitário, a ideia não era mais passar qualidades, e sim a especialização e o estudo livreiro.
Os homens de saber eram homens de ofício, ou seja, surgem para ganhar a vida; o seu conhecimento se torna um ofício. Se difere das escolas urbanas nesse sentido. Esse estudante sai da faculdade, podendo oferecer trabalho especializado. O formato de ensino atualizado era ler uma informação inicial e a debater. Não se ficava calado, se discutia em busca da verdade, lia, interpretava e debatia, discutia, apresentava e defendia o seu argumento acima do texto, que era apenas uma base. O Mestre deixa de ser apenas um leitor e passa a ser um pensador, podendo discordar, concordar, debater, discutir, confrontar o aluno e o professor. A escala social se dá por meio de conhecimento e não por nobreza, sangue ou dinheiro. Cabe a esse povo autoridade e proximidade com a nobreza.[8][9]
O Ocidente, embora unido pela língua latina, ainda englobava um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas de uma maneira incompleta pela cultura romana. Debilitado pelas migrações e invasões detribos bárbaras, pela desintegração política de Roma em 476 e isolado do resto do mundo pela expansão doIslão noséculo VII, o Ocidente Europeu chegou a ser pouco mais que uma colcha de retalhos de populações rurais e povos semi-nômades. A instabilidade política e o definhar da vida urbana golpearam duramente a vida cultural do continente. AIgreja Católica Romana, como única instituição que não se desintegrou nesse processo, manteve o que restou de força intelectual, especialmente através davida monástica.[3]
O homem das letras desses primeiros séculos era quase sempre umclérigo para quem o estudo dos conhecimentos naturais era uma pequena parte da escolaridade. Esses estudiosos viviam numa atmosfera que dava prioridade àfé e geralmente tinham a mente mais voltada para a salvação das almas do que para o questionamento de detalhes danatureza. Aqueles que desejavam investigar o mundo natural tinham suas opções limitadas pelo esquecimento do idioma grego. Muitos dos estudos tinham que ser feitos com informações obtidas de fontes não científicas, eram frequentemente textos com informações incompletas e que traziam sérios problemas de interpretação. Desse modo, por exemplo, manuais romanos de inspeção do solo eram lidos porque neles estavam incluídos elementos dageometria.[3]
A vida quase sempre insegura e economicamente difícil dessa primeira parte do período medieval mantinha o homem voltado para as dificuldades do dia a dia. O estudo da natureza era buscado mais por motivos práticos do que como uma investigação abstrata: a necessidade de cuidar dos doentes levou ao estudo da medicina e de textos antigos sobre remédios,[10] o desejo de determinar a hora correta para rezar levou os monges a estudar o movimento das estrelas, a necessidade de computar a data dapáscoa os levou a estudar e ensinar os movimentos do Sol e da Lua e rudimentos damatemática.[11] Não era incomum o mesmo texto discutir tanto os detalhes técnicos quanto o sentido simbólico dos fenômenos naturais.[12]
No final doséculo VIII, houve uma primeira tentativa de reerguimento da cultura ocidental.Carlos Magno conseguira reunir grande parte da Europa sob seu domínio. Para unificar e fortalecer o seu império, decidiu executar uma reforma naeducação. O monge inglêsAlcuíno elaborou um projeto de desenvolvimento escolar que buscou reviver o saber clássico estabelecendo os programas de estudo[13] a partir das seteartes liberais: otrivium, ou ensino literário (gramática,retórica edialética) e oquadrivium, ou ensino científico (aritmética,geometria,astronomia emúsica). A partir do ano 787, foram emanados decretos que recomendavam, em todo o império, a restauração de antigas escolas e a fundação de novas. Institucionalmente, essas novas escolas podiam sermonacais, sob a responsabilidade dosmosteiros;catedrais, junto àsede dos bispados; epalatinas, junto àscortes.[14][15]
Essas medidas teriam seus efeitos mais significativos apenas séculos mais tarde. O ensino da dialética (oulógica) foi fazendo renascer o interesse pela indagação especulativa; dessa semente surgiria a filosofia cristã daEscolástica. Além disso, nos séculosséculo XII e XIII, muitas das escolas que haviam sido estruturadas por Carlos Magno, especialmente as escolas catedrais, dão origem auniversidades.[16]

Depois da contenção das últimas ondas deinvasões estrangeiras noséculo X, seguiu-se uma fase de relativa tranquilidade em relação às ameaças externas, que também coincidiu com um período de condições climáticas mais amenas. A Europa Ocidental e Central passa então por mudançassociais,políticas eeconômicas, que vão gerar o chamadoRenascimento do Século XII. Evoluções técnicas possibilitam ocultivo de novas terras e o aumento da diversidade dos produtos agrícolas, que sustentam uma população que passa a crescer rapidamente. Ocomércio está em franca expansão, ocorre o desenvolvimento de rotas entre os diversos povos que reduzem as distâncias, facilitando não só o comércio de bens físicos, mas também a troca de ideias entre os países. As cidades também vão abandonando a sua dependência agrária, crescendo em torno doscastelos e mosteiros. Nesse ambiente receptivo, começam a ser abertas novasescolas ao longo de todo o continente, inclusive em cidades e vilas menores.[17]
No campo intelectual, as mudanças são também fruto do contato com o mundooriental eárabe através dasCruzadas e do movimento deReconquista daPenínsula Ibérica. Na altura, o mundo islâmico encontrava-se bastante avançado em termos intelectuais e científicos. Os autores árabes tinham mantido durante muito tempo um contacto regular com as obras clássicas gregas (Aristóteles, por exemplo), tendo feito um trabalho de tradução que se tornaria valioso para os povos ocidentais, já que por este meio voltaram a entrar em contacto com as suas raízes eruditas entretanto "esquecidas". De facto, seja emEspanha (Toledo), seja no sul deItália, os tradutores europeus vão produzir umespólio considerável de traduções que permitiram avanços importantes em conhecimentos como aastronomia, amatemática, abiologia e amedicina, e que se tornariam o gérmen da evolução intelectual europeia dos séculos seguintes.[17]
Dentre as contribuições Greco-arábicas, ocuparam papel de destaque aaritmética com aálgebra deAl Khwarizmi, a medicina deRasis e a enciclopédia médica deAvicena. Esses estudos foram traduzidos para o latim, língua científica oficial da época.[18]

Por volta de1150 são fundadas as primeirasuniversidades medievais –Bolonha (1088),Paris (1150) eOxford (1167) — em1500 já seriam mais de setenta. Esse foi efetivamente o ponto de partida para o modelo actual deuniversidade. Algumas dessas instituições recebiam da Igreja ou de Reis o título deStudium Generale; e eram consideradas os locais de ensino mais prestigiados da Europa, seus acadêmicos eram encorajados a partilhar documentos e dar cursos em outros institutos por todo o continente.[1][19]
Tratando-se não apenas de instituições de ensino, as universidades medievais eram também locais de pesquisa e produção dosaber, além de focos de vigorosos debates e muitas polêmicas. Isso também ficou claro nas crises em que estas instituições estiveram envolvidas e pelas intervenções que sofreram do poder real e eclesiástico.[19] Afilosofia natural estudada nasfaculdades de Arte dessas instituições tratava do estudo objetivo danatureza e douniverso físico. Para Tomás de Aquino, era um campo independente e separado dateologia; entendido como uma área de estudo essencial em si mesma, bem como um fundamento para a obtenção de outros saberes.[20]
Outro fator importante para o florescimento intelectual do período foi a atividade cultural das novasordens mendicantes: especialmente osDominicanos e osFranciscanos.[21] Ao contrário de ordens monásticas, voltadas para a vida contemplativa nos mosteiros, essas novas ordens eram dedicadas à convivência no mundo leigo e procuravam defender a fé cristã pela pregação e pelo uso da razão. A integração dessas ordens nas universidades medievais proporcionava a infraestrutura necessária para a existência de comunidades científicas e iria gerar muitos frutos para o estudo da natureza, especialmente com a renomadaescola Franciscana de Oxford.[22]
O influxo de textos gregos, as ordens mendicantes e a multiplicação das universidades iriam agir conjuntamente nesse novo mundo que se alimentava do turbilhão das cidades em crescimento. Em1200 já havia traduções latinas razoavelmente precisas dos principais trabalhos dos autores antigos mais cruciais para a filosofia:Aristóteles,Platão,Euclides,Ptolomeu,Arquimedes eGaleno.[23] Nessa altura afilosofia natural (e.g. ciência) contida nesses textos começou a ser trabalhada e desenvolvida porescolásticos notáveis como:Robert Grosseteste,Roger Bacon,Alberto Magno eDuns Scot, que trariam novas tendências para uma abordagem mais concreta eempírica, representando um prelúdio do pensamento moderno.[1]

Grosseteste, o fundador daescola Franciscana de Oxford, foi o primeiro escolástico a entender plenamente a visão aristotélica do caminho duplo para o pensamento científico:generalizar de observações particulares para uma lei universal; e depois fazer o caminho inverso:deduzir de leis universais para a previsão de situações particulares. Além disso, afirmou que esses dois caminhos deveriam ser verificados - ou invalidados - através deexperimentos que testassem seus princípios. Grosseteste dava grande ênfase àmatemática como um meio de entender a natureza e seu método de pesquisa continha a base essencial da ciência experimental.[24]
Roger Bacon, aluno de Grosseteste, dá atenção especial à importância da experimentação para aumentar o número de fatos conhecidos a respeito do mundo. Ele descreve o método científico como um ciclo repetido deobservação,hipótese,experimentação e necessidade deverificação independente. Bacon registrava a forma em que conduzia seus experimentos em detalhes precisos, a fim de que outros pudessem reproduzir seus experimentos e testar os resultados - essa possibilidade de verificação independente é parte fundamental do método científico contemporâneo.[24]
A primeira metade doséculo XIV viu o trabalho científico de grandes pensadores. Inspirado em Duns Scot,William de Occam entendia que a filosofia só deveria tratar de temas sobre os quais ela pudesse obter um conhecimento real. Seus estudos emlógica levaram-no a defender o princípio hoje chamado deNavalha de Occam:se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então devemos escolher a mais simples. Isso deveria levar a um declínio em debates infrutíferos e mover a filosofia natural em direção ao que hoje é consideradoCiência.Nessa altura, acadêmicos comoJean Buridan eNicole d'Oresme começaram a questionar aspectos da mecânica aristotélica. Em particular, Buridan desenvolveu ateoria doímpeto,[25] que explicava o movimento deprojéteis e foi o primeiro passo em direção ao moderno conceito deinércia. Buridan antecipouIsaac Newton quando escreveu:[26]

Nessa mesma época, os denominadosCalculatores de Merton College, de Oxford, elaboraram oTeorema da velocidade média. Usando uma linguagem simplificada, este teorema estabelece queum corpo em movimento uniformemente acelerado percorre, num determinado intervalo de tempo, o mesmo espaço que seria percorrido por um corpo que se deslocasse com velocidade constante e igual à velocidade média do primeiro. Mais tarde, esse teorema seria a base da "Lei da queda de corpos", deGalileu. Hoje sabemos que as principais propriedadescinemáticas domovimento retilíneo uniformemente variado (MRUV), que ainda são atribuídas a Galileu pelos textos de física, foram descobertas e provadas por esses acadêmicos.[27]
Nicole d'Oresme, por sua vez, demonstrou que as razões propostas pela física Aristotélica contra o movimento do planetaTerra não eram válidas e invocou o argumento da simplicidade (da navalha de Occam) em favor da teoria de que é a Terra que se move, e não os corpos celestiais. No geral, o argumento de Oresme a favor do movimento terrestre é mais explícito, tendo sido usado séculos depois porCopérnico.[3] Entre outras proezas, Oresme foi o primeiro a descrever com exatidão a mudança de direção daluz através darefração atmosférica; embora o crédito por esse feito seja hoje dado àRobert Hooke (por ter sido o primeiro a demonstrar tal fato).[28]
Em1348, aPeste Negra levou este período de intenso desenvolvimento científico a um fim repentino.[29] A praga matou um terço da população europeia. Por quase um século, novos focos da praga e outros desastres causaram contínuo decréscimo populacional. As áreas urbanas, geralmente o motor das inovações intelectuais, foram especialmente afetadas.[30]
Linha do tempo:Dados demográficos da Europa e a presença de inovadores nos campos da física e da metodologia científica.

Além de estancar o processo de inovação, a peste negra foi um dos fatores que colocaram em xeque todo o modelo de sociedade que havia encontrado seu apogeu nos séculos anteriores. Oséculo XV presenciou o início do florescimento artístico e cultural do Renascimento.[31]
A redescoberta de textos antigos foi aprimorada depois daQueda de Constantinopla, em meados doséculo XV, quando muitos eruditosbizantinos tiveram que buscar refúgio no ocidente, especialmente naItália. Esse novo influxo alimentou o interesse crescente dos acadêmicos europeus pelos textos clássicos de períodos anteriores ao triunfo doCristianismo na cultura européia.[31] Noséculo XVI, já existia, paralelamente ao interesse pela civilização clássica, um menosprezo pela Idade Média, que passou a ser cada vez mais associada ao obscurantismo.[32]
Ohumanismo renascentista rompeu com a visãoteocêntrica e com a concepção filosófico-teológica medieval. Agora conceitos como a dignidade do ser humano passam a estar em primeiro plano. Por outro lado, esse humanismo representa também uma ruptura com a importância que vinha sendo dada às ciências naturais desde a (re)descoberta deAristóteles, noséculo XII.[33]
Apesar do florescimento artístico, o período inicial da Renascença é geralmente visto como um momento de estagnação da ciência e da filosofia. Há pouco desenvolvimento de disciplinas como a física e astronomia. O apego aos escritos antigos tornam as visõesPtolomaica eAristotélica do universo ainda mais enraizadas. Em contraste com aescolástica, que supunha uma ordem racional da natureza na qual intelecto poderia penetrar, o chamadonaturalismo renascentista passava a ver o universo como uma criação espiritual opaca à racionalidade e que só poderia ser compreendida pela experiência direta.[34]
Por outro lado, a invenção daimprensa, que ocorrera simultaneamente à Queda de Constantinopla, teria grande efeito na sociedade europeia. A disseminação mais fácil da palavra escrita democratizou o aprendizado e permitiu a propagação mais rápida de novas ideias.[35]
Essas transformações facilitaram o caminho para arevolução científica, mas isso só ocorreria depois do movimento renascentista ter chegado ao norte da Europa, com figuras comoCopérnico,Francis Bacon,Galileu eDescartes. Foram essas figuras que levaram adiante os avanços ensaiados pelos sábios da Idade Média, mas estes personagens já são muitas vezes descritos como pensadores pré-iluministas, em vez de serem vistos como parte do renascimento tardio.[36]

O pensamento deSanto Agostinho foi basilar ao orientar a visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo, portanto, mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação dasescrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação "alegórica" do livro bíblico dogênesis vão influenciar fortemente a Igreja medieval, que terá uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.[37]
A Igreja também esteve a cargo da estrutura educacional, ou, pelo menos, supervisionando a mesma. QuandoCarlos Magno chamou o mongeAlcuíno para elaborar uma reforma na educação européia, a Igreja ficou responsável tanto pelasescolas monacais quanto pelasescolas catedrais. A maioria das universidades nos séculos XII e XIII surgiram precisamente de escolas ligadas àscatedrais e funcionavam sob a proteção de jurisdição eclesiástica.[17]
Com relação à investigação da natureza, que renasceu na Idade Média Clássica, já foi mencionada a importância das ordens religiosas mendicantes. EmboraSão Bernardo e alguns outros religiosos tenham chegado a desencorajar o estudo das ciências por entenderem que muitos buscavam esses conhecimentos porvaidade, seus pontos de vista jamais foram adotados. AInquisição estava presente, mas a Igreja concedia aos professores muita elasticidade em suas doutrinas e, em muitos casos, estimulou as investigações científicas:[38]
Nas universidades, o campo dafilosofia natural dispunha de grande liberdade intelectual, desde que restringisse suas especulações ao mundo natural. Embora se esperassem retaliações e castigos caso os filósofos naturais passassem desse limite, os procedimentos disciplinares da Igreja eram voltados principalmente aosteólogos, que trabalhavam numa área bem mais perigosa. Em geral, havia suporte religioso para a ciência natural e o reconhecimento de que esta era um importante fator no aprendizado. Ainda existia uma subordinação do desenvolvimento da ciência aos ensinamentos da Igreja, mas nos séculos finais da Idade Média já se via um certo grau de independência entre ambos.[20]

Alberto Magno (1193-1280), oDoutor Universal, foi o principal representante da tradição filosófica dosdominicanos. Além disso, é um dos trinta e trêsSantos daIgreja Católica com o título deDoutor da Igreja. Tornou-se famoso por seu vasto conhecimento e por sua defesa da coexistência pacífica da ciência com a religião. Alberto foi essencial em introduzir a ciência grega e árabe nas universidades medievais, mas nunca hesitou em duvidar de Aristóteles. Em uma de suas frases famosas, afirmou:a ciência não consiste em ratificar o que outros disseram, mas em buscar as causas dos fenômenos.Tomás de Aquino foi seu aluno.[2]

Robert Grosseteste (1168-1253),bispo deLincoln, foi a figura central do movimento intelectualinglês na primeira metade doséculo XIII e é considerado o fundador do pensamento científico emOxford. Tinha grande interesse no mundo natural e escreveu textos sobre temas como som, astronomia, geometria e óptica. Afirmava que experimentos deveriam ser usados para verificar uma teoria, testando suas consequências; também foi relevante o seu trabalho experimental na área daóptica.Roger Bacon foi um de seus alunos mais renomados.[2]

Roger Bacon (1214-1294), oDoutor Admirável, ingressou para aOrdem dos Franciscanos por volta de 1240, onde, influenciado por Grosseteste, dedicou-se a estudos nos quais introduziu a observação da natureza e a experimentação como fundamentos do conhecimento natural. Bacon propagou o conceito de "leis da natureza" e contribuiu com estudos em áreas como amecânica, ageografia e principalmente a ótica.[2] As pesquisas em ótica de Grosseteste e Bacon estabeleceram a disciplina como um campo de estudo na universidade medieval e formaram a base para uma duradoura tradição de pesquisa na área. Tradição que chegou até o início do século XVII, quandoKepler fundou a ótica moderna.[39]

Tomás de Aquino (1227-1274), também conhecido como oDoutor Angélico, foi um fradedominicano e teólogoitaliano. Tal qual seu professorAlberto Magno, ésantoCatólico edoutor desta mesma Igreja. Seus interesses não se restringiam àfilosofia; também interessou-se pelo estudo dealquimia, tendo publicado uma importante obra alquímica chamada "Aurora Consurgens". Entretanto, a verdadeira contribuição de São Tomás para a ciência do período foi ter sido o maior responsável pela integração definitiva doaristotelismo com a tradiçãoescolástica anterior.[2]

Duns Scot (1266-1308), oDoutor Sutil, foi membro daOrdem Franciscana,filósofo eteólogo. Formado no ambiente acadêmico daUniversidade de Oxford, onde ainda pairava a aura de Robert Grosseteste e Roger Bacon, teve uma posição alternativa à deSão Tomás de Aquino no enfoque da relação entre aRazão e aFé. Para Scot, as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão. A filosofia, assim, deveria deixar de ser uma serva da teologia e adquirir autonomia. Duns Scot foi mentor de outro grande nome da filosofiamedieval:William de Ockham.[2]

Jean Buridan (1300-1358) foi um filósofo e padrefrancês. Embora tenha sido um dos mais famosos e influentes filósofos da Idade Média tardia, ele é hoje um dos nomes menos conhecidos pelo público não especialista. Uma de suas contribuições mais significativas foi desenvolver e popularizar dateoria do Ímpeto, que explicava o movimento de projéteis e objetos em queda livre. Essa teoria pavimentou o caminho para adinâmica deGalileu e para o famosoprincípio daInércia, deIsaac Newton.[2]

Guilherme de Occam (1285-1350), oDoutor Invencível, foi um frade franciscano, teórico dalógica e teólogoinglês. Occam defendia o princípio da parcimônia (a natureza é por si mesma econômica), que já podia ser visto no trabalho de Duns Scott, seu professor. William foi o criador daNavalha de Occam:se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então devemos escolher a mais simples. Isso tornou-se parte básica do que viria a ser conhecido comométodo científico e um dos pilares doreducionismo emciência. Occam morreu vítima dapeste negra.Jean Buridan eNicole Oresme foram seus seguidores.[2]
Nicole d'Oresme (c.1323-1382) foi um gênio intelectual e talvez o pensador mais original doséculo XIV.Teólogo dedicado eBispo deLisieux, foi um dos principais propagadores das ciências modernas. Além de suas contribuições estritamente científicas, Oresme combateu fortemente a astrologia e especulou sobre a possibilidade de haver outrosmundos habitados no espaço. Ele foi o último grande intelectual europeu a ter crescido antes do surgimento dapeste negra, evento que teve impacto bastante negativo na inovação intelectual no período final da Idade Média.[2]
A lista não é exaustiva. Outros nomes relevantes da ciência européia no período medieval incluem:Beda, o Venerável (672-735),Hermano de Reichenau (1013–1054),Jordano de Nemore (c. 1200),Teodorico de Freiberg (1250-1310),Thomas Bradwardine (1290–1349) eNicolau de Cusa (1401-1464).
Eilmer de Malmesbury nasceu em 980 A.D. e sempre se destacou como monge. Um de seus grandes feitos na época ocorreu em meados de 1005, se destacou como o primeiro aviador da Grã-Bretanha. Um dos grandes feitos perpetuados pelos séculos foi saltar de uma torre de 25 metros da Abadia de Wiltshire utilizando asas improvisadas, acabou caindo depois de deslizar 200 metros.
Esse feito resultou em fraturar as duas pernas. Graças ao seu feito notou que uma cauda na estrutura poderia gerar benefícios, hoje reconhecidos. Ele nunca teve o sucesso esperado; mas, pode-se dizer que a sua história inspirou os precursores da aviação e até os dias de hoje é lembrado pela sua coragem e ousadia, apesar dos riscos a sua vida.

Noções preconceituosas sobre a Idade Média já foram amplamente propagadas, desde oRenascimento e ganhando força com oiluminismo, e ainda hoje permanecem mitos no imaginário popular. Isso também é verdadeiro quando se trata das noções da ciência no período: ele é muitas vezes referido pejorativamente comoidade das trevas, sugerindo que nele não teria havido nenhuma criaçãofilosófica oucientífica autônoma.[32] Embora nenhum historiador sério utilize mais a expressão "Idade das Trevas" para sugerir atraso cultural, ainda hoje, mesmo nas escolas, são ensinadas noções equivocadas como a ideiafalsa de que os estudiosos medievais acreditavam que aterra fosse plana.[41]
O historiador Ronald Numbers, que é referência no campo da história da ciência, aponta alguns dos equívocos mais comuns do leigo em relação ao período. Em primeiro lugar, como já mencionado, é errado imaginar que na idade média as pessoas educadas acreditavam que a Terra era plana: elas sabiam muito bem que a Terra é redonda como uma bola. Em segundo lugar é também comum o mito de que a igreja teria proibido autópsias e dissecações no período. De maneira mais geral, as afirmações muito comuns de que o crescimento do cristianismo teria "acabado com a ciência da antiguidade" ou que a igreja medieval teria "suprimido o crescimento das ciências naturais" não têm suporte nos estudos históricos contemporâneos, ainda que sejam repetidas por muitos como se fossem verdades históricas.[42]

Depois de superado o abalo de desastres como aPeste Negra, na parte final da Idade Média, o Ocidente pôde demonstrar um crescimento científico ainda mais exuberante no período subseqüente. Os avanços naóptica, obtidos durante a Idade Média, logo iriam gerar aparelhos como omicroscópio e otelescópio. Esses dois instrumentos juntamente com aprensa móvel, (fruto medieval), são vistos por muitos como os equipamentos mais importantes já criados para o avanço do conhecimento humano.É preciso também ressaltar os avanços na física:[2]
Mas, foram provavelmente o nascimento e desenvolvimento dasuniversidades, juntamente com as primeiras sementes do que se tornaria ametodologia científica contemporânea, as heranças mais importantes do período.[1]
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