As Charophyta são uma divisão dasalgas verdes que inclui várias classes ou ordens consideradasfilogeticamente separadas dos restantes grupos de espécies que aparentemente estão mais próximas dasChlorophyta (consideradas por alguns autoresPrasinophyta ouPrasinophyceae).[15]
Quando estão presentes células com capazes dotadas demotilidade por natação, apresentam doisflagelos, assimetricamente inseridos e com duas tipologias diferentes. Localizado na base flagelo está uma estrutura especial (estrutura multi-camadas, em geral designada pormulti layered structure ouMLS) que une os pontos de fixação domicrotúbulos às peças docitoesqueleto.
Entre células adjacentes, existem ligações primárias atravésplasmodesmos filiformes que podem ser ramificados ou não ramificados.
Todos os membros do agrupamento Charophyta apresentam uma fase vegetativa não dotada demotilidade. Alguns grupos têm células polinucleares. A reprodução sexual é comum, mas pode estar ausente. As espécies sexuais apresentam umaalternância de gerações do tipohaplobionte.
Os membros deste agrupamento apresentam algumasenzimas que estão ausentes nos restantes grupos de algas verdes, entre as quais a presençaoxidase doglicolato noperoxissoma e a produção desuperóxido dismutase do tipo Cu/Zn.
AsZygnematophyceae, ou, como costumavam ser designadas, asConjugatophyceae, geralmente apresentam doiscloroplastos bastante elaborados em cada célula, ao invés dos muitos cloroplastos discoides que frequentemente estão presentes nas células de algas pertencentes a outros agrupamentos. Estes organismosreproduzem-se assexuadamente pelo desenvolvimento de um septo entre as duas metades celulares ou semi-células (em formasunicelulares, cada célula filha desenvolve a outra semi-célula novamente) e sexualmente por conjugação, ou seja pela fusão de todo o conteúdo celular das duas células conjugadas. Os desmídeos do tipo sacoderma (Mesotaeniaceae) e do tipo placoderme (oudesmídeos verdadeiros), membros unicelulares ou filamentosos dasZygnematophyceae, são dominantes em águas ácidas não calcárias delagos oligotróficos ou primitivos epântanos, como no oeste da Escócia, Eire, partes do País de Gales e doLake District deInglaterra.[16]
OKlebsormidium, ogénero tipo da famíliaKlebsormidiophyceae, é uma forma filamentosa simples com cloroplastos circulares em forma de placa, reproduzindo-se por fragmentação, por separação dorsiventral, pela emissão de células reprodutivas biciliadas e, nalguns casos, poraplanosporos[17] (um tipo de esporos semmotilidade, mas que ainda assim podem potencialmente desenvolver flagelos). Areprodução sexual é simples eisogâmica (osgâmetas são aparentemente idênticos, sem formas masculina e feminina distintas, pelo menos morfologicamente).
Os vários grupos incluídos no agrupamento Charophyta apresentam sistemas reprodutivos diversos e idiossincráticos, às vezes com órgãos reprodutivos complexos. O hábito, único entre as algas, de proteger ozigoto de invernagem dentro dos tecidos dogametófito parental é uma das várias características únicas dasColeochaetales que as indicia como um grupo irmão dos embriófitos.[18]
AsCharales, ou algas calcárias (em inglês:stoneworts, devido à incrustação por calcário que lhes dá consistência pétrea), são algas deágua doce com finos talos verdes ou acinzentados, cuja coloração cinza de muitas espécies resulta da deposição de calcário nas paredes celulares, mascarando a cor verde da clorofila. As hastes principais são esguias e com ramificação ocasional. Os talos laterais ocorrem emverticilos espiralados inseridos a intervalos regulares ao longo dotalo cauloide, estando este ligado porrizóides ao substrato.[19] Os órgãos reprodutivos consistem emanterídios eoogónios, embora as estruturas desses órgãos sejam consideravelmente diferentes dos órgãos correspondentes em outras algas. Como resultado da fertilização, forma-se umprotonema, a partir do qual a alga reprodutora sexual se desenvolve.
As células das Charophyta apresentam numerosos cloroplastos discoides pequenos dispostos em torno da periferia das células. Não existempirenoides. As grandes células internodais são algumas vezesmultinucleadas e os seus núcleos geralmente possuem grandesnucléolos e escassacromatina. Nestas células, ocitoplasma forma apenas uma camada periférica com um grandevacúolo central. As paredes celulares são compostas de celulose, embora também possa haver uma camada superficial de um material mais gelatinoso de composição desconhecida.
O material de armazenamento é oamido, excepto no oosporo, onde estão também presentes lípidos. O amido também se acumula em estruturas de armazenamento especiais, designadas por bulbilhos, que consistem em células arredondadas de tamanho variável, que são desenvolvidas em aglomerados localizados nos nós da haste inferior e do rizoide. Estas estruturas de armazenamento desenvolvem-se principalmente quando as algas crescem em lama fina e viscosa.
Os órgãos reprodutores das Charales mostram um alto grau de especialização. O órgão feminino, denominadooogónio, é uma grande estrutura oval com um envelope de filamentos verdes e brilhantes de células dispostos em espiral. O órgão masculino, geralmente denominadoanterídio, embora alguns investigadores o considerem como uma estrutura múltipla em vez de um único órgão, também é grande, de cor amarela ou vermelha brilhante e formato esférico.
Os órgãos sexuais são desenvolvidos em pares a partir da célula nodal adaxial nos nós superiores dos talos laterais primários, formando o oogónio acima do anterídio. Estas estruturas são suficientemente grandes para serem facilmente vistas a olho nu, especialmente o anterídio laranja ou vermelho brilhante. Muitas espécies sãodioicas. Em outras, amonoicia é complexificada pelo desenvolvimento do anterídio antes da formação do oogónio, impedindo assim a fertilização pelosanterozoides da mesma alga. Neste caso, os dois tipos de órgãos sexuais geralmente surgem de diferentes pontos nos talos laterais.
A propagação vegetativa ocorre facilmente nas Charales. Osprotonemas secundários podem desenvolver-se ainda mais rapidamente que os principais. Fragmentos de nodos, células dormentes de algas após a hibernação ou os nódulos basais de rizóides primários podem produzir estes protonemas secundários, a partir dos quais podem surgir novas algas capazes de reprodução sexual. É provavelmente este poder de propagação vegetativa que explica o aparecimento de espécies de Characeae formando densas esteiras clonais nos leitos de lagoas ou riachos, cobrindo áreas bastante extensas.
As Charophyta são algas verdes complexas, que formam umgrupo irmão dasChlorophyta, entre as quais se desenvolveu a linhagem que deu origem ao surgimento dasEmbryophyta. Asclorófitas, as algas verdes carófitas e os embriófitos (ou plantas terrestres) formam um clado geralmente designado porplantas verdes (ouViridiplantae), que é unido, entre outras características, pela ausência deficobilinas, a presença declorofilab eclorofilaa,celulose naparede celular e o uso deamido como polissacarídeo de armazenado energético nosplastídeos. Como característica diferenciadora em relação às clorofíceas, os carófitos e embriófitos compartilham várias características, como a presença de certas enzimas (aldolase classe I), Cu/Znsuperóxido dismutase, oxidase hidroxiácida (oxidase do glicolato),peroxidase flagelar, flagelos laterais (quando presentes) e, em muitas espécies, o uso defragmoplastos namitose.[20] Em consequência, as Charophyta e Embryophyta juntas formam o cladoStreptophyta, excluindo asChlorophyta.
Este agrupamento parafilético foi inicialmente designado por Charophyceae(Mattox & Stewart 1984), ou informalmentecarofíceas(Graham & Wilcox 2000) eStreptophycophytes(de Reviers 2002). Actualmente está proposto como tendo onível taxonómico dedivisão com o nome Charophyta(Cavalier-Smith 1993, Leliaert et al. 2012, Ruggiero et al. 2015), mas sendo claramente parafilético, não satisfaz os requisitos impostos pelacladística e necessita da ter a suacircunscrição taxonómica alterada.
O agrupamento é muito diversificado, incluindo grupo muito ricos em géneros, como asembriófitas, e grupos muitos isolados e cuja filogenia permanece pouco conhecida. Embora acircunscrição do agrupamento não seja consensual, particularmente à luz dacladística, em geral são incluídos os seguintestaxa:
Com base nos resultados obtido pela aplicação das técnicas dabiologia molecular, o agrupamento é constituído por 6 gruposmonofiléticos relacionados do seguinte modo:[24]
Árvore filogenética das carófitas e dos restantes grupos de viridófitas.
Apesar de que está difundido sobre a relação de proximidade das algas da ordemCharales com asplantas terrestres, um estudo recente de genómica nuclear permite concluir que são as algas da ordemZygnematales as filogeneticamente mais próximas.[25] Contudo, outras análises moleculares mostram que ainda não é possível estabelecer relações definitivas e que as plantas terrestres poderiam estar igualmente próximas da ordemColeochaetales.[26]
Os resultados de uma análise multigenética deARNr 18S, doplastídeo, mitocondrial, deintrões e sequências do genoma, permitem estabelecer as seguintes relações:[27]
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