Bramã[1] (emsânscrito:brahman, forma masculina e neutra deब्रह्म,brahma) é um conceito dohinduísmo, semelhante ao conceito deabsoluto presente em outras religiões. O termo designa o princípio divino, não personalizado e neutro dobramanismo e dateosofia. Não deve ser confundido comBrama, que, juntamente comVixenu eXiva, forma atrindade (trimurti) clássicahindu.
Na teosofia, Bramã é o "Absoluto", o "Espírito Divino e Infinito" que emana no início de um novo ciclo de manifestação (chamadoMahamanvantara). Portanto, é a origem e raiz de toda a consciência que evolui neste mundo. Para o hinduísmo, esta evolução ocorre por sucessivas encarnações, doutrina esta que é chamada demetempsicose.
A metempsicose hindu fundamenta-se em dois conceitos principais:
Saṁsāra - significando que a realidade é considerada como um evoluir fenomênico;
Carma - que denota a conexão entre os atos no mundo fenomênico.
Este mundo fenomênico é entendido como ilusório e a origem de todo o sofrimento humano.
Assim, no hinduísmo, a libertação deste ciclo de sofrimento é concebida como uma absorção no absoluto (Brahman ouParabrahman), chamadanirvana. Assim, o bramã é considerado a origem e o fim de tudo.
De acordo com a linha filosófica deAdvaitaVedānta, conforme estabelecida porŚaṅkarācārya e fundamentada em preceitos deadvaita-vada ancestrais e seguindo a tradição védica, o bramã é tudo o que existe e nada pode existir além do bramã. Portanto, ele é a Verdade Absoluta, ou a Realidade Suprema, que envolve, absorve e harmoniza todos os conceitos duais. O Vedānta caracteriza bramã comosaccidānanda: realidade (sat), consciência (cit) e felicidade (ānanda).[2] Brahman é também a essência de cada indivíduo, o Eu mais interno ouātman.[3] Várias upanishads e outros textos indianos indicam que bramã não pode ser atingido pelo pensamento, embora possa ser captado através de uma vivência direta, por uma pessoa em estado desamādhi.[4]
A entidade viva imersa emavidyā ("ignorância") se considera diferente do Brahman devido aos seus conceitos deaham emamata, "ego" e "egoísmo", que desaparecem através dejñāna ("filosofia"), que promovevidyā ("sabedoria" ou "ciência") e que leva aomokṣa ("liberação"), eliminando osaṁsāra, ou ciclo de nascimentos e mortes.
Conceitos como o de Parabrahman, segundo esta óptica, são absurdos, uma vez que nada pode ser maior, superior, menor ou inferior a Bramã, que por definição é não dual e absorve, elimina e harmoniza os conceitos duais, nada existindo além dele.
न जायते मृयते वा िवपिश्चन् नायं कु तिश्चन्न बभूव किश्चत् । अजो िनत्यः शाश्वतोऽयं पुराणो न हन्यते हन्यमाने शरीरे ॥
na jāyate mṛyate vā vipaścin nāyaṁ kutaścinna babhūva kaścit | ajo nityaḥ śāśvato’yaṁ purāṇo na hanyate hanyamāne śarīre ||
"O Ilimitado, que é Todo-o-Conhecimento, não nasceu nem morrerá. Estando além de causa e efeito, é imutável, constante e eterno. Ele não perece quando o corpo se extingue".[5]
"Este Ilimitado Brahman é todo o conhecimento: do grande e do pequeno, de tudo o que é manifestado. Seu esforço é puro conhecimento. Deste Ser nasceram a natureza, os nomes e formas e o alimento".
नैव चिन्त्यं न चािचन्त्यं न चिन्त्यं चिन्त्यमेव च । पक्षपातिविनमुर्क्तं ब्रह्म सम्पद्यते तदा ॥
naiva cintyaṁ na cācintyaṁ na cintyaṁ cintyameva ca | pakṣapātavinirmuktaṁ brahma sampadyate tadā ||
"[Brahman] não é concebível [pois não é um objeto]; nem é inconcebível [pois não cabe no pensar]. Embora não possa ser objeto do pensar, deve-se meditar nele [como a fonte da Plenitude]. O Ser, livre de conceitos, é assim alcançado [conhecido]".[7]
↑SAMUEL, A.As religiões hoje. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo. Paulus. 1997. p. 78.
↑BIANCHINI, Flávia.Brahman é Ānanda. Pp. 101-125, in: GNERRE, Maria Lúcia Abaurre; POSSEBON, Fabrício (orgs.).Cultura oriental: língua, filosofia e crença. Vol. 2. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012.
↑MARTINS, Roberto de Andrade.Muṇḍaka-Upaniṣad: o conhecimento de Brahman e do Ātman. Rio de Janeiro: Corifeu, 2008.