Sua obra mais conhecida éImagined Communities - Reflections on the origin and spread of nationalism (em português,Comunidades Imaginadas - reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo), de1983, que explora as origens donacionalismo. A obra já foi traduzida para 21 idiomas, inclusive o português, sendo que sua última tradução brasileira (de Denise Bottman) é de 2008.[2] Estudioso doSudeste da Ásia, foi professor de Estudos Internacionais, Governo & Estudos Asiáticos daUniversidade Cornell, tornando-se, mais tarde, professor emérito da mesma universidade.[3]
Em consequência de sua participação na elaboração de um artigo intituladoPreliminary Analysis of the October 1, 1965, Coup in Indonesia, mais conhecido comoCornell Paper,[4] no qual era contestada a história oficial doMovimento de 30 de Setembro e dosexpurgosanticomunistas de 1965–1966, Anderson foi expulso daIndonésia, em 1972. Benedict Anderson era irmão do historiadorPerry Anderson.[3]
Graduou-se em Cambridge no ano de 1957, antes de ingressar na Universiade Cornell University, onde concentrou suas pesquisas na Indonésia e, em 1967, obteve o Ph.D. em estudos de governo.[5][6][3]
Para Anderson, aviolência que se seguiu àtentativa de golpe de setembro de 1965 e que levouSuharto a tomar o poder naIndonésia foi uma grande decepção. Ele disse "sentir-se como alguém que descobre que uma pessoa querida é uma assassina".[6] Ainda como estudante em Cornell, ele escreveu anonimamente, com Ruth T. McVey, um artigo que ficou conhecido como "Cornell Paper" e que desmentia a versão oficial do governo indonésio sobre o abortadogolpe de 30 de setembro e omassacre que se seguiu.[5][6] O "Cornell Paper" circulou amplamente entre os dissidentes indonésios.[6] Tendo sido uma das duas testemunhas estrangeiras dofarsesco julgamento do Secretário-Geral doPartido Comunista da Indonésia,Sudisman (1920 – 1968),[8] Anderson publicou, em 1971, uma versão traduzida do testemunho do réu.[9] Em consequência disso, Anderson foi expulso da Indonésia em 1972 e proibido de voltar ao país - restrição que se manteve até 1998, quando Suharto renunciou à presidência e foi substituído porB. J. Habibie.[5][6]
Benedict Anderson morreu durante o sono, no dia 13 de dezembro de 2015, vítima de umataque cardíaco,[10] dois dias depois de uma conferência sobre Anarquia e Socialismo. Segundo seu filho adotivo, Wahyu Yudistira, Benedict Anderson não sofria de qualquer doença.[1]
A noção desenvolvida por Anderson acerca denacionalidade vem, nos anos recentes, transformando-se em uma das ideias-força do pensamento contemporâneo. Tanto o desenvolvimento dasNações Unidas como os conflitos existentes e gerados pelas "subnações" e o fim dasdinastias europeias e asiáticas, em proveito de uma unificação estatal e linguística, são evidências de que onacionalismo é, certamente, reconhecido como uma moral hegemônica no mundo político atual.
Contudo, apesar da influência que o nacionalismo teve na sociedade contemporânea, Anderson acredita que suas origens conceituais são inadequadamente explicadas. Sua finalidade ao escreverComunidades Imaginadas é, então, fornecer um fundo histórico para o emergente nacionalismo e seu desenvolvimento, evolução e recepção.
A grande contribuição da obra está em discutir o surgimento do nacionalismo, não enquanto resultado da transformação histórica europeia, mas como contribuição original dos países colonizados e asiáticos, rompendo assim com as interpretaçõeseurocêntricas no estudo das nações.
Anderson define a nação como "(...) uma comunidade política imaginada - e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana" (2008, p. 32). Para ele, a nação seria:[6][11]
Imaginada porque seus membros nunca conhecerão todos os demais; na mente de cada indivíduo reside uma imagem da comunidade da qual participam. Ou seja, ainda que os limites de uma nação não existam empiricamente, seus indivíduos são capazes de criar e imaginar tais fronteiras, criando e imaginando seus membros.
Limitada porque a nação é limitada em suas fronteiras por outros territórios; Anderson critica a possibilidade de uma nação abranger toda humanidade, pois seria inviável para a consolidação de um sentimento nacionalista abarcar toda humanidade - uma vez que a nação é um critério de distinção entre grupos e comunidades.
Soberana porque o surgimento do nacionalismo, segundo Anderson, está relacionado ao declínio dos sistemas tradicionais de governabilidade (monarquia, naEuropa, ou administraçãocolonial naÁsia eAméricas) e à construção de uma nacionalidade baseada na identificação étnica, racial e/ou cultural. Esta identificação possuiria um projeto comunitário de união baseada nas diferenças de um povo para o outro A soberania nacional, deste modo, é um símbolo da liberdade frente às estruturas de dominação antigas - gerando novas estruturas de dominação, como a administração estatal, a divisão intelectual do trabalho (administradores, burocratas, professores universitários, etc.), o capitalismo editorial e o surgimento de práticas de controle estatal (censo para a população, mapas para o território e museus para a cultura legítima).
Comunidade porque uma nação é concebida enquanto estrutura horizontal na sociedade. Ou seja: é possível membros de diferentes classes sociais, em diferentes posições sociais, ocuparem um mesmo âmbito nacional e estarem vinculados por um projeto em comum.
Conceito apresentado por Anderson que visa investigar as relações entre o surgimento dos livros em línguas seculares e dos jornais ao surgimento do nacionalismo. Conceitualmente, o capitalismo editorial constitui-se na junção das possibilidades do capitalismo à tecnologia de imprensa, criando de modo incisivo uma homogeneidade na diversidade de línguas humanas. Essa homogeneidade é um indício de fronteiras linguísticas e cognitivas que viriam a consolidar-se enquanto alicerces para o surgimento da nação moderna.
Anderson assume as seguintes bases históricas para a concepção da nação imaginada:
Negação da existência de um texto sagrado que seja assumido como “a verdade”. Mudanças na religião propiciaram a crença de que o nacionalismo era uma solução secular para a questão da continuidade que era respondida, anteriormente, pelafé. O declínio da dominação da religião levou ainda ao declínio das linguagens sagradas. O crescimento das linguagens seculares no século XVI diminuiu a importância do latim como a única linguagem sagrada possível para s escrituras. Como consequência, as comunidades mais antigas perderam a confiança na sacralização de um determinado idioma (ver capitalismo editorial).
Fim da crença de que as sociedades eram naturalmente organizadas ao redor de um monarca central, legitimado por um poder divino (fim dos domínios dinásticos).
O desenvolvimento de uma ideia de que os fatos, ainda que ocorridos em locais diferentes, podem ligar as pessoas que neles estão envolvidas, criando assim uma consciência de compartilhamento temporal na medida em que tudo coexiste.
Assim como os acontecimentos históricos permitiram a consciência do nacionalismo, a imprensa-capitalista facilitou tal processo, ampliando o mercado de livros e criando uma infinidade de campos de comunicação. Este fato que permitiu a consciência da existência de outros povos, linguagens, etc.
Anderson define "estados-crioulos" (as colônias doNovo Mundo) como comunidades que foram formadas e guiadas por pessoas que compartilhavam o idioma local mas que, ao mesmo tempo, tinham ascendência aqueles contra os quais lutavam pela independência. Ele afirma ainda que esses “estado-crioulos” foram dos primeiros a desenvolverem uma noção de nacionalidade, antes mesmo que esta florescesse na Europa. Citando exemplos naAmérica do Norte e naAmérica do Sul, Anderson dá algumas possíveis explicações para isso: o comando severo daEspanha gerou muitos conflitos na chamadaAmérica Espanhola. Outra razão seria a popularidade dos jornais, que reportavam tanto notícias do Novo Mundo quanto do Velho Mundo. Assim, a contraposição entre “nós” e “eles” teria fomentado a referida consciência nacional.