Dominava pelo menos seis idiomas, entre os quaisalemão,italiano,francês,latim,inglês,castelhano e possuía conhecimentos deportuguês, ademais liagrego antigo ehebraico.[8] Foi membro de várias academias científicas daEuropa como a francesaAcadémie des sciences morales et politiques e recebeu oito doutorados honoríficos de diferentes universidades, entre elas daUniversidade de Navarra, e foi também cidadão honorário das comunidades dePentling (1987),Marktl (1997),Traunstein (2006) eRatisbona (2006). Era pianista e tinha preferências porMozart eBach.[9] Foi o sexto e talvez o sétimo papa alemão desdeVítor II (segundo a procedência deEstêvão VIII, de quem não se sabe se nasceu em Roma ou na Alemanha). Em abril de 2005 foi incluído pela revistaTime como sendo uma das cem pessoas mais influentes do mundo.[10]
O último Papa com este nome foraBento XV, que esteve no cargo de 1914 a 1922 e pontificou durante aPrimeira Guerra Mundial. Ratzinger foi o primeiro Decano doColégio Cardinalício eleito Papa desdePaulo IV, em 1555, o primeiro cardeal-bispo eleito Papa desdePio VIII, em 1829, e o primeiro superior daCongregação para a Doutrina da Fé a alcançar o Pontificado, desdePaulo V, em 1605. Bento XVI foi o primeiro Papa, desdeJoão XXIII, a voltar a usar ocamauro[11] e comumente utilizoumúleos.[12] Também foi o primeiro Pontífice a visitar ummuseu judaico.[13] Renunciou em 28 de fevereiro de 2013, justificando-se em suadeclaração de renúncia que as suas forças, devido à idade avançada, já não lhe permitiam exercer adequadamente o pontificado.
O Papa Emérito Bento XVImorreu em 31 de dezembro de 2022, às 9h34min do horário local, após apresentar uma rápida deterioração de sua saúde em consequência da idade avançada, nos dias seguintes aoNatal. Sua morte foi confirmada pelo Secretário de Imprensa daSanta Sé,Matteo Bruni.
Casa onde Joseph Ratzinger nasceu em 1927,Marktl am Inn no sudeste da Baviera: Mauthaus.
Joseph Ratzinger nasceu no dia 16 de abril de 1927 emMarktl am Inn, uma pequena vila naBaviera, às margens do rioInn, naAlemanha, filho de Joseph (nascido em 6 de março de 1877, † 25 de agosto de 1959), um comissário de polícia (Gendarmeriekommissar) doReich, um oficial da polícia rural oriundo da Baixa Baviera e adepto de uma corrente bávaro-austríaca de orientação católica.[14] Seu pai, era de religiosidade profunda e um decidido adversário do regime nacional-socialista, as suas ideias políticas firmes chegaram a trazer sérios perigos para a própria família.[14] Em 1941, um dos primos de Ratzinger, um menino de catorze anos de idade comsíndrome de Down, foi morto pelo regime nazi em sua campanhaeugênica.[15]
A mãe de Joseph Ratzinger, Maria Peintner (1884–1963), era de origemsul-tirolesa, uma região que hoje pertence àItália, mas que à época de seu nascimento era parte doImpério Austro-Húngaro. A senhora Ratzinger era conhecida por ser boa cozinheira, trabalhou em pequenos hotéis. O casamento dos pais de Joseph Ratzinger ocorreu em 1920, tendo os filhos Maria (1921–1991) e Georg (1924–2020).[16] Joseph nasceu numSábado de Aleluia e foi batizado no dia seguinte, domingo dePáscoa. A família não era pobre no sentido literal do termo, mas os pais tiveram de fazer muitas renúncias para que os filhos pudessem estudar.[17] Em 1928 a família mudou-se paraTittmoning, na época um lugarejo de cinco mil habitantes, às margens do rioSalzach na fronteira austríaca.[18] Em 1932 a família mudara-se novamente, agora paraAschau, de novo às margens do Inn, um povoado próspero, já que em Tittmoning Ratzinger pai havia se mostrado demasiado contrário aos nazistas.[19][20] Aqueles assumiram o poder em30 de janeiro de1933, quandoHindenburg nomeouAdolf Hitler chanceler, nos quatro anos em que a família Ratzinger passou em Aschau o novo regime limitou-se a espionar e a ter sob controle os sacerdotes que se lhe mostravam hostis, Ratzinger pai não só não colaborou com o regime como ajudou e protegeu os sacerdotes que sabia estarem em perigo. Já em 1931 os bispos daBaviera haviam publicado uma instrução dirigida ao clero em que manifestavam a sua oposição às ideias nazistas.[21] A oposição entre a Igreja e o Reich estendia-se ao âmbito escolar: os bispos empreenderam uma dura luta em defesa da escola confessional católica e pela observância daConcordata.[14]
Em Aschau começam os primeiros vislumbres da vocação sacerdotal, o jovem Ratzinger se deixa tocar pelos atos litúrgicos do povoado os quais frequenta com piedade, entrementes o avanço do novo sistema político e, com ele, a oposição da Igreja. Em 9 e 10 de novembro de 1938 ocorreu aKristallnacht em que as juventudes hitleristas apedrejam as vitrines das lojas dos judeus. Pouco tempo depoisPio XI promulga a EncíclicaMit brennender Sorge, em que condena as teorias nacional-socialistas. Neste ano seu pai, então sexagenário, aposentou-se e a família mudou-se paraTraunstein.[22]
Nos anos de ginásio em Traunstein aprendera olatim que ainda era ensinado com rigor, o que muito lhe valeu comoteólogo, pôde ler as fontes emlatim egrego e, emRoma, durante oconcílio, comenta, foi-lhe possível adaptar-se com rapidez ao latim dos teólogos que lá se falava, embora nunca tivesse ouvido palestras nessa língua. A formação cultural com base na antiguidade greco-latina propiciada naquele ambiente "criava uma atitude espiritual que se opunha às seduções da ideologia totalitária".[23]
Com oAnschluss e a fronteira daÁustria aberta a família pode ir com mais frequência aSalzburgo e em peregrinação aMaria Plain, ali puderam assistir a diversas apresentações musicais: "Foi ali queMozart entrou até o fundo da minha alma. Não é um simples divertimento: a música deMozart encerra todo o drama do ser humano", afirma.[24] Pela Páscoa de 1939 ingressa no seminário-menor em Traunstein, por indicação do pároco, para que pudesse iniciar de forma sistemática na vida eclesiástica.
Com guerra, o seminário foi requisitado como hospital militar e o diretor o transferiu para uns alojamentos vazios dasDamas Inglesas de Sparz. A incorporação naJuventude Hitlerista das crianças alemãs tornou-se oficialmente obrigatória a partir de 1938 até o fim doTerceiro Reich em 1945. Até 1939 nenhum seminarista havia entrado na organização, mas o regime exigiu que a partir de março a afiliação fosse obrigatória. Até outubro a direção do seminário em que estava se negou a inscrever os seus alunos, mas logo não pôde mais impedir a sua inscrição na organização. Assim sucedeu também com Joseph Ratzinger, aos 14 anos.[25] Uma testemunha relata (segundo oFrankfurter Allgemeine Zeitung) que os seminaristas eram uma "provocação para os nazis: se lhes considerava suspeitos de estar contra o regime".[26] Em um documento do Ministério da Educação se lê que a incorporação compulsória à Juventude Hitlerista "não garantia que os seminaristas realmente se haviam incorporado à comunidade nacional-socialista".[27] Quando fez catorze anos em 1941, portanto, Joseph teve de se incorporar à Juventude Hitlerista[28] e, de acordo com o seubiógrafo John Allen, não era um membro entusiasta.[29] Recebeu gratuidade escolar por pertencer a esse grupo, mesmo não participando de seus encontros, graças à amizade com um professor de matemática filiado ao partido Nacional-Socialista, que lhe deu aulas noseminário. Por causa da mobilização provocada pela guerra os irmãos Ratzinger deixaram o seminário naquele ano de 1941 e retornaram à casa paterna.[29]
Em 1943, com dezesseis anos, foi incorporado, pelo alistamento obrigatório, noExército Alemão, numa divisão daWehrmacht encarregada da bateria de defesa antiaérea da fábrica daBMW nos arredores deMunique. Mais tarde, esteve emUnterförhring eGilching, ao norte do lagoAmmer. Foi dispensado em 10 de setembro de 1944 do serviço nabateria antiaérea de Gilching e poucos dias depois foi enviado a um campo de trabalho emBurgenland, na fronteira daÁustria com aHungria e aChecoslováquia para realizar trabalhos forçados, daí sendo enviado ao quartel de infantaria em Traustein, de onde desertou pouco tempo depois.[30]
Com a rendição alemã em 8 de maio de 1945 Ratzinger ficou preso no campo de concentração de prisioneiros das forças aliadas emBad Aibling, com mais de quarenta mil prisioneiros. Foi libertado em 19 de junho, apenas dois meses depois de ter completado os dezoito anos, chegando em casa em Traunstein na noite da sexta-feira doSagrado Coração.[31]
Ratzinger começou como vice-pároco (coadjutor) na paróquia St. Martin, Moosach, em Munique, em 1951.[32] Formou-se em teologia em 1953[33]. Tornou-se professor daUniversidade de Bonn em 1959, com sua palestra inaugural sobre "O Deus da Fé e o Deus da Filosofia". Em 1963, mudou-se para aUniversidade de Münster. Durante este período, participou doConcílio Vaticano II (1962-1965) e serviu comoperitus (consultor teológico) doCardeal Frings de Colônia. Ratzinger era visto durante a época do Concílio como um reformador, cooperando com teólogos comoHans Küng[34] eEdward Schillebeeckx.[35] Ratzinger tornou-se um admirador deKarl Rahner, um conhecido teólogo acadêmico daNouvelle théologie e um proponente da reforma da Igreja.[36]
Em 1966, Ratzinger foi nomeado para uma cadeira de teologia dogmática naUniversidade de Tübingen, onde foi colega de Hans Küng. Em seu livro de 1968,Introdução ao Cristianismo, escreveu que o papa tem o dever de ouvir diferentes vozes dentro da Igreja antes de tomar uma decisão e minimizou a centralidade do papado. Durante esse tempo, distanciou-se da atmosfera de Tübingen e das tendências marxistas do movimento estudantil da década de 1960 que rapidamente se radicalizou, nos anos de 1967 e 1968, culminando em uma série de distúrbios e motins em abril e maio de 1968. Ratzinger passou a ver cada vez mais esses e outros desenvolvimentos associados (como a diminuição do respeito pela autoridade entre seus alunos) como ligados a um afastamento dos ensinamentos católicos tradicionais.[37] Apesar de sua inclinação reformista, seus pontos de vista passaram a contrastar cada vez mais com as ideias liberais que ganhavam espaço nos círculos teológicos.[38] Foi convidado pelo Rev. Theodore Hesburgh para ingressar na faculdade de teologia daUniversidade de Notre Dame, mas recusou alegando que seu inglês não era bom o suficiente.[39]
Algumas vozes, entre elas Küng, consideraram este período na vida de Ratzinger uma virada para o conservadorismo, enquanto o próprio Ratzinger disse em uma entrevista de 1993: "Não vejo nenhuma quebra em minhas opiniões como teólogo [ao longo dos anos]".[40] Ratzinger continuou a defender os trabalhos do Concílio Vaticano II, incluindo aNostra aetate, o documento sobre o respeito às outras religiões, o ecumenismo e a declaração do direito à liberdade de religião. Mais tarde, como Prefeito daCongregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger expôs claramente a posição da Igreja Católica sobre outras religiões no documentoDominus Iesus de 2000, que também fala sobre a maneira católica de se engajar no "diálogo ecumênico". Durante seu tempo na Universidade de Tübingen, Ratzinger publicou artigos na revista teológica reformistaConcilium, embora cada vez mais escolhesse temas menos reformistas do que outros colaboradores da revista, como Küng e Schillebeeckx.[41]
Em 1969, Ratzinger voltou à Baviera, para lecionar naUniversidade de Regensburg e cofundou a revista teológicaCommunio, comHans Urs von Balthasar,Henri de Lubac,Walter Kasper e outros, em 1972.Communio, agora publicado em dezessete idiomas, incluindo alemão, inglês e espanhol, tornou-se um periódico proeminente do pensamento teológico católico contemporâneo. Até ser eleito papa, continuou sendo um dos colaboradores mais prolíficos do jornal. Em 1976, sugeriu que aConfissão de Augsburgo pudesse ser reconhecida como uma declaração de fé católica.[42][43] Vários dos ex-alunos de Benedict tornaram-se seus confidentes, notavelmenteChristoph Schönborn, e vários de seus ex-alunos às vezes se encontram para discussões.[44][45] Ratzinger atuou como vice-presidente da Universidade de Regensburg de 1976 a 1977.[46] Em 26 de maio de 1976, foi nomeadoPrelado de Honra de Sua Santidade.[47]
Em 24 de março de 1977, Ratzinger foi nomeadoarcebispo de Munique e Freising, e foi ordenado bispo em 28 de maio. Tomou como lema episcopalCooperadores veritatis (latim para 'cooperadores da verdade'),[49] daTerceira Epístola de João,[50] uma escolha sobre a qual comentou em sua obra autobiográficaMilestones.[51]
No consistório de 27 de junho de 1977, foi nomeado Cardeal-presbítero deSanta Maria Consolatrice al Tiburtino peloPapa Paulo VI. Na época do conclave de 2005, era um dos quatorze cardeais restantes nomeados por Paulo VI e um dos três únicos com menos de 80 anos. Destes, apenas ele eWilliam Wakefield Baum participaram do conclave.[52]
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: 1981–2005
Em 25 de novembro de 1981, o Papa João Paulo II, após a aposentadoria deFranjo Šeper, nomeou Ratzinger Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, anteriormente conhecida como "Sagrada Congregação doSanto Ofício", a históricaInquisição Romana. Consequentemente, ele renunciou ao cargo em Munique no início de 1982. Foi promovido dentro doColégio dos Cardeais para se tornarCardeal Bispo de Velletri-Segni em 1993 e foi nomeado vice-reitor do colégio em 1998 e reitor em 2002. Apenas um ano depois após sua fundação em 1990, Ratzinger ingressou naAcademia Europeia de Ciências e Artes emSalzburgo.[53][54]
Ratzinger defendeu e reafirmou a doutrina católica, inclusive ensinando sobre temas como controle de natalidade, homossexualidade e diálogo inter-religioso. O teólogoLeonardo Boff, por exemplo, foi suspenso, enquanto outros, comoMatthew Fox, foram censurados. Outras questões também motivaram condenações ou revogações de direitos de ensino: por exemplo, alguns escritos póstumos do padre jesuítaAnthony de Mello foram objeto de uma notificação. Ratzinger e a congregação viam muitos deles, particularmente as obras posteriores, como tendo um elemento de indiferentismo religioso (em outras palavras, que Cristo era "um mestre ao lado de outros"). Em particular,Dominus Iesus, publicado pela congregação no ano jubilar de 2000, reafirmou muitas ideias recentemente "impopulares", incluindo a posição da Igreja Católica de que "a salvação não é encontrada em nenhum outro, pois não há outro nome sob o céu dado aos homens pela qual devemos ser salvos". O documento irritou muitas igrejas protestantes ao afirmar que não são igrejas, mas "comunidades eclesiais".[55]
O Papa Paulo VI entregando o anel de cardeal a Joseph Ratzinger, então Arcebispo de Munique.
A carta de Ratzinger de 2001De delictis gravioribus esclareceu a confidencialidade das investigações internas da igreja, conforme definido no documento de 1962Crimen sollicitationis, sobre acusações feitas contra padres de certos crimes, incluindo abuso sexual. Isso se tornou um assunto de controvérsia durante os casos de abuso sexual.[56] Por 20 anos, Ratzinger foi o homem encarregado de fazer cumprir o documento.[57]
Embora os bispos mantenham o sigilo apenas internamente, e não tenha impedido a investigação pela aplicação da lei civil, a carta foi muitas vezes vista como promovendo um encobrimento.[58] Mais tarde, como papa, foi acusado em um processo de conspirar para encobrir o abuso sexual de três meninos noTexas, mas buscou e obteveimunidade diplomática de responsabilidade.[59]
Em 12 de março de 1983, Ratzinger, como prefeito, notificou os fiéis leigos e o clero de que o arcebispoPierre Martin Ngô Đình Thục havia incorrido emexcomunhãolatae sententiae por consagrações episcopais ilícitas sem o mandato apostólico. Em 1997, quando completou 70 anos, Ratzinger pediu permissão ao Papa João Paulo II para deixar a Congregação da Doutrina da Fé e se tornar arquivista noArquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário naBiblioteca do Vaticano, mas João Paulo recusou seu consentimento.[60][61]
Em abril de 2005, antes de sua eleição como papa, Ratzinger foi identificado como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pelaTime.[62] Enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger afirmou repetidamente que gostaria de se retirar para sua casa na aldeia bávara dePentling, perto deRegensburg, e se dedicar a escrever livros.[63]
No conclave papal, "foi, se não Ratzinger, quem? E quando eles o conheceram, a pergunta tornou-se: por que não Ratzinger?" após quatro votações.[64][65] Em 19 de abril de 2005, foi eleito no segundo dia após quatro votações.[64] O cardealCormac Murphy-O'Connor descreveu a votação final: "É muito solene quando você sobe um a um para colocar seu voto na urna e olha para oJuízo Final deMichelangelo. E ainda me lembro vividamente do então Cardeal Ratzinger sentado na ponta de sua cadeira".[66] Ratzinger esperava se aposentar em paz e disse que "A certa altura, orei a Deus 'por favor, não faça isso comigo' ... Evidentemente, desta vez Ele não me ouviu".[67]
Na varanda, as primeiras palavras de Bento XVI à multidão, proferidas em italiano antes de dar a tradicional bênçãoUrbi et Orbi em latim, foram:[68]
Queridos irmãos e irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os Cardeais elegeram-me a mim, um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. O fato de o Senhor saber trabalhar e agir mesmo com instrumentos insuficientes me conforta e, acima de tudo, me confio às suas orações. Na alegria do Ressuscitado, confiantes na sua ajuda infalível, vamos em frente. O Senhor nos ajudará e Maria, Sua Mãe Santíssima, estará do nosso lado. Obrigado.[68]
Bento XVI escolheu seu nome papal, que vem da palavra latina que significa "o bem-aventurado", em homenagem tanto aBento XV quanto aBento de Núrsia.[71] Bento XV foi papa durante aPrimeira Guerra Mundial, período durante o qual buscou apaixonadamente a paz entre as nações em guerra. São Bento de Núrsia foi o fundador dos mosteirosbeneditinos (a maioria dos mosteiros da Idade Média eram da ordem beneditina) e o autor daRegra de São Bento, que ainda é o escrito mais influente sobre a vida monástica docristianismo ocidental. O Papa explicou sua escolha de nome durante sua primeira audiência geral na Praça de São Pedro, em 27 de abril de 2005:[72]
Cheio de sentimentos de reverência e ação de graças, desejo falar do motivo pelo qual escolhi o nome Benedict. Em primeiro lugar, recordo o Papa Bento XV, aquele corajoso profeta da paz, que guiou a Igreja em tempos turbulentos de guerra. Nas suas pegadas, coloco o meu ministério ao serviço da reconciliação e da concórdia entre os povos. Além disso, recordo São Bento de Núrsia, co-padroeiro da Europa, cuja vida evoca as raízes cristãs da Europa. Peço-lhe que nos ajude a todos a manter firme a centralidade de Cristo na nossa vida cristã: que Cristo esteja sempre em primeiro lugar nos nossos pensamentos e nas nossas ações![72]
"O escudo adoptado pelo Papa Bento XVI tem uma composição muito simples: tem a forma de cálice, que é a mais usada na heráldica eclesiástica (outra forma é a cabeça de cavalo, que foi adotada por Paulo VI). No seu interior, variando a composição em relação ao escudo cardinalício, o escudo do Papa Bento XVI tornou-se: vermelho, com ornamentos dourados. De fato, o campo principal, que é vermelho, tem dois relevos laterais nos ângulos superiores em forma de "capa", que são de ouro. A "capa" é um símbolo de religião. Ela indica um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina." (Da explicação do brasão pela Santa Sé)[73]
Escolheu como lema episcopal: «Colaborador da verdade»; assim o explicou ele mesmo: «Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo actual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade».[74]
O grande mote de Joseph Cardeal Ratzinger, nos dias que antecederam oconclave, foi a questão dosecularismo e dorelativismo. Acreditava-se que o papa Bento XVI seria um grande defensor dos valores absolutos, dadoutrina e dodogma da Igreja. "A pequena barca com o pensamento dos cristãos sofreu, não pouco, pela agitação das ondas, arrastada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo até a libertinagem, do coletivismo ao individualismo mais radical, do ateísmo a um vago misticismo, do agnosticismo ao sincretismo",[75] afirmou durante a missa de abertura do conclave que viria elegê-lo. Acreditava-se também, devido ao nome escolhido (São Bento é padroeiro daEuropa), que Bento XVI voltar-se-ia para esse continente que, segundo ele, vem caindo nosecularismo (abandono dos valores religiosos e redução de tudo aoespectro político dedireita eesquerda).[75]
Busto de Bento XVI em Traunstein
Para Daniel Johnson, poder-se-ia esperar uma luta rigorosa contra aeugenia e aeutanásia, graças à convivência do papa com as mazelas donazismo, mas que haveria uma abertura aoecumenismo, principalmente em relação àsigrejas ortodoxas eprotestantes. Também dizia que o papa deveria entusiasmar os fiéis com suas interpretações dateologia, animando, por exemplo, os jovens com aTeologia do Corpo, que vê a sexualidade como uma emanação do amor divino.[76]
Bento XVI na missa da solenidade da Epifania do Senhor em 2013
Considerando toda a sua obra literária, as suas atitudes como sacerdote e bispo ao longo da sua vida religiosa, e ainda do que se verifica dos anos passados à frente daSagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger possuía um pensamento católico ortodoxo que, para muitos de seus críticos, é tido como sendo conservador. Bento XVI adotou, no seu Pontificado, propostas semelhantes às do seu predecessor relativos àmoral e aodogma católico e reafirmado no seu magistério a doutrina doCatecismo da Igreja Católica.[77]
Nadécada de 1990, o então cardeal Ratzinger participou da elaboração de documento sobre aconcepção humana como sendo o momento da animação. A partir da união doóvulo com oespermatozoide temos uma vida humana peranteDeus. Assim, é impossível que aSanta Sé mude sua posição diante das pesquisas com células estaminais (células-tronco)embrionárias ou diante doaborto. Na verdade esperava-se que o Papa reafirmasse o Magistério constante da Igreja sobre estes e outros temas da atualidade relacionados com a Moral, aÉtica e aDoutrina Social da Igreja, o que de fato ocorreu.
Em 2004, Ratzinger e seu conterrâneo, o filósofoJürgen Habermas, debateram sobre as "bases morais pré-políticas de um Estado liberal". Odebate entre Habermas e Ratzinger recebeu grande cobertura acadêmica, e ficou conhecido como a interlocução entre os dois maiores intelectuais alemães, à época.[78][79]
Em 2011, Bento XVI respondendo a jornalistas fez referência aos graves problemaseconômicos que a Europa atravessa, aproveitou para fazer uma defesa da ética na economia. Afirmou que o homem deve ser posto no centro das atenções econômicas: "A Europa tem a sua responsabilidade. A economia não pode ser só lucro, mas também solidariedade", disse.[80]
Durante a 'Jornada Mundial da Alimentação' de 2011, afirmou que "a libertação da submissão da fome é a primeira manifestação concreta do direito à vida", que, apesar de ter sido proclamada solenemente, "está muito longe de ser alcançada". O papa fez esta afirmação direcionada aodiplomataJacques Diouf, diretor daOrganização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).[81]
Em janeiro de 2013 o papa Bento XVI publicou os seusescritos conciliares, rememorando oConcílio Vaticano II. A comunicação oficial foi feita no dia 28 pelo coordenador da obra: "Como sétimo volume daopera omnia (obras completas), foi publicada agora a coleta, numa síntese de tipo cronológico e organizado, dos escritos de Joseph Ratzinger sobre os ensinamentos do Concílio, que coincide com o cinquentenário do Vaticano II", afirmou D. Gerhard Ludwig Muller, Arcebispo e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Segundo o Arcebispo, Bento XVI teve participação significativa na génese dos textos mais variados, primeiro ao lado do arcebispo de Colónia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autónomo de diversas comissões do Concílio.[82][83] No dia 11 de Fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou que renunciaria ao papado no dia 28 de Fevereiro de 2013.
Em diversas ocasiões o papa concedeu entrevistas à imprensa, além dos seus pronunciamentos habituais no Vaticano, semanalmente.
Durante o voo rumo aoMéxico, em 23 de março de 2012, a bordo do avião, o Papa concedeu entrevista à imprensa,[84] na ocasião denunciou o que chamou de "as falsas promessas e mentiras do narcotráfico".[85]
Por ocasião de sua visita aoLíbano, durante o voo em direção aBeirute, em 15 de setembro de 2012, falou a mais de 50 jornalistas, dentre outros temas, sobre ofundamentalismo religioso.[86]
Em 15 de outubro de 2012, no final da apresentação do filmeBells of Europe,[87] apresentado aos padres sinodais, à pergunta sobre as razões da esperança que muitas vezes manifestou nutrir pela Europa, o Papa respondeu que ela se funda na fé em Cristo.[88]
O periódico britânicoFinancial Times na sua edição do dia 20 de dezembro de 2012 publicou artigo de Bento XVI por ocasião do Natal e da edição do livro sobre a infância de Jesus.[89][90]
Em 12 de dezembro de 2012,Papa Bento XVI, inaugurou sua conta na rede social demicroblogues, oTwitter. Sua primeira mensagem a mais de 950 mil usuários foi reproduzida em sete idiomas (incluindo o português).[91][92][93] "Queridos amigos, eu estou muito feliz de entrar em contato com vocês pelo Twitter. Obrigado por sua generosa resposta. Eu vos abençoo de todo o meu coração", diz a mensagem, postada dia 12 de dezembro de 2012.[94][95]
Uma crítica feita pelos meios de comunicação à escolha de Joseph Ratzinger foi que o papado continuaria naEuropa e mais uma vez aAmérica Latina (região do mundo com mais católicos) continuaria sem ter nenhum papa. Outra foi sobre a postura pouco clara em relação aos crimessexuais contra menores nosEUA[96] e a sua firme negação aocasamento civil entre pessoas do mesmo sexo em todo o mundo.
Ainda quanto aos crimes sexuais, houve um importante documentário feito pela rede BBC de televisão intituladoSexo, Crimes e Vaticano, que acusa Bento XVI de liderar o "acobertamento de casos de pedofilia". A reportagem do programa examinou um documento secreto interno da igreja (Crimen Sollicitationis), que instrui bispos a lidar com acusações de abusos sexuais cometidos por padres nas suas paróquias.[96]
Bento XVI, como seus predecessores, era contrário à ordenação de mulheres e defendia a moralidade sexual. Para ele, "a única forma clinicamente segura de prevenir aSIDA (AIDS) é se comportar de acordo com a lei de Deus", condenando o uso depreservativos, no que foi criticado por muitas correntes da sociedade. No entanto, foi apoiado por vários movimentos da igreja, como oCaminho Neocatecumenal, aRenovação Carismática, osFocolares e aComunhão e Libertação.[97]
Em agosto-setembro de 2007, em documento daCongregação para a Doutrina da Fé, reafirmou que a Igreja Católica é a "única verdadeira" e a "única que salva", o que provocou muitas críticas de igrejasprotestantes.[99]
Por decreto de 21 de janeiro de 2009, o cardealGiovanni Battista Re, Prefeito daCongregação para os Bispos, usando de faculdade concedida por Bento XVI, removeu a censura de excomunhãolatae sententiae declarada por esta Congregação no dia 1 de julho de 1988 contra quatro bispos ordenados em 1988 pelo falecido etradicionalistaarcebispoMarcel Lefebvre, com o rito da "bula dePio X", em desacordo com as regras estabelecidas peloConcílio Vaticano II, ordenação considerada ilegítima pela Igreja Católica.[100]
A Secretaria de Estado do Vaticano esclareceu que"os quatro bispos, apesar de terem sido liberados da pena de excomunhão, continuam sem uma função canônica na Igreja e não exercem licitamente nela qualquer ministério". e que este "foi um ato com que o Santo Padre respondia benignamente às reiteradas petições do Superior Geral daFraternidade Sacerdotal São Pio X, na esperança de que os beneficiados manifestassem sua total adesão e obediência ao magistério e disciplina da Igreja".[100]
Dentre os quatro reintegrados com o levantamento da excomunhão está o bispoRichard Williamson, religioso inglês, que dirige um seminário lefebvriano naArgentina e nega oHolocausto. O Vaticano tornou público que o bispo Williamson, para ser admitido nas funções episcopais na Igreja, terá de retratar-se de modo absoluto, inequívoco e público de sua postura sobre aShoah, desconhecidas pelo Santo Padre no momento da remissão da excomunhão.[100][101][102]
Desde o começo do pontificado, as ações e declarações de Bento XVI provocaram ataques de alguns setores da sociedade. Esses desentendimentos foram tema do livroAttacco a Ratzinger, escrito por dois vaticanistas italianos,Andrea Tornielli do Il Giornale e Paolo Rodari de Il Foglio. O livro, publicado por Piemme, na Itália, provocou um debate sobre o tratamento midiático que o papa estava recebendo.[103]
Os autores, sem a intenção de solucionar todos os questionamentos e problemas ocorridos, consideraram que o tumulto provocado pelos vários episódios não poderia ter sido apenas um problema de comunicação ou assessoria de imprensa, e que os ataques ao papa decorreriam de três frentes conhecidas:
"Lobbies e forças" de fora da Igreja com um interesse claro de desacreditar o Papa, tanto por motivos ideológicos quanto financeiros; este grupo estaria constituído por forças laicistas, grupos feministas e gays, laboratórios farmacêuticos que vendem produtos abortivos, advogados que pedem indenizações milionárias para casos de abusos, dentre outros.
Os críticos liberais de dentro da Igreja, que há muito tempo caricaturizaram Ratzinger como o "Panzerkardinal"; e que insistem em fazer uma leitura própria dos textos do Concílio Vaticano II.
Os assessores do Papa, que, às vezes, representam os seus próprios piores inimigos em relações públicas, é ofogo amigo de assessores imprudentes ou incompetentes.[104][105][106]
Em 2007, um alemão conseguiu saltar sobre uma barricada naPraça de São Pedro quando o veículo do papa estava a passar durante uma audiência geral.[107]
Durante amissa de Natal de 2009, uma mulher identificada como Susanna Maiolo, 25 anos ultrapassou as barreiras de segurança no início do corredor central daBasílica de São Pedro, emRoma e puxou o papa, que acabou por cair. Na confusão, o cardeal francêsRoger Etchegaray, de 87 anos, acabou por levar uma queda e fraturou o fêmur.[108][109] A mulher, que foi diagnosticada como portadora de distúrbios mentais, já havia tentado o mesmo ato no Natal do ano anterior.[110]
No seu primeiro consistório, em 24 de março de 2006, Bento XVI criou quinze novos cardeais dos quais doze eleitores, ou seja, purpurados com menos de oitenta anos de idade e que têm direito a voto num futuroConclave. Chamou a mídia à atenção para o fato de, entre os cardeais nomeados, ter sido elevado ao cardinalato o arcebispo deHong Kong,Joseph Zen Ze-Kiun, forte opositor do regimecomunista chinês.
No consistório do dia 24 de novembro de 2007, o papa criou 23 novos cardeais, dezoito dos quais com menos de oitenta anos e cinco com mais de oitenta anos, sendo dois destes sacerdotes, não bispos. Entre os cardeais criados estava o arcebispo de São Paulo, DomOdilo Scherer.
No Consistório Ordinário Público do dia 20 de novembro de 2010, Bento XVI criou 24 novos cardeais, vinte dos quais com menos de oitenta anos e quatro com mais de oitenta anos. Entre os cardeais criados estava o arcebispo deAparecida, DomRaymundo Damasceno Assis.
O Papa manteve um ritmo de viagens apostólicas surpreendente para a sua idade e, com isto, superou as expectativas do início de seu pontificado. Justamente por causa da sua idade e pelo seu estilo pessoal mais reservado e comedido quando comparado com seu antecessorJoão Paulo II osmass media consideravam que este seria um papa que ficaria mais restrito ao âmbito do Vaticano e da Cúria Romana o que acabou não se verificando.[111][112]
A visita de Bento XVI ao Brasil começou em 9 de maio de 2007 e se encerrou no dia 13. Seu objetivo principal foi dar início àQuinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho que ocorreu de 13 a 31 de maio de 2007, noSantuário de Aparecida no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. Além disso, foi também nessa ocasião que se deu a canonização de Santo António de Sant´Anna Galvão, oFrei Galvão, o primeiro santo brasileiro, em cerimônia realizada no dia 11 de maio de 2007, emSão Paulo.[113][114]
Antes de 2001, a responsabilidade principal pela investigação de alegações de abuso sexual e pela disciplina dos perpetradores recaía sobre as dioceses individuais. Em 2001, Ratzinger convenceu João Paulo II — ele próprio alvo de acusações de encobrimento — a colocar a Congregação para a Doutrina da Fé a cargo de todas as investigações de abuso sexual.[119][120] SegundoJohn L. Allen Jr., Ratzinger nos anos seguintes "adquiriu uma familiaridade com os contornos do problema que praticamente nenhuma outra figura da Igreja Católica pode reivindicar. Impulsionado por esse encontro com aquilo a que mais tarde se referiria como "sujidade" na Igreja, Ratzinger parece ter passado por algo de "experiência de conversão" ao longo de 2003-04. A partir daí, ele e o seu pessoal pareceram impulsionados pelo zelo de um convertido em limpar a sujidade".[121]
O cardealVincent Nichols — também acusado por encobrimento de casos —[122][123][124] escreveu que, no seu papel de chefe da CDF, Ratzinger havia liderado importantes mudanças feitas no direito da Igreja: a inclusão na lei canónica de crimes contra crianças na internet, a extensão dos crimes de abuso de crianças para incluir o abuso sexual de todos os menores de dezoito anos, a renúncia caso a caso ao estatuto de limitação e o estabelecimento de uma demissão acelerada do estado clerical para os infratores".[125] De acordo com o bispoCharles Jude Scicluna, um antigo procurador que tratava de casos de abuso sexual, "o Cardeal Ratzinger demonstrou grande sabedoria e firmeza no tratamento desses casos, demonstrando também grande coragem ao enfrentar alguns dos casos mais difíceis e espinhosos, sem olhar a pessoas. Portanto, acusar o atual Pontífice de encobrimento é, repito, falso e calunioso".[126] Segundo o CardealChristoph Schönborn, Ratzinger "fez esforços absolutamente claros não para encobrir as coisas, mas para as enfrentar e investigar. Isto nem sempre foi aprovado no Vaticano".[119][127] Ratzinger tinha pressionado João Paulo II a investigarHans Hermann Groër, um cardeal austríaco e amigo de João Paulo, acusado de abuso sexual, o que resultou na demissão de Groër.[128]
Desde a sua posse, Bento XVI fez inúmeros pronunciamentos. Entre os principais documentos que publicou no exercício das funções de Sumo Pontífice, estão as encíclicasDeus Caritas Est,Spe salvi eCaritas in Veritate.
Em 5 de julho de 2013, já depois de sua renúncia, foi publicada a encíclicaLumen Fidei, assinada pelo seu sucessor, oPapa Francisco, mas que foi praticamente escrita só por Bento XVI. Segundo a análise do texto por estudiosos deste assunto, Francisco pode ter contribuído com pelo menos duas passagens na encíclica escritas naprimeira pessoa, já que Ratzinger costumava escrever naterceira pessoa, e uma referência aSão Francisco de Assis, santo que inspirou o Papa Francisco na escolha donome papal. O documento foi publicado somente com a assinatura de Francisco.[129]
Bento XVI em umpapamóvel em sua última audiência geral de quarta-feira naPraça de São Pedro, 27 de fevereiro de 2013.
Em 11 de fevereiro de 2013, o Vaticano confirmou que Bento XVI renunciaria ao papado em 28 de fevereiro de 2013, como resultado de sua idade avançada, tornando-se o primeiro papa a renunciar desde Gregório XII em 1415.[130] Aos 85 anos e 318 dias na data efetiva de sua aposentadoria, ele foi a quarta pessoa mais velha a ocupar o cargo de papa. A mudança foi inesperada,[131] já que todos os papas dos tempos modernos permaneceram no cargo até a morte. Bento foi o primeiro papa a renunciar sem pressão externa desde Celestino V em 1294.[132][133]
Em sua declaração de 10 de fevereiro de 2013, Bento renunciou ao cargo de "Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro".[134] Em uma declaração, ele citou sua força deteriorada e as exigências físicas e mentais do papado.[135] Dirigindo-se a seus cardeais em latim, fez uma breve declaração anunciando sua renúncia, declarando ainda que continuaria a servir a igreja "através de uma vida dedicada à oração".[135]
De acordo com um comunicado do Vaticano, o momento da renúncia não foi causado por nenhuma doença específica, mas foi para "evitar aquela correria exaustiva dos compromissos da Páscoa".[136]
Na véspera do primeiro aniversário da sua renúncia, Bento XVI escreveu aoLa Stampa para negar as especulações de que teria sido forçado a renunciar. "Não há a menor dúvida sobre a validade de minha renúncia ao ministério petrino", escreveu o papa emérito em carta ao jornal. "A única condição para a validade é a plena liberdade da decisão. A especulação sobre sua invalidade é simplesmente absurda", escreveu ele.[137] Em entrevista em 28 de fevereiro de 2021, Bento XVI repetiu novamente a legitimidade de sua renúncia.[138][139][140]
Quase um mês após sua morte foi divulgada uma carta que enviou a seu biógrafo, na qual alegava que renunciou ao pontificado em razão de uma insônia que o afetava havia anos.[141]
Na manhã de 28 de fevereiro de 2013, Bento se reuniu com todo o Colégio dos Cardeais e às 17h de Roma (3 horas antes da formalização da Renúncia) voou de helicóptero para a residência papal de verão de Castel Gandolfo. Permaneceu lá até que a reforma fosse concluída em sua casa de repouso, oConventoMater Ecclesiae nos Jardins do Vaticano perto de São Pedro, antiga casa de doze freiras, para onde se mudou em 2 de maio de 2013.[142][143] Para protegê-lo, há uma cerca viva e uma cerca. Possui um jardim de mais de 2 mil metros quadrados com vista para o mosteiro e adjacente ao atual "jardim do Papa". A algumas dezenas de metros está o edifício daRádio Vaticano.[144]
Após sua renúncia, Bento XVI manteve seu nome papal em vez de voltar ao seu nome de nascimento.[145] Continuou a usar a batina branca, mas sem aperegrineta ou afáscia e deixou de usar os sapatos papais vermelhos.[146][147] Ademais, devolveu seuAnel do Pescador oficial, que se tornou inutilizável ao fazer dois grandes cortes em sua face.[148]
De acordo com um porta-voz do Vaticano, Bento XVI passou seu primeiro dia como papa emérito com o arcebispoGeorg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia.[149] No mosteiro, o papa emérito não viveu uma vida enclausurada, mas estudou e escreveu.[144] Encontrou-se oficialmente pela primeira vez com seu sucessor, vários meses após sua eleição, na inauguração de uma nova estátua deSão Miguel Arcanjo. A inscrição na estátua, segundo o cardealGiovanni Lajolo, tem o brasão dos dois papas para simbolizar o fato de que a estátua foi encomendada por Bento XVI e consagrada por Francisco.[150]
Em 2013, foi relatado que Bento XVI tinha vários problemas de saúde, incluindo pressão alta e caiu da cama mais de uma vez, mas o Vaticano negou quaisquer doenças específicas.[151]
Bento XVI em 2014, um ano após sua renúncia
Bento XVI fez sua primeira aparição pública após sua renúncia na Basílica de São Pedro em 22 de fevereiro de 2014 para participar do primeiro consistório papal de seu sucessor, Francisco. Bento XVI, que entrou na basílica por uma entrada discreta, estava sentado em fila com vários outros cardeais. O papa emérito tirou seusolidéu quando Francisco desceu a nave da Basílica de São Pedro para cumprimentá-lo.[152]
Em agosto de 2014, Bento XVI celebrou a missa no Vaticano e se reuniu com seus ex-alunos de doutorado, uma tradição anual que mantinha desde a década de 1970.[153] Participou da beatificação do Papa Paulo VI em outubro de 2014.[154] Semanas antes, havia se encontrado com Francisco na Praça de São Pedro para uma audiência em homenagem aos avós, para ressaltar sua importância na sociedade.[155]
Bento XVI escreveu o texto de um discurso, proferido pelo arcebispo Georg Gänswein, por ocasião da dedicação da Aula Magna daPontifícia Universidade Urbaniana ao Papa Emérito, "um gesto de gratidão pelo que ele fez pela Igreja como um conciliar especialista, com seu magistério como professor, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e, finalmente, do Magistério". A cerimônia aconteceu na terça-feira, 21 de outubro de 2014, durante a abertura do ano letivo.[156]
Bento XVI participou do consistório para novos cardeais em fevereiro de 2015, saudando Francisco no início da celebração.[157] No verão de 2015, Bento XVI passou duas semanas em Castel Gandolfo, a convite do Papa Francisco. Enquanto lá estava, participou de dois eventos públicos. Recebeu dois doutorados honorários concedidos a ele pelo CardealStanisław Dziwisz, assessor de longa data do Papa João Paulo II, da Pontifícia Universidade João Paulo II e da Academia de Música de Cracóvia.[158] Em seu discurso de recepção, Bento prestou homenagem a seu predecessor, João Paulo II.[158]
A Biblioteca Romana Joseph Ratzinger-Bento XVI noPontifício Colégio Teutônico foi anunciada em abril de 2015 e estava programada para ser aberta a estudiosos em novembro de 2015.[159] A seção da biblioteca dedicada à sua vida e pensamento está sendo catalogada. Inclui livros dele ou sobre ele e seus estudos, muitos doados pelo próprio Bento XVI.[160][161]
Bento XVI, em agosto de 2015, apresentou um cartão manuscrito para servir de testemunho à causa da canonização do Papa João Paulo I.[162][163]
Em março de 2016, Bento deu uma entrevista expressando suas opiniões sobre a misericórdia e endossando a ênfase de Francisco na misericórdia em sua prática pastoral.[164] Também naquele mês, um porta-voz do Vaticano afirmou que Bento XVI estava "lentamente, serenamente enfraquecendo" em sua saúde física, embora sua capacidade mental permanecesse "perfeitamente lúcida".[165]
O papa emérito foi homenageado pela Cúria Romana e por Francisco em 2016 em audiência especial, em homenagem ao 65º aniversário de sua ordenação sacerdotal. Em novembro daquele ano, não compareceu ao consistório para novos cardeais, mas se encontrou posteriormente com eles e com Francisco em sua residência.[166] Após a morte do cardealPaulo Evaristo Arns em dezembro de 2016, Bento tornou-se a última pessoa viva nomeado cardeal pelo Papa Paulo VI.[167]
Bento XVI, em 10 de agosto de 2019
Em junho de 2017, Bento recebeu os novos cardeais em sua capela e falou com cada um deles em sua língua nativa.[168] Em julho de 2017, enviou uma mensagem por meio de seu secretário particular para o funeral do cardealJoachim Meisner, que morreu repentinamente durante as férias na Alemanha.[169]
Em novembro de 2017, surgiram imagens na página do Facebook do bispo de Passau,Stefan Oster, de Bento com um olho roxo. O bispo e autorPeter Seewald visitou o ex-papa em 26 de outubro, já que a dupla estava presenteando Bento XVI com o novo livro Bento XVI - O Papa Alemão, criado pela diocese de Passau. O ex-papa sofreu o hematoma mais cedo depois de ter escorregado.[170]
No final de 2019, Bento XVI colaborou em um livro expressando que a Igreja Católica deve manter sua disciplina do celibato clerical, à luz do debate em andamento sobre o assunto, embora posteriormente tenha solicitado que seu nome fosse removido do livro como coautor.[171][172][173]
Em junho de 2020, Ratzinger viajou àBaviera, sua terra natal, para visitar o irmão Georg, que morreu no início do mês seguinte aos 96 anos. Depois de seu retorno ao Vaticano, seu biógrafo Peter Seewald revelou que o papa emérito estaria "gravemente doente" e que, aos 93 anos, estaria "bastante frágil e sua voz praticamente inaudível". Depois da renúncia em 2013, foi a primeira viagem de Ratzinger a outro país.[174]
Em 3 de agosto de 2020, seus assessores revelaram que ele tinha umainflamação do nervo trigêmeo.[175] Em 2 de dezembro do mesmo ano, o cardeal maltês Mario Grech anunciou aoVatican News que Bento XVI tinha dificuldade para falar e que havia dito aos novos cardeais após o consistório que "o Senhor tirou minha fala para me deixar apreciar o silêncio".[176]
Bento XVI se tornou o papa com idade mais avançada, em 4 de setembro de 2020, com 93 anos, quatro meses e 16 dias, ultrapassando a idade doPapa Leão XIII.[177][178] Em 29 de junho de 2021, celebrou o Jubileu de Platina (70º aniversário de sacerdócio).[179]
Após o consistório de 27 de agosto de 2022, Francisco e os cardeais recém-criados fizeram uma breve visita a Bento no mosteiro Mater Ecclesiae.[180]
Em 28 de dezembro de 2022, o papa Francisco disse ao final de sua audiência que Bento estava "muito doente" e pediu a Deus que "o confortasse e o apoiasse neste testemunho de amor à Igreja até o fim".[181] No mesmo dia,Matteo Bruni, o diretor daSala de Imprensa da Santa Sé, afirmou que "nas últimas horas houve um agravamento da saúde [de Bento] devido ao avanço da idade" e que Bento estava sob cuidados médicos. Bruni também afirmou que após a audiência de Francisco, este foi para o mosteiro Mater Ecclesiae onde Bento estava.[182][183]
Morreu na manhã do dia 31 de dezembro noVaticano, aos 95 anos de idade, devido a um choque cardiogénico, resultante de uma insuficiência respiratória que evoluiu a partir de uma insuficiência parenquimatosa.[184] "Com pesar, informo que o Papa Emérito, Bento XVI, faleceu hoje às 9h34 noMosteiro Mater Ecclesiae. Mais informações serão fornecidas assim que possível", anunciou o Vaticano em um comunicado.[185] Segundo um enfermeiro de turno, Joseph Ratzinger proferiu suas últimas palavras em italiano:"Senhor, eu te amo".[186]
Entre 2 e 4 de janeiro de 2023, o corpo de Bento foi velado na Basílica de São Pedro, durante o qual cerca de 200 mil pessoas prestaram suas homenagens.[187] Seu funeral aconteceu no dia 5 de janeiro na Praça de São Pedro às 9h30, presidido pelo Papa Francisco e celebrado pelo CardealGiovanni Battista Re.[188] Esta foi a primeira vez desde 1802 que um papa compareceu a um funeral de seu predecessor.[189] Estima-se que 100 mil pessoas compareceram ao funeral.[190] Alguns participantes seguravam cartazes com os dizeres ou gritavam "Santo subito", pedindo sua rápidacanonização, um grito ouvido anteriormente no funeral de João Paulo II.[191] Bento foi enterrado nacripta abaixo da Basílica de São Pedro, no mesmo túmulo originalmente ocupado por João Paulo II antes de sua beatificação em 2011.[190] A tumba foi aberta ao público em 8 de janeiro.[192] Seutestamento espiritual, datado de 29 de agosto de 2006 e divulgado pelo Vaticano no dia de sua morte, termina assim:[193][194]
Jesus Cristo é verdadeiramente o caminho, a verdade e a vida — e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é verdadeiramente o seu corpo. Concluindo, peço humildemente: orai por mim, de tal modo que o Senhor, apesar de todos os meus pecados e insuficiências, me receba nas moradas eternas. A todos aqueles que me são confiados, dia após dia dirijo de coração a minha prece.[193]
As publicações de Ratzinger alcançam os 600 títulos. Muitos são estudos de circulação restrita aos meios eclesiásticos. Várias de suas obras atingiram recordes de venda após a sua eleição como papa.[195][196]
↑Ostling, Richard N.; Moody, John; Morris, Nomi (6 de dezembro de 1993).«Keeper of the Straight and Narrow».Time. Consultado em 10 de julho de 2009. Arquivado dooriginal em 23 de agosto de 2012
↑«Really?». Commonweal. Consultado em 31 de dezembro de 2022
↑Fahlbusch, Erwin; Bromiley, Geoffrey William; Barrett, David B. (1999). «Evangelical Catholicity».The Encyclopedia of Christianity. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing.ISBN90-04-11695-8
"The man in charge of enforcing it for 20 years was Cardinal Joseph Ratzinger, the man made Pope last year. In 2001 he created the successor to the decree."
↑«Benedict XVI will be 'Pope emeritus'». The Vatican Today. Consultado em 28 de fevereiro de 2013. Arquivado dooriginal em 1 de março de 2013.Benedict XVI will be "Pontiff emeritus" or "Pope emeritus", as Fr. Federico Lombardi, S.J., director of the Holy See Press Office, reported in a press conference on the final days of the current pontificate. He will keep the name of "His Holiness, Benedict XVI" and will dress in a simple white cassock without the mozzetta (elbow-length cape).