Usando informações astronómicas, a mitologia e aprecessão dos equinócios, o cientista inglêsIsaac Newton calculou a data do início da expedição como sendo o ano939 a.C.: 2645 anos antes do início do ano 1690.[1] ou 2627 anos antes.[2][3] Já o padre e apologista cristãoJerônimo de Estridão (347-420) estima que a viagem ocorre por volta do ano 1270.[4]
A saga dos argonautas descreve a perigosa expedição rumo aCólquida em busca do Velocino de Ouro. Conta o mito queÉson havia sido destronado porPélias, seu meio irmão. Seu filhoJasão, exilado naTessália aos cuidados docentauroQuíron, retornou ao atingir a maioridade para reclamar ao trono que por direito lhe pertencia.Pélias então, que tencionava livrar-se do intruso, resolveu enviá-lo em busca do Velocino de Ouro, tarefa muito arriscada. Um arauto foi enviado por toda aGrécia a fim de agregarheróis que estivessem dispostos a participar da difícil empreitada. Dessa forma, aproximadamente cinquenta jovens se apresentaram, todos eles heróis de grande renome e valor. Cada um deles desempenhou na expedição uma função específica, de acordo com suas habilidades.
AOrfeu, por exemplo, que tinha o dom da música, coube a tarefa de cadenciar o trabalho dos remadores e de, principalmente, sobrepujar com sua voz, o canto das sereias que seduziam os navegantes.Argos, filho deFrixo, construiu o navio e por isso, em sua homenagem, a embarcação recebeu seu nome.[5]Tífis, discípulo deAtena na arte da navegação, foi designadopiloto. Morto naBitínia, foi substituído porErgino, filho dePosídon.Castor e Pólux, gêmeos filhos deZeus eLeda, atraíram a proteção do pai durante a tempestade que a nau foi obrigada a enfrentar. Destacavam-se ainda entre os heróis:Admeto, filho do reiFeres;Ídmon eAnfiarau, célebres adivinhos;Teseu, considerado o maior herói grego;Hércules que não completou a expedição;Etálides, filho deHermes que atuou como arauto; os irmãosIdas,Linceu, eJasão, chefe e comandante da expedição.
Em sua primeira escala, aportaram nailha deLemnos, habitada somente por mulheres. É queAfrodite, insultada por estas que lhe negavam culto, castigou-as com um cheiro insuportável de forma que seus maridos partiam em busca das escravas daTrácia. Movidas pelo ódio e pelo despeito, assassinaram seus esposos instalando na ilha uma espécie de república feminina, situação que perdurou até a chegada dos argonautas, que então lhes deram filhos.
Na ilha deSamotrácia, segunda escala do grupo se iniciaram nos mistérios dosCabiros com o intuito de obter proteção contra naufrágios. A seguir, penetrando noHelesponto, mar onde caiu e morreu a jovemHeles, ancoraram napenínsula daPropôntida, no país dosdoliones, povo governado pelo reiCízico. Foram ali recebidos com festas e honrarias e já se fazia noite quando os argonautas partiram paraMísia. Porém, foram obrigados a retornar devido a uma grande tempestade que se abateu sobre eles. Osdoliones não reconheceram os argonautas por causa da escuridão da noite e, pensando tratar-se de invasores, atacaram. Instalou-se uma sangrenta batalha que se estendeu por toda a noite. Com o amanhecer, os vitoriosos tripulantes de Argo verificaram o triste engano. Jazia entre os mortos o reiCízico, que foi enterrado porJasão e seus companheiros com homenagens e magníficos funerais.
Foi naMísia queHéracles interrompeu sua viagem. É queHilas, seu amigo predileto, tendo sido encarregado de buscar água numa fonte, foi capturado pelasninfas que o arrastaram para as profundezas dos rios. Héracles voltava do bosque onde tinha ido buscar madeira para refazer seu remo partido quando tomou conhecimento de seu desaparecimento através dePolifemo, que tinha ouvido seus gritos de socorro. Saíram então os dois em busca do amigo varando a floresta durante a noite. Pela manhã,Argo partiu com menos três tripulantes a bordo, pois os dois também não retornaram: Polifemo fundou posteriormente naquelas terras a cidade deCio, onde se fez rei e Héracles seguiu seu rumo de aventuras.
Estranho hábito tinha o reiÂmico ao receber os visitantes que chegavam por suas terras. O rei dosbébricios, gigante filho dePosídon, os desafiava para a luta e em seguida os matava a socos. Lá chegando, os argonautas foram imediatamente provocados pelo rei que os instigava. FoiPólux quem representou seus companheiros, aceitando o embate. Ao final da luta, venceu o gigante e como castigo fê-lo prometer que jamais importunaria novamente os estrangeiros que ali chegassem.
A expedição seguiu seu rumo e aportou naTrácia, onde reinavaFineu, o adivinho, que por suas crueldades tinha obtido a cegueira como castigo dos deuses. Vivia atormentado pelasharpias, monstros alados que perseguiam-no e roubavam todo seu alimento e por isso ofereceu ajuda aos argonautas caso estes concordassem em livrá-lo de tão grande desgraça.Calais eZetes, filhos alados do vento Norte,Bóreas, foram os responsáveis por tal façanha. Atraíram as harpias com o odor delicioso de lauto banquete e depois, com suas espadas fatais cortando os ares, expulsaram dali definitivamente as perversas criaturas.
Conforme o combinado,Fineu revelou aos argonautas a maneira de evitar o perigo das Rochas Flutuantes. AsCiâneas ou Rochedos Azuis, também chamadas deSindrômades ouSimplégades, eram dois recifes que se fechavam violentamente, esmagando qualquer coisa que entre eles se interpusesse. Disse-lhes que antes de por ali se aventurar, enviassem uma pomba. Se esta lograsse atravessar os rochedos, este seria o sinal de sucesso também para os marinheiros. O pássaro conseguiu atravessar asSimplégades, muito embora, ao se fecharem, asCiâneas cortaram as pontas de suas penas maiores. Igual sorte teveArgo, que conseguiu ultrapassar o obstáculo com apenas uma leve avaria na popa. Ao passarem pelas terras dosmariandinos, os argonautas sofreram ainda duas perdas:Tifis, o piloto, eÍdmon, o adivinho, morto por um javali durante uma caçada.
Chegaram enfim àCólquida, reino deEetes, onde cabia aJasão a tarefa mais árdua: capturar oVelo de Ouro.Medeia, filha do rei e conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria, apaixonou-se perdidamente pelo chefe da expedição e por isso, não mediu esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o rei impôs como condição para entregar-lhe o talismã.
Jasão tirou proveito dos feitiços e encantamentos da feiticeira e sem esforço partiu da Cólquida levando consigo o Velo de Ouro. Os argonautas ainda passaram por alguns percalços[6] mas enfim chegaram a seu destino final onde entregaram aPélias o velocino. Jasão partiu paraCorinto, onde consagrou a embarcação ao deusPosídon.
Jerônimo de Estridão, ao compor uma tabela com a cronologia daBíblia, damitologia grega e dos documentos históricos disponíveis à sua época (oChronicon), critica alguns dados relativos à história dos argonautas, por causa de incoerências cronológicas:Estas coisas aconteceram, que são ditas a respeito da Esfinge, de Édipo, e dos argonautas, dentre os quais estavam Héracles, Castor e Pólux. Entretanto, se Castor e Pólux eram argonautas, então como é possível crer que Helena fosse sua irmã, já que vários anos depois ela foi levada por Teseu, sendo virgem? (...)[7]
A lenda foi relatada porApolónio de Rodes, em seu poema épicoA Argonáutica (ouOs Argonautas - c. 250 a.C.), cuja tradução em português diretamente dogrego foi feita porJosé Maria da Costa e Silva, em 1852.
Na literatura brasileira os argonautas estão representados no livro de Anna FloraA República dos Argonautas. Lá, os heróis gregos também partem para uma grande viagem em busca do velo de ouro com muita coragem e fé. Ao longo do livro os Argonautas são representados de uma forma metafórica, representando pessoas que vão em busca de seus ideais, não desistem e muito menos tem medo, sempre andando de cabeça erguida.