OCeará é uma das 27unidades federativas doBrasil. Está situado no norte daRegião Nordeste, faz divisa comRio Grande do Norte eParaíba a leste,Pernambuco ao sul ePiauí a oeste, além de ser banhado peloOceano Atlântico a norte e nordeste. Sua área total é de 148 894,442 km²,[2] ocupando 9,37% da área do Nordeste e 1,74% da superfície do Brasil. De acordo com oCenso do IBGE, a população do estado em 2022 era de 8.794.957 habitantes, sendo o oitavo estado mais populoso do país.[2]
O documento mais antigo que traz o topônimoCeará é datado de 1608.[15] Antes dessa data, a área que hoje é o Ceará era conhecido comBaia de Macoripe.[16]
Autores antigos atribuem historicamente aotopônimoceará várias acepções, porém a mais conhecida e aceita diz significar "o cantar dajandaia". SegundoManuel Ayres de Casal,ceará é nome composto decemo — cantar forte, clamar — eara — pequena arara — emlíngua tupi. Tal tese foi posteriormente confirmada e enriquecida pelo escritorJosé de Alencar.[17]
Embora o pensamento de José de Alencar acerca da origem do nome seja o mais sólido,João Mendes de Almeida Júnior o acusava de ser por demais poético em sua definição, "(...) mais consoante com o sentir de quem tão belamente descreve a sua terra natal como um país de primores, onde canta a jandaia nos galhos da carnaúba", e a classificava como carente de confirmaçãofilológica. Mendes de Almeida lembrava, ainda, de alternativas a essa interpretação, como a deSenador Pompeu, que faz referência à junção decemo-ará a partir de uma variante da língua tupi, cujo significado seria "rio nascente da serra", indicando o rio que nasce naSerra de Baturité e que deságua junto à Vila Velha, local onde foram lançados os primeiros fundamentos da capital cearense.[17]
Outra definição alternativa apontada por Mendes de Almeida é a deAntônio Bezerra, que afirma que o nome surgiu a partir das características da paisagem cearense, banhada pelo Oceano Atlântico e abundante de grandestabuleiros costeiros edunas, supostamente semelhante à paisagem dos "campos do continente negro", referindo-se à grande região desértica doSaara. Mendes de Almeida fez, também, um apanhado de registros de expedições pelo território e de livros históricos, como os deVicente do Salvador eCaspar Barlaeus, na busca de variantes da escrita deceará, sem, contudo, encontrar nelas alguma pista para uma definição mais exata que a do autor deIracema.João Brígido afirmava, ainda, que o nome do estado derivaria dacorruptela deSiri-ará, também de raiz tupi, em alusão aos caranguejos brancos do litoral.[17]
Gravura do artista holandês Arnoldus Montanus retratando oFortim de São Sebastião na barra do rio Ceará, por volta de 1612, na região do atual bairroBarra do Ceará em Fortaleza
Por volta de 10.000 AP (Antes do Presente), o interior do atual estado do Ceará já estava densamente habitado por grupos de caçadores-coletores que disputavam os recursos nos ambientes sertanejos e serranos. Já o povoamento da zona costeira pode ter iniciado há 5.000 AP. Essa idade foi estabelecida a partir de datações de restos alimentares marinhos associados à cerâmicas e ferramentas líticas encontrados na praia de Sabiaguaba, no litoral do município de Fortaleza.[18]
De acordo com algumas teorias, o navegador espanholVicente Yáñez Pinzón teria desembarcado na costa cearense — e não noCabo de Santo Agostinho emPernambuco como diz a versão tradicional — antes da viagem dePedro Álvares Cabral ao Brasil.[20][21] Pinzón chegou a um cabo identificado comoPorto Formoso, que se acredita ser oMucuripe, eDiego de Lepe, à barra dorio Ceará, em Fortaleza. A chegada de Pinzón ao Ceará é debatida e defendida entre as possibilidades do controverso descobrimento pré-cabralino do Brasil.[22][23][24] Essas descobertas, contudo, não puderam ser reivindicadas pela Espanha em decorrência doTratado de Tordesilhas, de 1494.[25]
As terras equivalentes àCapitania do Ceará foram doadas em 20 de novembro de 1535 ao provedor-mor da Fazenda Real,Antônio Cardoso de Barros, subalterno de Fernão Álvares de Andrade e deD. Antônio de Ataíde. Porém, Antônio Cardoso não se interessou em colonizá-las.[26] Osfranceses, que já negociavamâmbar-gris, astatajubas, apimenta e oalgodão nativo com os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará.[27] Em 1590, eles fundaram aFeitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600.[28][29]
Graças ao contatos mantidos entre os índios Potyguara e portugueses, estes últimos planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para osMaranhão. Desta forma, a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu comPero Coelho de Sousa em 1603, que fundou oForte de São Tiago naBarra do Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense,[30][31] fazendo com que Pero Coelho e sua família abandonassem o Ceará. Depois da partida, os padresjesuítasFrancisco Pinto eLuís Figueira chegaram ao Ceará com o intuito deevangelizar ossilvícolas. Avançaram até aChapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto. O padre Luís Figueira retornou aPernambuco em 1608, sem grandes sucessos.[32]
Em 1612, uma nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista doMaranhão, então dominado pelos franceses. Fez parte desta jornadaMartim Soares Moreno, que fundou oFortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.[33][34]
Os holandeses, já estabelecidos emPernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará em 1631, atendendo ao pedido das nações indígenas cearenses. A primeira tentativa de conquista holandesa, entretanto, fracassou. Em 1637, o território foi tomado pelosholandeses, graças um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados paraRecife. Os holandeses estabeleceram-se e também chegaram usar o Ceará com ponto de apoio à conquista holandesa doMaranhão, em 1641.[35]
Nessa época de ocupação holandesa, entre 1637 e 1644, o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído outro emCamocim, as pesquisas para a exploração dassalinas foram feitas e, em 1639,George Marcgraf veio ao Ceará para uma expedição que se deu partindo doFortim de São Sebastião e percorreu o oeste cearense até a região dosInhamuns.[35]
De 1644 até 1649, o Ceará foi administrado pelas etnias então existentes. A presença europeia só recomeçou ao fim desse período, depois de contatos e negociações feitas entres os nativos eAntônio Paraupaba em 1648.[36] Com a chegada deMatias Beck, em 1649, oSiará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura doriacho Pajeú, oForte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas deprata foram iniciados e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região em parceria com os indígenas.[37]
Após acapitulação holandesa emPernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, que o rebatizaram deFortaleza de Nossa Senhora da Assunção, restabelecendo-se, assim, o poderio português no território.[38] Neste período, muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas peloTratado de Taborda, fugiram para o resto do Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas.[39]
Na continuação da colonização pelos portugueses,[33] a influência dosjesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos, como os de Porangaba, Paupina, Viçosa e outros, muitos deles fortemente militarizados, nos quais os indígenas eram concentrados para seremcatequizados e assimilarem acultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também se instalaram em vilas militarizadas na capitania. Dessasreduções, surgiram às primeiras cidades da capitania, comoAquiraz eCrato. O processo deaculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e costumes nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se aGuerra dos Bárbaros, que se deu ao longo de várias décadas doséculo XVIII e que resultou na fuga dos habitantes da então capital, Aquiraz, em 1726, paraFortaleza, para a qual foi transferido tal título.[40] As principais vilas da capitania da época eramAracati,Crato,Icó eSobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio decouro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu.[41] Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação dapecuária na capitania através dossertões de dentro esertões de fora, com levas oriundas respectivamente daBahia e dePernambuco.[42]
Mapa do Ceará no início do século XIX
Em 1812, foi nomeado governador do Ceará o portuguêsManuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos deSilva Paulet. No começo do século XIX, o Ceará conheceu diversos movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências daRevolução Pernambucana de 1817, além de movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.[43]
Em 1824, o Ceará tomou parte naConfederação do Equador, com o liberalTristão Gonçalves, aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo.[44] Era o comandante das armas do Ceará,José Pereira Filgueiras. A Confederação foi frustrada pela forças imperiais e Tristão morreu durante os combates contra as forças legalistas doImpério. O comandante José Pereira Filgueiras foi preso, mas conseguiu se libertar, refugiando-se no povoado Saúde, hoje Perdigão, no centro-oeste mineiro.[45] O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira, ouInsurreição do Crato, em 1832, liderada pelo "coronel" deJardim,Joaquim Pinto Madeira, que tinha como objetivo o retorno damonarquia absolutista e representava interesses regionais opostos aos da cidade doCrato, de inspiração marcantementeliberal.[46]
Jornal abolicionista "Libertador"[47] de 25 de março de 1884
Em meados de 1860, devido àGuerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infraestrutura da Província, como exemplo a criação daEstrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamadaGrande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense,[48] levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que seu próprio contingente populacional.[49] Logo após, a produção daborracha explodiu naAmazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migraram para esta região.[50]
A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de estudiosos, estimulando a produção de textos científicos e propostas de melhoria da situação da população cearense vindas de várias partes do Brasil,[51] cuja maior parte não foi posta em prática ou se relevou ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do Açude do Cedro, emQuixadá, a primeira represa pública do Brasil,[52] que foi concluído em 1906.[53] A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento daindústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado.[54] Entre 1869 e 1900, 300 mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia.[55]
Anos antes daproclamação da República, notabilizou-se a campanhaabolicionista no Ceará, que logrou abolir aescravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes daLei Áurea, fazendo da província a primeira doImpério do Brasil a conseguir tal feito. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive amaçonaria, mas o maior destaque foi deFrancisco José do Nascimento, oDragão do Mar,jangadeiro que impulsionou oabolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província.[14]
ARede de Viação Cearense surgiu em 1909 e foi federalizada em 1915 para ajudar no combate à seca
No início daPrimeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará, Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, o que não aconteceu tanto no resto do estado. Ocorreu, nas primeiras décadas do século XX, um afluxo de imigrantes, consistindo principalmente de portugueses e sírio-libaneses.[56] Os descendentes destes, em particular, ganharam grande destaque no comércio, comomascates, e, futuramente, na política cearense.[57]
Começou a ganhar destaque a atividade doscangaceiros, que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderesmessiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearenseAntônio Conselheiro, deQuixeramobim, chegou a formar, naBahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou aGuerra de Canudos.[58]
Entre 1896 e 1912, ahegemonia política foi concentrada nas mãos do comendadorNogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosaoligarquia, cuja influência se estendia pela maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro contra Franco Rabelo, representante da política dosalvacionismo do presidenteHermes da Fonseca, gerando uma das mais conturbadas campanhas eleitorais do estado. Na Praça do Ferreira, a dura repressão policial a uma passeata de centenas de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de algumas delas e feriu outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar seu mandato, evento conhecido como Sedição de Fortaleza.Franco Rabelo passou a governar o Ceará.[59]
Soldados das forças juazeirenses
No fim doséculo XIX, o carismáticoPadre Cícero passou a atrair milhares de sertanejos para um pequeno distrito doCrato, que se tornariaJuazeiro do Norte em 1911, persuadidos pela sua fama demilagreiro, atribuída à suposta transformação em sangue da hóstia recebida do padre pelabeata Maria de Araújo. Mesmo após ter suaordenação cassada peloVaticano, em virtude de controvérsias sobre o milagre, Padre Cícero tornou-se cada vez mais conhecido e, apesar de seu caráter messiânico, foi hábil em evitar grandes conflitos com a elite local, tornando-se ele próprio um poderoso chefe político.[60]
Em 1914, irrompeu aSedição de Juazeiro, opondo o governador interventor Franco Rabelo e o Padre Cícero, que havia conquistado os postos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador.[60] Em 1915 o Ceará sofreu com uma gravíssima seca, levando a novo êxodo da população para aAmazônia, região que, devido à intermitente mas significativa emigração, recebeu grande influência de cearenses. A gravidade da seca inspirou a escritoraRachel de Queiroz em sua famosa obraO Quinze.[61]
Após aRevolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do Governo Federal.[66] Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário estadual: aLegião Cearense do Trabalho, com alegada influênciafascista,[67][68] e a Liga Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular. Nos anos1940, mais uma seca, em 1943, assolou o Ceará, e, com aSegunda Guerra Mundial e osAcordos de Washington, o governo deGetúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana emFortaleza trouxe ideaisdemocráticos eantifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração e influência doSEMTA, cerca de 30 mil cearenses tornaram-seSoldados da Borracha, produzindo esse produto naAmazônia para abastecer os exércitos aliados.[69]
Atual sede doBanco do Nordeste, instalado em Fortaleza em 1954O litoral de Fortaleza na década de 1980, com destaque para o Monumento ao Interceptor Oceânico
ARepública Nova no Ceará teve início com a nomeação sucessiva de seis interventores até as eleições de 1947, seguindo-se a eleição deFaustino de Albuquerque pelaUDN. Durante seu governo, nas eleições presidenciais de 1950, o candidato udenistaEduardo Gomes obteve a maior votação, e Getúlio Vargas ficou na 3ª colocação no estado.[70]
Em 1963,Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até 1966, mesmo com o início daditadura militar, em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que buscou a modernização da estrutura do estado com a ampliação doporto do Mucuripe e a transmissão da energia dePaulo Afonso para a capital.[73]
Plácido Castelo foi eleito pelaAssembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo, houve perseguição política a deputados e várias manifestações, acarretando a prisão e tortura de estudantes e trabalhadores, assim como atentados a bomba em Fortaleza.[74] Durante o governo deCésar Cals, de 1971 a 1975, sucedeu-se o auge da repressão militar. Vários cearenses deesquerda estiveram envolvidos naGuerrilha do Araguaia.[75]
Virgílio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza.[76]
Tasso Jereissati foi governador por três vezes e liderou o chamado "Governo das Mudanças" no Ceará
ANova República coincide no Ceará com a eleição deLuíza Fontenele para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de uma capital eleita peloPartido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime militar do país. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e omovimento de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional docoronelismo.[77]
Gonzaga Mota deixou o governo com pagamentos atrasados aofuncionalismo e descontrole nas contas públicas.[78] Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com partidos deesquerda e oPMDB, apoia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresárioTasso Jereissati, que conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as finanças, combater oclientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou comoGoverno das Mudanças.[79] Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição deCiro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição da reeleição no país, Tasso ainda governou o Estado pela terceira vez, tornando-se o primeiro político brasileiro a conseguir tal feito em mais de 100 anos de história republicana.[77] Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política no Estado, e rapidamente perderam a aliança com partidos mais à esquerda.[77]Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de governador, apoiado por Tasso.
OsGovernos das Mudanças priorizaram o aumento das receitas, visando a investimentos públicos e privados em infraestrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permaneceu à margem. Politicamente, houve uma relativa diminuição de poder dos coronéis, com ampliação do poder do grandeempresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pelo propósito de diminuir as despesas através de reformas administrativas e financeiras, bem como de demissões e achatamento salarial no funcionalismo público - garantiusuperávits entre 1988 e 1994, mas, com a consolidação doPlano Real, volta-se a uma predominância dedéficits.[78]
Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais em grandes obras, como oPorto do Pecém, o novoAeroporto Internacional de Fortaleza, oAçude Castanhão, oCentro Cultural Dragão do Mar e oCanal da Integração. O terceiroGoverno das Mudanças, de 1994 a 1997, caracterizou-se pelaprivatização de algumas empresas estatais e extinção de órgãos, enxugando a máquina, reformando a previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos públicos.[78]Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com oPSDB, posteriormente mudando para oPartido da República.Cid Gomes, doPSB, ex-prefeito deSobral e aliado histórico de Tasso, venceu a disputa, com o apoio doPartido dos Trabalhadores, que, em Fortaleza, já havia vencido comLuizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem apoio real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidatoInácio Arruda, doPCdoB.[80]
O Estado se beneficiou também daguerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada à mão de obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970.[81]
Oforró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o Ceará começou a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande polo doturismo brasileiro. Ao longo dessa década, com ações como oPrograma de Saúde da Família (PSF), o Estado também realizou grandes avanços na redução de índices como a mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza seguiu forte.[82]
Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável, a chamadaEra Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial aconcentração de renda,[77] que piorou entre 1991 e 2000,[83] a má distribuição fundiária e a enorme disparidade regional, sobretudo entre a capital e o interior. Em 1999, segundo oBanco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza.[78] No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001 a 2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do povo pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.[84]
Enquanto as chapadas e cuestas são de origemsedimentar, as serras e osinselbergs que abundam em meio à Depressão Sertaneja são de formaçãocristalina. Dentre os relevos sedimentares, a Chapada do Araripe, com altitudes que vão de 700 m até mais de 900 m, e a Serra da Ibiapaba, com altitude média de 750 m. Por outro lado, naChapada do Apodi, as altitudes são menores, não superiores a 300 m. Já dentre as serras de origem cristalina, estão oMaciço de Baturité, aSerra da Meruoca e aSerra de Uruburetama, com altitude de 600 a 800 metros. EmCatunda, naSerra das Matas, encontra-se o ponto mais elevado do estado, oPico da Serra Branca, a 1 154 metros dealtitude.[86]
A planície litorânea possui geografia diversificada, o que faz com que o estado possua muitas praias comcoqueirais,dunas,barreiras (também chamadas falésias) - paredões sedimentares que acompanham a faixa da costa e, em alguns trechos, possuem tons coloridos - e áreas alagadas demanguezal, nos quais há grande biodiversidade.[87] Aspraias mais famosas do Ceará sãoJericoacoara,Canoa Quebrada ePorto das Dunas, as quais se destacaram por terem alcançado fama internacional. Regionalmente, outras praias de destaque sãodas Fontes,Morro Branco,Icaraí,Presídio,da Baleia,Flecheiras,Cumbuco,Ponta Grossa, Lagoinha e Barra do Cauipe. O litoral cearense é atravessado por duas rodovias, chamadas de Costa do Sol Nascente e a Costa do Sol Poente, que, a partir de Fortaleza, direcionam-se para o litoral leste e oeste, respectivamente.[87]
Trecho doRio Jaguaribe, principal rio cearense, à altura do município deFortim
O território cearense é dividido em dozebacias hidrográficas, levando em consideração a divisão da grande bacia dorioJaguaribe em Alto, Médio e Baixo Jaguaribe.[88] Tal bacia compreende mais de 50% do estado com seus 633 km de extensão.[89] Os dois maiores reservatórios de água do Ceará são barragens que represam o Jaguaribe, os açudesOrós eCastanhão, com as respectivas capacidades de armazenamento de 2,1 e 6,7 bilhões de metros cúbicos de água. O Castanhão é, ainda, o maior açude do país.[90] Os afluentes mais importantes do rio Jaguaribe são os riosSalgado eBanabuiú.[91] O Ceará possui uma das maiores e mais importantes faixas litorâneas do país do ponto de vista turístico,[92] que se estende por 573 km, nos quais predominam osmangues erestingas, vegetação litorânea típica, além de áreas sem vegetação recobertas por dunas.[93]
O clima do Ceará é predominantementesemiárido (BSh), cujas regiões mais áridas se situam na Depressão Sertaneja, a oeste e sudeste, com pluviosidades que, em trechos da região dos Inhamuns, podem ser menores que 500 mm, mas também podem se aproximar de 1 000 mm em outras áreas caracterizadas pelo clima semiárido brando, a exemplo da área semiárida do Cariri e nas cidades relativamente próximas à faixa litorânea.[94]
No litoral, devido à influência dos ventos alísios, o clima étropicalAs com pluviosidades normalmente entre 1 000 mm e 1 500 mm, a partir do qual surge uma vegetação mais densa, com forte presença decarnaubais, que caracterizam trechos demata dos cocais. O clima também se torna subúmido, com caatinga mais densa e maiorpluviosidade, nas adjacências das chapadas eserras,[95] como nas serras deBaturité,Meruoca eUruburetama onde, em função das altitudes, as pluviosidades superam os 1 000 mm anuais devido à ocorrência dechuvas orográficas, em especial na sua vertente debarlavento, proporcionando o surgimento decerradões eflorestas tropicais.[96] Essas áreas contêmmananciais que banham os sopés dessas regiões, tornando-os propícios à atividade agrícola. É nas serras e próximo a elas, assim como nasplanícies aluviais, que se concentra a maior parte da população do interior cearense, com densidades superiores a 100 hab./km², por exemplo, em boa parte do Cariri cearense.[97]
As temperaturas são bastante elevadas, com médias de 26 °C a 28 °C, mas a amplitude térmica anual é pequena ao longo do ano,[96] em torno de 5 °C.[94] As médias giram entre meados de 20 °C no topo das serras a até 28 °C nos sertões mais quentes.[98] Nas áreas serranas, as temperaturas são mais baixas, com média de 20 °C a 25 °C,[96] com mínimas anuais muitas vezes alcançando entre 12 °C e 16 °C.[98] É raro as temperaturas ultrapassarem os 35 °C na região litorânea, ao contrário do que ocorre noSertão cearense, onde a amplitude térmica diária pode ser relativamente grande ao longo do dia devido à menor umidade.[99] Em todo o estado, os dias mais frios ocorrem geralmente em junho e julho e os mais quentes entre outubro e fevereiro.[96]
Vítimas cearenses dassecas de 1877/1879, a mais grave da história do estado
Parede do Açude do Cedro e, ao fundo, a Pedra da Galinha Choca
O clima do Ceará é marcado pela aridez. As secas são periódicas e, desde que a ocupação territorial foi consolidada, a população tenta resolver o problema da escassez de água. A seca de 1606 foi a primeira a marcar a história da ocupação do território. Outra seca de grande impacto foi registrada entre 1777 e 1779, a chamadaseca dos três setes, responsável pelo enfraquecimento da indústria das charqueadas, que teve seu golpe final no período de grandes secas entre 1790 e 1794.[100]
Durante as décadas seguintes, até 1877, o Ceará viveu relativa tranquilidade, sem grandes estiagens, até que naquele ano e nos dois seguintes umagrande seca prejudicou fortemente a agropecuária no estado.[101] No começo do século XX, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas, que mais tarde passaria a ser oDepartamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), com sede em Fortaleza, para realizar estudos, planejamentos e obras contra as estiagens, em 1909.[102] Com o trabalho do DNOCS,várias barragens foram construídas em todos os estados do Nordeste. Na década de 1930, foi instituído opolígono das secas, no qual a quase totalidade do território cearense (92,99%) está inserido.[103]
Atualmente, existem muitos órgãos do governo cearense voltados para a problemática do clima. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) juntamente com a Superintendência de Obras Hidráulicas são os órgãos que fazem a gerência de várias barragens e o planejamento de adutoras e canais. AFundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) é a responsável pelo monitoramento climático. Finalmente, o órgão central é a Secretaria dos Recursos Hídricos, que faz toda a estruturação de metas e planos para combater a seca no Ceará.[104]
Acarnaúba (Copernicia prunifera) é a árvore símbolo do Ceará[105] e ocupa grandes extensões no sertão cearense
Inserido nobioma dacaatinga, com período chuvoso restrito a cerca de quatro meses do ano e alta biodiversidade adaptada,[106] o Ceará o único a estar completamente inserido na sub-região do sertão. Asazonalidade característica desse bioma se reflete em umafauna eflora integradas às condições semiáridas. Consequentemente, há grande número deespécies endêmicas,[107] sobretudo nosbrejos e serras, isolados pela caatinga, e refúgios da flora e fauna de matas tropicais úmidas.[108]
Destacam-se, na flora cearense, acarnaúba, considerada um dos símbolos do estado e também importante fonte econômica, e aZephyranthes sylvatica, flor original do habitat cearense. Existe ainda ocarrasco,vegetação xerófila peculiar, que surge no reverso daSerra da Ibiapaba e doAraripe, áreas mais secas, caracterizando-se por uma flora arbustiva e arbórea predominantemente lenhosa, ao contrário dacaatinga. O carrasco distingue-se ainda da caatinga pela quase inexistência decactos ebromeliáceas. Alguns estudiosos se referem a essa vegetação como uma espécie de transição entre ocerrado, afloresta tropical e a caatinga.[109]
Os ecossistemas do estado estão profundamente danificados e muito pouco preservados.[114] As regiões defloresta tropical ecerrado, nas serras e chapadas de elevada altitude, possuem grande concentração demográfica, intenso uso para fins agropecuários e, comparativamente, pouca preservação e fiscalização ambiental. Os crimes ambientais são praticados constantemente em áreas como a APA Araripe - sobretudo as queimadas e retirada de lenha - e não podem ser reprimidos devido ao parco efetivo de fiscais, dentre outros motivos.[115] Atualmente amata atlântica ocupa apenas 1,2% do território estadual, tendo sido bem mais extensa no passado, mas 44% do restante está em áreas de preservação, o que, porém, não tem garantido sua total conservação.[116]
Em situação ainda mais grave está a extensacaatinga cearense, que conta com uma ínfimos 0,45% de preservação, embora represente, em suas variadas formas, 92% do território estadual.[117] 80% da caatinga cearense estão devastados,[118] e muitas das áreas restantes, apesar de aparentemente conservadas, não passam de formas vegetais secundárias menos ricas e alteradas pela substituição de espécies vegetais, o que acarreta graves prejuízos para o solo e os já escassos recursos hídricos. Adesertificação avança no estado e atinge níveis preocupantes, sobretudo emIrauçuba.[119]
O Ceará é, em termos regionais, o terceiro estado mais populoso do Nordeste, superado porBahia ePernambuco, e ooitavo do Brasil. No último censo do IBGE, em 2010, a população cearense era de 8 452 381 habitantes (4,4% da população brasileira),[122] dos quais 75,09% nazona urbana e 24,91% nazona rural.[123] De acordo com o mesmo censo, 51,26% eram dosexo feminino e 48,74% dosexo masculino,[123] resultando em umarazão de aproximadamente 95 homens para cada cem mulheres.[124] Quanto à faixa etária, 66,52% tinham entre 15 e 64 anos, 25,89% menos de quinze anos e 7,59% acima dos 65 anos.[125] Adensidade demográfica é de 56,76 hab/km²,[2] acima do valor nacional (22,43 hab/km²).[126] A capital, Fortaleza, abrigava sozinha 29% da população cearense.[127] Entre os censos de 2000 e 2010, o crescimento populacional do Ceará foi de 13,93%, valor um pouco superior às taxas regional (11,29%) e nacional (12,48%).[128]
Atransição demográfica tem ocorrido rapidamente no estado: a taxa de natalidade, que nos anos 1970 era bastante alta, caiu 17,96‰ em 2008, e a taxa de mortalidade nesse ano estava em 6,41‰. A taxa de fecundidade em 2009 foi de 2,15 filhos por mulher, ligeiramente acima da taxa de reposição da população, o que representou um aumento em relação a 2008, fazendo o Ceará apresentar uma taxa superior à média nordestina.[6] A taxa decrescimento demográfico caiu de uma média de 2,6% na década de 1950 para 1,73% durante os anos 1990. Com a transição demográfica em curso, a proporção de idosos no conjunto da população aumentou de 2,4% em 1950 para 6,72% em 2004, e já em 2009 10,5% dos cearenses possuíam 60 anos ou mais. Em sentido contrário, os jovens de 0-14 anos passaram de 45,7% em 1950 para 28,9% em 2006. Por último, a taxa de urbanização, que em 1940 era de 22,7%, foi estimada em 2006 em 76,4%, tendo se acelerado muitíssimo nas últimas décadas (só em 1980 a população urbana passou a ser majoritária, com 53,1%).[129]
Areligião é muito importante para a maior parte da população cearense. O estado é o terceiro mais católico do País, em termos proporcionais, com 86,7% da população seguindo ocatolicismo. Em seguida, vêm osprotestantes, somando 9,01%; os que não possuem nenhuma religião, com apenas 2,82%; e os fiéis de outras religiões, com 1,34%.[130]
Há forte concentração populacional na Região Metropolitana de Fortaleza, onde se verifica um maior contingente na capital e suas cidades do entorno que formam uma mancha urbana contínua. Entre 2010 e 2018, a Região aumentou de 42,68% para 44,69% sua participação em relação à população estadual e teve um incremento populacional de 12,69%, com uma taxa de crescimento de 1,5% do ano.[136] Destaca-se também a RMC, a partir aconurbação entre as cidades deJuazeiro do Norte,Crato eBarbalha, o chamadoCrajubar.[137] Nessas duas regiões estão os municípios mais densamente povoados do estado: Fortaleza (7 775,52 hab./km²), Maracanaú (2 231,91), Juazeiro do Norte (1 105,62),Eusébio (941,03) e Pacatuba (611,88).[138]
Aexpectativa de vida do cearense foi de 71,0 anos em 2009, com uma das maiores diferenças do país entre os homens (66,8 anos, 0,1 ano a menos que a média nordestina) e as mulheres (75,4 anos, 1,3 ano a mais que a média nordestina). O valor atual representa uma melhora de 5,3% em relação à de 1999 (67,4 anos). Assim, o estado acompanhou e até superou o aumento geral da esperança de vida do brasileiro, que foi de 4,4% (passando de 70,0 para 73,1 anos no mesmo período). Ainda assim, está muito inferior à maior expectativa de vida do País, que é a doDistrito Federal (75,8 anos).[6]
O Ceará foi o estado que mais diminuiu amortalidade infantil de 1980 a 2006, atingindo 30,8 por mil a partir da altíssima taxa de 111,5 por mil de 1980. Houve, portanto, uma redução de 72,4%. Ainda assim, o Ceará em 2008 estava acima da taxa de mortalidade nacional de 24,9 por mil. Por outro lado, dentre os estados nordestinos, só perde para oPiauí (29,3 mortes por mil nascimentos). Seu desenvolvimento humano, contudo, ainda é muito incipiente, embora tenha gradualmente avançado: de um IDH de 0,604 em 1991, passou a 0,723 em 2005. O componente do IDH que mais avançou foi o da Educação, que passou de 0,604 para 0,808 no mesmo período, sobretudo devido ao grande aumento da matrícula de jovens.[139]
Em 2008, o Ceará atingira índices sociais mais altos que a média do Nordeste em diversos aspectos, como a expectativa de vida, escolaridade média eanalfabetismo funcional, e apresentava tendência à diminuição de sua disparidade com relação à média do Brasil, superando já o índice nacional no tocante ao desemprego, aoíndice de Gini e à razão entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres da população, denotando uma desigualdade de renda que, outrora maior que a brasileira, tornou-se ligeiramente menor a partir de 2006.[140] Segundo oÍndice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2011, o Ceará em 2009 havia se tornado o estado com mais alto desenvolvimento da Região Nordeste e o 12º do Brasil, com índice 0,7129.[141]
A religião é muito importante na cultura da maior parte dos cearenses, sendo um fator de extrema importância na construção da identidade do povo do estado. O Cristianismo é areligião de hegemonia no Ceará e aIgreja Católica é a confissão cristã que mais deixou marcas na cultura cearense. Foi a única reconhecida pelo governo até 1883, quando, na capital da província, foi fundada aIgreja Presbiteriana de Fortaleza.[142]
Durante todo o século XX, várias igrejas se instalaram no estado e no final desse século houve um aumento considerável de pessoas de outras religiões. Contudo, o Ceará é ainda o segundo estado brasileiro com maior proporção de católicos, 85% da população, segundo dados de 2000.[143] Os evangélicos são 8,2%, os espíritas, 0,4%, os membros de outras religiões, 0,9%, e os sem religião, 3,7%.[144]
O catolicismo tem uma extensa rede deigrejas e organizações religiosas em todo o Ceará. A Província Eclesiástica de Fortaleza, encabeçada pelaArquidiocese de Fortaleza, lidera oitodioceses:Crateús,Crato,Iguatu,Itapipoca,Limoeiro do Norte,Quixadá,Sobral eTianguá. A Igreja Católica foi uma grande força política no passado, sobretudo até a primeira metade doséculo XX, época em que organizações católicas influenciaram decisivamente os rumos da política estadual.[145]
Cada um dos 184 municípios cearenses possui seupadroeiro. O padroeiro do Ceará éSão José. O seu dia no calendário religioso, 19 de março, é feriado estadual. Segundo a tradição popular cearense e a tradição dosprofetas da chuva, essa data tem grande significado, pois, se nesse dia houver chuva, o "inverno" (estação chuvosa) estará garantido. Do contrário, a seca estará inegavelmente caracterizada.[146]
A fé sertaneja, muitas vezes associada aomessianismo e marcada por profunda relação com ossantos, rituais e datas religiosas, foi e continua sendo bastante influente na história cearense e nos costumes e festejos cearenses. A cidade deJuazeiro do Norte surgiu de um assentamento que, sob orientação doPadre Cícero, considerado pela fé popular um santo, tornou-se um local de peregrinação religiosa e, nos últimos anos, atrai milhares de crentes de vários locais do Brasil. Outro local de grande peregrinação religiosa no Ceará é a cidade deCanindé que abriga um importante santuário em devoção aSão Francisco, considerado o maior dasAméricas.[147]
A constituição étnica do povo cearense remonta a muitos séculos. O censo de 1813 mostrava uma configuração já tendente à atual, com predominância de pardos: 28% de brancos, 6% de indígenas, 16% de negros e 50% de pardos.[148]
O povo cearense foi formado pela miscigenação de indígenas catequizados e aculturados após longa resistência, colonizadores europeus e negros que viviam como trabalhadores livres ou escravos.[150] O povoamento do território foi bastante influenciado pelo fenômeno natural daseca. Em 2008, a distribuição da população cearense por cor era de 33,05% autodeclarados brancos, acima dos 30,02% verificados na contagem de 1998; 3,03% autodeclarados negros, acima dos 1,22% em 1998; e 63,39% de autodeclarados pardos, proporção essa que diminuiu, comparada à de 1998, de 68,69%. Em proporção, o Ceará tem mais brancos e menos negros que a média nordestina, mesmo que a proporção de pessoas que se autodeclaram negras tenha aumentado bastante.[140]
Mapa indicando a presença indígena contemporânea no Ceará
Em decorrência das características econômicas que sempre predominaram no Ceará, como apecuária e acotonicultura, e aos aspectos naturais da terra, como o regime periódico de secas, que gerava graves situações de escassez de alimentos em várias áreas sertanejas, aescravidão africana não vicejou no estado da mesma forma que ocorreu no restante do país à época. Dessa forma, a população negra cearense sempre foi relativamente pequena. Vários negros, contudo, migraram para o Ceará como homens livres e fincaram raízes.[151] Estudos indicam que a maior parte dos negros cearenses tinham origem em povosbantus e doBenim.[152] Em 1864, havia apenas 36 mil cearenses escravos; número que, em 1887, reduzira-se para apenas 108 dentro de uma população que, já em 1872, era composta por 721 686 habitantes.[153] Em 1813, os escravos representavam 11,5% dos cearenses, dos quais 63% eram negros.[148] Ao fazer comparação com estados escravistas próximos, constata-se quão pouco importante era a escravidão na sociedade do Ceará: em 1864,Pernambuco tinha 260 mil escravos, permanecendo ainda com 41 122 em 1887; e aBahia, 300 mil escravos em 1864 e 76 838 escravos restantes em 1887.[154]
Segundo dados do estudo Frequência deAntígenosHLA em uma Amostra da População Cearense, realizado pelo professor Dr. Henry Campos, professor da Faculdade de Medicina daUniversidade Federal do Ceará, há um predomínio nítido de um antígeno no grupo de cearenses que não é o mesmo presente nas populações de negros e portugueses.[155]
O Ceará tem, atualmente, quinze etnias indígenas nativas reconhecidas. A população estimada dessas etnias é de 22,5 mil, de acordo com dados do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (FUNASA). No Ceará, muitas pessoas desconheciam a existência dos índios, pois políticas oficiais, durante muito tempo, obrigaram os indígenas a esconderem sua identidade. Um decreto da Assembleia Provincial do Ceará, datado de 1863, declarou que não havia índios na província.[156]
O Ceará é composto por 184municípios, que estão distribuídos em 18regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em seisregiões geográficas intermediárias, segundo a divisão doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigasmesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram asmicrorregiões.[161] O Governo do Ceará dividiu o estado em oito macrorregiões de desenvolvimento e em vinte regiões administrativas.[162]
No governo colonial doGovernador Sampaio, o engenheiroSilva Paulet apresentou mapa da província em 1818 que mostrou o limite oeste do litoral até a foz doRio Igaraçu. Desta forma, a então localidade deAmarração, atual cidade deLuís Correia, faria parte do Ceará. Durante oséculo XIX, a localidade teve assistência da cidade cearense vizinha,Granja, até que em 1874 os parlamentares estaduais decidiram elevar a localidade à categoria de vila. Essa atitude chamou a atenção dos políticos doPiauí, que reivindicaram esse território. A solução ocorreu em 1880, quando foi decidindo que haveria uma troca, na qual Piauí restabeleceu a totalidade de seu litoral e o Ceará incorporou os municípios deCrateús eIndependência.[163]
Desde essa época, persistem na divisa do Ceará com o Piauí vários pontos com indefinições de seus limites.[164] A área total em disputa seria de aproximadamente 3 000 km², o que equivale ao dobro da área domunicípio de São Paulo. Depois daConstituição de 1988, foi proposto que, em 1991, seriam resolvidas as questões de limites entre os estados, mas somente em 2008 um acordo foi apresentado. O acordo, no entanto, não foi concretizado, pois o Piauí abandonou as negociações. Diversas propostas surgiram como tentativa de resolução do litígio, entre elas a de um plebiscito.[165]
Em 2008, o PIB cearense, em preços de mercado, foi de R$ 60 098 877 000, dos quais 47,17% estão concentrados na capital Fortaleza, segundo estudo do Ipece.[167] Os cinco municípios com PIB per capita mais altos no Ceará são: Eusébio, Horizonte, Maracanaú, São Gonçalo do Amarante e Fortaleza. Os dez municípios de maior PIB abrangem 67,86% do PIB total.[167]
A partir da década de 1960 houve uma progressivaindustrialização eurbanização, que ganhou impulso a partir da década de 1980, em parte devido à política de concessão de benefícios fiscais a empresas que se instalassem no estado.[168] Desde 2004 a economia cearense vem crescendo, moderada, mas sustentadamente, entre 3,5% e 5% ao ano.[169] Em 2007 o crescimento foi de 4,4%, e em 2008 de 6,5%, sendo o primeiro inferior à média brasileira para aquele ano e o segundo bastante superior, principalmente devido à forte recuperação da agropecuária cearense (24,59%) aliada à manutenção em níveis altos do crescimento da indústria (5,51%) e do setor de serviços (5,21%).[170]
Em 2009, apesar da crise econômica internacional e de perdas no setor primário, o PIB cearense cresceu 3,1%, bastante acima do resultado do PIB brasileiro, de -0,2%, sobretudo devido ao bom desempenho do setor de serviços.[170] Com isso, o PIB cearense atingiu pela primeira vez um patamar de mais de 2% da produção nacional.[170] Uma estimativa feita pelo IPECE mostra que o PIB do Ceará teve um crescimento nominal recorde, quando cresceu 10 bilhões, quando comparado o ano de 2010 com o ano de 2009.[171] Em 2011, a economia cearense continuou a crescer acima da média nacional. O PIB cearense totalizou 84 bilhões, um aumento de 10 bilhões se comparado ao ano anterior, segundo dados preliminares do IPECE.[172]
J Macêdo, uma das maiores indústrias de massas do Brasil.
O Ceará tinha em 2018 um PIB industrial de 24,8 bilhões de reais, equivalente a 1,9% da indústria nacional e empregando 306.553 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (26,7%), Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (20,3%), Couros e Calçados (9,7%), Alimentos (8,9%) e Metalurgia (7,4%). Estes 5 setores concentram 73,0% da indústria do estado.[173] Os principais setores daindústria cearense são vestuário, alimentícia, metalúrgica, têxtil, química e calçadista. A maioria das indústrias esta instalada naRegião Metropolitana de Fortaleza, com destaque para Fortaleza,Caucaia e, por fim,Maracanaú, que abriga um importante complexo industrial, oDistrito Industrial de Maracanaú, dinamizando assim a economia do estado do Ceará.[174]
Ocomércio é muito marcante na economia do Ceará, compondo o PIB do estado com mais de 70%.[167] Em 2009 foi iniciada a construção da segundacentral de abastecimento do estado que ficará na região do Cariri e complementará a distribuição de alimentos juntamente com a CEASA da Região Metropolitana de Fortaleza.[176] Em Fortaleza existem váriosshopping centers:Iguatemi Fortaleza, North Shopping, Shopping Aldeota, Shopping Benfica,Shopping Center Um, Shopping Del Paseo e Shopping Via Sul. Além desses, somente outros quatro shoppings ficam fora da capital: o North Shopping Maracanaú, que fica emMaracanaú; o Iandê Shopping Caucaia, que fica emCaucaia; o North Shopping Sobral, que fica emSobral e o Cariri Shopping, que fica emJuazeiro do Norte.[177]
Imagem aérea deSobral com vista para a Igreja do Patrocínio e oMuseu do Eclipse, importante museu científico do Ceará
O Ceará mantém a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico como principal instituição de fomentocientífico etecnológico do estado.[185] O principal espaço de desenvolvimento científico do estado é o Campus do Pici, em Fortaleza, abrigando boa parte dos laboratórios da Universidade Federal do Ceará e outras instituições como oCentro Nacional de Processamento de Alto Desempenho no Nordeste e a sede da redeGigaFOR e vários cursos depós-graduação. Em todo o estado são ofertados 154 cursos de pós-graduação sendo 103 demestrado e 51 dedoutorado.[186]
Em 2009,Ano Internacional da Astronomia, o Ceará passou e integrar a Rede Internacional de Centros para Astrofísica Relativística (Icranet). Essa integração visa orientar os cursos de graduação em física das universidades UVA e UECE, respectivamente em Sobral e Fortaleza, para estudos nas áreas de astrofísica, astronomia e criar um programa de pós-graduação específico na UECE.[188]
O primeiro registro de fósseis no Brasil se deu com o livro "Viagem pelo Brasil" (Reise in Brasilien), publicado entre 1823 e 1831, relatando a descoberta de um peixe Rhacolepis na atual cidade deJardim.[189] A bacia sedimentar daChapada do Araripe conta com uma formação muito rica em fósseis da flora e fauna doCretáceo, boa parte em excelente estado de preservação, sobretudo na cidade deSantana do Cariri.[190] Os fósseis da região tem sido importantes para comprovar a deriva dos continentes africano e sul-americano.[191]
Nessa área foi estabelecido oGeoparque Araripe, o primeiro do gênero noHemisfério Sul, visando a proteger sua significativa importância geológica e paleontológica.[191] O trecho mais importante do geoparque é aFormação Santana, que se destaca por conter os primeiros registros de tecidos moles (não ósseos) de pterossauros e tiranossauros do mundo, as primeiras fanerógamas fósseis da América do Sul e várias espécies de peixes fossilizados.[189]
A primeira instituição deensino do Ceará foi oLiceu do Ceará, fundado em 1845, emFortaleza.[192] Dentre as escolas de ensino fundamental e médio, as mais antigas e tradicionais do estado são, além do Liceu, o Colégio da Imaculada Conceição (1865), Colégio Justiniano de Serpa (1881), Colégio Santa Cecília (1912) e Colégio Clóvis Bevilaqua (1913).[193] Além desses, também se destacam o Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e os colégios privados da capital, principais responsáveis pelos desempenhos de destaque nacionais. O Ceará possui, ainda, um dos maiores índices de aprovação do país no vestibular doInstituto Militar de Engenharia (IME) e doInstituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), este último o mais difícil do país. O ensino privado na capital possui, além disso, um forte espírito de concorrência e busca pelos melhores índices, já que sempre existe uma forte disputa, sobretudo entre essas três principais escolas, pelos primeiros lugares nos principais exames do país.[194]
Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), a taxa deanalfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais no estado, em 2012, foi de 16,3%, valor acima da média nacional. A taxa de analfabetismo no Ceará decresceu 34,4% entre 2001 e 2012. Esse desempenho é 4,4% superior à redução de analfabetismo no Brasil e 6,1% superior à redução da taxa dos que não sabem ler nem escrever no Nordeste.[199]
Em 19 de setembro de 2024, o Ministério da Educação autorizou a 1ª etapa da construção do campus doInstituto Tecnológica de Aeronáutica (ITA) em Fortaleza, sendo a primeira unidade fora da Região Sudeste. O novo campus, localizado naBase Aérea de Fortaleza, terá 18.568,59 m² e será dividido em: bloco de alojamentos com três pavimentos: duas salas de atividades, área de circulação, uma sala de aula, dois quartos com acessibilidade para pessoas com deficiência (capacidade: quatro alunos), 40 quartos com sala de estar e cozinha (capacidade: 80 alunos) e bloco para cursos de engenharia com três pavimentos: 14 laboratórios didáticos, quatro salas de apoio técnico, oito salas de aula, dois auditórios, seis salas de reunião, seis salas de estudo, duas salas de convivência, dois setores com diversas salas para professores, biblioteca, espaço de eventos e exposições. As primeiras turmas começarão em 2025, no Campus São José dos Campos, onde os alunos vão cursar o ciclo básico (dois primeiros anos). A partir do terceiro ano da graduação (2027), as aulas passarão a ser ministradas no novo campus de Fortaleza.[203]
Durante o século XIX somente oitenta cearenses foram diplomados pelas duas faculdades demedicina existentes no Brasil.[204] Desses, somente trinta voltaram para o Ceará. Em 1861 ficou pronto o primeiro hospital do estado,Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, que foi o foco de combate a várias pestes que assolaram o estado:varíola,febre amarela ecólera na década anterior.[204]
Os principais hospitais públicos do estado estão concentrados na Capital. Atualmente o sistema desaúde pública cearense é composto por hospitais municipais e estaduais, totalizando 164 unidades hospitalares com internação e 2.198 sem internação.[205] O Hospital Geral de Fortaleza é o maior hospital público. OInstituto Doutor José Frota é o maior hospital de emergência. Dois hospitais de grande porte serão construídos durante o atual governo do estado nas regiões do Cariri e Sobral para diminuir a superlotação do sistema de saúde cearense.[206] O sistema também é composto por centenas de postos de saúde e centenas de equipes doPrograma de Saúde da Família em quase todos os municípios. OServiço de Atendimento Móvel de Urgência está sendo implantado em todas as regiões do Ceará. O atendimento médico privado é bastante desenvolvido com um total de 127 hospitais, destacando-se os hospitaisSão Mateus,Antônio Prudente, Hospital Regional da Unimed,Monte Klinikum.[205]
Há grande disparidade no acesso a médicos e a leitos hospitalares. Os municípios com mais médicos por mil habitantes sãoBarbalha (3,6 por mil), Guaramiranga (2,6) eAracoiaba (2,3) — Fortaleza é a 9ª com mais médicos em termos proporcionais (1,5 por mil) —, enquanto os que possuem menos sãoVarjota,Granja ePires Ferreira, todos com apenas 0,2 médico por mil. Barbalha também se destaca como a cidade com mais leitos por mil habitantes (8,1), seguida porBrejo Santo (6,0),Jati (5,9) e Crato (5,4), enquanto as que apresentam menos leitos possuem índices muito menores:Forquilha (0,1), Pacatuba (0,3) eBeberibe (0,5).[207]
O estado era, até o final doséculo XX, totalmente desprovido de grandes unidades geradoras deenergia.[208] Na década de 2000 foram feitos investimentos pesados na geração deenergia eólica com a possibilidade de o Ceará gerar toda sua demanda energética em seu próprio solo.[209]
AEnel Distribuição Ceará é a empresa responsável pela distribuição da energia no estado. O consumo médio do estado gira em torno de 650 gigawatts por mês.[211] Em 2007, 99,3% dos domicílios urbanos e 90,4% dos domicílios rurais eram servidos pela rede de distribuição elétrica, contabilizando 2 688 746 clientes.[212]
O estado é o terceiro maior produtor deenergia eólica do país, com 2 134 MW de capacidade instalada, além de possuir a melhor produção mundial.[213][214][215] O Ceará também possui aUsina Solar Tauá, com novos projetos para expansão de usinas, aproveitando potencial deenergia solar do estado.[216]
Osjornais foram a primeiramídia demassa do estado. O primeiro jornal cearense, oDiário Oficial, começou a ser publicado em 1825. No final doséculo XIX, havia centenas de jornais e publicações periódicas em todo o território, com mensagens de cunho político e social. Em 1881, chegaram à costa cearense os cabos submarinos daThe Western Telegraph Company, interligando o Brasil à Europa por meiotelegráfico.[217]
A primeira estação derádio surgiu na década de 1930. Era uma entidade de rádio amador chamadaCeará Rádio Clube.[218]
Atelefonia iniciou-se no Ceará, primeiro em Fortaleza, em 1891 com a fundação daempresa telefônica do Ceará. Em 1938, o serviço passou a ser automático, com a instalação de equipamentos daEricsson do Brasil. ACompanhia Telefônica do Ceará surgiu em 1971 e foi privatizada em 1998. Atualmente, existem 2 490 224 linhas telefônicas no estado.[212]
O sistemaferroviário do estado é operado em conjunto com a malha do Nordeste pela empresaTransnordestina Logística S.A, que está construindo a ferroviaTransnordestina. O estado é cortado por 1.431 km de caminhos de ferro interligando o estado de norte a sul e de leste a oeste entre a capital e o interior, e ao estado do Piauí, por meio daFerrovia Teresina-Fortaleza.[221]
Ao longo dos 570 km de litoral do Ceará estão instalados 13faróis em pontos estratégicos para auxiliar a navegação decabotagem, sendo controlados pela Capitania dos Portos do Ceará.[222]
EmFortaleza tem início a rodovia federal mais importante doBrasil, aBR-116, que liga a capital do Ceará às regiões Sudeste e Sul do país até oRio Grande do Sul. Em Fortaleza também tem início aBR-222 que faz ligação com a região Norte indo até oPará. ABR-020 faz a ligação deBrasília com Fortaleza. A rodoviaBR-230 Transamazônica corta o estado na região sul e aBR-304 liga o Ceará até a cidade deNatal, noRio Grande do Norte. Asrodovias estaduais somam um total de 10 657,9 km, sendo 5 767,6 km pavimentados e 4 890,3 não pavimentados. A extensão total da malha rodoviária, incluindo rodovias municipais, estaduais e federais, é de 53 325,4, segundo oDepartamento de Edificações e Rodovias do Ceará.[223] Todas as sedes dos municípios têm acesso por estradas pavimentadas.[224] Atualmente o sistema encontra-se com algumas estradas danificadas em decorrência defortes chuvas,[225] mas a maioria das rodovias apresenta boa condição de trafegabilidade.[226][227]
Modelo de helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer)
Veículos do programa de policiamento comunitário em Fortaleza, o "Ronda do Quarteirão"
O Governo do Ceará, desde o início da década de 1990, realiza ações para integração das forças policiais: militar, civil e bombeiro. A primeira ação foi a reformulação do sistema de chamadas 190 que passou a funcionar integrado com o nome de CIOPS - Centro Integrado de Operações de Segurança - e que na Capital do estado integra também o sistema municipal de controle de tráfego e Guarda Municipal. O mais recente passo na integração das forças policiais do estado foi a criação daAcademia Estadual de Segurança Pública do Ceará que formará conjuntamente o pessoal de todas as forças de segurança.[228]
APolícia Militar do Ceará tem um contingente de aproximadamente 13 mil policiais[229] divididos em sete batalhões, um batalhão de choque, um batalhão de segurança patrimonial, um esquadrão de polícia montada, uma companhia de polícia rodoviária, um centro integrado de operações aéreas, uma companhia de polícia do meio ambiente, um pelotão de motos e a unidade de polícia de turismo. O efetivo daPolícia Civil é de aproximadamente 2 200[230] policiais distribuídos em 34 distritos policiais, oito delegacias metropolitanas, 19 delegacias regionais, 23 delegacias municipais e 18 delegacias especializadas. OCorpo de Bombeiros Militares é composto pelo efetivos de aproximadamente 1 400 bombeiros.[231]
Acriminalidade é um problema crescente no estado. A taxa dehomicídio foi de 24,0 por 100 mil habitantes em 2008, um expressivo aumento de 79,1% comparado à taxa de 13,4 por 100 mil em 1998, apesar de ter conseguido reduzir bastante de 2018, ano em que a taxa era 49,8 por 100 mil habitantes, para 24,7 por 100 mil habitantes em 2019, no primeiro semestre de 2020 a taxa cresceu novamente, mas agora em 102%.[232] Em função do aumento ainda maior do número de assassinatos em outras unidades da Federação, o Ceará possui a 18ª maior taxa de homicídios do Brasil, enquanto, em 1998, estava na 17ª posição. Por sua vez, Fortaleza, com 35,9 homicídios por cem mil habitantes, passou do 20ª para o 17ª lugar entre as capitais mais violentas do País, porém continua bastante abaixo da média das capitais doNordeste.[233] O Ceará possui 7 de seus 184 municípios entre os 500 com maiores taxas de homicídio do Brasil.[234]
Em 2007, foi implantado emFortaleza oRonda do Quarteirão, programa de segurança pública do Governo do estado que tem por objetivo diminuir o tempo de resposta a ocorrências policiais. Em 2008, o programa foi expandido paraCaucaia eMaracanaú e, em seguida, para vários municípios interioranos. Neste mesmo ano foi criada apolícia científica do estado, Perícia Forense do Estado do Ceará que atuará em sua área de forma autônoma e desvinculada de outras forças policiais. Apesar dos esforços, o combate à violência não tem surtido efeito somente com ações policiais, e a criminalidade ainda é crescente.[235] Somente entre 2008 e 2009, houve um alarmante aumento da taxa total de roubos, que mais que triplicou de 219,8 para 772,0 por 100 mil habitantes, bem como um aumento do número de estupros (de 6,9 para 7,8 por 100 mil). A taxa de homicídios cresce, lenta mas preocupantemente, de 22,2 para 22,5 por 100 mil entre 2008 e 2009.[236]
Em 2 de janeiro de 2019, facções criminosas começaram a promover ataques com explosivos em todo o estado.[237]
A jangada é um dos principais símbolos do Ceará. Fruto do trabalho artesanal, elas representam a "tenacidade" e o "espírito nômade".[9]Guaramiranga, cidade serrana doMaciço de Baturité, é, pelo seu clima frio e agitada cena cultural e artística, um importante centro turístico do estado.
A cultura cearense tem como base essencialmente as culturaseuropeia eameríndia, de fortetradição sertaneja. Quando da introdução da cultura portuguesa no Ceará, ao longo doséculo XVII, os índios já produziam diversificado artesanato a partir de vegetais como ocipó e acarnaúba, bem como dominavam técnicas primitivas de tecelagem do algodão,[239] inclusive tingindo os tecidos de vermelho com a casca daaroeira.[240]
Com origens portuguesas e relevante influência indígena, têm destaque a produção de redes com os mais diversos bordados e formas e intrincadas rendas feitas embilros, talvez o maior destaque da produção artesanal cearense, sendo uma arte tradicional no Ceará desde meados doséculo XVIII.[241] As rendas e os labirintos possuem maior destaque nas imediações do litoral, enquanto o interior se destaca mais pelos bordados.[239]
Ademais, o artesanato feito em madeira e barro é também de grande destaque, com produção de esculturas humanas, representando tipos da região; quadros talhados em madeira e vasos adornados. Outro importante item do artesanato cearense são asgarrafas de areias coloridas, onde são reproduzidas, manualmente, paisagens e temáticas diversas. São ainda encontrados, em diversas cidades - em especialMassapê,Russas,Aracati,Sobral eCamocim, cestarias, chapéus e trançados com variadas formas e desenhos feitos da palha dacarnaúba, dobambu e do cipó.[241] Por fim, como consequência natural de uma economia que, durante séculos, foi essencialmente pecuarista, o couro é trabalhado artesanalmente, em especial para a produção de chapéus e outras peças da roupa de vaqueiros, assim como de móveis e esculturas. As principais cidades no artesanato coureiro sãoMorada Nova,Juazeiro do Norte,Crato,Jaguaribe eAssaré.[240]
Em diversas áreas do interior cearense, oscordéis, assim como osrepentistas e poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares daIdade Médialusitana. Outra forte influênciaportuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo o interior, particularmente as festas depadroeiros, que estão entre as principais festividades da cultura cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também de dança, musicais e outras formas de entretenimento, numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos. Destaca-se aFesta de Santo Antônio de Barbalha, famosa pelopau da bandeira, que é comemorada nessa forma desde 1928 e, em 2015, foi declarada como patrimônio imaterial peloInstituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo também patrimônio cultural do Ceará desde o final de 2018.[242]
Na segunda metade do século XX, osuíçoJean-Pierre Chabloz, em passagem pelo Ceará, descobriu a arte doacreano de origem cearenseChico da Silva noPirambu, retratando figuras primitivas de dragões e outros animais com carvão e tinta guache. Seu estilo foi classificado comoarte naïf e teve grande destaque até a década de 1980. No final doséculo XX, o pintorLeonilson foi o maior destaque cearense na pintura.[244]
O Ceará se tornou conhecido nacionalmente como berço de talentos humorísticos comoChico Anysio,Renato Aragão,Tom Cavalcante eTiririca, dentre vários outros. Embora a percepção de que há umCeará moleque como verdadeira identidade do povo cearense seja controversa, a história do estado é repleta de casos verídicos e curiosos que parecem corroborar com essa ideia. Destacam-se, sobretudo, figuras populares como oBode Ioiô, que era famoso emFortaleza e inclusive foi eleito vereador da cidade, e oSeu Lunga, deJuazeiro do Norte, famoso pela sua intolerância com perguntas óbvias, assim como eventos como avaia ao sol, também em Fortaleza, depois de quase um dia inteiro de céu nublado na cidade.[245]
Aliteratura cearense foi sempre caracterizada por florescer em torno de grupos literários. O primeiro desses grupos de desenvolvimento literário foiOs Oiteiros, que, embora mantendo os padrões típicos doArcadismo, soube encontrar uma cor local para descrever ofugere urbem e ocarpe diem típicos daquela escola.[249] No final do século XIX, surgiu aPadaria Espiritual, uma agremiação cultural formada por jovens escritores, pintores e músicos. Vários autores criticavam as instituições e valores então vigentes com discurso irônico, irreverência, espírito crítico e sincretismo literário.[251] Para alguns críticos literários e historiadores, essa agremiação pode ser considerada um movimento pré-modernista que já apresentava alguns aspectos doModernismo, que só surgiria com força emSão Paulo em 1922. Contemporânea à Padaria Espiritual, aAcademia Cearense de Letras foi fundada em 1894 sendo uma das principais instituições literárias do estado, congregando alguns dos nomes mais ilustres da literatura estadual.[252]
OModernismo se consolidou no Ceará por meio do movimentoClã, fundado nos anos 1940, que congregou diversos escritores renomados cearenses:Moreira Campos, João Clímaco Bezerra, Antônio Girão Barroso, Aluísio Medeiros, Otacílio Collares,Artur Eduardo Benevides,Antônio Martins Filho, Braga Montenegro,Manuel Eduardo Pinheiro Campos,Fran Martins, José Camelo Ponte, José Stênio Lopes, Milton Dias, Lúcia Fernandes Martins e Mozart Soriano Aderaldo.[253] Na década de 1970, surgiram outros dois importantes grupos literários no Ceará:O Saco, uma revista artística inusitada, pois era distribuída com folhas soltas guardadas dentro de um saco; e oGrupo Siriará, que reuniu diversos jovens escritores, propondo uma literatura cearense autêntica e desvinculada dos estereótipos que se estabeleceram na retratação literária do ambiente cearense.[254]
Aliteratura de cordel tem destaque nas letras cearenses desenvolvendo-se expressivamente em Juazeiro do Norte, desde as primeiras décadas doséculo XX. Em Fortaleza, a literatura de cordel surgiu no período da Oligarquia de Nogueira Accioly, período esse em que circularam alguns folhetos destratando a figura do governador cearense. Patativa do Assaré é um dos maiores destaques nesse tipo de literatura.[255]
O gênero musical mais identificado com o Ceará é oforró, em suas variadas formas, notadamente o tradicional forró pé-de-serra. Nos anos 1940, o cearenseHumberto Teixeira formou uma famosa parceria com o pernambucanoLuiz Gonzaga, criando obaião, que se tornou muito apreciado.[256] Uma das principais tradições da música cearense - e, principalmente, doCariri - são também as bandas cabaçais, que utilizam pífanos, zabumbas e pratos e frequentemente fazem acompanhar sua música com movimentos e acrobacias com facões, com destaque para a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Outros representantes tradicionais da música cearense são osseresteiros erepentistas. Dos anos 1980 em diante, cresceu bastante o chamadoforró eletrônico, que adotou novos instrumentos e absorveu muitas influências de diversos estilos populares, afastando-se um pouco da tradição do "pé-de-serra" e ganhando grande popularidade no estado.[257]
O importante momento musical dos anos 1960, no qual floresceram aMPB e otropicalismo noBrasil, também teve grande influência no Ceará, onde se revelaram artistas comoEdnardo,Belchior,Fagner,Amelinha, J. Camelo Ponte e outros, alguns dos quais conseguiram projeção nacional, recebendo da crítica musical o apelido de "pessoal do Ceará".[256]
Inusitadamente, o Ceará tem também tido certo destaque namúsica clássica brasileira, embora aí não encontre grandes incentivos. Um dos mais destacados compositores clássicos brasileiros foi o cearenseAlberto Nepomuceno, considerado o "pai" do nacionalismo na música erudita do Brasil,[258] que em Fortaleza batiza oConservatório de Música Alberto Nepomuceno. Outro representante da música clássica foi o renomado regenteEleazar de Carvalho, um dos fundadores daOrquestra Sinfônica Brasileira e professor de maestros célebres, comoClaudio Abbado eZubin Mehta.[259] Em sua homenagem foi criada a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Nessa seara, há também iniciativas que unem a música à filantropia como a Orquestra Filarmônica da Chapada do Araripe,[260] em Araripe e a Sociedade Lírica do Belmonte,[261] no Crato.
Estádio Castelão, o quarto maior estádio do Brasil, sede da Copa das Confederações FIFA 2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e palco de váriosshows nacionais e internacionais.[262]Estádio Presidente Vargas, emFortaleza. Local de grandes disputas e tradicionais clássicos entre os times locais.
No Ceará, avaquejada é muito popular e faz parte da raiz cultural cearense. São realizadas anualmente mais de cem vaquejadas, além dohipismo, que também é bastante popular, notadamente em Fortaleza e Sobral, cidades com grande tradição em corridas decavalo. Sobral tem um dos clubes de hipismo mais antigos do Brasil, oDerby Clube Sobralense fundado em 1871.[263] OJockey Club Cearense, em Fortaleza, é outro centro tradicional deturfe no Ceará.[264]
Canindé, município com renomado turismo religioso.
OMiss Ceará é um dos eventos de maior tradição do estado. Sua primeira edição ocorreu em 1955, e logo com a eleição deEmília Barreto Correia Lima comoMiss Brasil, segunda eleita na história do concurso.[273] Outra Miss Brasil do Ceará foiFlávia Cavalcanti Rebelo, apesar de ser natural deSalvador, representava o Ceará na competição nacional.Vanessa Vidal, Miss Ceará de 2008, ficou em segundo lugar e foi a primeira concorrente a Miss Brasil com deficiência auditiva.[274]
OCine Ceará é um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil.[275] Acontece em Fortaleza, anualmente, desde 1991, e, desde 2006, o festival recebe produções internacionais.[276]
Expocrato, oficialmenteExposição Centro Nordestina de Animais e Produtos Derivados, é o maior evento agropecuário do norte-nordeste, com nove dias de duração, realizado anualmente, no mês de julho, no Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcanti, na cidade doCrato. Constitui-se basicamente de uma feiraagropecuária, com desfile eleilão de animais. Durante o evento, são vendidas bebidas e comidas típicas e apresentados espetáculos musicais.[277]
OFortal é umamicareta que acontece anualmente desde 1991, sempre no final de julho. Várias outras micaretas menores ocorrem em cidades do interior. Um dos maiores festivais de música pop do Brasil, oCeará Music, que acontece anualmente desde 2001 reunindo várias bandas nacionais e internacionais.[278]
A maior festa religiosa no Ceará, assim como em grande parte do Nordeste, ocorre em junho, com asfestas juninas. Durante esse mês, oforró é o ritmo mais ouvido e tocado em todo o estado[256] e comidas e vestimentas típicas são comuns nas ruas e praças de quase todas as cidades, destacando-seJuazeiro do Norte, com oJuaforró. Ocarnaval também é outra grande festa, com destaque para as folias organizadas nas cidades litorâneas. Outra grande festa religiosa é o Halleluya que acontece anualmente desde 1995. No setor agropecuário, o evento de destaque no Ceará é aExpoCrato, considerado o maior evento do gênero no Norte-Nordeste e o quinto maior do país, realizado anualmente na cidade doCrato.[279]
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