Inscrição com o calendário romano, antes da reforma juliana. Observe a presença dos mesesQuintil eSextil, e a possibilidade de inserção de ummês intercalar.
Neste primeiro calendário romano, o ano tinha 10 meses de 30 ou 31 dias, que totalizavam 304 dias e os demais 61 dias que coincidiam com oinverno não entravam no calendário havendo pouco interesse de acompanhamento temporal neste período do ano.
A primeira reforma do calendário ocorreu comNuma Pompílio, o segundo dos setereis de Roma, por volta de713 a.C., que reduziu os meses de 30 dias para 29 dias e adicionou os meses deJanuarius (29 dias) eFebruarius (28 dias) no final do calendário aumentando o seu tamanho para 355 dias, transformando-o em um calendário luni-solar, mantendo os inícios dos meses coincidindo com os inícios das fases da Lua e adicionando de tempos em tempos um mês extra para completar o ano solar.
Este calendário fora baseado nocalendário grego praticado emAtenas, que já era um calendário luni-solar e bem mais preciso que aquele primeiro calendário praticado em Roma e que, então, também passou a ser de 12 meses com um mês adicional para manter o ciclo anual lunar alinhado com o ciclo anual solar.
Para manter este alinhamento de ciclos, de dois em dois anos deveria ser adicionado um mês extra de 22 ou 23 dias,mensis intercalaris, de nomeMercedônio ou Mercedino, próximo ao final de Februário (Februarius) logo após os dias 23 ou 24, que era terminado somente após a conclusão deste mês intercalar, resultando em uma sequencia de anos com 355, 377, 355 e 378 dias, com uma média de 366,25 dias.
A decisão de inserir o mês intercalado, e sua posição, era a responsabilidade dopontífice máximo (pontifex maximus) que controlava para que o calendário não se distanciasse das efemérides anuais tornando irregular a sequência de inclusões. O sistema de alinhar o ano através destes meses intercalares falhou pelo menos duas vezes.
A primeira foi durante e após aSegunda Guerra Púnica. Isso levou a reforma daLei Acília em191 a.C., sendo bem sucedida por longo período.
A segunda falha foi na metade doSéculo I a.C. e que resultou na reforma instituída porJúlio César com a implantação de um calendário solar, em substituição do calendário luni-solar de Numa Pompílio, posteriormente chamado decalendário juliano.
Após sua última reforma os anos tinham uma sequência regular de 355, 377, 355 e 378 dias em um ciclo de 24 anos.
Calendário romano quando regular
Mês
Anos 01, 05, 09, 13, 17, 21
Anos 02, 06, 10, 14, 18, 22
Anos 03, 07, 11, 15, 19, 23
Anos 04, 08, 12, 16, 20, 24
Márcio
31
31
31
31
April
29
29
29
29
Maio
31
31
31
31
Júnio
29
29
29
29
Quintil
31
31
31
31
Sextil
29
29
29
29
Septembris
29
29
29
29
Octobris
31
31
31
31
Novembris
29
29
29
29
Decembris
29
29
29
29
Januário
29
29
29
29
Februário
28
23
28
24
Mercedônio
-
22
-
23
Final de Februário
-
5
-
4
Total de dias
355
377
355
378
Para ajustar o erro acumulado, de um dia ao ano, a cada 24 anos se retirava 24 dias pela eliminação de seis dias nas quatro últimas sequências de anos 18, 20, 22 e 24 de 377, 378, 377 e 378 dias que ficavam com respectivamente com 371, 372, 371 e 372 dias.
Os romanos tinham nomes especiais para três dias específicos em cada mês. O sistema foi originalmente baseado nas fases da Lua. Após as reformas deNuma Pompílio, eles passaram a ocorrer em dias fixos.
São os dias do mês:
Calendas (Kalendae) - primeiro dia do mês, de onde a palavra calendário derivou. Os juros das dívidas eram actualizados nas calendas.
Nonas – (Nonae) dependendo do mês, podia ser o 5º ou o 7º dia; tradicionalmente o dia que correspondia à fase lunar de quarto crescente.
Idos (Idus) dependendo do mês, podia ser o 13º ou o 15º dia; tradicionalmente o dia de lua cheia.
Nos seguintes meses as nonas ocorriam ao 5º dia e os idos ao 13º dia:Janeiro, fevereiro, abril, junho, agosto, setembro, novembro e dezembro.
Nos seguintes meses as nonas ocorriam ao 7º dia e os idos ao 15º dia:Março, maio, julho e outubro.
Os outros dias no mês não eram, normalmente, nomeados, apesar de alguns serem conhecidos pelo nome de um festival que neles ocorria.(ex. Ferália, Quirinália).
Para identificar os outros dias contava-se regressivamente ao dias nomeados. Além disso, os romanos contavam inclusivamente, assim, por exemplo, 2 de setembro é considerado quatro dias antes de 5 de setembro, em vez de três como costumamos contar.
O exemplo a seguir demonstra como eram denominados os dias para um setembro pré-juliano, que tinha 29 dias. Mostra como a data era descrita, a sua tradução, e como nós a dizemos actualmente.
Kal. Sept.
Calendas de Setembro
1 de setembro
a.d. IV Non. Sept.
4 dias antes das Nonas de Setembro
2 de setembro
a.d. III Non. Sept.
3 dias antes das Nonas de Setembro
3 de setembro
prid. Non. Sept
O dia anterior às Nonas de Setembro
4 de setembro
Non. Sept.
Nonas de Setembro
5 de setembro
a.d. VIII Id. Sept.
8 dias antes dos Idos de Setembro
6 de setembro
a.d. VII Id. Sept.
7 dias antes dos Idos de Setembro
7 de setembro
a.d. VI Id. Sept.
6 dias antes dos Idos de Setembro
8 de setembro
a.d. V Id. Sept.
5 dias antes dos Idos de Setembro
9 de setembro
a.d. IV Id. Sept.
4 dias antes dos Idos de Setembro
10 de setembro
a.d. III Id. Sept.
3 dias antes dos Idos de Setembro
11 de setembro
prid. Id. Sept.
O dia anterior aos Idos de Setembro
12 de setembro
Id. Sept.
Idos de Setembro
13 de setembro
a.d. XVII Kal. Oct.
17 dias antes das Calendas de Outubro
14 de setembro
a.d. XVI Kal. Oct.
16 dias antes das Calendas de Outubro
15 de setembro
a.d. XV Kal. Oct.
15 dias antes das Calendas de Outubro
16 de setembro
a.d. XIV Kal. Oct.
14 dias antes das Calendas de Outubro
17 de setembro
a.d. XIII Kal. Oct.
13 dias antes das Calendas de Outubro
18 de setembro
a.d. XII Kal. Oct.
12 dias antes das Calendas de Outubro
19 de setembro
a.d. XI Kal. Oct.
11 dias antes das Calendas de Outubro
20 de setembro
a.d. X Kal. Oct.
10 dias antes das Calendas de Outubro
21 de setembro
a.d. IX Kal. Oct.
9 dias antes das Calendas de Outubro
22 de setembro
a.d. VIII Kal. Oct.
8 dias antes das Calendas de Outubro
23 de setembro
a.d. VII Kal. Oct.
7 dias antes das Calendas de Outubro
24 de setembro
a.d. VI Kal. Oct.
6 dias antes das Calendas de Outubro
25 de setembro
a.d. V Kal. Oct.
5 dias antes das Calendas de Outubro
26 de setembro
a.d. IV Kal. Oct.
4 dias antes das Calendas de Outubro
27 de setembro
a.d. III Kal. Oct.
3 dias antes das Calendas de Outubro
28 de setembro
prid. Kal. Oct.
O dia anterior às Calendas de Outubro
29 de setembro
Kal. Oct.
Calendas de Outubro
1 de outubro
a.d. = ante diem = dias antes ; prid.= pridie = o dia anterior ; Kal. = calendas
Pode-se notar:
Como os dias eram contados inclusivamente e por haver um nome especial para o dia anterior ao dia com nome, não há a possibilidade de se dizer:2 dias antes de um dia com nome.
Após os idos já não se menciona o mês de setembro, visto que se contam quantos dias faltam para a Calendas de outubro.
QuandoJúlio César adicionou um dia a setembro, este foi acrescentado a seguir dos Idos, assim o dia 14 de setembro passa a significar, a.d. XVIII Kal. Oct.Esta mudança gera imprecisão na contagem dos dias atualmente, não ficando claro se uma data ocorreu no dia 23 ou 24 de setembro, por exemplo.
Foi adotado um sistema desemanas com 8dias, e os dias eram marcados nos calendários com as letrasA,B,C,D,E,F,G eH.[1] Ummercado seria feito no oitavo dia. Para os romanos, que contavam inclusivamente, este seria realizado a cada nove dias, daí que este mercado era denominadonundinae (latim antigo:noundinae, significando dia de mercado — comoadjetivo,inter nundinum ouinternundinum[1]). Dado que a extensão do ano não era múltipla de 8 dias, a letra para o dia de mercado (conhecida como "letra nundinal") variava a cada ano. Por exemplo, se num determinado ano de 355 dias a letra nundinal era A, a do ano seguinte seria F. No calendário romano,primeiro de janeiro sempre era assinalado com A.[1] O sistema de letras não data dos primórdios da civilização romana, visto que aletra G foi introduzida noséculo III a.C., mas há registros da divisão em 8 dias feitos porDionísio de Halicarnasso.[1]
Camponeses, após trabalharem noscampos agrícolas por 7 dias, afluíam aosassentamentos no oitavo dia para o mercado. O hábito levou osenado romano a promulgar ojus nundinorum, o direito de exclusividade dos habitantes de determinado distrito sobre os mercados periódicos da localidade;[1] juntamente, uma lei de287 a.C. (aLex Hortensia de nundinis) proibia a realização de reuniões dascomitia (como por exemplo a realização de eleições) em dias de mercado, mas permitia a realização de actos legais. No fim do período republicano, surgiu uma superstição de considerar nefasto um ano que começasse num dia de mercado, e os pontífices, que regulavam o calendário, tomaram medidas para o evitar.
Como o ciclo do mercado estava fixado em 8 dias nos tempos daRepública, a informação acerca das datas do mercado é uma das mais importantes ferramentas que temos actualmente para estabelecer a equivalência entre o calendário pré-juliano e o calendário juliano. No início doperíodo imperial, o dia do mercado era mudado ocasionalmente. Os detalhes não são claros, mas uma explicação provável seria que o dia do mercado seria alterado se coincidisse no mesmo dia que o festival doRegifúgio (Regifugium), um evento que poderia ocorrer numano bissexto do calendário juliano. Quando isto acontecia, o dia do mercado seria movido para o dia seguinte, que era o dia bissexto.
Asemana de sete dias começou a ser usada no início do período imperial, depois do calendário juliano ter entrado em vigor, aparentemente estimulada pela imigração oriunda do Império oriental. Durante algum tempo a semana de 7 dias coexistiu com o ciclo nundinal de 8 dias e algunsfasti incluem ambos os ciclos. Ossabinos, predecessores noterritório, utilizavam sistema de semana com 7 dias —fasti Sabini.[1]
Os romanos tinham uma cultura pagã e dedicavam osdias da semana aos astros conhecidos, sendo odies Saturni dedicado ao astro e deus Saturno, que era um dia de descanso pela boa colheita realizada.
NaRepública Romana, os anos não eram contados. Ao invés disso eles eram nomeados em homenagem aoscônsules que estavam no poder no início do ano (vejalista de cônsules da República Romana). Por exemplo,205 a.C. foi oAno do consulado de Públio Cornélio Cipião Africano e Públio Licínio Crasso.
Todavia, na república tardia, historiadores e sábios começaram a contar os anos pela data da fundação da cidade de Roma. Diferentes sábios usaram diferentes datas para este evento. A data mais usada hoje em dia é a calculada porMarco Terêncio Varrão,753 a.C., mas outros sistemas variaram por décadas a seguir. Datas marcadas por este método eram rotuladasab urbe condita (que significaapós a fundação da cidade, e abreviada AUC). Quando textos antigos forem lidos usando datas em AUC, deve se tomar cuidado para determinar a época usada pelo autor antes de traduzir este ano para o calendário juliano.
O primeiro dia do mandato consular, que era efetivamente o primeiro dia do ano, mudou inúmeras vezes durante a história romana. Foi1 de Janeiro em153 a.C.. Anteriormente era15 de Março. Mudanças anteriores eram um pouco mais incertas. Há boas razões para acreditar que o início do ano era em1 de Maio durante a maior parte do terceiro século antes de Cristo, até o ano de222 a.C..Lívio menciona consulados começando em 1 de Sextil (Augusto), 15 de Maio, 15 de Dezembro, 1 de Outubro e 1 de Quintil (Julho).
Achar uma data romana para o calendário juliano pode ter armadilhas. Até datas do início do calendário juliano podem não ser o que parecem ser. Por exemplo, consta-se que Júlio César foi assassinado nosidos de Março de44 a.C., e é comumente convertido para15 de Março de44 a.C.. Embora ele tenha sido de fato assassinado no 15º dia do mês Márcio do calendário romano, a data equivalente no atual calendário é, provavelmente,14 de Março de44 a.C..
Achar um dia equivalente do calendário juliano para uma data pré-juliana é ainda mais difícil. Já que temos uma lista essencialmente completa dos cônsules, não é difícil de achar um ano juliano que geralmente corresponda a um ano pré-juliano.
No entanto, as fontes raramente nos dizem quais anos são comuns, quais são intercalares e quanto tempo um ano intercalar durava. Assim, datas pré-julianas podem ser muito tortuosas.
Hoje em dia existe, todavia, um número de pistas para ajudar. Primeiro: sabe-se quando o calendário juliano começou, embora existam controvérsias a respeito. Há também, fontes detalhadas sobre décadas anteriores, na maioria das vezes, em cartas e discursos deCícero. Combinando-se estes dados com informações sobre como o calendário funcionava, em especial ociclo nundinal, podemos converter corretamente datas romanas depois de58 a.C.. Ainda, histórias deLívio nos dão datas romanas exatas para dois eclipses em190 a.C. e168 a.C., e conhece-se, também, uns poucos sincronismos com datas em outros calendários que ajudam a ter soluções aproximadas, e às vezes exatas, para este período. Antes de190 a.C. o alinhamento entre os calendários romano e juliano é determinado por pistas, como as datas de colheitas mencionadas nas fontes.
Combinando essas fontes de informações, é possível se estimar aproximações de equivalências julianas às datas romanas até o início daPrimeira Guerra Púnica, em264 a.C.. Porém, enquanto temos informações suficientes para tais reconstruções, o número de anos antes de45 a.C. que se pode converter datas romanas em julianas com precisão são muito poucos, e várias reconstruções do calendário pré-juliano são possíveis.[2]