Além disso, porque, por exemplo,A. africanus está mais intimamente relacionado, por exemplo, com os humanos, ou com os seus antepassados da época, do que, por exemplo,A. anamensis e muitos outros ramos do Australopithecus , o Australopithecus não pode ser consolidado num agrupamento coerente sem incluir também o género Homo e outros gêneros.[carece de fontes?]
O primeiro membro conhecido do gênero,A. anamensis, existiu naÁfrica oriental há cerca de 4,2 milhões de anos. Os fósseis de Australopithecus tornam-se mais amplamente dispersos por toda a África oriental emeridional (oA. bahrelghazali indica que o gênero era muito mais abrangente do que o registro fóssil sugere), antes de eventualmente se tornar pseudo-extinto há 1,9 milhão de anos (ou 1,2 a 0,6 milhão de anos atrás, caso se considere também oParanthropus). Embora nenhum dos grupos atribuídos diretamente a este grupo tenha sobrevivido, o Australopithecus deu origem a descendentes vivos, já que o gênero Homo emergiu de uma espécie de Australopithecus[6][9][10][11][12] em algum momento entre 3 e 2 milhões de anos atrás.[13]
O Australopithecus possuía dois dos três genes duplicados derivados doSRGAP2 há cerca de 3,4 e 2,4 milhões de anos (SRGAP2B eSRGAP2C), o segundo dos quais contribuiu para o aumento no número e na migração deneurônios no cérebro humano.[14][15] As alterações mais significativas na mão aparecem pela primeira vez no registro fóssil deA. afarensis posterior, cerca de 3 milhões de anos atrás (dedos encurtados em relação ao polegar e mudanças nas articulações entre odedo indicador e otrapézio e ocapitato).[16]
O volume craniano dosAustralopithecus varia entre as espécies conhecidas, de acordo com o período em que existiram. Em média, apresentavam cérebros com cerca de 35% do volume de um pertencente a um humano moderno,[17] sendo que algumas espécies mais antigas se aproximavam mais ao volume craniano dechimpanzés,[18] enquanto alguns espécimes mais tardios se aproximavam aos tamanhos observados emfósseis antigos do gêneroHomo.[19]
As espécies deAustralopithecus apresentam diferentes médias de tamanho, em geral eram pequenos com um notáveldimorfismo sexual relacionado ao tamanho corpóreo. OsA. africanus,[20] por exemplo, apresentavam uma média, entre os machos, de 138 cm de altura e uma massa corporal de 41 kg, enquanto as fêmeas apresentavam média de 30 kg e 115 cm de altura. OsA. afarensis, por sua vez, apresentavam proporções ligeiramente maiores, com machos possuindo, em média, 151 cm de altura.[17][21]
Devido ao seu tamanho e às proporções dos membros, uma comparação foi traçada entreAustralopithecus eBonobos.[22] Essa análise comparativa levou ao desenvolvimento de modelos para regulação térmica emAustralopithecus, levando pesquisadores a crer que esses indivíduos eram, diferentemente de nós humanos, revestidos por pelos.[23]
Outra característica importante desse grupo é obipedalismo bem desenvolvido, embora o surgimento desse caráter anteceda o surgimento dosAustralopithecus.[24]
Dieta e comportamento são características de difícil inferência quando se estuda espécies já extintas, uma vez que nossas fontes de dados, na maioria das vezes, resumem-se a ossadas nem sempre tão bem preservadas e, no caso doshominídeos, a fragmentos da cultura material que resistiram ao desgaste do tempo.[carece de fontes?]
No passado, acreditava-se que osAustralopithecine ocupavam o nicho ecológico de predadores, sendo consumidores ativos da carne obtida da caça ou da carniça eventualmente encontrada. Entretanto, tal visão mudou devido às novas evidências que apontam para o fato de que esses ancestrais podem ter sido, na verdade, muito mais caça do que caçador, apresentando, portanto, uma dieta mais parecida com a doschimpanzés, os quais se alimentam de carne apenas de forma oportunística, concentrando-se em recursos derivados de plantas.[25]
Informações acerca da dieta de espécies extintas, incluindo os primeiroshominídeos, podem ser retiradas de diferentes fontes que nos garantem uma diversidade relevante de informação. Dentre essas possíveis fontes, estão: extração de fitólitos de plantas docálculo dental (tártaro) dosfósseis, razões deisótopo de carbono estável, textura de micro desgaste dental, e morfologia da face e da boca.[25][26]
Estudos acerca das características morfológicas da boca e da dentição dosfósseis deAustralopithecus mostram que a maioria das espécies do gênero compartilham algumas características marcantes nessas estruturas. Algumas dessas características são:megadontia pós-canina extrema,incisivos ecaninos pequenos,pré-molares com raízes molarizadas,molares inferiores com cúspulas acessórias, esmalte molar espesso, emandíbula robusta.[27] Esses traços permitem a inferência de que a comida ingerida por essas espécies necessitava de um maior processamento através dos dentes, sendo provável, portanto, que elas ocupassem um nicho vegetariano composto por plantas mais duras e/ou resistentes.[25] Além disso, o pequeno tamanho dos caninos é mais uma evidência que corrobora a hipótese da baixa proporção de ingestão de carne.[carece de fontes?]
Uma das informações que osisótopos de carbono fornecem acerca dosfósseis é determinação da predominância de recursosC3 (árvores, arbustos, ervas, e pequenos animais que se se alimentam desse tipo de planta) ouC4 (maioria das gramíneas tropicais, juncos, e animais que se alimentam desse tipo de planta) na dieta do indivíduo analisado. Utilizando esse método, descobriu-se que os primeiroshominídeos, comoAustralopithecus,Paranthropus e os primeirosHomo, consumiam quantidades variáveis de alimentosC4, mas que essas quantidades eram, no geral, maiores do que as ingeridas por chimpanzés modernos, os quais consomem significativamente mais plantasC3 do queC4, mesmo quando estas estavam presentes em abundância. Isso indica que nesse quesito, provavelmente, esseshominídeos exploravam o ambiente de maneiras diferentes em comparação aosgrandes símios viventes.[25]
O primeiro fóssil descoberto que foi classificado dentro gênero foi em Taung, África do sul, 1925 por Raymon Dart.[31] Nas duas décadas seguintes, foram encontrados poucos espécimes, sendo que em 1950 todos eles (incluindo o encontrando em Taung), foram incluídos em um trabalho de Robert Broom, que apresentou a primeira tentativa de classificar taxonomicamente os mesmos. Apesar do trabalho apresentar problemas, foi apenas na década de 70 que houve descobertas significativas para contestar o trabalho de Bloom,[32][31] sendo elas importantes para a caracterização doA. afarensis. Outro aspecto que dificultava uma classificação sistemática mais precisa é o fato de que, na época dos achados, ainda não se adotava uma sistemática precisa baseada em filogenia, como se faz hoje.[33]
Locais onde foram descobertos fósseis de Australopithecus
Os fósseis desses indivíduos foram todos encontrados no continente Africano. Desde a primeira descoberta, em Taung, África do sul,[8] até uma das descobertas mais conhecidas da espécie (o fóssil chamado de “Lucy”, no Hadar, Tanzânia),[32] os fósseis foram localizados em países como Malawi, Etiópia, Quênia e Chade,[31] todos, portanto, pertencentes à África e bem dispersados pelo continente.[carece de fontes?]
Apesar dos esforços da comunidade científica, a classificação de Australopithecus continua confusa e não resolvida. Ainda que algumas características sejam compartilhadas, esse grupo não possui características únicas (sinapomorfias) suficientes para a formação de um grupo natural (monofilético). Sendo assim, o gêneroAustralopithecus é um grupoparafilético, sendo identificado por características adaptativas únicas entre outros grupos de hominídeos (como cérebros de tamanho reduzido)[31][34]
Embora sejam necessários mais estudos, a maioria dos pesquisadores concorda que algumas dessas espécies formariam o ancestral que provavelmente deu origem às espécies do gêneroHomo.[34]
Ao pensar em uso de ferramentas porhominíneos, é muito comum pensar empedra lascada, porém existe uma série de outros materiais que podem ser utilizados como ferramentas. Como exemplos atuais, osmacacos-prego utilizam pedras não lascadas para quebrar cocos e nozes, e oschimpanzés eorangotangos utilizam gravetos para retirar insetos de dentro do ninho. No entanto, essas ferramentas dificilmente se preservam noregistro fóssil, já quemateriais orgânicos se degradam rapidamente e com facilidade, e no caso da pedra, quando ela não é lascada, é difícil ter evidências de que foi utilizada como ferramenta. Sendo assim, não existe evidência de uso de ferramentas que não sejam depedra lascada pelosAustralopithecus, mas por comparação com espécies atuais deprimatas, essa possibilidade é perfeitamente plausível.[35]
Algumas espécies deAustralopithecus têm sido recentemente creditadas como responsáveis pela confecção deferramentas líticas, especialmente as mais antigas. O registro mais antigo de uso de ferramentas ocorreu em Dikika,Etiópia, onde foram encontrados ossos deungulados, datando cerca de 3,4 milhões de anos, que foram considerados evidência para o uso de ferramentas porA. afarensis, a única espécie dehominíneo que viveu no local nesse período. Esses ossos possuíam marcas que poderiam ter sido feitas por meio de pedras lascadas, enquanto um indivíduo cortava a carne do animal, porém essa evidência não é muito aceita pela comunidade científica.[36][37][38]
Já no caso deLomekwi, noQuênia, foram encontradas pedras propositalmente lascadas, datando de 3,3 milhões de anos. Não se sabe ao certo qualespécie confeccionou essas ferramentas, porém sabe-se que o gêneroHomo ainda não existia na época, sendo os australopitecíneos os prováveis responsáveis. O autor da descoberta reconhece a diferença entre essas ferramentas e as daIndústria Olduvaiense, propondo, então, o nome deIndústria Lomekwiense. Apesar de mais aceita que a primeira, essa evidência não é consenso no meio acadêmico, pois apesar de indiscutivelmente se tratarem de ferramentas confeccionadas propositalmente, há quem questione sua datação. Além disso, os registros são poucos, demonstrando que essa produção, se existia, era pequena e pouco frequente.[38][39][40][7]
É só a partir de 2,6 milhões de anos atrás, após 700 mil anos de ausência de confecção de ferramentas noregistro fóssil, que temos registros de uma produção sistemática e muito frequente de ferramentas de pedra lascada, por toda a extensão daÁfrica. Por muito tempo acreditou-se que os primeiros representantes do gêneroHomo (H. habilis) haviam sido os responsáveis pela primeira confecção dessas ferramentas, porém evidências recentes têm colocado osAustralopithecus como possíveis inventores dessa tecnologia, embora ainda hajam controvérsias.[38][7][41][42]
Essa tecnologia ficou conhecida comoIndústria Olduvaiense, e é caracterizada principalmente por simpleslascas, obtidas a partir do choque entre duas pedras, um percutor e um núcleo. O percutor é a pedra mais dura, que se mantém inteira durante o processo, enquanto o núcleo sofrefraturas conchoidais, formando lascas que são utilizadas principalmente para cortar carnes e outros alimentos. Essas lascas eram usadas “cruas” ou moldadas em outras ferramentas, de forma que, de acordo com o formato dos núcleos e das lascas processadas, as ferramentas encontradas podem ser classificadas em discóides, poliedros, esferóides, talhadores, furadores, dentre outros, variando em sua raridade. Acredita-se que a maior parte dessa variedade de formatos de núcleos seja apenas subproduto da produção de lascas, embora essas ferramentas de núcleo também tenham algumas utilidades.[42][43][44]
Existe muita variação no que concerne às ferramentasolduvaienses. Diferentes materiais e/ou formatos podem ser observados conforme analisamossítios arqueológicos de locais e/ou períodos diferentes. Os materiais mais comumente utilizados para a produção dessas ferramentas eramquartzito ebasalto, devido à maior facilidade que se tinha em retirar lascas rígidas e afiadas desses materiais.[44]
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