Ativismo pode ser compreendido como a prática de sustentar ideais ou causas por meio de ações concretas, priorizando a transformação social em lugar de uma postura apenas reflexiva ou teórica (AO45)[1] Nesse sentido, abrange estratégias voltadas a influenciar a condução depolíticas públicas ou corporativas em áreas específicas, em contraste com condutas mais restritas ao âmbito privado e cotidiano.[1]
Historicamente, tal engajamento foi associado a iniciativas externas ao Estado, nas quais movimentos sociais eorganizações da sociedade civil atuam para incidir sobre decisões políticas, recorrendo tanto a formas de pressão direta quanto a canais institucionais de negociação.[2][3]
Usualmente, ativismo pode ser entendido como militância ou ação continuada com vistas a uma mudançasocial oupolítica, privilegiando aação direta, através de meios pacíficos ou violentos, que incluem tanto a defesa, propagação e manifestação pública de ideias até a afronta aberta à Lei, chegando inclusive à prática deterrorismo.
Os termos "ativismo" e "ativista" foram usados pela primeira vez, com conotações políticas, pela imprensabelga, em1916, referindo-se aoMovimento Flamingant.[4]
Dentro doenquadramento legal eeleitoral dasdemocraciasrepresentativas, toma, habitualmente, a forma de atividade político-social - remessa decartas, organização ou participação em reuniões, emissão de textos, entrevistas à imprensa e a dirigentes políticos em prol da postura de preferência; promover ou simplesmente seguir certos comportamentos que estão delineados ou que se estima que contribuam para a causa — tal como oboicote de certos produtos de consumo (ou a recomendação de outros), nas compras individuais ou de grupo; ou ainda a realização de manifestações públicas organizadas, tais como marchas, recrutamento de simpatizantes, coletas deassinaturas em apoio a manifestos favoráveis à causa ou contra algo que prejudique a causa.
Alguns grupos e organizações participam do ativismo a tal ponto que podem ser considerados umaindústria. Nesses casos, o ativismo geralmente é feito em tempo integral, como parte docore business de uma organização. Muitas organizações na indústria do ativismo sãoorganizações sem fins lucrativos ouorganizações não governamentais com metas e objetivos específicos em mente. A maioria das organizações ativistas não fabrica bens, mas mobiliza pessoal para recrutar fundos e obter cobertura da mídia.[5][6]
O termoindústria do ativismo tem sido frequentemente usado para se referir a operações terceirizadas de arrecadação de fundos. No entanto, as organizações ativistas também se envolvem em outras atividades. Olobby, ou a influência das decisões tomadas pelo governo, é outra tática ativista. Muitos grupos, incluindo escritórios de advocacia, designaram funcionários designados especificamente para fins de lobby.[5][6]
O ativismo social, que em determinado momento foi o motor de diversas formas de organização popular e experiências coletivas, passou por um processo de enfraquecimento ao longo do tempo. Esse declínio pode ser compreendido a partir de três dimensões principais.[7] A primeira está ligada à reabertura democrática, quando a arena institucional voltou a atrair a atenção e incorporou, em parte, as demandas vindas da base social, levando algunsmovimentos a se transformarem em atores diretamente vinculados aosistema político, que a literatura pode chamar de “institucionalização posicional”[8]; quando esse ativismo se dá dentro da estrutura do Estado, é chamado de “ativismo institucional”, “ativismo burocrático” ou ativismo interno/inside activism.[9][10]
A segunda dimensão, ao contrário da anterior, refere-se ao esgotamento das forças militantes que, sem alcançar níveis suficientes deinstitucionalização, não conseguiram sustentar a intensidade de sua ação. Por fim, observa-se ainda o caminho oposto: grupos que conquistaram reconhecimento e acabaram absorvidos por lógicas corporativas, o que reduziu sua capacidade de mobilização e resultou em formas de cooptação.[7]
↑abMCFARLANE, B; HUNT, L. Environmental activism in the forest sector: Social psychological, social- cultural, and contextual effects, Environment and Behavior, 38, pp. 266–285. 2006
↑CARTER, N. The Politics of the Environment. Ideas, Activism, Policy, 2nd edn (Cambridge, Cambridge University Press). 2007
↑ROOTES, C. The transformation of environmental activism: An introduction, in: C. Rootes (Ed.) Environmental Protest in Western Europe, pp. 1–19. Oxford, Oxford University Press. 2007
↑abLAVALLE, Adrián Gurza; CASTELLO, Graziela Luz; BICHIR, Renata Mirándola. Artigo: Quando novos atores saem de cena. Continuidades e mudanças na centralidade dos movimentos sociais.Política & Sociedade, v. 3, n. 5, p. 37-55, 2004.
↑LAVALLE, Adrian Gurza; SZWAKO, José. Social movements and modes of institutionalization. In:The Oxford Handbook of Latin American Social Movements. Oxford University Press, 2023. p. 777-794.
↑ABERS, Rebecca Neaera.Ativismo institucional: criatividade e luta na burocracia brasileira. Editora UnB, 2021.
↑OLSSON, J.; HYSING, E. Theorizing inside activism: Understanding policymaking and policy change from below.Planning Theory & Practice.13 (2): 257-273. 2012doi:10.1080/14649357.2012.677123