Nota: Para outros significados, veja
Arranjo.
Arranjo, emmúsica, é a preparação de umacomposição musical para a execução por um grupo específico devozes ouinstrumentos musicais. Isso consiste basicamente em reescrever o material preexistente para que fique em forma diferente das execuções anteriores ou para tornar a música mais atraente para o público e usar técnicas derítmica,harmonia econtraponto para reorganizar a estrutura da peça de acordo com os recursos disponíveis, tais como a instrumentação e a habilidade dosmúsicos. O arranjo pode ser uma expansão, quando uma música para poucos instrumentos será executada por um grupo musical maior como umaorquestra ougrupo coral. Pode também ser umaredução, como quando uma música para orquestra é reduzida para ser tocada por um conjunto menor ou mesmo por um instrumento solista.
O músico responsável por esta atividade é chamadoarranjador. Muitoscompositores fazem os arranjos de suas próprias canções, mas em muitos casos, o arranjador é um músico especializado e experiente. Atualmente as atividades do arranjador muitas vezes se confundem com as doprodutor musical.[1]
Alguns acreditam que arranjo pode ser entendido como uma transformação feita em uma música de modo a torná-la mais agradável e bela. Esta opinião não é compartilhada por todos os músicos, uma vez que um arranjo pode ser feito com diversos objetivos estéticos e os conceitos de belo ou agradável não podem ser objetivamente definidos. Em alguns casos, o arranjo pode ser usado para deliberadamente criar um contraste, não necessariamente mais belo, com a versão original. Em outros casos, como nastrilhas sonoras de alguns filmes, é comum a utilização da música para criar desconforto na audiência, em cenas de suspense ou terror, entre outras.
Para fazer um bom arranjo é necessário um grande conhecimento musical, pois esta atividade engloba muitos elementos diferentes. Antes de iniciar o arranjo, o músico deve planejar seu trabalho e conhecer bem seus objetivos e os recursos disponíveis. Em muitos casos o arranjo inclui a mudança noestilo da música. É possível, por exemplo, transformar umsamba em umrock ou uma peça composta para uma voz solista pode ser cantada por um coral. Cada estilo musical possui um conjunto característico e reconhecível de elementos. Por exemplo, noJazz é comum o uso dedissonâncias, quartas e sextas paralelas, mas em outros estilos, estesintervalos produziriam resultados indesejáveis. Para alcançar os objetivos de um bom arranjo, o músico deve dominar os aspectos descritos a seguir:
- Criação da base rítmica, contracantos e linhas de baixo. Baixo aqui se refere ao acompanhamento harmônico de base, que pode ser executado por vários instrumentos comopiano ouinstrumentos de sopro, além dobaixo propriamente dito. De forma semelhante, a seção rítmica pode conter além dosinstrumentos de percussão, outros instrumentos com função rítmica, comoguitarras e piano. A criação da base rítmica deve utilizar amétrica e variações de ritmo, tais como asíncope, que caracterizam cada estilo;
- Instrumentação. Um arranjo para voz eviolão é muito diferente de um arranjo para orquestra. O resultado obtido por cada formação é muito diferente e o arranjador deve conhecer e valorizar as virtudes de cada instrumento. Isso inclui o conhecimento do timbre e da extensão de cada instrumento e a utilização dessas qualidades na linguagem de cada estilo. Por exemplo, uma seção de metais é utilizada de forma muito diferente em um arranjolatino como umasalsa ou em umavalsa;
- Estilo,dinâmica, variações deandamento,expressão e outras instruções para os executantes;
- Estruturação da peça, incluindo a criação de seções de introdução, interlúdio ecoda e repetições das seções principais e refrões, quando existentes. O arranjo também pode incluir o planejamento de momentos específicos na música para a improvisação instrumental ou vocal;
- Documentação do trabalho através departituras ou outros métodos denotação musical.
Em geral o compositor popular escrevecanções com umamelodia básica e o acompanhamento rítmico/harmônico de um único instrumento (em geral piano ou violão). O trabalho do arranjador consiste em expandir a música para um conjunto mais abrangente, prover as partes complementares, como as linhas de baixo e ritmos, acrescentar solos e contracantos e preparar a música para a instrumentação desejada. É comum, por exemplo, que um grupo musical possua arranjos diferentes da mesma canção para gravação, execução ao vivo emteatros ou execução em grandes espaços, como estádios. Atualmente também se tornaram muito comuns as execuções de música popular com instrumentação acústica ou com acompanhamento orquestral.
Em gêneros em que a improvisação é mais comum, como o jazz ou ochoro, o arranjo fornece a estrutura temática e harmônica básica, deixando espaço para seções de improvisação. Como o jazz é um gênero em que as contribuições do executante são valorizadas, o arranjador também pode acrescentar material original ou citações de outras músicas, fazendo com que cada execução da mesma canção se torne um trabalho de múltiplos autores.
Com o progresso dos equipamentos degravação e reprodução sonora, o conceito de arranjo também evoluiu. O arranjador pode acumular o papel deprodutor musical e engenheiro de som e trabalhar na gravação das canções de umálbum ou na definição da forma que uma música terá em uma execução ao vivo. Em outros casos o arranjo não é formalizado ou escrito. Em bandas de música popular é comum a criação coletiva do arranjo, cada músico contribuindo com as partes de seu próprio instrumento.
Na música erudita tradicional o arranjo é menos flexível. O arranjo envolve as mudanças de instrumentação - o que inclui a transposição das notas (se o instrumento for de transposição, como o trompete em Si bemol, por exemplo, versus um Corne inglês em Fa) e a adaptação da tessitura de cada instrumento tocado, assim como também a instrução na partitura quanto a técnica para se tocar a obra em questão. Isso não significa que o arranjador erudito tenha um trabalho mais fácil, pois preservar as características da composição original em uma nova instrumentação exige um grande conhecimento da técnica e da extensão de cada instrumento. Uma das formas mais comuns de arranjo erudito é a redução da instrumentação. Peças compostas para orquestra podem ser reduzidas para a execução porgrupos de câmara. Concertos para orquestra e instrumento solista podem ter todo o acompanhamento orquestral reduzido para piano solo, geralmente para fins de estudo.
As melodias usadas noscorais doperíodo Barroco, como também nosprelúdios corais, por exemplo, são arranjos elaborados doscantos gregorianos.Johann Sebastian Bach é conhecido internacionalmente como um dos maiores arranjadores naHistória da Música. Ele recebe justos créditos como compositor, mas Bach utilizou temas melódicos populares e hinos usados na Igreja, durante os ofícios do períodomedieval para suas obras. Bach também usou concertos escritos por ele próprio para arranjá-lo para outros instrumentos, como no caso do Concerto para Oboé e Violino em ré menor, transformado no Concerto para doispianos em dó menor, que nada mais é do que um arranjo musical aonde Bach transpõe a melodia de cada instrumento, arranjando para o outro novo concerto - ambos são classificados BWV 1060. Isto foi, por muitos anos, algo muito praticado, visto que os compositores tinham a necessidade de compor muito rapidamente e, por falta de tempo, frequentemente não usavam temas originais, mas sim temas preexistentes para transformá-los numa nova obra - que não passava de um arranjo musical. A famosaÁria da quarta Corda da Suite número 3 de Bach, BWV1068, é também um Concerto para Flauta e orquestra de Bach. Bach também usou pelo menos um tema deVivaldi, assim comoVilla-Lobos eStravinsky usaram temas de Bach para arranjá-los em novas obras, expandindo o tema melódico preexistente.Franz Liszt também fez muitos arranjos, assim comoWolfgang Amadeus Mozart,Franz Schubert,Frédéric Chopin e muitos outros.
No sentido oposto, peças compostas para conjuntos de câmara, instrumento solo ou cantoa capella podem ser expandidos para serem executados por grandes orquestras e corais. Alguns compositores eruditos ficaram bastante conhecidos por sua habilidade deorquestração e muitas vezes as composições se tornam muito mais conhecidas após receberem deles novos arranjos. Um exemplo muito conhecido desse tipo de intervenção é a composiçãoOs quadros de uma exposição, deModest Mussorgsky, uma suíte de pequenas peças originalmente escritas para piano solo, mas que são muito mais executadas em seu arranjo orquestral, feito porMaurice Ravel.
Outra forma de arranjo erudito é a criação deSuítes: Conjuntos de peças instrumentais ou canções extraídas de uma ópera, balé ou música cênica, para a execução em concerto. Neste caso, além da seleção dos trechos mais significativos da obra também são removidas seções demúsica incidental,recitativos e outros elementos que não teriam interesse durante um concerto.
Também é bastante comum que os compositores eruditos utilizem temas populares ou folclóricos e os apresentem com "roupagem" erudita. Esta prática teve grande expressão no "nacionalismo", movimento típico do final doperíodo romântico e domodernismo.
Notas e referências
- Guest, Ian.Arranjo - Método prático (3 volumes), 1996. Rio de Janeiro, Ed. LumiarISBN 85-85426-31-4
- Michaels, Mark.The Billboard Book of Rock ArrangingISBN 0823075370.
- Garcia, Russ.The Professional Arranger Composer
- Russo, Bill.Composing for the Jazz Orchestra