Myanmar tornou-se independente doReino Unido em 4 de janeiro de 1948, com o nome oficial de "União da Birmânia", designação que voltou a adotar após um período como "República Socialista da União da Birmânia" – 4 de janeiro de 1974 a 23 de setembro de 1988. Em 18 de junho de 1989, oregime militar birmanês anunciou que o nome oficial do país passaria a ser União de Myanmar. A nova designação foi reconhecida pelasNações Unidas e pelaUnião Europeia, mas não pelos governos dosEstados Unidos e Reino Unido.[6] Conforme a Constituição de 2009, o nome do país mudou para “República da União de Myanmar”, medida implementada em 21 de outubro de 2010.[7]
A diversa população birmanesa teve papel fundamental para definir a política, história e demografia do país nos tempos modernos. Seu sistema político é hoje mantido sob controle estrito doConselho de Estado para a Paz e Desenvolvimento — o governo militar chefiado, desde 1992, pelo generalThan Shwe. Asforças armadas birmanesas controlam o governo desde que o general Ne Win declarou umgolpe de Estado em 1962 para derrubar o governo civil de U Nu. Entretanto, um novo presidente foi eleito democraticamente para governar o país a partir de 1 de abril de 2016. Seu nome éHtin Kyaw, braço direito da deputada e uma das principais opositoras do regime militarAung San Suu Kyi. Após as eleições gerais de Myanmar de 2020, nas quais o partido de Aung San Suu Kyi obteve uma clara maioria em ambas as casas, os militares birmaneses (Tatmadaw) tomaram o poder novamenteem um golpe de estado.[8]
Os nomes "Myanmar" e "Birmânia" possuem a mesmaorigem etimológica.[6] O termoportuguês "Birmânia" vem do nome localBam-mā, por intermédio dofrancêsBirmanie, este uma adaptação das formas antigasinglesasBirman ouBirma. JáBam-mā, por sua vez, é uma das formas pelas quais a população local se refere ao país, juntamente com o nome vernáculoMaran-mā ouMranmá.[10]
O termo emlíngua birmanesaMijanmaːɐ (originalmente transliterado para línguas ocidentais comoMaran-mā ouMranmá) é a forma literária, escrita, para o nome do país, enquantoBam-mā é a forma coloquial. Ambas são empregadas pela população do país[6] e, no birmanês oral, a distinção entre as duas é menos clara do que sugere a transliteração — a primeira, por exemplo, é pronunciada, em birmanês, Mianmá;[11] e a segunda, Bam-má.
Em 1989, ajunta militar alterou oficialmente a versão em inglês do nome do país (deBurma paraMyanmar) e de diversas cidades, como o da então capital,Rangum (deRangoon paraYangon). O nome oficial em língua birmanesa (Mijanmaːɐ) não foi alterado.
A renomeação foi politicamente controversa,[12] pois grupos birmaneses de oposição ao regime militar continuam a empregar o termo "Birmânia", já que não reconhecem a legitimidade do atual governo nem a sua autoridade para alterar o nome do país. Alguns governos ocidentais, como os deEstados Unidos,Austrália,Canadá,Irlanda eReino Unido, continuam a usar a forma inglesaBurma (correspondente ao português "Birmânia"). AONU (Organização das Nações Unidas) emprega o nome usado pelo próprio país,Myanmar.[13] AUnião Europeia, que usava a forma "Birmânia" e suas traduções (Burma, Birmanie, etc.), começou a empregar a forma "Myanmar".[14]
Em português, o novo nome foi aportuguesado como Mianmá ou Mianmar.[15] A primeira forma aproxima-se mais da pronúncia correta do nome em birmanês (pronúncia no alfabeto fonético internacional: /mjəmà/), em que o "r" final é mudo, e indica apenas que o "a" precedente é a vogal acentuada da palavra. Ainda assim, aFolha de S.Paulo[16] eO Globo,[17] entre outros jornais, usam esta última transliteração, também usada peloDicionário Aurélio (que aceita, igualmente, a forma Mianmá).[18] ODicionário Houaiss traz o nome do país como "Myanmar, Mianmá ou Myanma", não registrando Mianmar.[19]O Estado de S. Paulo usa Mianmá.[20] Ogoverno brasileiro[21] e ogoverno português[22] empregam em português a forma internacional "Myanmar".[23]
Para o novo nome, "Myanmar", aportuguesado a Mianmá ou Mianmar, os dicionáriosAurélio,Houaiss e Priberam e os Vocabulários da Porto Editora e da Academia Brasileira de Letras trazem o gentílico "mianmarense". Os dois Vocabulários Ortográficos — o da Academia Brasileira de Letras e o da Porto Editora -, além de "mianmarense", registram também a forma "myanmense", de raro uso.
No início daera cristã, Myanmar incluía-se na área de influência dacultura indiana. Obudismo expandiu-se pelo país durante oséculo IX e dois séculos depois que oreino budista de Pagã conseguiu que a região central inteira fosse unificada. Depois que as terras do atual Myanmar foram brevemente dominadas pelosmongóis, entre os primeiros anos doséculo XIII e os últimos anos doséculo XIV, uma dinastia de origemxãs foi instalada na região central do país sendo que a tradicionalcultura birmanesa foi adotada por essa família de governantes. Uma segunda dinastia, originária dosmons, foi estabelecida na antiga capital,Bagan.[30]
Na metade doséculo XVI, o reiTabinshwehti, de umaprovíncia do sul, e seu filho, conseguiram, com auxílio dos portugueses, que o país fosse reunificado. O reino de Pegu ficou a partir de 1599 sob a gestão doImpério Português do Oriente.[carece de fontes?] Novos combates entrereinos eetnias ocorreram antes do controle total pela dinastia criada porAlaungpaya. Seu poderio foi expandido para oeste, e isso deixou contrariados os interesses britânicos nogolfo de Bengala, de modo que, depois de três guerras — que se travaram entre 1824 e 1826, em 1852 e em 1885 — todo o território submeteu-se ao controle britânico, o qual começou a chamá-lo Burma (Birmânia).[30]
Desenvolvimento econômico, ocupação japonesa, independência e regime militar (1937-2010)
O generalNe Win instituiu um governo militar que procedeu à socialização de grande parte do sistema econômico
Em 1937, os britânicos desmembraram a Birmânia daÍndia. A Birmânia desenvolveu-se economicamente porque o povo cultivava arroz, além de explorar ateca e a borracha, o que foi significativo durante o período colonial. Na época daSegunda Guerra Mundial, o país foi cenário de lutas sangrentas por uma série de anos, tendo sidoocupado pelas tropas japonesas. Tendo como reconquistadoresLord Mountbatten e o generalOrde Charles Wingate, o país teve sua independência proclamada em 4 de janeiro de 1948.[30]
A vida política da Birmânia, a partir de então, foi muito conturbada. Apesar da consagração constitucional dos estados autônomos estabelecidos para os grupos étnicosxã,karen,cachim echin, ocorreram muitas tentativas de separação. Em 1962, um golpe de estado liderado pelo generalNe Win aboliu a constituição e deu início a umaditadura militar, a qual procedeu para que boa parte do sistema econômico fosse socializado. Em 1988, o povo manifestou seu descontentamento com décadas de má gestão da economia. Um novo governo militar alterou o nome do país eminglês paraUnion of Myanmar em 1989 (adaptado em português como União de Myanmar — verEtimologia e terminologia, acima). Em 1990, foram realizadas eleições para aAssembleia Nacional, ganhas pelo partido oposicionistaLiga Nacional pela Democracia (LND), apesar da recusa do governo militar em entregar o poder. Um ano depois, a secretária-geral da LND,Aung San Suu Kyi, foi agraciada com oPrêmio Nobel da Paz.[30]
Em 2007, por ocasião de uma reunião de 100 000 manifestantes em Rangum, o exército deteve cerca de 6 mil prisioneiros civis e matou 31 pessoas. Em 2008, o país foi devastado pelociclone Nargis, que matou 134 000 pessoas[31] e deixou 2,4 milhões de habitantes desabrigados.[32] Em novembro de 2010, aconteceram as primeiras eleições para o poder legislativo em 20 anos. Os partidos políticos pró-forças armadas conseguiram cerca de 80% das vagas. Nesse mês, Suu Kyi libertou-se da prisão domiciliar.[30]
Em fevereiro de 2011, o general reformadoThein Sein foi eleito presidente pela Assembleia e em março foi dissolvido o regime militar. O novo governo oficial é civil, apesar de quase toda a sua formação por militares. O governo deu anistia a mais de dez presos políticos, o que possibilitou a retomada americana das relações diplomáticas em 2014.[30]
Uma comissão para que fosse revisada a constituição foi instalada pela assembleia, em março do mesmo ano. A reforma foi considerada interessante a Suu Kyi, que só possivelmente concorresse à presidência caso fosse derrubado o veto a candidatos cujos cônjuges são naturais de outros países (seu marido é natural doReino Unido).[30]
Budistas dopovo raquine atacarammuçulmanos da minoriaruainga (rohingya), no estado deArracão e essa onda de violência foi intensificada em 2012, matando 167 pessoas. Em 2013, o conflito foi se alastrando aos demais estados. Num dos episódios de maior gravidade, em março, incendiaram-se 1 200 edifícios emMeiktila, no sul, onde no mínimo 43 pessoas perderam a vida. Devido aos confrontos, 140 mil muçulmanos fugiram.[30]
No começo de 2013, o exército atacou os rebeldescachins, no norte do país, matando 300 pessoas. Em setembro, o governo fez uma proposta para negociar um cessar-fogo nacional com várias guerrilhas étnicas atuantes em Myanmar, pedindo uma autonomia regional. Em outubro, o governo e os cachins entraram num acordo preliminar.[30]
As eleições gerais de Myanmar foram realizadas em 8 de novembro de 2015. Estas foram as primeiras eleições abertamente contestadas e realizadas em Myanmar desde 1990. Os resultados deram àLiga Nacional para a Democracia a maioria absoluta dos assentos em ambas as câmaras do Parlamento nacional, o suficiente para garantir que o seu candidato se tornasse presidente, enquanto o líder da LND,Aung San Suu Kyi foi constitucionalmente impedida de ocupar a presidência.[33]
O novo parlamento reuniu-se em 1 de fevereiro de 2016 e, em 15 de março de 2016,Htin Kyaw foi eleito como o primeiro presidente não militar do país desde o golpe militar de 1962.[34] Em 6 de abril de 2016, Aung San Suu Kyi assumiu o cargo recém-criado deConselheiro de Estado, um papel semelhante a um primeiro-ministro.[35][36]
Em 1 de fevereiro de 2021, militares do governo levaram a cabo um golpe de estado e prenderam a conselheira do estado,Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, e o presidente do país,Win Myint. Os militares acusam o antigo governo de fraude eleitoral e pretendem manter-se no poder por um período de um ano. A comunidade internacional, em sua maioria, criticou o golpe.[37]
Regiões muito diferentes constituem Myanmar. A região da Birmânia propriamente dita compreende quase o seu centro inteiro, formado pela grandedepressão que orio Irauádi ocupa e pelodelta formado pelo mesmorio ao desembocar nogolfo de Bengala. Essa região constitui uma faixa geralmente aplainada, de norte a sul. A mesma orientação é seguida pelascordilheiras que as delimitam a oeste, nas quais estão localizados os montesPatkai e Chin e acordilheira litorânea do Shan, de grande desgaste pelaerosão em certas partes e cortado, também de norte a sul, pelorio Salween, o qual, em uma grande quantidade de trechos, desce entrevales curtos edesfiladeiros.[41]
O sul da região central abrange também a bacia do rio Sittang, paralelo aoIrauádi. Os montes Pegu, de pequena elevação, separam o rio Sittang do rio Irauádi. Ao norte da depressão do Irauádi, cordilheiras trançadas atingemaltitudes em cima de 4 000 m. O grande anexo territorial do país abrange a cordilheira de Tenasserim, paralela ao litoral.[41]
O maiorcorpo de água do país é olago Inle, que localiza-se no planalto Shan. Outro lago de importância é oIndawgyi, localizado no norte do país. Nasplanícies de Myanmar há muitos lagos correspondentes ameandros em condição de abandono; demais sãointermitentes, que resultam das cheias do rio Irauádi, localizadas no delta.[42]
Em seu grupo, o clima birmanês predominante classifica-se comotropical monçônico, mas seurelevo é fragmentado, e isso faz com que nessas regiões chova muito mais do que 5 000 mm por ano. Aselevações montanhosas nos arredores do médio vale do Irauádi (a bacia deMandalai, centro histórico e geográfico do país) não permitem, entretanto, a superação dasprecipitações pluviométricas acima dos 900 mm. O país é atravessado peloTrópico de Câncer.[41]
Apesar doclima tropical do país, Myanmar não possui temperaturas igualmente elevadas no decorrer do ano. A bacia de Mandalai, na porção central dazona árida, possui uma temperatura média diária de 28°C. O clima das montanhas, principalmente, as do norte do país, adjacentes aoTibete, é detemperaturas mais baixas.[41]
A fertilidade do solo dos vales e das baixadas litorâneas da Birmânia forma o seu mais importante recurso natural.[44] Os produtivos campos petrolíferos estão situados no vale do Irauádi. Entre os minérios que encontram-se especialmente nas zonas montanhosas estão otungstênio, ochumbo, aprata, oestanho, ocobre, ozinco, oantimônio, ocobalto, ocarvão e osal.[38] Na Birmânia também há depósitos depedras preciosas, tais como orubi, ojade e olápis-lazúli.[38]
Cerca de 50% do país é ocupado pelas ricasflorestas tropicais, que contêm várias espécies. Entre as árvores de maior importância, são encontrados ateca, o pau-ferro e apalmeira.[38] Há, também, bosques debambu.[38] Nessasflorestas, é possível encontrar uma grande quantidade de animais silvestres, como otigre, oleopardo, otouro selvagem, oveado e oelefante. Oscrocodilos vivem em certos rios.[44]
Menina daetniapadaung, um dos muitos grupos étnicos de Myanmar
Em 2015, a população de Myanmar era de 53 897 154 habitantes.[45] O resultado disso é umadensidade demográfica de 82,5 hab./km².[46] Essa densidade demográfica é considerada baixa, em comparação às elevadas densidades médias típicas doSudeste Asiático, uma densidade mediana, levando em consideração o padrão mundial. A população distribui-se desigualmente pelo país. A mais altas densidades demográficas encontram-se na área do delta doIrauádi.[47] Aqui as densidades chegam a atingir 800 hab./km².[48] Depois vêm as regiões do médio vale e a parte oeste do país. As montanhas e os planaltos têm densidades abaixo da média nacional, principalmente o norte do país.[47] 66,45% da população de Myanmar mora nazona rural, distribuindo-se em mais de 50 mil aldeias, cuja únicaatividade econômica é aagricultura.[49] O restante da população mora na zona urbana ou na periferia das cidades.[50]
A densidade demográfica é elevada nas terras margeadas pelos riosIrauádi e Sittang.[48] A região dodelta do Irauádi, entretanto, é muito menos povoada. A população cresce rapidamente, embora seu número de mortes é elevado, resultando em condições sanitárias inapropriadas.[51] Um pequeno número deaglomerados urbanos atinge a condição de cidades de verdade.[43] Dentre elas, as de maior população sãoRangum, que situa-se no rebordo leste do delta do Irauádi;Mandalai, a antiga capital de Myanmar e ponto central da região de maior densidade demográfica do país;Nepiedó, a capital do país desde 2005;Moulmein, na desembocadura do rio birmanês, oSalween.[38] Próximo a Rangum, estão localizadas as cidades dePegu ePathein.[47]
Em 1870, a população de Myanmar era de somente 6,5 milhões de habitantes. Esse número passou para 10 milhões em 1900. Entre 1870 e 1970 a população quadruplicou. Isso porque permanece uma das maiorestaxas de natalidade do mundo — 17‰ partos, em 2012[51] — 37‰, em 1947, e 18‰, em 1961.[47]
O território birmanês é um país multiétnico e maior parte da população é racialmenteamarela.[43] Osbirmaneses, de origemsino-tibetana são o maior e o mais historicamente coesogrupo étnico nacional, ocupando principalmente a região central do país.[38] Uma grande diversidade de etnias minoritárias localiza-se nos arredores do país. As doskarens, no sudeste, e a dosxãs são as principais.[38] Os xãs são uma etnia parecida com os povostais.[38] Os tais são o maior grupo étnico da limítrofeTailândia.[53] Há também núcleos pequenos demons,palaungs e was, da etnia mon-khmer. O mon-khmer predomina noCamboja.[54] No norte do país habitam oscachins.Indianos echineses formam grupos pequenos. Apesar disso, atuaram expressivamente na economia do país, e a região do delta e a costa oeste são ocupadas pelos primeiros, que cultivam comercialmente o arroz. Os chineses estão concentrados emRangum, dedicando-se principalmente ao comércio.[47] A população birmanesa também é composta por grupos étnicos imigrantes tais como indianos,bengalis echineses. Esses povos, ou seus ancestrais, transferiram-se para Myanmar com o propósito de serem transformados em negociantes ou de servirem como operários, de 1870 a 1948.[44] O preconceito que existe entre as religiões egrupos étnicos de Myanmar preocupa todos os birmaneses nacionais devido à divergência opinativa doscredos e das raças que enfrentam as consequências dosconflitos armados que, desde a independência proclamada em 1948, perduram até hoje.[55] Os conflitos armados em Myanmar vêm desde a tentativa de organizar os grupos étnicos como representativos dosestatoides birmaneses, que submetiam-se às desavenças causadas pela situação política desagradável que complicou ainda mais graças à violência entre as religiões e etnias do país.[55]
Os birmaneses têm relação com os povos mongoloides chineses e suas línguas faladas sãoidiomas da família sino-tibetana.[57] O birmanês está dividido em uma grande diversidade de grupos linguísticos.[57] A língua nacional é obirmanês.[38] Oalfabeto birmanês combina osânscrito indiano com a escritapáli doslivros sagrados budistas.[57] Os demais grandes grupos de línguas sãokarens, oschins, oscachins e osxãs.[38] São falantes de línguas que diferem do birmanês, qualquer deles, porém, menos os kachins, possui certos termos semelhantes e utilizam o alfabeto birmanês.[58] A maior parte das pessoas daquelas tribos mora nas montanhas e morros. Os karens encontram-se em qualquer dasplanícies do país.[44]
Muitas religiões são praticadas em Myanmar. Há muitos edifícios religiosos e festivais são realizados em grande escala. As populaçõescristãs emuçulmanas, no entanto, enfrentam perseguição religiosa e é difícil, se não impossível, para os não budistas juntarem-se ao exército ou obter empregos públicos.[59] Tal perseguição e segmentação de civis é particularmente notável na Birmânia Oriental, onde mais de 3 000 aldeias foram destruídas nos últimos anos.[60][61][62] Mais de 200 mil muçulmanos fugiram paraBangladesh entre os anos de 1994 e 2014.[63] Sendo que, em 2017, o número subiu para cerca de 370 mil.[64]
Cerca de 89% da população é adepta dobudismo, principalmente oteravada. Outras religiões são praticadas em grande parte, sem obstrução, com a notável exceção de algumas minorias étnicas, como os muçulmanos ruaingas, que continuam a ter seu status de cidadania negado e são tratados como imigrantes ilegais,[65] e os cristãos no Estado de Chin.[66] 4% da população pratica oislã; 4% ocristianismo; 1% crenças animistas tradicionais; e 2% segue outras religiões, incluindo o budismomahayana, ohinduísmo, religiões da Ásia Oriental e afé bahá'í.[67][68][69] No entanto, de acordo com o relatório internacional de liberdade religiosa de 2010, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, as estatísticas oficiais subestimam a população não budista. Os investigadores independentes estimam que a população muçulmana está entre 6 a 10% da população. A pequena comunidadejudaica em Rangum possui umasinagoga.[70]
Embora o hinduísmo seja atualmente praticado por somente 1% da população, esta era uma grande religião no passado de Myanmar. Várias cepas do hinduísmo existiam ao lado, tanto dobudismo teravada quanto do budismo mahayana, no período Mon ePyu, no primeiro milênio d.C.[71][72]
Assembleia da União de Myanmar (Pyidaungsu Hluttaw)
O poder legislativo é bicameral, ou seja, composto por duas câmaras: Assembleia do Povo,câmara baixa de 440 membros; e Assembleia Nacional,câmara alta de 224 membros. A maioria dos membros do parlamento é eleita a cada cinco anos.[76]
A mais alta instância do poder judiciário é aSuprema Corte da União (consiste na justiça principal e de 7 a 11 juízes). O chefe de justiça e juízes são nomeados pelo presidente, com a aprovação da câmara baixa e nomeados pelo presidente; juízes normalmente servem até a aposentadoria aos 70 anos.[76] Os representantes eleitos em 1990 formaram o Governo Nacional de Coalizão da União de Myanmar, um governo-no-exílio que era considerado ilegal pelo regime militar.[77][78]
Em 1993, o governo militar instituiu uma assembleia constituinte. Em 10 de maio de 2008, 92,4% dos 22 milhões de eleitores do país supostamenteaprovaram em referendo uma constituição escrita pelos militares, com um comparecimento às urnas de alegadamente 99%, em meio aos efeitos dociclone Nargis. Foi a primeira votação desde as eleições nacionais de 1990. A nova constituição concede aos militares 25% dos assentos no parlamento. Nyan Win, porta-voz da Liga Nacional pela Democracia, dentre outros, criticou o referendo, afirmando que "estava repleto de trapaças e fraudes por todo o país; em alguns vilarejos, as autoridades e os funcionários da seção eleitoral marcaram eles mesmos as cédulas e não permitiram aos eleitores fazer nada".[79] A nova constituição impede Aung San Suu Kyi de ocupar cargos públicos. Outros cinco milhões de eleitores votariam em 24 de maio emRangum e no delta doIrauádi, áreas mais atingidas pelo ciclone Nargis.[80]
Povo ruainga de Myanmar deslocado por décadas de longos abusos dos direitos humanos. Mais de 100 000 rohingyas em Myanmar continuam a viver em campos paradeslocados internos.[81][82] Rohingyas têm recebido atenção internacional na sequência de tumultos no estado de Rakhine em 2012 e suas consequências
O problema político principal de Myanmar era a restauração da democracia. O governo não aceitava oposição: existem acusações de que políticos foram assassinados e torturados frequentemente no país.Etnias revoltosas (formadas por 30 000 homens com armas) uniu forças com os democratas para que o regime fosse combatido.Aung San Suu Kyi, cujo pai foi o general Aung San, assassinado em 1947, chefia a oposição.Presa pelos militares, possui a proteção do reconhecimento internacional alcançado no Ocidente como ativista pela democracia em seu país e recebeu oPrêmio Nobel da Paz em 1991.[83]
O retorno da democracia foi reivindicado, e isso resultou nas revoltas políticas chefiadas por estudantes entre 1987 e 1988. Os militares assumiram o poder em setembro de 1988, em tese para que fosse assegurada a ordem antes de serem realizadas eleições pluripartidárias. Em vez disso, o CERLO foi formado e fecharam-se totalmente as instituições. Realizaram-se as eleições em 1990 e a Liga Nacional pela Democracia ganhou a votação, apesar da recusa do CERLO na entrega do governo aos legítimos.[83] Somente 28 anos depois, é que Myanmar passou a ser uma democracia livre da opressão militar.
Várias organizações de direitos humanos, inclusive aHuman Rights Watch e aAnistia Internacional, relatam casos de abusos do governo militar contra os direitos humanos e afirmam que não há poder judiciário independente no país.[84][85][86] Há relatos de trabalhos forçados, tráfico de pessoas e trabalho infantil,[87] e o governo é conhecido por usar aviolência sexual como instrumento de controle.[88]
As mais importantes relações internacionais eram dadas com aChina, a qual apoiava o regime militar do extintoConselho de Estado para a Restauração da Lei e da Ordem e que fornece principalmente armas de fogo para o exército birmanês, formado por 375 mil homens. Era uma relação de simbiose, permitindo que a China tenha acesso aooceano Índico e que lhe influenciava a respeito de um regime que dependia de seu apoio. Os países limítrofes desconfiam desse acordo e acham que isso desestabiliza seriamente a região. Os governos doOcidente condenam os abusos do regime e, em 1991,Aung San Suu Kyi recebeu oPrêmio Nobel da Paz. Mas, praticamente, o mundo ocidental relaciona-se ambiguamente com o regime do Conselho de Restauração da Lei e da Ordem do Estado. Os laços econômicos são fortalecidos, principalmente entre as empresas públicas e multinacionais do Ocidente, participantes ativas nas indústrias birmanesas que extraem petróleo e gás.[83]
As principais forças armadas de Myanmar são: o exército (Tatmadaw Kyi), a marinha (Tatmadaw Yay) e a força aérea (Tatmadaw Lay). Em 2014, o orçamento militar foi de2,4bilhões*US$.[89] Em 2012, 4,8% doPIB destina-se à defesa.[90] Em 2006, o exército tinha 800tanques de guerra principais com efetivo de 375 mil em 2012; em 2006, a marinha possuía 2navios e 4fragatas com efetivo de 16 mil em 2006; e a força aérea, 128aviões de combate com efetivo de 15 mil, em 2012.[90]
Desde 1988, o exército realiza campanhas contra grupos minoritários (menos em 1993), e obteve sucesso durante a repressão da maior parte dos grupos rebeldesmon ekaren, tendo destruído suas bases no sudeste do país. As minoriasmuçulmanas foram atacadas na região deArakan, no oeste do país, e isso fez com que 300 mil pessoas se refugiassem, sobretudo emBangladesh.[91]
Em 2015, Myanmar era a56.ª maior economia do mundo, com umproduto interno bruto de283,5bilhões* US$ e um PIB per capita de 5 500 US$ (164.ª posição). A base da economia de Myanmar é constituída pela agricultura.[38] Sua população, de menor densidade que a dos países limítrofes dogolfo de Bengala, consegue, explorando intensamente a agricultura do delta do Irrauádi, a produção de maior quantidade de alimentos do que o consumo,[92] o que possibilita que muitoarroz seja exportado. No vale central do Irrauádi são cultivadosalgodão,milho,amendoim,gergelim e demais produtos.[43][92] Nas baixadas e as ilhas do Irrauádi, inundadas pelas águas na época dasmonções, cultivam-se tradicionalmente, com produtividade muito alta.[43]
Apesar da existência de um pequeno número de pastos, são criadosbois,porcos ecabras.[93] É importante que as florestas sejam comercialmente exploradas, porque são economicamente valiosas, principalmente as reservas deteca.[94] Nogolfo de Bengala e nomar de Andaman há pesca em abundância.[95]
A agricultura forma a base da economia nacional, respondendo por 36,1% doproduto interno bruto e por mais de 70% dos empregados de toda a população trabalhadora.[38] A maior parte das pequenas propriedades rurais está situada no delta doIrauádi, ao longo dos rios e nas planícies litorâneas.[47] Entre os produtos agrícolas, destaca-se o arroz, que, em 2012 possuía uma área de colheita de 7 500 000 hectares e uma quantidade produzida de 28 000 000 de toneladas,[98] alcançando um preço[necessário esclarecer] de 152 908 US$ das exportações.[99] Myanmar é um dos países que mais produzem arroz no mundo.[100] Mais da metade dos terrenos de cultivo é utilizada para plantar arroz.[101] Em 2014, foram produzidos, em média, 26 423 300 toneladas.[100] O cultivo do arroz foi desenvolvido noséculo XX, porque o comércio exterior atendia às necessidades dos demais países importadores da época. Quando os ingleses colonizavam a Birmânia, foram abertos numerosos canais de irrigação, assim como os canais deMandalai com 67 km, oShwebo com 43 km e o Mon com 85 km, os quais permitiram que arizicultura e demais cultivos fossem consideravelmente expandidos. Cultiva-se arroz principalmente nas planícies do país, sobretudo no delta doIrauádi, cujo clima decalor e umidade é propício.[47] Apesar do arroz ser cultivado por meio dairrigação, os agricultores preferem produtos menos exigentes de precipitações pluviométricas e de dias maisfrios.[101] Há outros produtos agrícolas que respondem a esse requisito comoaçúcar,algodão,amendoim,chá,frutas,fumo,gergelim,legumes everduras,milho,painço,trigo evagens.[98]
Praticam-se os cultivos doalgodão,amendoim,gergelim efumo nascolinas do país,[47][98] sendo utilizado um sistema agrícola para queimarflorestas e para uso rotativo de terras. O cultivo daborracha, introduzido pelos britânicos durante oséculo XX,[47] é relativamente importante naeconomia nacional. Oextrativismo vegetal é significativo, destacando-se a extração deteca,madeira que utiliza-se emconstruções.[94] Em 2013, existiam 17 600 000 cabeças de boi e 10 530 000 de porcos.[93] No delta do Irauádi, existe um rebanhobubalino de importância, adaptado às condições naturais do lugar.[47]
O petróleo é o produto mais importante doextrativismo mineral, sendo produzidos, em 2012, 6 500barris de 42 galões estadunidenses;[96] os campos de petróleo estão localizados nos vales do Irauádi e Chindwin, regiões das quais se envia a extração de óleo bruto por meio de oleodutos às refinarias que se localizam emRangum.[47] Ainda são explorados minérios deantimônio,argila,cobre,chumbo,zinco, estanho,tungstênio eprata.[96] Há cultivos menores deseringueiras no decorrer do litoral deArakan eTenasserim.[47]
O setor secundário responde por 22,3% do produto interno bruto e pelo emprego de 7% da população ativa total.[38] A indústria de transformação tem pouco desenvolvimento e foi implantada recentemente. Perto de indústrias de primeira transformação de matérias-primas, como usinas deaçúcar, deóleos vegetais, de beneficiamento daborracha e deminerais, existemcurtumes,fábricas têxteis (algodão eseda), decalçados,cimento,medicamentos,cigarros e de demais bens de consumo.[47] Ausina hidrelétrica de Baluchaung é a de maior importância do país.[102]
Em 1952, a moeda do país começou a ser oquiate, sucedendo arupia birmanesa do período colonial.[104] A moeda birmanesa é cotada entre 1 dólares e 1 182 quiates.[necessário esclarecer][105] Em 1963, o governo nacionalizou os bancos privados, transformados em bancos do povo.[47]
Em 2012 havia em Myanmar 0,61 médicos por mil habitantes.[38] As maiores causas de óbito em Myanmar sãomalária, febres,diarreia edoenças do coração.[106] De um modo relativo, alepra ataca um número pequeno de indivíduos em comparação com demais doenças, ocorrendo, porém, mais frequentemente em Myanmar que no resto daÁsia.[106] Ultimamente, cresceram os casos de malária.[106] A AIDS cresceu muito porque muitos birmaneses foram prostituídos nafronteira Myanmar-Tailândia.[106]
Estudantes em seu caminho à escola, Kalaymyo,Divisão de Sagaing, Myanmar
O índice de alfabetização dos birmaneses com uma idade superior de 15 anos de idade é de 93,1%.[38] A crianças entre cinco e nove anos devem ir diariamente à escola. A educação de graça entre o jardim de infância e a universidade é incentivada pelo governo. No entanto, apenas as cidades muito populosas têm escolas bem como ensino elementar. EmRangum eMandalai se encontram as mais importantes universidades. Existe também no país uma grande quantidade de escolas técnicas.[107] Dez anos de escolaridade são oferecidos pelo sistema educativo.[106] Existem 45 universidades e colégios e 154 escolas vocacionais e técnicas de ensino superior.[108] Não há docentes capacitados. A maior parte dos professores vindos de outros países, profissionais de medicina e engenharia abandonou sua pátria ou está aprisionada.[106]
As maiores universidades são aUniversidade de Yangon (anteriormente conhecida como Universidade de Artes e Ciências de Rangum, criada em 1920), Universidade Tecnológica de Yangon e a Universidade de Mandalai. Academias militares, escolas de engenharia e escolas médicas, continuaram abrindo muitos cursos, mesmo no momento em que as demais universidades oferecem as instalações de maior atualização e inovação. Os alunos frequentadores dessas universidades, geralmente não têm autorização nem liberdade para conversar, digitar ou imprimir e encapar publicações de papel.[108]
Aeroporto Internacional de Rangum, em 2006
Segundo a tradição, orio Irrauádi e seus tributários formam a mais importante hidrovia nacional.[109] Por ser um rio deplanície, tem navegabilidade direcionada para a cidade deBhamo, distando 1 448 km da costa.[47] Em seu delta, existem muitos canais que possuem navegabilidade, em todos os seus 12 800 km.[38] As ferrovias percorrem mais de 5 031 km, e são debitola de um metro.[38] A mais importante linha faz a ligação entreRangum eMandalai, perfazendo 621 km.[110] Apesar da deficiência na malha rodoviária, existem 34 377 km de rodovias.[38] O porto de Rangum é o local de onde vem a maior parte das exportações birmanesas e para onde chegam as importações estrangeiras.[47] Além disso, sobressaem os portos dePathein,Sittwe eMoulmein.[111] Companhias aéreas do país e do exterior servem o Aeroporto Internacional de Rangum.[112] A empresa Myanmar National Airlines, companhia aérea mantenedora também de linhas internacionais, ligação entre o país e seus vizinhosÍndia,Tailândia ePaquistão, realiza o transporte aéreo doméstico.[113]
A Myanmar Police Force, formalmente conhecida comoThe People's Police Force (em birmanês:ပြည်သူ့ရဲတပ်ဖွဲ့;romaniz.:MLCTS:Pyi Thu Yae Tup Pwe), foi estabelecida em 1964 como um departamento independente vinculado aoMinistério das Relações Interiores.[114] Foi reorganizada em 1 de outubro de 1995 e informalmente passou a pertencer aosTatmadaw (forças armadas).[114]
Em 2013, a população carcerária de Myanmar era superior a 60 mil prisioneiros.[115] Os índices de roubo, assassinato, suborno, corrupção, desfalque e atividades do mercado são altos em comparação a regimes totalitários similares da época em que Myanmar era uma ditadura militar. O Estado é culpado por grande parte dos crimes. AOrganização das Nações Unidas faz um registro dedireitos humanos continuamente abusados e assassinatos de civis inocentes, dentre eles menores de idade, pessoas do sexo feminino,monges budistas, estudantes, grupos minoritários e opositores políticos.[106]
Entre 1988 e 2011, a junta militar nomeava qualquer dos juízes e advogados: oCEPD cumpria qualquer das funções legais. A culpa mais frequente era de subverter contra o Estado ou exército, se baseando em uma lei de 1975. Dentre as ordens arbitrárias do CEPD, incluía a proibição de reuniões com cerca de cinco pessoas. Não era possível a atuação daAnistia Internacional no país. A junta incentivava que os estados da fronteira nordeste se desenvolvessem. O nordeste de Myanmar era uma região produtora de 200 toneladas anuais deheroína, equivalente a 60% do que era produzido em todo o mundo naquela época.[106]
Os meios de comunicação nacionais são controlados pelo governo de Myanmar.[107] Existem seis jornais diários, sendo quatro embirmanês e dois eminglês.[116] Programas em birmanês, inglês e em línguas locais são transmitidos pela Myanmar Radio and Television (MRTV). Existem apenas duas emissoras de rádio AM, nove emissoras de rádio FM e três emissoras de rádio em ondas curtas.[116] Há 646 700 usuários de Internet no país, o equivale a 1,2% de toda a população de internautas no mundo todo.[38] Em Myanmar, existem 1 055 websites hospedados. Ocódigo de Internet de Myanmar é.mm.[38]
Não há liberdade de expressão em Myanmar desde 1962. O Ministério da Informação precisa aprovar qualquer dos livros e dos jornais particulares. Entre 1988 e 2011, considerava-se a discordância política como um crime ofensivo. Todo o material antigovernamental era produzido por uma mídia pró-democrática na clandestinidade.[106]
Em Myanmar, obudismo e ohinduísmo inspiraram as artes.[117] Missionários destas religiões foram a Myanmar noséculo V, tendo levado conceitos hindus nos campos da arquitetura e da escultura religiosas.[118][119][107]
Hápagodes budistas em qualquer das cidades, aldeias e vilarejos. A crença popular reside na recompensa espiritual trazida pelos pagodes aos seus construtores. Estima-se a existência de um notório pagode, oShwe Dagon, emRangum, há mais de 2 500 anos. Milhares de budistas e visitantes são atraídos por esse edifício em forma de círculo, revestido de ouro. Possui ao seu redor pequenos pagodes, santuários e sinos.[118][107]
Talvez os hindus tenham contribuído mais com teatro e dança para acultura birmanesa.[120][121] Essas formas de artes ainda têm popularidade no país.[120][121] Tigelas, pratos e demais utensílios delaca são fabricados pelos artesãos, que passam várias camadas deresina escura e brilhante, que se retira de uma árvore em cima de estruturas debambu delgado ou arcabouços metálicos.[107][122]
A maior parte das pessoas mora em casas térreas de bambu e revestidas de palha. Estas casas muito pequenas possuem um telhado elevado e bem inclinado. O cotidiano das famílias está concentrado em umavaranda exposta, perto da casa. Essa varanda é utilizada como sala de estar e de jantar. Em geral, erguem-se as casas em cima de estacas feitas de bambu para ficarem livres de insetos e animais silvestres, assim como para o fornecimento de abrigo ao gado. Fazem-se com frequência as casas dos mais ricos com madeira]deteca.[101][123]
O arroz é o prato mais importante. Geralmente, serve-se em tigelas, come-se com os dedos e mistura-se sempre com demais comidas. Prepara-se uma grande quantidade de pratos de Myanmar comcaril em pó, um tempero do oriente. Entre estes pratos são encontrados opanthay khowse (macarrão com galinha) e onga sak kin (bolinhos de peixe comcaril). O chá é uma bebida bastante consumida em terras mianmarenses. Vários homens e mulheres mastigamnoz de areca em Myanmar, além do costume de mastigar chicletes em certos países ocidentais.[101][124]
Cerimônia de perfuração da orelha no Mahamuni Buddha emMandalai
Longyis vivamente coloridos, ou saias bem ajustadas, fabricadas com peças de seda ou de algodão são vestidos por homens e mulheres. Os homens utilizam paletós uniformemente coloridos, indo até os joelhos. Uma das roupas que as mulheres vestem é oaingyis, isto é, uma blusa totalmente branqueada. Os homens revestem a cabeça com peças de seda vivamente coloridas, que amarram-se em torno de diminutas cestas feitas de vime, usadas para formar adorno. Geralmente, as mulheres não têm a cabeça coberta, porém, seus cabelos são enfeitados com pentes ou flores. Os costumes de certas mulheres que vivem em zonas montanhosas são incomuns; as mulherespalaungs, exemplificando, utilizam altos colares de bronze, formando espiral, como alongamento do pescoço. Segundo os palaungs, o pescoço comprido embeleza mais a mulher.[125]
Os festivais do budismo formam a maior parte da organização do lazer. Uma grande quantidade desses festivais birmaneses é comemorado com um tipo de teatro, denominadopwè. Nopwè, agrupamentos de atores, cantores e bailarinos são apresentados em palcos ao ar livre.[126]
Rangum,Mandalai,Nepiedó eMoulmein são as únicas cidades com população superior a um milhão de habitantes.[123] A maior parte das cidades possui mais de cem anos e estão situadas nos vales dos rios ou nas baixadas litorâneas. Os mosteiros budistas, os templos e os altos pagodes pintados com cores conferem às cidades birmanesas uma característica bem diferenciada daquela que os ocidentais costumam observar.[101]
Os agricultores de Myanmar moram em aldeias, em geral formadas por 25 a 50 casas. Essas casas são habitualmente concentradas no decorrer das ruas sem asfalto, curtas e tortas. A maior parte das aldeias possui uma mercearia, frequentemente controladas por comerciantes de etnia chinesa. Os mosteiros budistas, na periferia das aldeias são um centro social e religioso. Em quase o total das aldeias há um pagode alto, em geral, erguido no lugar mais alto.[101]
Certosrizicultores, que moram nas terras férteis do delta doIrrauádi, passaram a receber entre 80 e 90 US$ anuais. A maior parte dos camponeses de Myanmar, entretanto, recebem bem menos e sobrevivem basicamente do que é plantado por eles.[101]
Embora seja evoluída há muitos séculos, a literatura birmanesa é pouco original: a influência indiana teve força cada vez maior. São muito produzidas asjataka (vidas de Buda em suas diversas presenças), porém, geralmente são histórias traduzidas (ou livremente reinterpretadas) dalíngua páli,idioma extinto em que se escrevem os textos sagrados dareligião budista. Originárias de Myanmar, são asjazawin (crônicas), sempre contínuas antes doséculo XIX, porém não são historicamente valiosas.[127][128]
Na poesia, merece destaque Ching Çila-vunça(1453–c. 1520), monge budista introdutor das poesias espirituais, espécie de sermões em verso. Exatamente no último período antes de Myanmar ter sido ocupado pelos ingleses, surge uma poesia épica a respeito dos assuntos doRamáiana, escrito por U Tō de 1819 a 1837, na maior obra da literatura de Myanmar.[127][128]
Desde 1900, os romances traduzidos dofrancês e doinglês para obirmanês dominaram o comércio literário, e desde 1930, surgiram escritores com romances inspirados no socialismo, tais como Ming Aung, cujo romanceMo-uk Mil-biin (A Terra sob o céu) foi agraciado em 1948 com o mais antigo prêmio literário do país. Faltam traduções, e isso impede a formação de opinião a respeito dessa obra e demais, de correntes iguais. Em 1960, foi traduzido para o russo o romanceNga Ba (denominação de um agricultor da Birmânia, aprisionado quando o país foiocupado pelo Japão), de Maung Thing, das poucas obras da literatura birmanesa de fácil acesso em uma língua europeia.[127][128]
O cinema em Myanmar começou com certos documentários feitos de 1915 e 1920. O ritmo produtivo alcançou mais de quarentalongas-metragens por ano até a guerra, que desfez quatro dos cinco estúdios que existiam emRangum. Em 1946, tendo seis estúdios novos e ainda colonizado peloReino Unido, produziu 27 filmes. O maior cineasta birmanês denominado Maun Thien Nium, foi diretor deA Casa Ratanapum (1956).[128][129] Filmes de 16 mm e filmes de atualidades eram realizados pela seção de teatro e cinema do Ministério da Informação.[128][129]
Ofutebol é o esporte mais popular de Myanmar.[130] Ochinlone é um desporto indígena, que utiliza uma bola de rattan e é jogado usando principalmente os pés e os joelhos, mas a cabeça e também podem ser utilizados os braços, exceto as mãos.[131][132] Okickboxing birmanês chamadolethwei é popular e torneios podem ser vistos em festivais de pagode. Uma forma de artes marciais birmanesas derivadas do Shan chamadathaing, dividida embando (combate desarmado) ebanshay (luta armada), bastante semelhante ao chinês Kung fu, também é praticada. Doze festivais sazonais de regatas são realizados no mês de Tawthalin (entre agosto e setembro), e eventos equestres foram realizados pelo exército real no tempo dos reis birmaneses no mês dePyatho (entre dezembro e janeiro).[133] Durante o domínio britânico, ocríquete foi jogado pelos ingleses no poder, com a seleção birmanesa de críquete jogando uma série de jogos de primeira classe. A equipe existe hoje, embora a qualidade já não seja de primeira classe, e é um membro afiliado doConselho Internacional de Críquete.[134][135]
OsJogos do Sudeste Asiático de 2013 ocorreram emNepiedó, Rangum, Mandalai e Ngwesaung Beach em dezembro, representando a terceira ocasião em que o evento foi realizado em Myanmar. O país já tinha sediado os jogos em 1961 e 1969.[136]
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