Augusto Leopoldo | |||||
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Príncipe do Brasil Príncipe de Saxe-Coburgo-Gota | |||||
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Dados pessoais | |||||
Nascimento | 6 de dezembro de1867 Petrópolis,Brasil | ||||
Morte | 11 de outubro de1922 (54 anos) Schladming,Áustria-Hungria | ||||
Sepultado em | St. Augustinkirche,Coburgo | ||||
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Esposa | Carolina da Áustria-Toscana | ||||
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Casa | Saxe-Coburgo e Bragança | ||||
Pai | Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota | ||||
Mãe | Leopoldina do Brasil | ||||
Religião | Catolicismo | ||||
Assinatura | ![]() | ||||
Brasão | ![]() |
Augusto Leopoldo de Saxe-Coburgo e Bragança (nome completo:Augusto Leopoldo Filipe Maria Miguel Gabriel Rafael Gonzaga;Petrópolis,6 de dezembro de1867 —Schladming,11 de outubro de1922), cognominado "o Príncipe Marinheiro", foi o segundo neto do imperadorPedro II do Brasil, filho da princesaLeopoldina e do príncipeLuís Augusto, Duque de Saxe. A falta de herdeiros por parte de sua tia, a princesa imperialIsabel, fez com que ele e seu irmão mais velho estivessem, durante alguns anos, entre osherdeiros presuntivos à coroa doImpério do Brasil. O príncipe ingressa comoaspirante naAcademia Naval aos quinze anos de idade, onde chegou ao posto desegundo tenente.[1] Após aqueda do império brasileiro, D. Augusto Leopoldo chegou a ser cogitado pelosmonarquistas para assumir o trono do Brasil, obtendo apoio dadiplomaciaaustríaca e especialmente do imperador alemãoGuilherme II; este último com as palavras: “Ficaria muito feliz. Ele é um personagem muito enérgico – um tanto libertino – e provavelmente fará um bom trabalho limpando os canalhas republicanos.”.[2]
Seus descendentes formam atualmente o chamadoramo de Saxe-Coburgo e Bragança daCasa Imperial do Brasil.
Dom Augusto foi o segundo filho da princesa DonaLeopoldina do Brasil, e do príncipeLuís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.[3] Seus avós maternos foram o imperador DomPedro II do Brasil e DonaTeresa Cristina das Duas Sicílias e seus avós paternos foram o príncipeAugusto de Saxe-Coburgo-Gota e a princesaClementina de Orléans (filha do reiLuís Filipe I de França)[4][5]
A aparente esterilidade daprincesa imperial DonaIsabel - que só viria a ter seu primeiro filho após onze anos de casamento - obrigou os pais de Augusto a assinarem um contrato onde se comprometiam a residir parte do ano no Brasil e, caso dona Leopoldina engravidasse antes da irmã, que seus filhos nascessem em território brasileiro.[6][7] Após umaborto espontâneo sofrido em 2 de maio de 1865,[8] Dona Leopoldina dá à luz o primeiro neto de dom Pedro II em 19 de março de 1866, o príncipe DomPedro Augusto.[9][10]
Poucas semanas após o nascimento do primogênito, o jovem casal parte em viagem para àEuropa, onde a princesa engravida novamente.[11] De volta ao Brasil em setembro de 1867, Dona Leopoldina dá à luz a Dom Augusto Leopoldo em 6 de dezembro, emPetrópolis.[12] Seu nascimento foi anunciado pelo imperador à nação naFala do Trono de 9 de maio de 1868:
De volta à Europa, Dona Leopoldina dava notícias de seu caçula à irmã:
O príncipe, entretanto, pouco conviveu com sua mãe, que morreu em 7 de fevereiro de 1871, quando Augusto contava pouco mais de três anos.[17] Seu pai decide fixar-se definitivamente naÁustria, onde seus filhos ficaram aos cuidados da avó paterna.[18] Dona Isabel ainda não tivera nenhum filho à época da morte da irmã e a falta de herdeiros já causava preocupação entre os brasileiros. Em carta datada de 4 de março de 1871, oembaixador brasileiro emViena,Francisco Adolfo de Varnhagen (futuro visconde de Porto Seguro), dizia ao imperador:
Em sua primeira viagem à Europa, ainda em 1871, dom Pedro II decide trazer os netos ao Brasil, para criá-los como eventuais herdeiros do trono.[20] Um conselho familiar decidiu que os dois filhos mais velhos de dona Leopoldina ficariam aos cuidados dos avós maternos, sendo criados e educados no Brasil.[20] Assim, em 1 de abril de 1872, dom Pedro Augusto e dom Augusto Leopoldo, acompanhados do casal imperial, desembarcaram noRio de Janeiro, onde foram recebidos com grande entusiasmo.[21]
A readaptação à pátria natal foi difícil para os irmãos. Acostumados ao luxo dos palácios de Viena e daEstíria, passaram a viver no modesto e antiquadoPalácio de São Cristóvão, onde pouco brincavam devido à rígida rotina de estudos imposta pelo avô.[22] Tiveram como preceptor o entãoreitor doExternato Dom Pedro II,Manuel Pacheco da Silva (futuro barão de Pacheco),[23] e passavam os dias treinando montaria e estudando clássicos franceses, retórica, história, geografia, línguas e música.[22]
Apesar de seu irmão mais velho gozar dostatus de neto predileto de dom Pedro II, pela afinidade de ambos pelos estudos, outros cronistas registraram que o temperamento de Augusto, completamente oposto ao do avô, é que o tornava o preferido do monarca.[24]
Tendo herdado do pai e do avô paterno o gosto pelaMarinha de Guerra, ingressa comoaspirante naAcademia Naval em dezembro de 1882, aos quinze anos de idade.[25] Com um currículo escolar descrito como brilhante, Augusto forma-seguarda-marinha em 1886.[25]
NaArmada Imperial Brasileira, dom Augusto chegou ao posto desegundo tenente (equivalente, hoje, aprimeiro-tenente), servindo a bordo daCorvetaNiterói, doCouraçado Riachuelo e doCruzador Almirante Barroso, além de exercer o cargo deajudante de ordens doalmiranteEduardo Wandenkolk.[25]
Em15 de novembro de1889, o príncipe encontrava-se nooriente, a bordo doAlmirante Barroso - que realizava sua primeira viagem decircum-navegação[nota 1] — quando umgolpe de Estado pôs fim ao regime monárquico no Brasil.[26] As dificuldades de comunicação impediram que a tripulação tomasse conhecimento do ocorrido antes de dezembro.[26] Telegramas do almirante Wandenkolk — agoraMinistro da Marinha do governo provisório - instruíam o comandante do cruzador a substituir as insígnias imperiais das bandeiras e a induzir dom Augusto a pedir demissão.[26] Após consultar seu avô e seu tio, oconde d'Eu, o príncipe decide não se demitir, mas solicitar uma licença de dois meses.[26][nota 2] Em telegrama, o ministro responde à solicitação:
Dom Augusto desembarcou emColombo, noCeilão, onde a tripulação lhe ofereceu um jantar de despedida. Emocionado, o príncipe distribuiu seus pertences entre os companheiros.[27]
Após alguns meses, uniu-se à família e permaneceu com dom Pedro II até a morte deste, em5 de dezembro de1891. Depois disso, fixou-se em Viena, onde conseguiu, por intermédio de seu pai, permissão especial do imperadorFrancisco José I para incorporar-se à Marinha Austro-Húngara.[28][29] Tendo realizado os exames de ingresso, dom Augusto foi admitido nareserva naval austríaca sem prejuízo de sua condição de cidadão brasileiro, conforme explicou em carta datada de 6 de maio de 1893 aobarão de Estrela, seu procurador no Brasil:
A serviço da Marinha Austríaca (onde alcançaria a patente deKapitän zur See, equivalente acapitão-de-mar-e-guerra[30]), dom Augusto teve oportunidade de visitar outros países, onde continuou a ser recebido com a deferência reservada aos membros de casas reinantes. Em 1897, a bordo do encouraçado guarda-costasWien, visitou Portugal, onde foi recebido pelo reidom Carlos I, eInglaterra, onde foi recebido mais de uma vez pelarainha Vitória.[28]
Com o agravamento dos problemas psiquiátricos de seu irmão, o príncipe chegou a ser cogitado pelos monarquistas brasileiros para assumir o trono do Brasil durante os planos frustrados de restauração do regime.[31][nota 3]
Dom Augusto casou-se emViena, noPalácio Imperial de Hofburg, em 30 de maio de 1894, com aarquiduquesa,Carolina Maria de Áustria-Toscana, filha do arquiduqueCarlos Salvador da Áustria-Toscana e da princesaMaria Imaculada das Duas Sicílias.[27] A cerimônia foi oficiada porAnton Josef Gruscha,cardeal-arcebispo de Viena, e contou com a presença do imperadorFrancisco José I da Áustria, da imperatrizIsabel (a famosaSissi) e de outros príncipes e soberanos.[27] Foram padrinhos do casal o reiFrancisco II das Duas Sicílias e o grão-duqueFernando IV da Toscana.[27] Tiveram oito filhos:[28][32]
Imagem | Nome | Nascimento | Morte | Notas |
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![]() | Augusto | 1895 | 1909 | Morreu com 13 anos. |
![]() | Clementina | 1897 | 1975 | Casou-se com Eduard von Heller, com descendência. |
![]() | Maria Carolina | 1899 | 1941 | Vivia em uma clínica psiquiátrica em Schladming, de onde foi levada para ocampo de concentração deHartheim, naÁustria. A princesa e os demais pacientes foram executados em câmaras de gás, vítimas doAktion T4, programa deeugenia eeutanásia obrigatória daAlemanha nazista. |
Rainer | 1900 | 1945 | Casou-se com Joana Karolyi de Karolyi-Patt (1°) e com Edite de Kozol (2°), com descendência. Supostamente morto em combate emBudapeste, durante aSegunda Guerra Mundial. | |
![]() | Filipe | 1901 | 1985 | Casou-se morganaticamente com Sara Halász, com descendência, sendo excluído da lista de sucessão da Casa de Saxe-Coburgo-Koháry em1944. |
![]() | Teresa | 1902 | 1990 | Manteve a nacionalidade brasileira e chefiou (após a morte de seu tio,dom Pedro Augusto) o chamadoRamo de Saxe-Coburgo e Bragança, de pretendentes ao trono doImpério do Brasil. Casou-se com Lamoral Taxis,Freiherr de Bordogna e Valnigra, com descendência. |
![]() | Leopoldina | 1905 | 1978 | Não se casou. |
![]() | Ernesto | 1907 | 1978 | Casou-se morganaticamente com Irmagard Röll, sem descendência, sendo excluído da lista de sucessão da Casa de Saxe-Coburgo-Koháry. |
Seguindo as tradições daDinastia de Bragança, todos os seus filhos receberam, no batismo, os nomesMiguel Gabriel Rafael Gonzaga.[28] Esta decisão foi expressa pela primeira vez em carta aobarão de Estrela, quando Augusto anunciou o nascimento de seu primogênito:
"Eu lhe dei antes de ter recebido sua carta a grande e feliz notícia de que eu era pai de um filho, o qual vai muito bem e foi batizado a 30 do passado. Os nomes são Augusto Clemente Carlos Maria José Gabriel Rafael Gonzaga. Dei-lhe esses três últimos nomes, porque são os da família de Bragança, e como desejo que ele também mais tarde use do nome de Bragança como eu, eis porque ele os tem."[28]
Em seus últimos anos, Dom Augusto desenvolveu o gosto típico de seus familiares paternos pelas coleções, passando a coletar trabalhos feitos em marfim.[28] Não chegou realmente a se acostumar com a vida na Europa e mantinha estreito relacionamento com outros brasileiros.[28] O CasteloGerasdorf, sua residência nos arredores de Viena, era decorado com objetos e fotos do Brasil.[28]
A revogação daLei do Banimento, que impedia o desembarque de qualquer membro daFamília imperial no Brasil, trouxe ao príncipe imensa alegria e a esperança de rever a terra natal.[33] Preparava-se para retornar ao país com toda a família para as comemorações pelo centenário daIndependência do Brasil, em 1922, mas adoeceu seriamente e não pode realizar a sonhada viagem.[33]
Dom Augusto Leopoldo morreu emSchladming, naEstíria, em11 de outubro de1922, aos 54 anos de idade. Seu corpo foi sepultado na cripta daSt. Augustinkirche, emCoburgo.[30][34]