Charruas | ||||||
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Pintura deJean-Baptiste Debret (1768-1848) retratando um charrua | ||||||
População total | ||||||
6.439 | ||||||
Regiões com população significativa | ||||||
Argentina,Uruguai eBrasil | ||||||
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Línguas | ||||||
Línguas charruanas | ||||||
Religiões | ||||||
Animismo |
Oscharruas são umpovo originário americano que no século XVI se localizava entre osrios Paraná eUruguai. Tendo como centro a atual provínciaArgentina deSanta Fé, espalharam-se posteriormente ao Uruguai e depois aEntre Rios e aoRio Grande do Sul, após guerrearem contra osguaranismissioneiros, após a expulsão dos jesuítas (1768), quando foi instaurado, pela Coroa espanhola, o governo político-militar das antigasmissões jesuíticas. Por fim, os charruas chegaram tambem aCorrientes, que abandonaram por ação da autoridade colonial da região deSanta Fé. Como resultado desse avanço, fundiram-se com outros povos que ocupavam esses territórios, como oschanás,minuanos,caingangues,yaros eboháns. Vulgarmente, todo esse grupo de povos começou a ser chamado de "Charrua", e essa é a razão pela qual hoje essas tribos são confundidas ou tidas como conformando umanação charrua.[2][3][4][5][6]
Os povos charruas durante a época colonial eram chamados de vários nomes no Uruguai, Argentina e Brasil (Rio Grande do Sul): guayantiranes, yaros, balomares, negueguianes, manchados, martidanes, mepenes, tocagues, bohanes, minuanos, charruas etc. Os historiadores passaram a chamar todos esses povos de "Charruas".Desconhece-se etimologia.[7]
Os Charruas de origem pampeana popularizaram-se, cultural ou etnicamente, no chamadocomplexo Charrua ouNação Charrua juntamente com os yaros, bohanes, chanás e minuanos (ou guenoas). Os Chanás também fazem parte do complexo Chaná-Timbu, e assim se confundem com os Tapes Guaranis, considerados por eles como seus opostos e, na maioria das vezes, seus inimigos. Sobre as relações entre esses grupos há opiniões diferentes:
Para Samuel Lafone Quevedo (1897[8] e 1900[9]) os Charruas eram uma das "Nações" pampeanas (habitantes da planície que vai do Chaco à Patagonia) que fazia parte do tipo Guaycuru e os demais povos citados eram "parcialidades" da mesma nação.
Para Samuel Lothrop (1932[10] e 1946[11]) os charruas e os demais eram "tribos distintas" aparentadas culturalmente e fisicamente e linguisticamente semelhantes aos Guaycurus do norte.
Para Antonio Serrano (1936[12] e 1946[13]) os Charruas eram uma "Nação" com características culturais próprias, e as demais "tribos" faziam parte da "Nação Charrua".
Existem várias estimativas da população Charrua e grupos étnicos relacionados no momento da chegada dos espanhóis, as quais variavam entre 8.000 (5.000 no Uruguai) e 100.000 pessoas ou mais. Em 1828, quando o Uruguai se tornou independente, a população indígena era de 30.000 pessoas e a população de origem caucásico, de 70.000. De acordo com alguns estudos históricos, o número de indígenas e seus descendentes em território uruguaio era superior ao número na época da conquista. Isso se deve ao fato de que o território recebeu uma importante imigração de guaranis fugidos das missões jesuíticas, que estavam sendo destruídas, e que se estabeleceram ao norte doRio Negro.
Eram altos, com uma média de 1,70 metros para os homens e 1,67 metros para as mulheres, de aspecto sério e taciturno, porte duro e feroz. Os homens apresentavam barba como distintivo varonil, na qual os caciques usavam engastadas como adorno pedras e, após o contato com produtos da civilização europeia, latas e vidros. A tatuagem no rosto consistia em três linhas que iam da raiz dos cabelos até a ponta do nariz e duas linhas transversais que iam dezigoma a zigoma. Para a guerra e festas, pintavam a mandíbula superior de branco.[14]
Sendo os Charruas uma nação de Pampeanos - grande e genérico grupo que habitava, de norte a sul, oChaco, oPampa e aPatagônia argentina -, possuíam fisiotipos e cultura material semelhantes aos grupos subétnicos dos antigos Puelches ou Pampas, dosTehuelches ou Patagônicos, dosTobas e dosCaduveos. No entanto, por volta do século XV, parecem ter recebido importantes influências culturais guaranis amazônicas, cujo ramo sul (osChandules) rodeavam ambas as margens do altoRio da Prata desde seus assentamentos nodelta do Paraná.
Diferentes fontes discordam sobre a prática da música entre os Charruas. Enquanto alguns negam sua existência, outros citam seu uso para fins bélicos, com conchas e gritos. Sem dúvida, o caso mais exemplar é o do arco musical feito por Tacuabé na França, que atualmente é conhecido como"arco Tacuabé".[15]
Veneravam a lua, que chamavam de Guidaí e praticavam umareligião animista. Dos Guarani tiraram a crença emTupã, Gualicho e n'O Maligno.
Eram um povo guerreiro e caçador, porém demonstravam uma acentuada aversão à morte que os levava a cortar uma falange para cada parente morto, além de lacerações autoinfligidas por todo o corpo, tamanha era sua aversão que dentro deste ritual era comum o ferido passar vários dias em uma cova separada da tribo sem comida ou água.
No momento da conquista espanhola seu modo de produção era caçador-coletor, ainda que conseguissem, após o contato com os espanhóis, desenvolver um complexo equestre, e com este, uma rudimentar pecuária composta de equinos e bovinos. Dados ao sistema de produção caçador-coletor, eramnômades, como também o eram quase todos os outros indígenas do Pampa. Por isto, os únicos vestígios materiais de sua civilização são pequenas vasilhas de barro, assim como parte de suas armas típicas, lanças, flechas,boleadeiras.[carece de fontes?] Não eram agricultores. A alimentação era caça e frutos, que foi modificada durante o contato com os espanhóis, passando a preferir a carne de cavalo. Também, após o contato, passaram a cobrir o corpo com uma camisa curta de pele curtida e sem mangas, a qual durante o inverno a usavam com os pelos para o lado de dentro e no verão, com eles para fora. As mulheres usavam uma saia de algodão até os joelhos, porém, não sabiam fiar nem tecer; os panos de algodão que passaram a usar, eram adquiridos dos guaranis.[carece de fontes?]
Como armas usavam o arco e flecha com carcases, boleadeiras, dardo, funda e lança. As flechas tinham as pontas feitas depedra lascada. Após o contato com os espanhóis, as boleadeiras, que eram atadas com corda detucum, passaram a ser ligadas com tiras de couro.[14] As tendas Charruas, primitivamente, eram feitas com quatro estacas e esteiras de palha no teto e nas paredes. Após o contato com os espanhóis, passaram a usar largos pedaços de couro e armas dos espanhóis e dos portugueses, comoarmas de fogo.[carece de fontes?]
Os Charruas não eram pacíficos, tinham uma organização social muito forte centrada em cacicados chefiados por um cacique, um chefe que, embora pertencesse a uma linhagem, tinha que ser eleito e acordado permanentemente pelo grupo, onde os laços interpessoais eram muito importantes, e mantinhampoligamia.[16]
As mulheres cuidavam das tarefas domésticas e dos cavalos. O homem se dedicava à guerra e à caça. Faziam conselhos de família para decidir sobre assuntos de guerra ou outros interesses. Aprenderam a montar com os espanhóis, tornando-se exímios cavaleiros, hábeis na guerra e na caça. Atacavam fazendas, raptavam mulheres, castravam meninos e os levavam como escravos, e matavam os homens adultos, como forma de resistirem a dominação espanhola e tomada de seus territórios. Não praticavam ocanibalismo.
Até 22 de março de 1732 concordam com a paz com Montevidéu. O acordo, feito comJuan Antonio de Artigas, reconhecia os direitos e as leis Charruas enquanto estes concordassem em reconhecer a legalidade espanhola,[17] continuaria até aGuerra Guaranítica. Depois da guerra Guaranítica seriam leais aJosé Artigas e seus tenentes, e posteriormente aFructuoso Rivera e oEstado Oriental do Uruguai até abatalha deSalsipuedes.
Ver artigo principal:línguas Charruanas
A própria língua Charrua se extinguiu quase sem ser documentada, segundoAzara era:uma língua muito nasal, gutural e diferente de todas elas. Azara menciona que Yaros, Bohanes, Chanás e Minuanos eram diferentes. A língua dos Yaros e dos Bohanes pode ter sido do grupoKaingang, pertencente àfamília linguística Jê. Teodoro Vilardebó compilou dois grupos de palavras Charrua em 1841 e 1842, embora de duas fontes indiretas; seu compêndio, com cerca de 70 palavras é conhecido comoCódice Vilardebó[18].
Quanto ao parentesco das línguas Charrua, com as de outros grupos linguísticos da América do Sul, existem diferentes teorias. Essas línguas foram estudadas poramerindologos como Mauricio Swadesh e Terrence Kaufman. Foi proposto que poderia haver uma relação entre as línguas Charrua e aslínguas Arawak (Perea e Alonso, 1937), com aslínguas Matacoanas (Ferrario), com aslínguas Lule-Vilela (Rona , 1964) e aslínguas Guaicuruanas (Suárez, 1974).[19][20]
Pouca informação tem-se sobre a religiosidade Charrua, mas, durante fartaslibações, invocavam um ser superior que, algumas vezes, poderia se tornar visível. Aos médicos-feiticeiros, atribuíam o poder de curar doenças, transbordar os rios, parar as feras; também havia mulheres idosas que curavam chupando a pele nos lugares doloridos. Geralmente, seus mortos eram sepultados na base de uma colina, e no túmulo colocavam os objetos mais importantes da pessoa, como as armas, os adornos, as peles, etc., pois, acreditavam na vida depois da morte e que os mortos depois iriam precisar de suas pertenças.[14] As mulheres de parentesco mais próximo (esposas e filhas), na perda do familiar, amputavam-se uma falange, além de cravarem, em si mesmas, flechas que tinham pertencido ao morto. O costume de amputação de falange também é encontrado em povos indígenas daIndonésia.[carece de fontes?]
O filho, quando havia a morte do pai, ocultava-se por dois dias em sua cabana; após isto, à noite, dirigia-se a um pessoa predefinia que lhe trespassava com pedaços de taquara a pele do braço do punho até o ombro; após isto, saía nu no bosque; cavava um buraco no chão onde coubesse até o peito e ali passava a noite; pela manhã, voltava à cabana, onde lhe tiravam as taquaras e passava dois dias sem comer e beber; nos dez dias seguintes, os meninos da tribo lhe levavam água e aves de caça; ao final deste tempo, voltava ao convívio da tribo. O marido não aparentava dor pela morte da mulher nem o pai pela morte do filho.[carece de fontes?]
Na época da chegada dos espanhóis ao Rio da Prata no século XVI, os Charruas ocupavam a faixa entre os rios Paraná e Uruguai (na Argentina). Mais tarde, perseguidos em seus assentamentos em Santa Fé, deslocaram-se para a os pampas entre Uruguai e Rio Grande do Sul (na extensacoxilha de Haedo) e, mais ao norte, às margens dorio Ibicui.
Félix de Azara em suaDescrição e história do Paraguai e do Río de la Plata (publicado em 1847, 26 anos depois de sua morte) descreveu o território ocupado pelos quatro grupos desta nação Charrua:
Em1730, se aliaram aosminuanos, que vinham de além doRio Uruguai e se estabeleceram nas terras próximas àLagoa Mirim e àLagoa dos Patos. Osguenoas ou guanoas eram charruassetentrionais. Os três povos têm suas origens na região da Patagônia, na Argentina (a região dos índígenas "patagões" ou "patagones").[carece de fontes?]
Em 11 de abril de 1831, emPuntas del Queguay, ocorreu o massacre conhecido comoMassacre de Salsipuedes, quando o governo uruguaio massacra dezenas de indígenas que lutavam contra a presença colonial, a maioria deles Charruas. O presidente uruguaioFructuoso Rivera estava aquartelado às margens do córregoSalsipuedes, entre Tacuarembó e Río Negro. Lá ele convocou os principais caciques Charruas, chamados Polidoro, Rondeau, Brown, Juan Pedro e Venado, junto com todas as suas tribos, para uma reunião dizendo-lhes que o exército uruguaio precisava deles para guardar as fronteiras do estado. De acordo com as histórias, entretidos e bêbados, eles foram atacados por uma tropa de 1200 homens sob o comando deBernabé Rivera. Conta-se que o próprio Rivera deu o sinal para iniciar o ataque, disparando contra o cacique Venado, após pedir que ele entregasse sua faca para cortar tabaco. Opiniões mais recentes sustentam que esta versão é originária do romance "La boca del Tigre" deEduardo Acevedo Díaz e carece de valor histórico.
Segundo a historiografia oficial 40 indígenas foram mortos e 300 presos, dos quais alguns conseguiram fugir sendo perseguidos por Bernabé Rivera. Entre as tropas havia 9 feridos e um morto.
A perseguição aos "Charruas" –que realmente eram indígenas de diferentes tribos, que habitavam a área rural da nascente república uruguaia– não terminou no confronto de Salsipuedes. Continuou com a persecução de Bernabé Rivera aos "rebeldes" que conseguiram escapar. Em 17 de agosto de 1831 Rivera surpreendeu em Mataojo, próximo à foz do rio Arapey, a um grupo de perseguidos –comandado pelos caciques El Adivino e Juan Pedro– cujo saldo do episódio foi de mais de 15 indígenas assassinados e outras 80 presas. Ele relatou que 18 homens conseguiram escapar, incluindo o cacique Polidoro, o único cacique sobrevivente. Em 16 de junho de 1832, localizou um grupo deles, no vale Yacaré-Cururu, e o atacou numa emboscada, os que conseguiram fugir, junto com outros, mataram posteriormente o chefe do comando do governo (Bernabé Rivera), dois oficiais e nove soldados.
Segundo o professor Lincoln Maiztegui Casas , “o desaparecimento dos Charruas foi um processo gradual que durou mais de 200 anos e foi gerado a partir da ocupação do território pelos europeus”. Segundo Maiztegui, os Guarani se adaptaram à colonização e os Charruas não e, portanto, foram sendo extinguindos aos poucos. Milhares foram assassinados, outros fugiram para o Rio Grande do Sul e outros foram mestiçados, seja por rapto de mulheres de outras tribos, seja de brancos. O anterior teve como consequência a eroção de sua cultura, e que atualmente seja um grupo extremamente reduzido.
Foram assim chamados os quatro indígenas remanescentes domassacre de Salsipuedes enviados aParis "para estudos científicos". Eram três homens e uma mulher. Seus nomes eram Senaqué, Tacuavé, Vaimaca e Guyunusa. Sabe-se que alguns percorreram aEuropa emcircos, onde eram apresentados como antropófagos do "novo continente".[21]Entretanto, acredita-se que a etnia originária Charrua não tenha adentrado oséculo XIX, já que os poucos sobreviventes da campanha de extermínio movida pela recém-formadarepública uruguaia foram escravizados ou perderam-se pela mata, eventualmente refugiando-se junto a outros grupos indígenas, cujas características étnicas acabavam por assimilar.[22]
Os charrruas são considerados extintos comoetnia, notadamente a partir domassacre de Salsipuedes, em1831. Todavia estudos genéticos recentes mostraram mais de 20% dosgenes da população do Uruguai foram herdados de ancestrais indígenas, índice que varia conforme a região.[23] NaArgentina encontram-se traços de sua descendência na Província deEntre Ríos.[carece de fontes?]
No Brasil, os Charruas conquistaram seu reconhecimento enquanto grupo étnico ainda existente. Em9 de novembro de2007, após uma luta que já durava 172 anos, sob a liderança da cacique Acuab, a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou ato que reconhecia a comunidade Charrua comopovo indígena brasileiro.[24] Antes considerada extinta pelaFundação Nacional do Índio (Funai), os Charruas voltaram a ser reconhecidos em ato oficial da fundação em setembro de2007. O evento foi organizado em conjunto pelas comissões deDireitos Humanos da Câmara Municipal, daAssembleia Legislativa e doSenado Federal.[carece de fontes?]
Existem, hoje, cerca de seis mil pessoas autodeterminadas Charruas nos países que compõem oMercosul. Só no Rio Grande do Sul, são mais de quatrocentos descendentes do Charruas presentes nas localidades deSanto Ângelo,São Miguel das Missões ePorto Alegre que querem ser considerados indígenas.[carece de fontes?]
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