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Antigo Egito

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Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado deAntigo Egipto)
 Nota: Para outros significados, vejaEgito (desambiguação).
Antigo Egito
3 100 a.C.30 a.C. 

O Antigo Egito em sua extensão máxima durante o período conhecido comoImpério Novo, por volta de1 450 a.C.[1]

Esfinge com apirâmide deQuéfren naNecrópole de Gizé (ou Guiza), o complexo de monumentos mais emblemático do Antigo Egito
RegiãoÁfricaOriente Próximo
Capitais

AlexandriaAquetatomÁvarisBubástisHeracleópolis MagnaHieracômpolisIti-TauiLeontópolisMendesMênfisNapataPi-RamessésSaísSebénitoTânisTebasTinis

Países atuais

EgitoIsraelJordâniaLíbanoLíbiaPalestinaSíriaSudãoTurquia


Língua oficialegípcio
Outros idiomas

coptagrego clássicolatimnúbio antigopersa antigo

Religiãopoliteísmo egípcio

Forma de governoMonarquia absoluta
Faraó
• ca.3 100 a.C. Narmer
• 51–30 a.C. Cleópatra

Período históricoIdade do Bronze
Idade do Ferro
• 3 100 a.C.  União doAlto eBaixo Egito
• 3 100–2 686 a.C. Época Tinita
• 2 686–2 160 a.C. Império Antigo
• 2 160–2 055 a.C. 1.º Período Intermédio
• 2 055–1 650 a.C. Império Médio
• 1 650–1 550 a.C. 2.º Período Intermédio
• 1 550–1 069 a.C. Império Novo
• 1 069–664 a.C. 3.º Período Intermédio
• 664–332 a.C. Época Baixa
• 332–30 a.C. Reino Ptolemaico
• 30 a.C. Conquista romana

OAntigo Egito foi umacivilização doAntigo Oriente Próximo doNorte de África, concentrada ao longo ao curso inferior dorio Nilo, no que é hoje o país moderno doEgito. Era parte de um complexo de civilizações, as civilizações dovale do Nilo, do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente noSudão,Eritreia,Etiópia eSomália. Tinha como fronteiras omar Mediterrâneo, a norte, oDeserto da Líbia, a oeste, oDeserto Oriental Africano a leste e a primeiracatarata do Nilo a sul. Foi umas das primeiras grandes civilizações daAntiguidade e manteve durante sua existência uma continuidade nas suas formas políticas,artísticas,literárias ereligiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.

A civilização egípcia se aglutinou em torno de3 100 a.C. com a unificação política doAlto eBaixo Egito, sob o primeirofaraó (Narmer), e se desenvolveu nos três milênios seguintes.[2] Desenvolveu-se historicamente em três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade conhecidos como Períodos Intermédios. Atingiu seu auge noImpério Novo(ca. 1550–1069 a.C.), uma era cosmopolita na qual, graças às campanhas militares do faraóTutemés III, o Egito dominou uma área que se estendia desde aNúbia, entre a quarta e quinta cataratas do Nilo, até orio Eufrates, tendo entrado num lento declínio depois disso. O Egito foi dominado por uma sucessão de potências estrangeiras neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em30 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio doImpério Romano e se tornou umaprovíncia, após a derrota da faraóCleópatra(r. 51–30 a.C.) naBatalha de Alexandria.

O sucesso egípcio deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do vale do Nilo. A inundação previsível e airrigação controlada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou odesenvolvimento social e cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento de umsistema de escrita, a organização de construções coletivas e projetos deagricultura,comércio com vizinhos e guerras para derrotar inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefaburocrática dosescribas de elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema decrenças religiosas.[3][4]

As muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas deextração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de monumentaispirâmides,templos eobeliscos; um sistema dematemática, um sistema prático e eficaz demedicina, sistemas deirrigação e técnicas de produção agrícola, os primeirosnavios conhecidos,faiança e tecnologia comvidro, novas formas deliteratura e o mais antigotratado de paz conhecido, o chamadoTratado de Cadexe. O Egito deixou um legado duradouro. Suaarte earquitetura foram muito copiadas e suas antiguidades levadas a várias partes do globo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação de viajantes e escritores por séculos e o fascínio por antiguidades e escavações no início doIdade Contemporânea esteve na origem dainvestigação científica desta civilização e levou à maior valorização do seu legado cultural.

Etimologia

Os egípcios usaram vários nomes para se referirem à sua terra. O mais comum era Quemete (Kṃt), "Terra Negra" ou "Terra Fértil", que se aplicava especificamente ao território nas margens do Nilo e que aludia à terra negra trazida pelo rio todo ano.[5]Dexerete (dšṛt), "Terra Vermelha", referia-se aos desertos que circundavam o Nilo, onde os egípcios só iam para enterrar os seus mortos ou para explorarem pedras e metais preciosos.[6][7] Também chamavam-no Taui ("as Duas Terras", ou seja, Alto e Baixo Egito),[8] Tameri ("Terra Amada")[9] ou Ta Netjeru ("Terra dos Deuses").[10] NaBíblia, é designado Misraim (emhebraico:מִצְרַיִם;romaniz.:Mizraim, literalmente "os dois estreitos" [Alto e Baixo Egito]).[11][12] A atual palavra Egito deriva do gregoAigyptos (pronunciadoAiguptos), que se acredita derivar por sua vez do egípcioHet-Ka-Ptah, "a mansão da alma dePtá".[13]

Os habitantes atuais do Egito dão o nomeMisr ao país, uma palavra que em árabe pode também significar "país", "fortaleza" ou "acastelado". Segundo a tradição,Misr é o nome usado noAlcorão para designar o Egito, e o termo pode evocar as defesas naturais de que o país sempre dispôs. Outra teoria é queMisr deriva da antiga palavraMizraim, que por sua vez deriva demd-r oumdr, usada pelos locais para designar o seu país.[14]

História

Ver artigos principais:História do Antigo Egito ePré-história do Egito

No final doPaleolítico, o clima árido doNorte da África tornou-se cada vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem junto ao vale do Nilo, cuja fertilidade assegura sustento ao Egito desde o tempo doscaçadores e coletoresnômades doPleistoceno Médio (c. 780-120 mil anos atrás) até hoje.[15] Sua planície fértil deu aos homens a oportunidade de desenvolver umaeconomia agrícolasedentária e sociedade mais sofisticada e centralizada que tornar-se-ia marco na história da civilização humana.[16]

Período pré-dinástico (5500–3100 a.C.)

Faca Pitt-Rivers.Museu Britânico,Londres
Paleta dos Caçadores, Museu Britânico
Modelo de barco em argila deGuebeleim;Museu Histórico de Berna,Berna
Ver artigo principal:Período pré-dinástico do Egito

Nos períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito, e doSaara como um todo, sofreu repentinas variações que causaram períodos de extremaseca edesertificação e períodos de clima favorável e úmido: em fases úmidas o Saara era dominado porsavana rica emfauna (aves emamíferos) eflora.[17][18] Acaça era muito importante entre os egípcios, pois fornecia carne.[19] Os primeiros sinais dedomesticação animal são doDeserto Ocidental e datam de8 800–6 800 a.C.: eram criados com base no modelo depastoreio africano, no qual fornecem leite e sangue, mas não carne.[20] Cerca de5 500 a.C., pequenos grupos que viviam no vale evoluíram para aglomerados culturais complexos caracterizados por amplo domínio da agricultura (os vestígios mais antigos desta foram achados emFaium[21]),pecuária,manufatura de objetos ecerâmica e um primitivo comércio:Faium(5400–4400 a.C.) desenvolveu pleno domínio emtecelagem;[22][23]Merinde(5000–4100 a.C.) construiu os primeiros túmulos egípcios conhecidos, situados no interior do sítio, e talvez desenvolveu práticas rituais;[24][25][26]Omari(4600–4400 a.C.) fez os mais antigos artefatos emcobre do Egito;[27] eBadari(4400–4000 a.C.) produziu os primeiros exemplos defaiança evidro à base deesteatita.[28][29][30]

Maadi-Buto(3800–3200 a.C.) produziu os primeiros cemitérios bem definidos[31] e intensificou o comércio: importava produtos doOriente Próximo (madeira decedro,[32] nódulos desílex, cerâmica, ferramentas líticas,resinas, óleos,vinho, cobre,basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica,marfim,paletas cosméticas, cabeças declava) eDeserto Oriental (malaquita,manganês,pérolas,conchas,cornalina); e exportava cerâmica, conchas e cereais para o Oriente, cobre, basalto e sílex para o Alto Egito.[33] Sítios comoSaís eButo tornaram-se centros de propagação cultural.[34]Nacada(4000–3000 a.C.) foi caracterizada pelo surgimento de elites regionais mercantis centradas em grandes centros de poder (Nacada,Hieracômpolis,Guebeleim,Abadia,Abidos) que evoluíram para Estados regionais belicosos que disputaram o poder, terras mais férteis e controle dasrotas comerciais.[35][36][37] Possivelmente estes Estados delinearam a divisão administrativa egípcia conhecida comomonos.[38][39][40] Nos 1 000 anos de existência da cultura, suas cidades variaram em tamanho e poder: emNacada I(4000–3500 a.C.) a maior era Nacada; emNacada II(3500–3200 a.C.) era Hieracômpolis; emNacada III(3200–3000 a.C.) eram Abidos eTinis.[41][42][43][44][45] Tinham seus cemitérios, onde as elites eram sepultadas com rico espólio.[46][47][48] No fim de Nacada II e em Nacada III há as primeiras evidências de chefes regionais e, depois, os primeirosfaraós.[21][49]

Ginger, uma dasmúmias de Guebeleim (3 400 a.C.). Museu Britânico
Paleta dos Urubus, Museu Britânico

Nacada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto, marfim, cobre, osso e cerâmica), adornos pessoais (em osso,lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira,ouro,prata e cobre), paletas antropo e zoomórficas (emgrauvaque eardósia), esteatita vítrea, figurinhas zoo e antropomórficas (emterracota e marfim), cabeças de clava discoides e depois peroides;[46][50] e esferas deferrometeorítico, o mais antigo uso de ferro no mundo;[51][52][53] em Nacada I, há os primeiros exemplos de habitações feitas comtijolos.[54][55][56][57] Durante Nacada, há transformações socioeconômicas importantes: intensa importação (obsidiana, cobre, vasos, lápis-lazúli, marfim,ébano,incenso, pele de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas) e exportação (alabastro,contas de ouro, faiança, lâminas,amuletos de "cabeçasbovídeas");[58][59][48][60][61] aparecimento de costumes religiosos (uso deestelas esarcófagos) e alguns deuses dopanteão (Hórus,Bate,Seti,Necbete eMim);[62] oshieróglifos (quiçá com base na escritamesopotâmica[63]);[64][65] arte eiconografia, ambas representadas em paletas;[66] acentuada elevação da produção agrícola devido maior número de áreas cultivadas e melhoria das habilidades empregadas.[67] Muitos sítios deltaicos dedicaram-se só ao comércio com o Oriente, enquanto nômades do Deserto Oriental, porventura devido à degradação das condições ambientais locais, foram ativos mediadores do comércio.[68][69]

Um termo contextual (dinastia 0) é usado para agrupar os reis conhecidos deNacada IIIb-IIIc, embora não tivessem formado uma dinastia;[49] apesar de não totalmente aceito, o termo dinastia 0 por vezes é usado para distinguir reis atestados entreNacada IIc-IIIa2.[21][a] Até Nacada IIIa2, há em Nacada (Cemitério T), Guebeleim, Abidos (Cemitério U), Hieracômpolis (T100 e11),Custul (L24) eSeiala (137.1) túmulos quiçá atribuíveis a chefes locais que emergiam do seio das famílias da elite.[71] Cerâmicas incisas, paletas (sobretudo aPaleta Líbia) e umgrafite nosColossos de Copto forneceram os nomes de possíveis reis locais que reinaram até a ascensão dos reis tinitas:Órix,Concha,Peixe,Elefante, Touro,Boi I (?)Cegonha,Canídeo,Boi II,Escorpião I,Falcão I,Mim + planta […]Falcão II,Leão,Falcão Duplo (esereques noSinai e delta) […]Iri-Hor,,Escorpião II,Narmer; talvez houve dois Touros, o dos colossos (Touro I) e outro daPaleta do Touro (Touro II);[72] Escorpião I, cuja tumba (U-j, Abidos) tinha muitos bens e os primeiros hieróglifos sabidos, foi associado ao grafite deGuebel Tjauti, no deserto entre Abidos e Nacada, que exibe possível vitória sobre outro rei.[70] Há também outros achados com sereques:Hate-Hor (túmulo 1702 emTarcã),Ni-Hor (Tora e Tarcã),Hedju-Hor (delta Oriental e Tora) eCrocodilo (túmulos 315, 414 e 1549 de Tarcã), que acaso foi usurpador no tempo de Narmer.[73] Alguns dos primeiros faraós tiveram seus jazigos detectados: Iri-Hor (túmulo B1-B2, Abidos), Cá (túmulo B7-B9, Abidos), Escorpião II (quem sabe4.ª camada do túmulo B50 em Abidos ou túmulo 1 do local 6 em Hieracômpolis) e Narmer (túmulo B17-B18, Abidos).[74]

Época Tinita (3100–2686 a.C.)

Duas faces daPaleta de Narmer. Nela há a suposta unificação do Egito[75]
Placa demarfim de Abidos deUsafedo abatendo um inimigo do Oriente. Museu Britânico
Ver artigo principal:Época Tinita

Noséculo III a.C., o sacerdoteManetão estabeleceu umacronologia dos faraós desdeMenés aos seus contemporâneos, agrupando-os em 30 dinastias, um sistema ainda em uso atualmente.[76] Escolheu para começar a sua história oficial Menés, que se acredita ter unificado os reinos doAlto eBaixo Egito (c.3 100 a.C.).[77][78] Na realidade, a transição para um Estado unificado ocorreu de forma mais gradual do que os escritores egípcios relatam, e não há registro coetâneo de Menés. Alguns académicos acreditam que Menés pode ter sido Narmer, que aparece vestindotrajes reais na cerimonialPaleta de Narmer em ato simbólico de unificação,[79] ouAtótis, cujonome de Nebti (Mem) pode ter inspirado o nome grego.[80] Seja como for, por ainda não ser totalmente compreendido, o episódio de unificação e formação do Egito foi explicado de várias formas: a formação deMênfis (que adquiriu importância como centro comercial, administrativo e cultural[81][82]); dominação gradual (mesopotâmica,[83][84][85]núbia, deltaica ou alto egípcia[86]); integração regional (alianças, guerras e trocas culturais[87][57][88]); comércio (explicaria o abandono de alguns sítios deltaicos em detrimento de outros[89][90][91][92]); pressão populacional (do sul ao norte[93][94]); uniformidade religiosa.[95]

NaÉpoca Tinita, que compreendeu aI eII dinastias, o Egito era governado a partir de Tinis, que nesse momento eclipsou politicamente Abidos, cuja função a partir de então seria apenas religiosa e mortuária.[96][97][98] Sob Atótis, filho de Narmer, campanhas foram feitas para subjugar rebeldes na Núbia e um famoso templo dedicado aNeite foi fundado em Saís. Contudo, talvez a maior realização destes faraós foi a fundação de Mênfis, atribuída porHeródoto a Menés,[b] e que tornar-se-ia capital do Egito a partir daIII dinastia.[100] Dentre os sucessores imediatos de Atótis, reinouMerneite, filha deQuenquenés, que atuou como regente deUsafedo. Sob Quenquenés e Usafedo, novas campanhas foram feitas; o primeiro representou-as como expedições navais, enquanto o segundo aparece atacando trogloditas no Oriente.[101]Miebido, sucessor de Usafedo, enfrentou disputa dinástica em seu reinado, que terminou com a sucessão do usurpadorSemempsés, que ordenou que seu nome fosse apagado das inscrições, mas ele próprio foi vítima do mesmo destino ao ser omitido dalista de Sacará.[102] SobQueco, foram instituídos os cultos dacabra deMendes e dos tourosMnévis deHeliópolis eÁpis de Mênfis, eBinótris fez campanhas e aceitou a sucessão feminina.[103] Sob os últimos faraós da II dinastia, cuja identidade é debatida, o conflito norte-sul piorou e as fontes citam a expedição nortenha que chegou na cidade deNequebe, centro de culto deNecbete situado perto de Hieracômpolis, que foi combatida e deixou dezenas de milhares de nortenhos mortos. A paz foi alcançada e cimentada com o casamento do faraó com uma princesa do Baixo Egito.[104]

O crescente poder e riqueza dos faraós se refletiu em suasmastabas elaboradas e em estruturas de culto mortuário em Abidos, usadas para celebrar o faraó endeusado após a morte.[105] E a forte instituição da realeza serviu para legitimar o controle estatal sobre a terra, trabalho e recursos que foram essencialmente à sobrevivência e o crescimento da civilização.[106]

Império Antigo (2686–2160 a.C.)

Ver artigo principal:Império Antigo
Estatueta emmarfim deQuéops(r. 2589–2566 a.C.).Museu Egípcio do Cairo

No Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas do Sinai emar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios. Concomitantemente, o comércio com oOriente Próximo (Líbano, Palestina,Mesopotâmia) e oPunte intensificou-se e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e umafrota marítima, assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro,mirra,malaquita eeletro.[107]

Durante o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia.[108] Sob a direção dotjati (vizir), funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz.[109] Com os excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de obras de arte às oficinas reais.[110]

A par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe deescribas e oficiais letrados que receberam propriedades do faraó como pagamento pelos seus serviços.[107] Os faraós também fizeram concessões de terras para seus cultos funerários e templos locais, de forma a garantir que estas instituições teriam recursos necessários à adoração do faraó após a sua morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais corroeram lentamente o poder econômico do faraó, e que a economia deixou de conseguir sustentar uma grande administração central.[111] Com a diminuição do poder do faraó, governantes regionais designadosnomarcas começaram a desafiar a supremacia do faraó.[107] Isso, em conjunto com um período de secas extremas entre 2 200 e2 150 a.C.,[112] é apontado como causa da transição para um período de 140 anos de fome e conflitos conhecido por Primeiro Período Intermédio.[113]

Primeiro Período Intermédio (2160–2055 a.C.)

Ver artigo principal:Primeiro Período Intermédio
Estátua emdiorito deQuéfren(r. 2558–2532 a.C.) noMuseu Egípcio doCairo

Depois do colapso do governo central do Egito no final do Império Antigo, o governo não conseguiu sustentar ou estabilizar a economia do país. Os governadores regionais não podiam contar com o faraó para apoio em épocas de crise, e a consequente escassez de bens e disputas políticas agravaram-se para situações de fome e guerras civis de pequena escala. No entanto, apesar dos problemas, os líderes locais que já não deviam o tributo ao faraó, usaram esta independência para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez que dominavam os seus próprios recursos, as províncias desenvolveram-se economicamente, fato demonstrado por maiores e melhores atos fúnebres entre todas as classes sociais.[114] Verificaram-se surtos de criatividade, com os artesãos das províncias a adotarem e adaptarem motivos culturais antes restritos à realeza do Império Antigo, e os escribas desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo e a originalidade do período.[115]

Livres da fidelidade ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si pelo controle territorial e poder político. Por volta de2 160 a.C., os governantes deHeracleópolis controlavam o Baixo Egito, enquanto um clã rival, baseado emTebas, a famíliaIntefe, assumiu a posse do Alto Egito. À medida que os Intefes cresceram em poder e se expandiram para norte, um confronto entre as duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de2 055 a.C., as forças de Tebas sob o comando deMentuotepe II derrotaram finalmente os governantes de Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e dando origem a um período de renascimento econômico e cultural conhecido como o Império Médio.[116]

Império Médio (2055–1650 a.C.)

Ver artigo principal:Império Médio
Estátua de Mentuotepe II

Os faraós do Império Médio restituíram a prosperidade e estabilidade do país, situação que estimulou um renascimento da arte, literatura e projetos de construção monumental.[117] Mentuotepe II e seus sucessores daXI dinastia governaram a partir de Tebas, mas ovizirAmenemés I, ao assumir o trono que deu início início àXII dinastia por volta de1 985 a.C., mudou a capital do país à cidade deIti-Taui, localizada emFaium.[118] De Iti-Taui, os faraós da XII dinastia comprometeram-se a realizar uma recuperação de áreas degradadas e melhorar o sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola no país. Além disso, deu-se a conquista militar de toda aNúbia, rica em pedreiras e minas de ouro, enquanto trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental, chamada "Muros-do-Rei", para defesa do Egito contra ataques exteriores.[119]

Tendo sido garantida a segurança militar e política, e na presença de uma vasta riqueza agrícola e mineira, a população, a arte e a religião prosperaram significativamente. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para com os deuses, no Império Médio assistiu-se a um aumento nas manifestações de devoção pessoal, e àquilo que pode ser designado por democratização da vida no além, na qual todas as pessoas possuem uma alma e podem ser recebidas na companhia dos deuses.[120] A literatura do Império Médio abordava temas eruditos e personagens complexos, narrados num estilo confiante e eloquente.[115] A escultura capturou detalhes subtis e distintos que atingiram um novo patamar de perfeição técnica;[121] os líderes retomam o costume de erigirem pirâmides.[122]

Cabeça deesfinge deAmenemés III emalabastro (Museu do Louvre)

No Império Médio, como forma de garantir a sucessão, os faraós ainda em vida dividiram o trono com seu sucessores, mantendo-os como co-faraós.[123] O último grande governante do Império Médio,Amenemés III, permitiu que colonos asiáticos se instalassem na região doDelta de modo a ter disponível força de trabalho suficiente às suas particularmente ativas campanhas de construção e mineração. Estas ambiciosas campanhas, porém, em conjunto com cheias inadequadas do Nilo no seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um lento declínio noSegundo Período Intermédio durante as posterioresXIII eXIV dinastias. Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir o controle da região do Delta, acabando por alcançar o poder no Egito, como foi o caso doshicsos.[124]

Segundo Período Intermédio (1650–1550 a.C.)

Mapa do Antigo Egito, mostrando grandes cidades e sítios(ca. 3100–30 a.C.)
Ver artigo principal:Segundo Período Intermédio

Por volta de1 785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade deÁvaris assumiram o controle da região e forçaram o governo central a se retirar paraTebas, onde o faraó era tratado como um vassalo e era obrigado a pagar tributo.[125] Oshicsos (Heka-khasut, governantes estrangeiros) imitaram o modelo de governo egípcio e se apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura daIdade do Bronze Médio.[126] Introduziram também elementos novos como ocavalo, oscarros de guerra, novos métodos de fiação etecelagem e novos instrumentos musicais.[123]

Depois da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os aliados núbios dos hicsos, oscuxitas, no sul. Após anos de inatividade, Tebas reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais de 30 anos, até1 555 a.C.[125] Os faraósTaá II eCamés acabaram por derrotar os núbios, mas foi o sucessor de Camés,Amósis I, que empreendeu com sucesso uma série de campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. NoImpério Novo que se seguiu, o poder militar se tornou uma prioridade central para os faraós, que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo doOriente Próximo.[127]

Império Novo (1550–1069 a.C.)

Ver artigo principal:Império Novo

Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando deTutemés I e seu netoTutemés III, alargaram a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto.[128] Quando Tutemés morreu em1 425 a.C., o Egito prolongava-se desdeNia no norte daSíria até à quarta catarata do Nilo, naNúbia, cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais comobronze e madeira.[129] Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deusAmom, com culto assente emCarnaque.[123] Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraóHatexepsute usou tais meios como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono.[130] Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais aPunte, um elegantetemplo mortuário, um par deobeliscos colossais e umaCapela em Carnaque. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatexepsute,Tutemés III tentou fazer desaparecer o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação do seu trono.[131]

As quatro estátuas colossais deRamessés II na entrada do templo deAbul-Simbel

SobTutemés IV (1 397−1 388 a.C.) o Egito realizou uma aliança comMitani para empreender ataques contra oImpério Hitita. ComAmenófis III foram edificados os templos deLuxor, o palácio deMalcata e oTemplo de Milhões de Anos, do qual atualmente só restam os conhecidos "Colossos de Memnon", além do templo de Amom em Carnaque ter sido ampliado.[132] Durante seu reinado, colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis III assegurar relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de1 350 a.C., a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quandoAmenófis IV subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o seu nome paraAquenáton (O Esplendor de Aton), decretou como a divindade suprema o até aí obscuro deus SolAtom, suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado.[133] Mudando a capital à nova cidade deAquetáton (Horizonte de Atom, atualAmarna), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Atom e pela sua personalidade de artista e pacifista.[128] Durante seu reinado as relações comerciais com omar Egeu (minoicos emicênios) são cortadas e os hititas começam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria.[134] Após sua morte, o culto de Atom foi rapidamente abandonado, e os faraósTutancamom, eHoremebe apagaram todas as referências àheresia de Aquenáton, agora conhecida comoPeríodo de Amarna.[135]

Fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e hititas

SobSeti I, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade deCadexe e a região vizinha deAmurru, ambas localidades palestinianas.Ramessés II ascendeu ao trono por volta de1 279 a.C., prosseguindo a construção de um número significativo de templos, estátuas e obeliscos; foi o faraó com a maior quantidade de filhos da história (110 filhos).[136] Transferiu a capital do império de Tebas paraPi-Ramessés noDelta Oriental. Ousado líder militar, comandou seu exército contra os hititas naBatalha de Cadexe em1 274 a.C. e depois de um impasse, assinou em1 258 a.C.[137] o primeirotratado de paz conhecido da história, oTratado de Cadexe, onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudar mutuamente contra inimigos internos ou externos.[138][128] O tratado foi selado com o casamento de Ramessés II e a filha mais velha do imperadorHatusil III.[139]

A riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial delíbios e dos chamadospovos do mar. No reinado deMerneptá ambos os povos se aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também osnúbios à revolta. Com a sequente derrota dos invasores, os revoltosos acabariam por ser suplantados. Durante o reinado deRamessés III o faraó conseguiu expulsar os povos do mar para fora do Egito em duas grandes batalhas, no entanto, eles acabariam por assentar na costa palestina e durante o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região. Entretanto é importante lembrar que o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a morte de Ramessés II e a subida ao trono de seu filho Merneptá, a instabilidade política assolou o Egito.[128] Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco tempo e diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos contribuíram à instabilidade interna. Como forma de ganhar popularidade, durante o início daXX dinastia foram concedidas terras, tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos deAmom, o que fortaleceu o poder destes,[140] e esse poder crescente fragmentou o país durante o Terceiro Período Intermédio.[141]

Terceiro Período Intermédio (1069–664 a.C.)

Ver artigo principal:Terceiro Período Intermédio
Por volta de730 a.C., líbios vindos do oeste fragmentaram a unidade política do país

Após a morte deRamessés XI em1 069 a.C.,Esmendes assumiu a autoridade sobre a parte norte do Egito governando a partir da cidade deTânis. O sul foide facto controlado pelos sumos sacerdotes de Amom em Tebas, que reconheciam Esmendes apenas formalmente.[142] O sacerdotePianque conseguiu deter a expansão doReino de Cuxe que havia dominado boa parte doAlto Egito.[143]

Na mesma época, os líbios tinham se instalado noDelta Ocidental, e os líderes destes colonos começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta no reinado deSisaque I em945 a.C., fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca de 200 anos. Sisaque também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os seus familiares em importantes cargos sacerdotais. Invadiu aPalestina durante o reinado do reiRoboão e restaurou o comércio comBiblos, aumentando a prosperidade da dinastia.[143]

SobOsocor II, o Egito auxiliando os reinos sírio-palestinos repudiou as primeiras expediçõesassírias. As muitas guerras civis que se seguiram causaram a divisão do Egito em várias dinastias. O poder líbio entrou em declínio à medida que duas dinastias rivais surgiram, uma centrada emLeontópolis (XXIII dinastia) e outra emSaís (XXIV dinastia). No entanto, a constante ameaça cuxita do sul forçou a união das três dinastias com vista à sua defesa. Por volta de727 a.C., orei cuxitaPiiê derrotou um exército de oito mil soldados egípcios, invadiu o norte, tomou o controle deTebas e doDelta, e formou aXXV dinastia.[143][144]

O prestígio secular do Egito diminuiu consideravelmente durante o final doTerceiro Período Intermédio. Os seus aliados estrangeiros ficaram sob a esfera de influênciaassíria, e em700 a.C. a guerra entre os dois estados tornou-se inevitável.Xabataca empreendeu uma batalha contra os assírios da qual sairia vitorioso. Seu sucessor,Taraca, incentivou revoltas na Palestina assíria, tendo conseguido expulsar os assírios das imediações em673 a.C.[143] No entanto, entre 671 e667 a.C., os assírios iniciaram ataques contra o Egito. Os reinados dos reis cuxitas Taraca e do seu sucessorTantamani foram marcados por conflitos constantes com os assírios, contra os quais os governantes núbios obtiveram várias vitórias.[145] Por fim, os assírios empurraram os cuxitas àNúbia, ocupandoMênfis e saquearam os templos de Tebas.[146]

Época Baixa (664–332 a.C.)

Ver artigo principal:Época Baixa
Nectanebo II, o último faraó egípcio nativo.
Estátua de um dignitário egípcio do período saíta

Sem planos definitivos de ocupação, osassírios delegaram a administração do Egito numa série de vassalos que se tornariam conhecidos como reis saítas daXXVI dinastia. Por volta de653 a.C., o reiPsamético I logrou expulsar os assírios com ajuda de mercenáriosgregos. A influência grega expandiu-se significativamente à medida que os gregos se concentraram na cidade deNáucratis, no Delta. A partir da nova capital emSaís, os reis saítas, testemunharam um breve, mas significativo ressurgimento da economia e cultura, mas em525 a.C., os poderosospersas aquemênidas, liderados porCambises II, iniciaram uma campanha de conquista do Egito, tendo acabado por capturar o faraóPsamético III naBatalha de Pelusa.[147] Em seguida Cambises II assumiu o título formal de faraó, governando o Egito a partir deSusa, deixando a região sob a administração de umsátrapa. Algumas revoltas bem sucedidas contra os persas marcaram o Egito noséculo V a.C., mas nunca foram capazes de os derrubar de forma definitiva.[148]

Após a sua anexação pelo Império Aquemênida, o Egito seria aglomerado com oChipre e com aFenícia, na sexta satrapia dos persas aquemênidas. Este primeiro período de domínio persa sobre o Egito, também conhecido comoXXVII dinastia, terminou em402 a.C.. De 380 a343 a.C., aXXX dinastia governou como última casa real nativa do Egito dinástico, que terminaria com o reinado deNectanebo II. Uma breve restauração do domínio persa, por vezes designada comoXXXI dinastia, teve início em343 a.C., mas pouco depois, em332 a.C., osátrapa persaMazaces entregou sem grande resistência o Egito aAlexandre, o Grande.[149]

Reino Ptolomaico (332–30 a.C.)

Ver artigos principais:Dinastia ptolomaica eReino Ptolomaico
Busto do faraóPtolemeu I

Em332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e foi recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida pelos sucessores de Alexandre, osPtolomeus, foi baseada no modelo egípcio e a capital estabelecida na recém-erguida cidade deAlexandria.[150] A cidade era uma montra do poder e prestígio do governo grego, e tornar-se-ia um polo de cultura e ensino, centrados na famosaBiblioteca de Alexandria.[151] OFarol de Alexandria iluminou o caminho para os muitos navios que mantinham vivo o comércio com o exterior, uma vez que a economia, assente em empresas de grande retorno económico, era a mais alta prioridade dos Ptolomeus.[152]

Acultura grega não pretendeu impor-se àcultura nativa, tendo os Ptolomeus apoiado tradições seculares de forma a garantir a lealdade da população. Foram construídos novos templos em estilo egípcio, apoiadas as formas de culto tradicionais, e os governantes retratavam-se a si mesmo como faraós.[150]

Algumas tradições de ambas as culturas foram fundidas, como deuses gregos e egípciossincretizados em divindades híbridas, comoSerápis, e formas clássicas da escultura grega influenciaram motivos tradicionais egípcios. Apesar dos seus esforços para apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram contestados por rebeliões locais, rivalidades entre famílias e pela poderosa máfia de Alexandria, formada depois da morte dePtolemeu IV.[153]

Além disso, à medida queRoma dependia cada vez mais de importações de cereais do Egito, os romanos começaram a demonstrar grande interesse na situação política da região. Revoltas constantes, políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios contribuíram à instabilidade da região, levando Roma ao envio de tropas com o objectivo de assegurar o país como província do seu império.[154]

Domínio romano-bizantino(30 a.C.–639 d.C.)

Ver artigos principais:Egito romano,Prefeito do Egito, eDiocese do Egito
Osretratos de Faium foram uma das tentativas de unir as culturas egípcia e romana

O Egito tornou-se umaprovíncia romana em30 a.C., após a derrota deMarco Antônio e da faraóCleópatra porOtaviano (posteriormente Imperador Augusto) naBatalha de Áccio e entãoBatalha de Alexandria.[155][150] Os romanos dependiam fortemente das remessas de cereais do Egito, e o exército romano, sob o comando de umprefeito nomeado pelo imperador, reprimiu revoltas, fez aplicar a cobrança de impostos, e impediu os ataques de salteadores, que se tinham tornado um problema significativo durante este período.[156] Alexandria torna-se um centro cada vez mais importante na rota de comércio com oOriente, uma vez que emRoma havia grande procura de mercadorias e bens exóticos e de luxo.[157]

Embora os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para com os egípcios, algumas tradições foram mantidas, como amumificação e o culto dos deuses tradicionais. A arte de retratar as múmias floresceu e alguns dos imperadores romanos se fizeram retratar como faraós, embora não na medida dos Ptolomeus, já que os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam funções cerimoniais da realeza. A administração local tornou-se romana o que tendeu a minar a liberdade dos nativos egípcios.[158]

A partir de meados doséculo I d.C., ocristianismo se enraizou em Alexandria, sendo visto e aceito como outro culto. No entanto, o fato de ser uma religião inflexível eproselitista, que procuravaconverter pessoas dopaganismo, ameaçando com isso as tradições religiosas populares, levou à perseguição dos convertidos ao cristianismo, que culminou com o grandeexpurgo de Diocleciano a partir de 303. Apesar disso, o cristianismo acabou por triunfar.[159] Em 391 o imperador cristãoTeodósio I introduziu uma legislação que proibiu ritos pagãos e os templos foram fechados.[160] Alexandria tornou-se palco de grandes protestos antipagãos, com imagens públicas e privadas destruídas.[161] Como consequência, a cultura do Egito pagão entrou em declínio. Templos eram por vezes convertidos em igrejas ou abandonados e apesar da população nativa continuar a usar asua língua, a capacidade de ler e escreverhieróglifos acabou por retroceder na medida em que o papel dos sacerdotes tornou-se exímio.[162] Outrossim, os escribas, os únicos capazes de ler os hieróglifos, durante seus estudos da escrita hieroglífica, podiam optar entre o trabalho burocrático ou o sacerdócio. Neste ponto histórico os serviços burocráticos não mais convinham aos mesmos e, concomitantemente, com o declínio do sistema religioso egípcio, os escribas paulatinamente deixaram de existir o que inviabilizou a leitura dos hieróglifos.[110]

Noséculo IV d.C. o Império Romano dividiu-se em duas partes e o Egito se incorporou ao Império Oriental, conhecido como oImpério Bizantino. O Império do Oriente tornou-se cada vez mais "oriental" em grande estilo e suas antigas ligações com o mundo greco-romano começam a se desvanecer. O sistema grego de governos locais por cidadãos já tinha desaparecido completamente. Em 616, em meio aguerra bizantino-sassânida de 602-628, oxá sassânidaCosroes II(r. 590–628)conquistou o Egito, cujo controle seria retomado pelos bizantinos em 628 sob oimperadorHeráclio(r. 610–641) com o fim do conflito.[163]

Conquista árabe (639–646)

Ver artigo principal:Conquista muçulmana do Egito
Mapa detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito

Em 639,Anre ibne Alas, um general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens ataca oEgito bizantino durante oexpansionismo árabe doséculo VII. Inicialmente tomaMênfis e toma o controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho à capital da província,Alexandria. Após tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram pelobutim, alcançando cerca de 20 000 homens. Anre estabeleceu seu acampamento nas imediações da cidade deHeliópolis (local onde posteriormente seria fundada a cidade doCairo) de onde pode enviar suas tropas deassédio à cidade. Em 640,sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de 50 000 homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646.[164]

Após a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe começou a materializar-se, tendo durado até aoséculo IX. Os árabes impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, ojizia.[165] Noséculo VII d.C. os árabes começam a empregar o termoquft para descrever o povo do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos comocoptas, e a Igreja Egípcia Não-Calcedônia tornou-se aIgreja Copta. Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam alíngua copta, uma descendente direta doegípcio demótico falado na época romana.[166]

Geografia

Imagem de satélite doDelta do Nilo

Esta civilização se desenvolveu na região situada entre aprimeira catarata do Nilo (Assuão) e oDelta do Nilo. OSinai, que só pertenceu ao Egito após sua conquista noImpério Novo, foi utilizado como rota de comunicação para o corredorsírio-palestino, que a rigor seria a faixa de terra litorânea que liga o Egito àMesopotâmia. A leste do Nilo encontra-se oDeserto Oriental Africano (comumente conhecido como Deserto Oriental) que se estende até aomar Vermelho e a oeste fica oDeserto da Líbia (comumente conhecido como Deserto Ocidental) onde existem vários oásis dos quais se destacam os deSiuá,Carga,Farafra,Dacla eBaareia. O atual território doEgito não pode ser comparada ao do Antigo Egito, pois, atualmente, o Sinai, e partes dos desertos Oriental e Ocidental estão dentro dos limites do Egito.[167][168][169]

Ao sul da primeira catarata se localizava aNúbia.[167] O Nilo é formado por dois afluentes principais, oNilo Branco (que nasce noLago Vitória) e oNilo Azul (que nasce noLago Tana). Ambos os afluentes unem-se emCartum.[170] O Nilo corre de sul para norte, desaguando nomar Mediterrâneo e sua extensão é de aproximadamente 6 740 km.[5]

No Antigo Egito distinguiam-se duas grandes regiões: oAlto e oBaixo Egito. Inicialmente, eram reinos distintos que haviam se formado em torno de3 300 a.C.. No entanto, acabaram por ser unificados poucos séculos depois. O Alto Egito (Taxemau) era uma estreita faixa de terra com cerca de 900 quilômetros de extensão começando emAssuão e terminando emMênfis. O Baixo Egito (Tameu) foi o Delta do Nilo, a norte de Mênfis, onde o rio se dividia em vários braços. Por vezes também se distingue na geografia uma região conhecida como oMédio Egito, que é o território a norte deQuena até àregião do Faium.[167]

Vale do rio Nilo

Embarcação retratada em baixo relevo

O historiador gregoHeródoto(ca. 484?–420 a.C.)), chamou ao Egito"a dádiva doNilo".[171] Para os egípcios, o Nilo era uma verdadeira bênção dos deuses, sendo considerado sagrado e adorado como um deus, ao qual dedicavam hinos e orações. As chuvas sazonais causavam enchentes que depositavamhúmus nas margens favorecendo a agricultura e pecuária; também fornecia água fresca, peixes, aves aquáticas além de servir para o transporte e comércio.[172] Como o nível do rio era inconstante os egípcios desenvolveramdiques,barragens ecanais de água para melhor aproveitarem as águas do rio, assim como o "nilômetro", uma construção usada para medir as enchentes.[173] Durante o período das enchentes os cidadãos eram deslocados às cidades para trabalharem em outras tarefas.[167]

O meio mais fácil e rápido de viajar e transportar cargas pesadas era através de embarcações de diversos tamanhos que possuíam, no geral,remos presos a proa.[174] As embarcações usadas para transporte de cargas pesadas eram construídas com madeira doLíbano; as de transporte de pessoas, caça e pesca eram dejunco; as barcaças reais e as usadas para o transporte de estatuetas de deuses possuíam cabines, e eram decoradas com muitas cores eouro encrustado. O Nilo corre de sul para norte, mas o vento sopra geralmente de norte para sul, pelo que a navegação para para norte tem a corrente a seu favor e a navegação para sul é feita a favor do vento, o que era é aproveitado para utilizarvelas. No entanto, na ausência de vento a única forma de navegar para sul era remar contra a corrente.[167]

Demografia

Ver artigo principal:Controvérsia racial do Antigo Egito
Estereótipo egípcio

Os antigos egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, daÁfrica Negra e da áreasemítica. A questão relativa àetnia dos antigos egípcios é por vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos conhecimentos da ciência falar de raças humanas revela-se umanacronismo. Até meados doséculo XX, por influência de uma visãoeurocêntrica, os antigos egípcios eram considerados praticamente como brancos; a partir dos anos 1950, as teorias do "afrocentrismo", segundo as quais os egípcios eram negros, afirmaram-se em alguns círculos. Importa também referir que as reproduções artísticas são frequentemente idealizações que não permitem retirar conclusões neste domínio.[175]

Os egípcios tinham consciência da suaalteridade: nas representações artísticas dos túmulos os habitantes do Vale do Nilo surgem com roupas delinho branco, enquanto que os seus vizinhos líbios e semitas se apresentam com roupas de. Alíngua dos egípcios (hoje umalíngua morta) é um ramo da família daslínguas afro-asiáticas (camito-semíticas). Esta língua é conhecida graças à descoberta e decifração daPedra de Roseta, onde se encontra inscrito um decreto dePtolomeu V Epifânio (205-180 a.C.) em duas línguas (egípcio egrego clássico) e em três escritas (caracteres hieroglíficos,escrita demótica ealfabeto grego).[176]

O número de habitantes do Antigo Egito variou ao longo da história. Durante operíodo pré-dinástico(5500–3100 a.C.) a população rondaria as centenas de milhares; durante oImpério Antigo (séculos XVII-XII a.C.) situar-se-ia nos dois milhões, atingindo os quatro milhões por altura doImpério Novo. Quando o Egito se tornou umaprovíncia romana estima-se que a população seria cerca de sete milhões. Como atualmente, a esmagadora maioria da população habitava as terras agrícolas situadas nas margens doNilo, sendo escassas as populações que viviam no deserto.[177][178]

Governo

Ver também :Lista de faraós

Administração

Ofaraó comumente usa símbolos da realeza e de poder

Ofaraó era omonarca absoluto do país e, pelo menos em teoria, exercia o controle total da terra e seus recursos.[179] Era o comandante militar supremo e chefe do governo, que contava com umaburocracia de funcionários para administrar os seus negócios. O encarregado da administração, o vizir (tjati), era o segundo no comando, e atuava como conselheiro e representante do faraó, coordenava os levantamentos fundiários,tesouraria, projetos de construção, sistema legal e depósito de documentos.[180] A nível regional, o país estava dividido em 42 regiões administrativas chamadasnomos, cada uma governada por umnomarca,[181] que era responsável pelajurisdição do vizir. Ostemplos formavam a espinha dorsal da economia. Eles não só eramedifícios de culto, mas também eram responsáveis por coletar e armazenar a riqueza da nação em um sistema deceleiros e tesourarias administradas por superintendentes, que redistribuíam os cereais e os bens.[182] Como não era possível para o faraó estar em todos os templos para realizar as cerimônias, delegava o seu poder religioso aos sacerdotes, que conduziam as cerimônias em seu nome.[183]

Sistema jurídico

A cabeça do sistema jurídico era oficialmente o faraó, que era responsável pela promulgação de leis, aplicação da justiça e manutenção da lei e da ordem, um conceito que os egípcios antigos denominavamMaat. Apesar de não terem chegado aos nossos dias quaisquercódigos legais do Antigo Egito, documentos da corte mostram que as leis foram baseadas em uma visão de senso comum de certo e errado, que enfatizou a celebração de acordos e resoluções de conflitos ao invés de cumprir rigorosamente um conjunto complicado de estatutos.[184] Conselhos locais de anciãos, conhecidos como Quembete (Knbt) noImpério Novo, eram responsáveis pela decisão em casos judiciais de pequenas causas e disputas menores.[180] Os casos mais graves envolvendo assassinato, grandes transações de terrenos e roubo de túmulos eram encaminhados para oGrande Kenbet, presidido pelo vizir ou pelo faraó. Os demandantes e demandados retratavam-se e eram obrigados a jurar que diziam a verdade. Em alguns casos, o Estado assumiu tanto o papel de acusador como o de juiz, e tinha poder para torturar os acusados com espancamento para obter uma confissão e os nomes dos co-conspiradores. Se as acusações fossem sérias, escribas da corte documentavam a denúncia, testemunhavam, e overedicto do caso era guardado para referência futura.[185]

As punições para crimes menores envolviam imposição de multas, espancamentos, mutilações faciais ou exílio, dependendo da gravidade do delito. Crimes graves, como homicídio e roubo de túmulos, eram punidos com execução pordecapitação, afogamento ouempalamento. A punição também podia ser estendida à família do criminoso.[180] A partir do Império Novo, osoráculos desempenharam um papel importante no sistema jurídico, dispensando a justiça nos processos civis e criminais. O processo consistia em pedir a deus um "sim" ou "não" sobre o que era certo ou errado num problema. O deus, transportado por um número de sacerdotes, proferia a sentença, escolhendo um ou outro, movendo-se à frente ou para trás, ou apontando para uma das respostas escritas em um pedaço depapiro ou deóstraco.[186]

Força militar

Umabiga

O exército egípcio antigo foi responsável pela defesa do Egito contra invasões estrangeiras e a manutenção da dominação egípcia noAntigo Oriente Próximo. No deserto havia patrulheiros que vigiavam as fronteiras e defendiam o império de expedições denômades. No Delta e no Vale do Nilo havia guardas rurais que defendiam os cobradores de impostos. No Império Novo surgiram osmedjai, de origem núbia, que exerciam a função de patrulheiros do deserto, policiais das cidades enecrópoles, além de aplicadores das decisões da justiça.[187] O exército e a marinha eram complementares, onde os navios transportavam as tropas e os oficiais exerciam funções militares e navais. Os soldados eram recrutados entre a população em geral, mas durante e principalmente depois do Império Novo, foram contratadosmercenários da Núbia e Líbia para lutar pelo Egito.[188] Prisioneiros de guerra também foram incorporados ao exército egípcio. Por volta do Império Novo os exércitos eram divididos em unidades táticas autônomas de 5 a 6 000 homens.[189]

Relevo da tumba deHoremebe

Os exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas locais durante oImpério Antigo[190] e lutaram em guerras civis durante oPrimeiro eSegundo períodos intermédios. Foram importantes à manutenção de fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as encontradas na cidade deBuém no caminho à Núbia. Também foram construídos fortes nas fronteiras com guarnições de 50 a 100 homens, para servirem como bases militares,[189] tais como afortaleza de Sile, a qual foi uma base de operações para expedições noLevante. No Império Novo, uma série de faraós usaram o exército para atacar e conquistar oReino de Cuxe e partes do Levante.[191] Há informações que alegam que houve a prática deespionagem entre os exércitos egípcios.[192]

Os equipamentos militares típicos incluíramarcos eflechas desílex,machados,clavas,lanças de cobre eescudos redondos feitos porestiramento de pele de animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares começaram a usarbigas e cavalos que haviam sido introduzidos pelos invasoreshicsos durante o Segundo Período Intermédio.[189] As armas earmaduras continuaram a melhorar com a introdução dobronze: os escudos eram agora feitos de madeira sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e okhopesh, uma espécie deespada com a extremidade curva, foi adotado a partir de modelos asiáticos.[193] O faraó, na arte e literatura, anda à frente do exército e há evidências de que pelo menos alguns faraós, comoTaá II e seus filhos, o fizeram.[194]

Economia

Agricultura

Pintura mural de um túmulo retratando trabalhadores arando os campos, a colheita das culturas e a debulha de cereais sob a direção de um supervisor
José - O Supervisor dos Celeiros do Faraó,Lawrence Alma-Tadema (1874)

Uma combinação de características geográficas favoráveis contribuiu para o sucesso da cultura, a mais importante das quais era o solo fértil resultante de enchentes anuais do Nilo. Os antigos egípcios foram, assim, capazes de produzir alimentos em abundância, permitindo que a população dedicasse mais tempo e recursos a atividades culturais, tecnológicas e artísticas. A gestão da terra foi crucial no Antigo Egito, porque os impostos foram avaliados com base na quantidade de terras em posse de uma pessoa.[195] Em teoria todas as terras pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade.[196]

A agricultura no Egito foi dependente dos ciclos decheias do Rio Nilo. Os egípcios reconheceram três estações:Akhet (inundação),Peret (plantio) eShemu (colheita).[197] A estação das cheias dura de julho a outubro, depositando nas margens do Nilo uma camada delodo rico em minerais para o cultivo. Após a redução do nível do rio, a estação de plantio ia de novembro a fevereiro. Agricultores aravam a terra comarados puxados porbois e plantavam as sementes, que eram irrigadas por intermédio de sistemas de diques e canais.[167] O Egito recebia pouca chuva, pelo que os agricultores usavam a água do Nilo para regar as culturas.[198] De março a junho, os agricultores usavamfoices para suas colheitas, que eram depoisdebulhadas com ummangual ou com as patas dos bois para separar apalha do grão. Os grãos eram usados para fabricarcerveja ou armazenados em sacas nos celeiros reais para posterior distribuição.[199]

Os antigos egípcios cultivaramtrigo,cevada e vários outroscereais, todos usados para produção de pão, biscoitos, bolos e cerveja.[200] Olinho, colhido antes dafloração, foi cultivado para extração da fibra de seu caule para produção de roupas;algodão também foi cultivado. Opapiro que cresce nas margens do Nilo era usado para fazer suporte de escrita.[201]Legumes (pepino,cebola)leguminosas (feijão,fava,grão-de-bico,lentilha,alfarroba), verduras (alface),condimentos (alho,alho-poró,alecrim,gergelim,orégano,tomilho) e frutas (tâmara,melancia,melão,maçã,romã,laranja,banana,limão,pêssego,figo,jujuba,uva) foram cultivadas em hortas perto das casas em solo elevado, e tiveram de ser regadas manualmente; houve produção devinho.[202][203] Foi ainda evidenciada a presença do cultivo depapoula emirto.[204][205]

Assim era praticada a horticultura, sendo produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e legumes; também eram plantadas árvores frutíferas e videiras. O Egito era um dos "formigueiros humanos" do mundo antigo, em virtude da sua extraordinária fertilidade renovada anualmente pelosaluviões [cheias] do Nilo. Sendo a vida agrícola inteiramente dependente da inundação, quando esta faltava ou era insuficiente ocorria a fome - apesar das reservas acumuladas pelo Estado - e morriam milhares de pessoas. Temos muitos documentos escritos (e às vezes pictóricos) que se referem a tais épocas calamitosas. Numa delas, […] segundo parece, houve casos decanibalismo.
 
Cardoso, Ciro Flamarion S.O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.[206].

Criação animal

Rebanho de bovinos

Os egípcios acreditavam que uma relação equilibrada entre pessoas e animais era um elemento essencial da ordem cósmica e que por conseguinte os animais e plantas eram membros de um todo.[207] Animais, tantodomésticos como selvagens, foram, portanto, uma fonte essencial de espiritualidade, companheirismo, e sustento. Os bovinos foram os animais mais importantes; a administração coletava impostos sobre o gado nos censos regulares, e o tamanho de um rebanho refletia o prestígio e a importância da propriedade ou do templo que o possuía. Além do gado, os antigos egípcios apascentavamcaprinos,ovinos esuínos. Aves comopatos,gansos epombos eram capturados em redes e criados em fazendas, onde eram alimentados à força com massa para engordá-los.[208] Asabelhas também foram domesticadas, pelo menos desde o Império Antigo, e forneciam tantomel comocera.[209] Também foram domesticadoshienas eguepardos à caça.[210]

trabalhador arando o campo com tração animal

Os egípcios usavamburros e bois como animais de carga e para lavrar os campos e debulhar as sementes. O abate de um boi gordo era também uma parte central de um ritual de oferenda. Os cavalos foram introduzidos peloshicsos noSegundo Período Intermédio, e ocamelo, apesar de ser conhecido a partir doImpério Novo, não foi usado como um animal de carga até àÉpoca Baixa. Há também evidências que sugerem que oselefantes foram brevemente utilizados na Época Baixa, mas praticamente foram abandonados devido à falta de pastagens.[208] Cães, gatos e macacos eram animais comuns de estimação, enquanto animais de estimação mais exóticos importados do coração daÁfrica, como leões, estavam reservados à realeza.Heródoto observou que os egípcios eram o único povo que mantinha os seus animais em suas casas.[207] Durante operíodo pré-dinástico e nos períodos posteriores, o culto dos deuses em sua forma animal era extremamente popular, como a deusa gataBastet e o deusíbisTote. Esses animais foram criados em grande número nas fazendas a fim de serem sacrificados.[211]

Para complementar a sua dieta, os egípcios caçavamlebres,antílopes, aves,hipopótamos ecrocodilos por meio de redes, arcos e lanças, assim como pescavamcarpas, pescadas (no Delta) e, especialmente,tilápias com o emprego deanzóis earpões; os peixes eram desidratados ao sol para conservação.[204]

Os egípcios foram muito ativos nas suas tentativas de domesticação de animais […] Chegavam a experimentar hienas, antílopes,grous epelicanos! O gado maior — bois, asnos, […] — servia em primeiro lugar para puxar o arado, para separar os grãos da palha e para o transporte. O cavalo era usado para puxar carros, e não montado. Vacas e bois eram usados também à alimentação (carne, leite) e sacrificados aos deuses. […] O gado menor compreendia ovelhas, cabras e porcos.
[…] A agricultura e a criação eram complementadas pela pesca […], praticada no Nilo, nos pântanos e nos canais com rede, anzol, nassa e arpão. Boa parte dos peixes era secado ao sol. Também a caça era praticada no deserto e nos pântanos, usando-se para tal o cão, o arco e o laço, e capturando-se aves selvagens com redes.
 
Cardoso, Ciro Flamarion S.O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.[206].

Mineração

OMapa de Turim descreve as minas deUádi Hamamate e é o mapa de cunho topográfico conhecido mais antigo

O Egito é rico em pedras de decoração e construção, cobre eminérios dechumbo,ouro epedras semipreciosas. Estesrecursos minerais permitiram aos egípcios construir monumentos, esculpir estátuas, fazer ferramentas ejoias.[212] Osembalsamadores utilizavamsais deUádi Natrum (natrão) paramumificação, que também proporcionou agipsita necessária para fazergesso.[213] Formações rochosas de minérios foram encontradas em barrancos inóspitos e distantes do Deserto Oriental e no Sinai, exigindo grandes expedições controladas pelo Estado para obter os recursos naturais ali localizados. Havia extensas minas deouro naNúbia, e um dos primeiros mapas conhecidos é de uma mina de ouro na região.Uádi Hamamate foi uma importante fonte degranito,grauvaque e ouro. Osílex foi o primeiro mineral coletado e usado para fazer ferramentas e machadinhas líticas. Nódulos do mineral eram cuidadosamente lascados para fazer lâminas e pontas de flechas, mesmo depois docobre passar a ser usado para essa finalidade.[214]

Os egípcios trabalharam em depósitos de minério de chumbo egalena em Guebel Rosas para fazer chumbo líquido,prumos e pequenas figuras. O cobre foi o material mais importante à fabricação de ferramentas no Antigo Egito e foi fundido em fornos de minério demalaquita eturquesa extraídas doSinai.[215] Através de lavagem, eram coletadaspepitas de ouro de sedimentos de depósitos aluviais. Outro processo para obter ouro, mais trabalhoso, era a moagem e lavagem dequartzito de ouro. Depósitos de ferro achados no norte do Egito, foram utilizados naÉpoca Baixa.[216] Pedras de construção de alta qualidade eram abundantes no Egito; os antigos egípcios extraíramcalcário ao longo do Vale do Nilo,granito de Assuão ebasalto earenito dos barrancos do Deserto Oriental. Depósitos líticos decorativos, tais comopórfiro,quartzo,feldspato verde,ágata,diorito, grauvaque,berilo,alabastro ecornalina pontilhada dos desertos oriental e ocidental foram coletadas antes mesmo da primeira dinastia. Nos período ptolomaico e romano, os mineiros trabalharam em jazidas deesmeraldas de Uádi Sicaite eametista em Uádi Elhudi.[217]

Comércio

Expedição comercial aoPunte
Pesos egípcios em forma de animal

Grande parte da economia estava organizada a nível central e era estritamente controlada. Embora os antigos egípcios não utilizassemmoedas até àÉpoca Baixa, fizeram uso de um sistema de troca monetária,[218] com sacas de grãos como valor padrão e odeben, um peso de cerca de 91 gramas de cobre ou prata, formando um denominador comum. Os trabalhadores eram pagos com grãos; um simples operário podia ganhar5 ½ sacas (250 quilos) de grãos por mês, enquanto um capataz podia ganhar7 ½ sacas (340 quilos). Os preços eram fixados em todo o país e registrados em listas para facilitar a negociação. Por exemplo, uma camisa custava cincodeben de cobre, enquanto uma vaca custava 140deben. Grãos podiam ser trocados por outras mercadorias, de acordo com a lista de preço fixo.[219] Durante oséculo V a.C. odinheiro foi introduzido no Egito por estrangeiros. As primeirasmoedas eram usadas como peças padronizadas de metais preciosos e não como dinheiro propriamente dito, mas nos séculos seguintes as trocas internacionais passaram a depender das moedas.[220]

Os antigos egípcios estiveram envolvidos no comércio com os povos vizinhos para obter mercadorias raras e exóticas não encontradas no Egito. No período pré-dinástico, estabeleceram o comércio com aNúbia à obtenção de ouro,plumas deavestruz, peles deleopardo,incenso emarfim.[221] Também estabeleceram o comércio com aPalestina, como evidenciado por jarros de óleos de estilo palestino encontrados nas sepulturas dos faraós da primeira dinastia.[222] Uma colônia fundada no sul deCanaã foi anterior à primeira dinastia.[223] Na época deNarmer se produziu cerâmica em Canaã que era exportada ao Egito.[224]

Em meados da segunda dinastia, o contato do Antigo Egito comBiblos rendeu um intenso comércio de madeira de boa qualidade não encontrada no Egito. Durante a quinta dinastia, o comércio comPunte abastecia o Egito com ouro, resinas aromáticas,ébano, marfim e animais silvestres, comomacacos ebabuínos.[225] Houve também comércio com aAnatólia para adquirirestanho e para o fornecimento suplementar decobre, dois metais necessários à fabricação debronze. Os antigos egípcios valorizaram a pedra azullápis-lazúli, que tinha de ser importada doAfeganistão. Os parceiros do Egito no comérciomediterrânico também incluíramCreta e aGrécia, que forneciam, entre outras mercadorias,azeite.[226] Em troca de suas importações de luxo e de matérias-primas, o Egito exportava principalmente grãos, ouro,linho epapiro, além de outros produtos acabados, incluindo objetos de vidro e pedra.[227]

Sociedade

Um casal egípcio sentado

A sociedade apresentava uma estrutura fortementehierarquizada.[228][229] Erapatriarcal, com o homem administrando o lar, com participação da mulher, e decidindo os herdeiros através de seu testamento. Os anciãos eram consultados e honrados após a morte.[230] O casamento no mundo egípcio eramonogâmico (embora haja casos debigamia epoligamia na corte faraônica) e não era sancionado pela religião. Não existia uma cerimônia de casamento, nem um registro deste. Aparentemente bastava um casal afirmar que queria coabitar para que a união fosse aceite. Os homens casavam entre os dezesseis e os dezoito anos e as mulheres por volta dos doze, catorze anos. Por serem as mulheres as transmissoras do sangue real, como forma de legitimação do poder, houve casamentos entre irmãos. Também houve casamentos entre faraós e uma de suas filhas.[231] Os homens com uma posição econômica mais elevada poderiam ter, para além da esposa legítima (nebet-per, "a senhora da casa"), váriasconcubinas, o que era visto como um sinal de riqueza. No entanto, as mulheres que tivessem mais de um homem eram mortas.[232]

Aprostituição era uma prática moralmente condenada, mas foi praticada nas margens do Nilo. Foram registrados empapiros eóstracos a prática de favores sexuais em troca de dinheiro, bem como menção a relações sexuais coletivas, o que leva considerar a possibilidade da existência deprostíbulos. No Egito não houve prostituição sagrada, sendo a relação divindade-sacerdotisa, meramente simbólica.[231]

Os antigos egípcios viam homens e mulheres, incluindo as pessoas de todas as classes sociais, exceto os escravos, como essencialmente iguais perante a lei, e até mesmo o mais humilde camponês tinha direito de petição aovizir e sua corte para reparação. Tanto homens quanto mulheres tinham o direito de possuir e vender imóveis, fazer contratos, se casar e sedivorciar, receber herança e ter litígios em tribunal. Os casais podiam possuir bens em conjunto e protegerem-se com contratos decasamento em caso de divórcio, que estipulavam as obrigações financeiras do marido para com a esposa e com as crianças ao final do casamento. As mulheres tinham uma grande gama de escolhas pessoais e oportunidades de realização. Podiam ser da realeza, trabalhar no palácio como amas-de-leite, concubinas ouescançãs (servidoras devinho do faraó) e, nos templos, desde cantoras a sacerdotisas.[233] Outras exerciam poderes divinos comoesposas de Amom. Apesar destas liberdades, as mulheres muitas vezes não participavam em papéis oficiais da administração, servindo apenas em papéis secundários, e não foram tão susceptíveis de serem educadas tal como os homens.[184]

Quando o marido falecia, as mulheres assumiam a chefia familiar e, no caso dos faraós, o Estado. Mulheres comoHatexepsute eCleópatra chegaram a tornar-se faraós. As mulheres podiam receber herança paterna. Normalmente, o filho mais velho assumia o trono faraônico após a morte de seu pai, no entanto, quando só havia filhas como sucessoras ao trono, a mais velha deveria casar para seu marido assumir o trono.[233]

Arte erótica
Seja como for, […] a mulher erasui juris, podendo dispor livremente de seus bens, intentar processos na justiça, tomar a iniciativa do divórcio tanto quanto o homem, desempenhar um papel ativo em diversas atividades produtivas, de serviços e eventualmente de gestão, enfim ir e vir com ampla liberdade. Havia, sem dúvida, certas limitações. Assim, por exemplo, se […] achamos mulheres que desempenham funções administrativas ou sacerdotais das quais dependem bens e pessoas pertencentes ao palácio e aos templos, isto diminui muito nos períodos posteriores. Mesmo para o Império Antigo, a presença de mulheres naquelas funções sempre foi quantitativamente muito inferior à dos homens. Em outras palavras, a direção da vida pública sempre esteve maciçamente em mãos masculinas; e tal tendência se fortaleceu com o tempo.

Na vida privada, porém, em termos gerais, mantiveram-se os amplos direitos da mulher: igual participação na herança paterna e materna, controle sobre os seus bens pessoais (mesmo quando geridos pelo marido, situação bastante corrente), etc. É certo, entretanto, que a mulher era encarada como tendo uma vocação essencialmente doméstica […] ligada seja à administração da casa […], seja à realização de tarefas no seu âmbito: fabricação de pão e cerveja, manufatura de fios e tecidos. […] Com maior frequência, era o homem que intervinha em transações e, em geral, na gestão do patrimônio familiar, embora a intervenção direta da mulher fosse considerada algo normal em muitos casos, por exemplo, ao estar ausente o marido, ou na sua incapacidade, ou ainda durante a viuvez, sendo os filhos menores.

 
Cardoso, Ciro Flamarion.Algumas visões da mulher na literatura do Egito faraônico (II milênio a.C.). Citado em:História. São Paulo: UNESP, 1993, v. 12. p. 103-5.[170].

Educação

Estátua de umescriba sentado (IV dinastia,c. 2 620-2 500 a.C.)

As crianças (meninos e meninas) iniciavam sua educação básica no seio familiar; os meninos aprendiam com seus pais princípios éticos, visões da vida, conduta social, ritos populares, etc; as meninas aprendiam com suas mães economia doméstica, culinária, preparação e confecção de roupas; as meninas ricas podiam aprender a tocar instrumentos, cantar, dançar assim como a ler, escrever e trabalhar com operações aritméticas.[234] No processo educacional das classes mais abastadas utilizava-se os chamados "Livros de Instrução", que continham regras para se viver ordenadamente em sociedade assim como elementos morais tais como justiça, sabedoria, obediência, bondade e moderação.[235]

No Antigo Egito havia poucas escolas a funcionar exclusivamente à educação de homens da realeza, da nobreza ou daqueles que almejavam tornar-se escribas, sacerdotes, artistas, escultores ou desenhistas. Iniciando seus estudos entre os cinco e sete anos, os garotos aprendiamleitura eescrita,história egeografia,ciência,medicina eastronomia,aritmética egeometria emúsica. Eram instituições com disciplina muito rigorosa, onde os rapazes que se comportavam mal ou não prestavam atenção eram espancados.[234][235] Diferente dos jovens das classes abastadas que iam a escola, os jovens filhos de camponeses, pescadores e artesãos aprendiam desde tenra idade os ofícios de seus pais para que assim os pudessem suceder.[236]

Hierarquia social

Ofaraó exprimia a própria vida do Egito e era o topo a hierarquia. Na foto estátua deHatexepsute, noMuseu Egípcio doCairo

No topo da hierarquia social estava ofaraó, que possuía poderes absolutos, tomando decisões militares, religiosas, econômicas e judiciais,[183] além de ser o dono nominal de todas as terras.[228][237] Nos períodos de cheia o faraó ordenava que a população exercesse outras funções como, por exemplo, a construção de obras públicas.[238] Enquanto vivo, o faraó era encarado como uma personificação do deusHórus, enquanto que seu antecessor falecido era associado aOsíris, pai de Hórus, houvesse ou não relação de consanguinidade entre os soberanos. A partir daV dinastia os reis apresentam-se também como filhos de, o deus solar.[239]

Os faraós possuíam muitas mulheres e filhos. Sua mulher principal, denominadahemet nesut, "esposa do rei", podia ser sua irmã ou uma de suas filhas. Os faraós possuíam diversas insígnias: opschent (a união das coroas doAlto eBaixo Egito), oscetroscrossa echicote, onemés (ornamento para cabeça decorado com uma cobra e um abutre que simbolizavam, respetivamente, o Baixo e Alto Egito) e a barba postiça. Podia ser simbolicamente traduzido comoesfinge, e era associado a animais como a pantera, o leão e o boi. A palavra faraó, vinda do egípcioper aâ, significa "Casa Grande". Tornou-se o nome oficial dos líderes do Egito apenas durante aXVIII dinastia, pois até então habitualmente os líderes referiam-se a si mesmos comonesu (rei) ouneb (senhor). A partir daV dinastia atitulatura dos reis incluía cinco nomes reais: nome deHórus, nome das Duas Mestras, nome de Hórus de Ouro, prenome e nome.[237]

Abaixo do faraó e de sua família na pirâmide social encontrava-se o grupo denominado como "classe do saiote branco" (ou classe dos dominantes), em referência ao vestuário de linho decorado que trajavam.[240] Primeiramente vinham os nomarcas e vizires. Os nomarcas administravam as províncias imperiais enquanto os vizires controlavam o arrecadamento de impostos, fiscalizavam as obras públicas, os celeiros reais, participavam do alto tribunal de justiça e chefiavam a polícia e as tropas. Abaixo destes estavam os sacerdotes que administravam os templos, cultos e as festas religiosas, eram conselheiros dos faraós e usufruíam de terras, isenção de impostos e prestígio. Muito importantes à máquina burocrática do governo, osescribas cobravam impostos, organizavam as leis e a escrita, determinavam o valor das terras, copiavam poemas, hinos e histórias, escreviam cartas, realizavamcensos populacionais e calculavam os estoques de alimentos, produção agrícola, área de terras aráveis, atividades comerciais, de soldados, necessidades do palácio, etc. A partir do Império Novo surge uma nova classe, os grandes comerciantes, que monopolizavam o comércio exterior.[228][237]

Espancamento de um escravo

Abaixo das classes dominantes situavam-se as classe dominadas. Primeiramente vinham os soldados que recebiam produtos por serviços prestados e tomavam espólios desaques, mas que nunca ascendiam a altos postos no exército. Abaixo destes vinham osartesãos (tecelões, pintores, barbeiros, cozinheiros, barqueiros, ceramistas, escultores, joalheiros,ferreiros, etc.), que trabalham especialmente para os faraós, à nobreza e para os templos e para os pequenos comerciantes que vendiam seus produtos nos mercados das cidades. Os camponeses (oufélas) formavam a maior parte da população e eram agricultores, pecuaristas e pescadores. Mesmo sendo eles os produtores, os produtos agrícolas eram propriedade direta do Estado, dos templos ou da família nobre que possuía a terra.[241] Os camponeses também estavam sujeitos a um imposto sobre o trabalho e eram obrigados a trabalhar na construção de obras públicas e limpeza de canais em um sistema similar àcorveiamedieval na Europa.[242] Também eram obrigados a trabalhar nos transportes e por vezes no exército. Abaixo dos camponeses vinha a base da pirâmide, osescravos (hemu e/oubaku[243]). Cativos ou condenados da justiça, trabalhavam em atividades domésticas, públicas ou religiosas.[244] Gozavam de direitos civis e aprendiam a escrita.[228][229]

Vida cotidiana

Ver artigo principal:Costumes do Antigo Egito
Nobres jogando uma forma primitiva dexadrez, segundo a concepção artística deSirLawrence Alma-Tadema, (1879)

A maioria da população era constituída por agricultores ligados à terra. Suas habitações eram restritas aos membros imediatos da família, e foram construídas comtijolos de barro destinadas a manter o frescor no calor do dia. Cada casa tinha uma cozinha com teto aberto, o qual continha uma pedra demoinho para moagem de farinha e um pequeno forno para cozer pão.[245] As paredes eram pintadas de branco e podiam ser cobertas com tapetes delinho tingido. Os pavimentos eram cobertos comesteiras de palha, enquanto que a mobília era composta de bancos de madeira, camas levantadas a partir do piso e mesas individuais.[246] As mães eram responsáveis por cuidar dos filhos, enquanto o pai fornecia a renda da família.[247]

Dançarina

A higiene e aparência pessoais eram tidas em grande valor. A maioria banhava-se no Nilo e usava um sabão pastoso, osuabu, feito de gordura e giz. Os homens raspavam todo o corpo para limpeza, e usavam perfumes, óleos aromáticos e pomadas para ocultar maus odores e manter a pele suave.[248] Os óleos eram feitos com gordura vegetal ou animal e eram aromatizados commirra,incenso outerebintina. Um tipo de sal, obed, era usado para gargarejar. As mulheres da corte passavam por um processo mais completo: depilavam-se, massageavam rosto e braços com pomada de mirra, colocavam um creme verde demalaquita nas pálpebras, desenhavam uma linha dekohl preto para alongar os olhos, colocavam pó deocre nas bochechas e lábios e pintavam as palmas das mãos e a sola dos pés comhena.[249]

Nefertari jogando Senet, pintura da tumba da RainhaNefertari do Egito(1295–1255 a.C.)

Tanto os homens como as mulheres da classe alta usavamperucas, jóias e cosméticos. Inicialmente as mulheres tinham o costume de manter os cabelos curtos, no entanto, ao longo dos séculos adotaram os cabelos compridos; os homens adultos utilizavam cabelos curtos e as crianças e os sacerdotes raspavam a cabeça. As mulheres vestiam um vestido de linho branco e os homens uma tanga; a população trabalhadora habitualmente andava nua ou então usava apenas um pedaço de tecido enrolado a cintura.[250] As crianças ficavam sem roupas até a maturidade, cerca dos doze anos, e nessa idade os homens eramcircuncidados e suas cabeças eram raspadas. Vizires, sacerdotes e o faraó usavam vestimentas especiais, respetivamente vestidos, peles de panteras e tangas costuradas com fios de ouro. No geral, havia apenas duas opções para os pés: nudez ousandálias. Estas podiam ser de junco e papiro amarrados com barbante (mais simples) ou de couro costurado com linha de papiro (mais sofisticadas). Membros das classes mais elevadas da sociedade, costumeiramente adornavam o corpo com joias. As joias também eram usadas pela população menos abastada da sociedade por poderem se tratar de amuletos. Eram deouro,prata,cobre oucerâmica, incrustadas com pedras preciosas ou pasta de vidro colorido. Podiam serdiademas,colares,brincos,pulseiras,anéis ecintos.[249]

Amúsica e adança eram entretenimentos populares para aqueles que podiam pagar por elas.Instrumentos antigos incluíamflauta eharpas,[251] enquanto os instrumentos semelhantes atrompetes,oboés egaitas desenvolveram-se mais tarde e se tornaram populares. NoImpério Novo, os egípcios tocavamsinos,címbalos,tamborins, etambores e importaramalaúdes e harpas daÁsia.[252] Osistro foi um instrumento musical do tipochocalho que era especialmente importante em cerimônias religiosas. Os faraós possuíam uma banda preferida, oshinodos que os acompanhavam em grandes cerimônias religiosas. Para divertimento dos presentes em banquetes havia dançarinas que dançavam em movimentos lentos,mímicos, que contavam lendas dos deuses e os imitavam, epigmeus daÁfrica Central que dançavam danças rápidas e rítmicas.[249]

Eram praticadas diversas atividades de lazer, incluindo jogos e música. OSenet, um jogo de tabuleiro onde as peças se mudam de acordo com o acaso, era particularmente popular desde os primeiros tempos; outro jogo semelhante foi oMehen, que tinha um tabuleiro em forma de serpente. Jogos demalabarismo, vara e bola eram populares entre as crianças, e também está documentada luta em uma tumba emBeni Haçane.[253] Os membros ricos da sociedade praticavam caça e davam passeios de barco também. Havia uma grande variedade de brinquedos infantis, todos de madeira:piões, figurinhas, bonecas, cavalinhos e até bonecos articulados.[249]

Língua e escrita

Ver artigo principal:Língua egípcia

Desenvolvimento histórico

HIERÓGLIFO
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Z1
nkmmt
O49
r n kmt
'Língua egípcia'

Alíngua é umalíngua afro-asiática setentrional intimamente relacionada com oberbere e aslínguas semíticas.[254] Tem a história mais antiga a seguir aosumério, tendo sido escrita desde3 200 a.C. até àIdade Média, permanecendo como uma língua falada por mais tempo. Distinguem-se as fases doegípcio arcaico,antigo,médio (clássico),tardio,demótico ecopta.[255] Os escritos egípcios não apresentam diferenças antes do dialeto copta, no entanto, provavelmente existiam dialetos orais regionais nas regiões deMênfis e, posteriormente, deTebas.[256]

O egípcio antigo foi umalíngua sintética, tornando-se posteriormente em umalíngua mais analítica. O egípcio tardio desenvolveuartigos prefixais definidos e indefinidos, que substituíram ossufixos flexionais anteriores. Há uma mudança davelha ordemVerbo Sujeito Objeto paraSujeito Verbo Objeto.[257] Oshieróglifos egípcios, aescrita hierática e odemótico acabaram por ser substituídos peloalfabeto copta, mais fonético. O copta ainda é usado naliturgia daIgreja Ortodoxa do Egito, e vestígios dela são encontrados noárabe egípcio moderno.[258]

Som e gramática

APedra de Roseta, artefato que permitiu aos linguistas traduzir oshieróglifos egípcios[259]

O egípcio antigo tinha 25 consoantes similares aos de outras línguas afro-asiáticas. Estas incluíamconsoantes faríngeas eenfáticas,oclusivas sonoras e surdas,fricativas surdas eafricadas surdas e sonoras. Havia inicialmente três vogais longas e três vogais curtas, que se expandiram no egípcio tardio para cerca de nove.[260] Uma palavra básica em egípcio, semelhante ao berber e semita, tem consoantes e semiconsoantes deraiz triliteral e biliteral. Sufixos são adicionados para formar palavras. A conjugação verbal corresponde àpessoa. Por exemplo, o esqueleto triconsonantalS-Ḏ-M é o núcleo semântico da palavra "ouvir"; sua base conjugal ésḏm ("ele ouve"). Se o sujeito é um substantivo, sufixos não são adicionados ao verbo; por exemplo:sḏm ḥmt ("a mulher ouve").[261]

Inscriçãocopta

Osadjetivos são derivados desubstantivos por um processo que os egiptólogos chamamnisbação devido à sua semelhança com o árabe.[262] A ordem das palavras em frases verbais e adjetivas éPREDICADO-SUJEITO, eSUJEITO-PREDICADO em frases nominais e adverbiais.[263] O sujeito pode ser movido para o início das frases se é longo e é seguido por umpronome resumptivo.[264] Verbos e substantivos são negados por umapartícula n, mas nn é usado para frases adverbiais e adjetivas. Oacento tônico recai sobre a última ou penúltima sílaba, que pode ser aberta (CV) ou fechada (CVC).[265]

Escrita

Ver artigos principais:Hieróglifo,Hierático, eEgípcio demótico

A escrita hieroglífica datada de3 200 a.C. (túmulo U-j da necrópole deUmel Caabe deAbidos[70]) é composta de cerca de 500 símbolos, que podiam ser reproduções de animais, plantas, pessoas ou partes do corpo e utensílios utilizados pelos egípcios.[266] Um hieróglifo pode ser uma palavra, um som ou um determinante mudo; e o mesmo símbolo pode servir a diferentes propósitos em contextos diferentes. Os hieróglifos foram uma escrita formal, usados empapiros, monumentos líticos e nos túmulos, que podem ser tão detalhados como obras de arte. No dia-a-dia, osescribas usavam uma forma deescrita cursiva, chamadahierática, que era mais simples e rápida de escrever, escrita em pedras, papiros e placas de madeira.[267] Enquanto os hieróglifos formais podem ser lidos em linhas ou colunas em qualquer direção (embora, geralmente, escritos da direita à esquerda), a hierática era sempre escrita da direita à esquerda, geralmente em linhas horizontais. Para se saber a direção a qual se devia ler os hieróglifos, era preciso olhar à direção a qual as figuras humanas ou de pássaros estavam olhando, pois são estes que mostram o início do texto.[268] Uma nova forma de escrita surgida noséculo VII a.C., ademótica, tornou-se predominante, substituindo a hierática.[269]

Por volta doséculo I d.C., oalfabeto copta começou a ser usado juntamente com a escrita demótica. O copta é umalfabeto grego modificado com a adição de alguns sinais demóticos.[270] Embora os hieróglifos formais tenham sido usados em contexto cerimonial até aoséculo IV, no final apenas um pequeno grupo de padres sabiam lê-los. Como os estabelecimentos religiosos tradicionais foram dissolvidos, o conhecimento da escrita hieroglífica estava quase perdido. As tentativas de decifração são datadas doperíodo bizantino[271] e doperíodo islâmico,[272] mas apenas em 1822, após a descoberta daPedra de Roseta e anos de pesquisa deThomas Young eJean-François Champollion, os hieróglifos foram quase totalmente decifrados.[273] Na Pedra de Roseta estão presentes três formas de escrita: hieróglifos formais, hierática e grega.[268]

Literatura

Ver artigo principal:Literatura do Antigo Egito
OPapiro Edwin Smith (c.século XVI a.C.) descreve aanatomia e tratamentos médicos e está escrito emhierática

A literatura do Antigo Egito inclui textos de caráter religioso (como os hinos às divindades), mas igualmente obras de natureza mais secular, como textos sapienciais,contos epoesia amorosa. A literatura apareceu pela primeira vez em associação com a realeza em rótulos e etiquetas para os itens encontrados em tumbas reais. Foi principalmente uma ocupação dosescribas, que trabalhavam à instituiçãoPer Ankh ou aCasa de Vida,[268] para os escritórios, bibliotecas (chamadasCasas dos Livros), laboratórios e observatórios.[274] Algumas das peças mais conhecidas da literatura, como osTextos das Pirâmides e dosTextos dos Sarcófagos, foram escritos em egípcio clássico, que continuou a ser a língua da escrita até1 300 a.C. Durante este período, a tradição da escrita evoluiu às autobiografias em túmulos, como os deHarcufe eUni.[275]

Papiro corações

O gênero conhecido comoSebayt (ensinamentos) foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste gênero destaca-se oEnsinamento de Ptaotepe, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. OPapiro Ipuur, um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo doPrimeiro ou doSegundo Período Intermédio. AsAventuras de Sinué, texto egípcio escrito durante o Império Médio, é um clássico da literatura, contando as peripécias de um nobre que estava a serviço em uma expedição que estava em terras estrangeiras. Com a morte deAmenemés I, é enviada uma mensagem aos seus filhos que estavam em terras estrangeiras pedindo para que regressem. Sinuhe acaba ouvindo uma intervenção de um desses príncipes que em sua dedução era uma conspiração contra o herdeiro. Temendo pela sua vida, opta pela fuga. OPapiro Westcar também escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas aQuéops por seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes. A obraInstruções de Amenemés descreve a conspiração que levaram a morte de Amenemés, e ordena a seu filho não confiar em ninguém. O poema forma uma espécie deapologia dos atos do reinado do velho rei. Termina com uma exortação a Senusret para subir ao trono e governar sabiamente no lugar de seu pai. Outras histórias famosas são oConto do Náufrago (história de um comandante que foi o único sobrevivente de uma tempestade que naufragou o seu barco e o levou até a ilha de Ka, onde se depara com o seu único habitante, um deus serpente), oConto do Camponês Eloquente (história de Khuenanupu, um homem que foi injustiçado durante sua viagem aoVale do Nilo para trocar seus produtos,[276] oConto do Príncipe Predestinado (história de um príncipe amaldiçoado), oConto de Dois Irmãos (história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e aSátira dos Ofícios (sátira realizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).[268]

O egípcio tardio foi falado noImpério Novo e ocorre em documentos administrativos doperíodo raméssida, poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças populares como aHistória de Unamón e aInstrução de Ani. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia aoLíbano para comprar madeira decedro e as suas peripécias para voltar ao Egito. Durante este período, papiros como oPapiro Cester Beatty I,Papiro Harris 500 e um fragmento doPapiro de Turim mostram um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão eerotismo. A partir de cerca de700 a.C., histórias narrativas e instruções, como a popularInstruções de Onchsheshonqy, bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos emdemótico. A ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período greco-romano decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente governada por grandes faraós comoRamessés II.[277]

Religião

Ver artigo principal:Religião no Antigo Egito
Ver também :Filosofia egípcia antiga
Tríade de Abidos (Osíris, Hórus e Ísis)
Estátua

O Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a morte de tal modo que o reinadofaraônico foi baseado no direito divino dos reis;[278] considerava-se o faraó filho do deus (depois conhecido como Amom-Rá ao ser fundido comAmom[239]).[279] A religião teve influência tanto em âmbito ideológico (a história foi explicada em viés divinos) como em carácter prático (a sociedade assim como a economia moldaram-se por influência de tal instituição); durante a história a economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade, o culto às divindades sobressaía as crenças gerais, o que faz da religião maisortoprática do queortodoxa.[280]

Os egípcios antigos erampoliteístas e seus deuses representavam diversos elementos naturais que eram vinculados com elementos cotidianos.[281] Cada cidade possuía seu deus padroeiro assim como um específico animal sagrado que a ele era consagrado; caso uma cidade se tornasse capital do reino (p. ex.Tebas) o deus local, da mesma forma que o animal a ele dedicado, eram elevados ao âmbito nacional e, consequentemente, começavam a ser cultuados por todo o império (p. ex. Amom).[279] Os deuses egípcios tinham características antropomórficas, zoomórficas ou mistas;[282] conquanto, embora idealizassem seus deuses com certas características animais, pode-se considerar que postulavam que tal deus possuísse as habilidades daquele animal e não necessariamente sua forma.[280]

Os deuses, muitas vezes evocados para ajuda e/ou proteção, também eram provedores de grandes males, de modo que tinham que ser aplacados com oferendas e orações. Assim como a sociedade, omundo divino egípcio era fortemente hierarquizado; continuamente, por meio de mitos diversos, os deuses dopanteão eram promovidos ou rebaixados neste hierarquia. Tal fato ocorreu, pois os sacerdotes não se esforçavam para organizar os diversos mitos, por vezes conflitantes, em um sistema coerente,[283] já que consideravam estas diversas concepções divinas, múltiplas facetas da realidade.[284] Os deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades); destes pode-se citar aEnéade de Heliópolis, aOgdóade de Hermópolis e as Tríades deMênfis,Tebas eElefantina.[280]

Os deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos e os cultos eram administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam,maquilavam e alimentavam a estátua do deus que permanecia trancada em umnau no centro do templo. Os templos não eram locais para adoração pública, e somente em dias comemorativos ou em festas selecionava-se um santuário para onde se transportava a estátua para que houvesse adoração pública;[285] as procissões que transportavam as estátuas, que eram assistidas pela população, contavam com a participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas cultuais privadas, assim como amuletos de proteção.[280] Após oImpério Novo o papel do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado devido ao desenvolvimento de um sistema de oráculos para comunicar as vontades divinas diretamente a população.[286]

Os egípcios durante sua história desenvolveram um pleno conceito de vida após a morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir doPrimeiro Período Intermédio alargou-se para toda a população, o que provocou um considerável aumento do uso de práticas como amumificação.[280] Segundo a visão egípcia os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (šwt), alma (), força vital () e nome.[287] Ocoração, ao invés docérebro, era considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um indivíduo seus aspectos espirituais são liberados e estes necessitam de restos físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava voltar a seu e de modo a se tornar umanque (akh). Para isto acontecer era necessário que o defunto fosse julgado digno noTribunal de Osíris, onde seu coração era pesado;[282] caso considerado digno, este poderia continuar a existir na terra em forma espiritual;[288] caso contrário seria devorado por um monstro que consistia na mistura de três animais,leão,crocodilo ehipopótamo.[285]

Práticas funerárias

Cerimônia daAbertura da boca

Os antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamentos que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte.[289] Estes costumes envolviam preservar o corpo por mumificação, realizando cerimônias fúnebres, e enterrando, junto com o corpo, o espólio que seria utilizado pelo falecido quando ressuscitasse; antes doImpério Antigo os corpos eram enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados pordessecação. Após aV dinastia, a mumificação, privilégio exclusivo às classes abastadas do Egito, tornou-se acessível para toda a população, mesmo que de forma variada.[280] Durante oImpério Novo tornaram-se comuns ossarcófagos antropomórficos e, durante aXX dinastia a prática de decoração das tumbas foi alterada pela prática da decoração dos sarcófagos.[290] Múmias daÉpoca Baixa também foram colocadas em sarcófagos comcartonagem pintada. As práticas de preservação real diminuíram durante as erasptolomaica eromana, quando passou a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que passaram a ser decoradas.[291]

Máscara de Anúbis
Múmias de animais

O sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e vinhos corrosivos peloânus para dissolver os órgãos internos. Após alguns dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era enfaixado com peles de animais para ser enterrado no deserto onde se conservaria por dissecação. Os ricos, por outro lado, possuíam um processo diferente, a chamada mumificação artificial. Inicialmente o cérebro era removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os outros órgãos (prática iniciada após aIV dinastia[30]), com exceção do coração, eram retirados, mumificados e depositados emvasos canópicos. O interior do corpo era lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido commirra ecanela; posteriormente era embebido emnatrão (mistura de sais) por 70 dias. Por fim era lavado para receber resinas e perfumes e ser enfaixado com tiras de linho embebidas em goma; entre as tiras havia amuletos de proteção. O corpo recebia uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos líticos ou madeira.[280]

O cortejo fúnebre se iniciava após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago. Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos, sacerdotes ecarpideiras contratadas o acompanhavam. Ao chegarem no seu destino se procedia a uma série de rituais dos quais o mais importante era o daAbertura da boca. Neste ritual, a múmia era retirada do sarcófago para ser segurada por um sacerdote com uma máscara deAnúbis. Então, o filho do morto ou outro herdeiro se vestia com roupa de leopardo e, simbolicamente, com uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto para este recuperar o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no sarcófago para ser enterrado.[285]

O ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A partir do Império Novo, os "livros dos mortos" foram incluídos nos túmulos, juntamente com estátuaschauabtis que, segundo as crenças, realizavam trabalhos manuais por eles na vida após a morte.[31] Enquanto a classe pobre era enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que podiam ser pirâmides,hipogeus (túmulos subterrâneos cavados nos barrancos dos rio ou em encostas de montanhas) emastabas (tumbas de base retangular com salas para oferendas).[292] Como forma de proporcionar serenidade ao morto, os túmulos foram pintados com cenas da vida do morto.[280] Após o enterro, se esperava que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e recitar orações em nome do falecido.[293]

Mumificação animal

Ver artigo principal:Mumificação de animais

Outra prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser bichos de estimação, pedaços de carne às múmias ou então animais sagrados, divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos destinados aos templos de culto a animais. A partir daXXVI dinastia, as múmias votivas tornaram-se populares, o que gerou um intenso comércio que empregou legiões de trabalhadores especializados.

Entre os animais embalsamados podem se citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes, crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves,escaravelhos,musaranhos e serpentes. Os animais eram preparados como as múmias humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou então dissolvidos, depois eram lavados interiormente com vinho e depois banhados em natrão para ressecamento e posteriormente eram envoltos com resinas para fixação das bandagens de linho.[294]

Arte

Ver artigo principal:Arte do Antigo Egito
Busto de Nefertiti, pelo escultorTutemés, é uma das mais famosas obras-primas desta arte

Os antigos egípcios produziram arte para servir propósitos funcionais. Por mais de 3 500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e a iconografias que foram desenvolvidas durante o Império Antigo, na sequência de um rigoroso conjunto de princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança interna.[295] Estes padrões artísticos – linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com características projeções planas das figuras sem indicação de profundidade espacial - criou um senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição. Imagens e textos foram intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos templos, caixões, estelas e até estátuas. APaleta de Narmer, por exemplo, exibe figuras que também podem ser lidos como hieróglifos.[296] Por causa das regras rígidas que presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e clareza.[297] A hierarquia social e religiosa influenciava no tamanho dos personagens.[298]

As figuras nas pinturas ebaixo-relevos são descritas respeitando-se alei da frontalidade: cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros, umbigo e baixo-ventre de frente.[299] O personagem principal de uma pintura devia aparecer sempre maior do que os personagens secundários. Faraós mandaram gravar emrelevos vitórias de batalhas, decretos reais e cenas religiosas. Eram dispostos em faixas horizontais acompanhados por hieróglifos e apresentavam até "balões" indicando falas.[300]

Pintura deNefertari no seu túmulo

As cores possuíam uma função simbólica nas pinturas: o preto (sobrancelhas, perucas, olhos e bocas) simbolizava a noite, a morte, a fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo; o branco (vestes dos sacerdotes, objetos rituais, casas, flores e templos) a pureza, verdade, alegria e triunfo; o azul, o Nilo e o céu; o verde, a regeneração e a vida; o amarelo, a eternidade; e o vermelho, a energia, o poder, a sexualidade eSeti. A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre.[298][300] As tintas eram obtidas a partir de minerais, comominérios de ferro (ocre vermelho e amarelo),minérios de cobre (azul e verde),fuligem oucarvão (preto), ecalcário (branco). As tintas podem ser misturadas comgoma-arábica como aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando necessário.[301] No entanto, análises de múmias de cerca de3 200 a.C. mostram sinais deanemia hemolítica e outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados (chumbo,mercúrio,arsênio,cobre) que eram usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.[302]

Os artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto,pórfiro,xisto,diorito e ogranito) para esculpir estátuas e finos relevos, mas usavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam objetivos políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinham sobretudo um objetivo religioso.[carece de fontes?] No geral as estátuas têm figura que olha à frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros, com os braços colados ao corpo. As estátuas que se encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o e o deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante mostrar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Giza e osColossos de Memnon.[107][132]

Os cidadãos comuns tiveram acesso a obras dearte funerária, tais como estátuaschauabtis e o livro dos mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte.[289] Durante oImpério Médio, modelos de madeira ou de barro com cenas da vida diária tornaram-se populares aditamentos aos túmulos. Em uma tentativa de duplicar as atividades da vida após a morte, estes modelos mostram operários, casas, barcos e até mesmo formações militares que são representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.[303]

Apesar da homogeneidade da arte, os estilos de determinadas épocas e lugares, por vezes reflete a mudança de atitudes culturais ou políticas. Após a invasão doshicsos noSegundo Período Intermédio,afrescos de estilominoico foram encontrados emÁvaris.[304] O exemplo mais marcante de uma mudança de motivação política na forma artística encontra-se noPeríodo de Amarna, quando as figuras foram radicalmente alteradas em conformidade com as ideias religiosas revolucionárias deAquenáton.[305] Este estilo, conhecido como a [arte de Amarna, foi rapidamente e completamente apagado depois da morte de Aquenáton e substituído por formas tradicionais.[306] Durante a época romana osretratos de Faium dominaram a composição mortuária. As máscaras mortuárias foram substituídas por retratos realistas dos defuntos.[300]

Arquitetura

Ver artigos principais:Arquitetura do Antigo Egito ePirâmides egípcias
AGrande Esfinge e aspirâmides de Gizé, erguidas durante oImpério Antigo

A arquitetura do Antigo Egito inclui algumas das estruturas mais famosas do mundo: asGrandes Pirâmides de Gizé e ostemplos em Tebas. Vários projetos foram organizados, construídos e financiados pelo Estado para fins religiosos e comemorativos, mas também para reforçar o poder dofaraó. Os antigos egípcios eram construtores qualificados, usando ferramentas simples mas eficazes e instrumentos de observação, podendo osarquitetos egípcios construir grandes estruturas líticas com exatidão e precisão.[307]

As habitações daelite e dosegípcios comuns foram construídas de materiais perecíveis tais comolama, tijolos deadobe emadeira.[308] Os camponeses viviam em casas simples, enquanto os palácios da elite foram estruturas mais elaboradas. As cidades possuíam bairros diferenciados e eram protegidas pormuralhas.[309] Uns poucos palácios sobreviventes doImpério Novo, tais como os deMalcata eAmarna, mostram paredes ricamente decoradas e chão com cenas de pessoas, pássaros, piscinas de água, divindades e design geométrico.[310]

OTemplo de Edfu é um dos exemplos daarquitetura
Templo egípcio naDescription de l'Égypte

Estruturas importantes, como templos e túmulos, que se pretendia que durassem para sempre, foram construídos em pedra em vez de tijolos. Os mais antigos templos preservados do Antigo Egito, como os deGizé, consistem de simples salões anexos com lajes suportadas por colunas. No Império Novo, os arquitetos adicionaram opilone, o pátio aberto e anexos salõeshipostilos de frente com os santuários dos templos, um estilo que foi padrão até ao período greco-romano.[52]

Os templos deCarnaque eLuxor são dois dos maiores exemplos deste tipo de edificação. A mais antiga e mais popular tumba arquitetônica doImpério Antigo foi amastaba, uma estrutura retangular de teto achatado construída de tijolos de lodo ou pedra acima de uma câmara funerária subterrânea. Apirâmide de degraus deDjoser, a primeira pirâmide construída, é uma série de mastabas líticas empilhadas em cima uma das outras; estas possuem simples arquitraves apoiados em motivos de papiros eflores de lótus.[311]

Foram construídas pirâmides durante o Império Antigo eMédio, mas os governantes tardios abandonaram-nas em favor de tumbas menos notáveis escavadas na pedra.[312] No Império Antigo foram construídas dezenas de pirâmides, entre quais as Pirâmides de Gizé, que são uma dasSete maravilhas do mundo antigo.[167][313] As pirâmides eram formadas por blocos líticos de três toneladas, as quais eram cortadas com cunhas de madeira e depois eram arrastadas para cima em rampas sobre trenós.[308] Os interiores das pirâmides foram construídos dispondo-se um tipo de labirinto onde se era depositado o túmulo faraônico em uma câmara secreta para evitar saqueadores.[299]

Tecnologia e ciência

Ver artigo principal:Ciência do Antigo Egito

O Antigo Egito atingiu níveis de sofisticação e produtividade relativamente altos na tecnologia, medicina e matemática. As primeiras manifestações deempirismo tradicional ocorreram no Egito, como é evidenciado pelos papiros deEdwin Smith noEbers (1 600 a.C.), e as raízes do método científico podem também encontrar-se entre os antigos egípcios.[carece de fontes?]

Faiança e vidro

A produção vítrea foi uma indústria desenvolvida

Mesmo antes do Império Antigo, os egípcios antigos desenvolveram um material vítreo conhecido comofaiança, que eles tratavam como um tipo de pedra artificial semipreciosa. A faiança é umacerâmica feita desílica, pequenas quantidades decal esoda, e um colorante, tipicamentecobre.[314] O material foi usado para fazermiçangas, telhas, figurinhas, e pequenas peças cerâmicas. Vários métodos podem ser usados para criar faiança, mas a produção tipicamente envolve aplicações de materiais pulverizados na forma de uma pasta mais um núcleo deargila, a que foi ateado fogo. Por uma técnica relacionada, os egípcios produziram um pigmento conhecido comoazul egípcio, também chamadofrita azul, que é produzido por fusão (ou sinterização) de sílica, cobre, cal, e um material alcalino como onatrão. O produto pode ser triturado e usado como umpigmento.[315]

Os antigos egípcios sabiam fabricar objetos devidro com grande habilidade, fato comprovado pela grande variedade de objetos cotidianos e de adorno encontrados em tumbas e pela recente descoberta de uma fábrica de vidro, no entanto não é claro se eles desenvolveram o processo independentemente.[316] É também pouco claro se fizeram seu próprio vidro bruto ou meramente importaram lingotes pré-feitos, que derreteram e finalizaram. No entanto, tinham conhecimento técnico para fazer objetos, bem como para adicionarsais minerais para controlar a cor do vidro final. Eram produzidos em diversas cores, incluindo amarelo, vermelho, verde, azul, roxo, e branco, e o vidro podia ser transparente ou opaco.[317]

Medicina

Ver artigo principal:Medicina do Antigo Egito
Instrumentos médicos numa gravura doTemplo de Com Ombo doReino Ptolomaico

Os problemas médicos dos antigos egípcios estavam diretamente relacionados com o meio ambiente. Viver e trabalhar perto doNilo envolvia riscos demalária e deesquistossomose provocada por um parasita debilitante que causa danos aofígado eintestino. Perigosos animais selvagens comocrocodilos ehipopótamos também foram uma ameaça comum. O trabalho vitalício na agricultura e em construções provocavastress nacoluna vertebral earticulações, e ferimentos traumáticos na construção e na guerra tiveram impacto significativo na saúde de muitos egípcios.Cascalho eareia usados para moerfarinha desgastava osdentes, deixando-os suscetíveis aabscessos (emboracáries fossem raras).[318] A dieta dos ricos foi rica emaçúcar, o que provocouperiodontite.[319] Apesar da lisonjeira retratação do físico nas paredes dos túmulos, o excesso de peso de muitas múmias da classe alta mostra os efeitos de uma vida de excesso.[320] Aexpectativa de vida dos adultos foi de 35 para os homens e 30 às mulheres, mas muitos jovens não chegavam a atingir a maioridade, pois aproximadamente um terço da população morria na infância.[321]

Os médicos egípcios foram renomados noOriente Próximo por suas habilidades curativas, e alguns, comoImhotep, mantiveram a sua fama muito para além da sua morte.[322]Heródoto comentou que havia um alto teor de especialização entre os médicos egípcios, com alguns tratando só a cabeça ou oestômago, sendo outros oculistas e dentistas.[323] Os lugares de formação dos médicos, chamadosPer Ankh ou "Casas de Vida", eram áreas de templos que funcionavam comobiblioteca e arquivo, onde também se ministravam conhecimentos e se copiavam textos. Conhece-se a existência de tais instituições emBubástis no Império Novo e emAbidos eSaís naÉpoca Baixa. Ospapiros médicos egípcios evidenciam conhecimentos empíricos deanatomia, doenças, e tratamentos práticos.[324]

Os egípcios foram os primeiros a afirmar que as doenças têm causas naturais, o que os motivou a produzirmedicamentos para combatê-las. Os egípcios produziram a primeirafarmacopeia conhecida. Entre os medicamentos podem-se citar ervas medicinais, sangue delagartos,fezes animais,leite de mulher grávida e livro velho fervido.[325][176] Feridas foram tratadas por bandagem com carne crua, linho branco, suturas, redes e cotonete encharcado com mel para evitar infecções,[326] enquanto ópio foi usado para aliviar a dor.Alho ecebola foram usados regularmente para promover boa saúde e acreditava-se que aliviavam os sintomas deasma. Os cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas, colocavam braços quebrados no lugar, e amputavam membros doentes, mas também reconheceram que alguns ferimentos eram tão graves que a única coisa a fazer era confortar o paciente até sua morte.[327]

A previsão do futuro era praticada através da interpretação dos sonhos; há um papiro com uma relação de sonhos e interpretações.[328]

Construção naval

Barca funerária de Quéops
Ver também :Construção naval

Os egípcios sabiam como juntar tábuas de madeira para construircascos de navios pelo menos desde3 000 a.C. OInstituto Arqueológico da América relatou que alguns dos mais antigos barcos alguma vez desenterrados são os chamadosbarcos de Abidos, um grupo de 14 navios descobertos em Abidos pelo egiptólogo David O'Connor daUniversidade de Nova Iorque. Foram construídos com tábuas de madeira que foram "costuradas" juntas. Foram encontradas alças de tecido usadas para manter as tábuas juntas, e para selar as costuras entre as tábuas, aquelas eram cheias compapiro (junco) e grama.[329] Devido ao fato de todos os navios estarem enterrados juntos perto da casa mortuária do faraóQuenerés (m.2 686 a.C.), originalmente pensou-se que lhe teriam pertencido, mas uma das embarcações foi datada de3 000 a.C. e jarros de cerâmica enterrados associados com os navios também sugerem datação mais antiga. O navio datado de3 000 a.C. tem 23 metros de comprimento e atualmente acredita-se que possivelmente terá pertencido a outro faraó mais antigo. De acordo com O'Connor, pode ter pertencido ao faraóAtótis.[330]

Os antigos egípcios também sabiam como juntar tábuas de madeira comcavilhas de madeira para firmá-las juntas, usandobreu paracalafetar as juntas. O "Navio de Quéops", uma embarcação de 43,6 metros selado em um poço naComplexo das Pirâmides de Gizé ao pé daGrande Pirâmide naIV dinastia em torno de2 500 a.C., é um sobrevivente completo que pode ter cumprido a função simbólica de uma barca solar. Os antigos egípcios também sabiam como prender as tábuas do navio juntas com peças encaixáveis (caixa e espiga).[329] Apesar da capacidade dos egípcios antigos para construir barcos muito grandes e para facilmente navegarem ao longo doNilo, eles não foram conhecidos como bons marinheiros e não se envolveram em amplas expedições marítimas nos maresMediterrâneo ouVermelho.[331]

Matemática

Ver artigos principais:Matemática egípcia antiga eNumerais egípcios
Porção doPapiro de Rhind
Côvado egípcio

Os antigos egípcios utilizavam seus conhecimentos para resolver problemas como controle das inundações, construção de sistemas hidráulicos, preparação da terra à semeadura, mumificação de cadáveres, etc. Os primeiros exemplos atestados de cálculos matemáticos são datados doperíodo pré-dinásticoNacada, e mostram umsistema numeral totalmente desenvolvido.[332] A importância da matemática para um egípcio educado é sugerido por uma carta ficcional doImpério Novo em que o escritor propõe uma competição acadêmica entre ele e outro escriba nas tarefas diárias, tais como cálculo de contabilidade de trabalho, terra e grãos.[333] Textos como os papiros deRhind e o deMoscou mostram que os antigos egípcios podiam realizar as quatro operações matemáticas básicas – adição, subtração, multiplicação e divisão, – usavam frações, calculavam volumes de caixas e pirâmides, e calculavam áreas de retângulos, triângulos, círculos e até mesmo esferas. Eles entendiam os conceitos básicos deálgebra egeometria, e podiam resolver conjuntos simples deequações simultâneas.[334]

Anotação matemática eradecimal, com base em sinais hieróglifos para cada potência de dez até um milhão. Cada um desses símbolos poderia ser escrito tantas vezes quanto necessário para somar o número desejado. Por exemplo, para escrever o número 880 o símbolos de dez e cem eram escritos oito vezes, respectivamente.[335] Por seus métodos de cálculo não poderem lidar comfrações comnumerador maior que um, asfrações dos antigos egípcios eram escritas como a soma de várias frações. Por exemplo, a fração25 (dois quintos) era representada pela soma de13 (um terço) com115 (um quinze avos), o que era facilitado pela existência de tabelas.[336] Algumas frações comuns, porém, eram escritas com um hieróglifo especial; existia, por exemplo um hieróglifo para representar23 (dois terços).[337]

Aproporção áurea parece refletir-se em muitas construções, incluindo as pirâmides, mas seu uso pode ter sido uma consequência não intencional da prática de combinar o uso de cordas com nós com um senso intuitivo de proporção e harmonia.[338] Os matemáticos egípcios antigos compreendiam os princípios subjacentes aoteorema de Pitágoras, sabendo, por exemplo, que umtriângulo tinha umângulo reto oposto àhipotenusa quando seus lados estavam em uma proporção 3-4-5. Eles eram capazes de estimar a área de um círculo, subtraindo um nono de seu diâmetro eelevando ao quadrado o resultado, o que é uma aproximação razoável da fórmulaπr 2:[339][340]

Astronomia e química

Diagrama celeste no teto da câmara funerária dotúmulo de Senemute

A astronomia teve grande importância religiosa, pois era por meio dela que os egípcios determinaram datas de festas religiosas. Com a observação dos astros e enchentes, os egípcios desenvolveram umcalendário,[341] onde o primeiro dia do ano é o primeiro dia das cheias.[170] O calendário egípcio possuía 365 dias divididos em 12 meses de 30 dias; os dias possuíam 24 horas, no entanto, uma hora variava de acordo com as estações agrícolas. O ano era dividido em três períodos de quatro meses: inundações (julho a outubro), plantio (novembro a fevereiro) e colheita (março a junho).[197] Além disso, os egípcios tinham conhecimento de alguns planetas, e agrupavam as estrelas que conheciam emconstelações, produzindo mapas astronômicos.[325][328]

A palavra química vem do egípcioKemi, que significa "terra negra". Para fins medicinais, composições simples, pintura e decoração pessoal os egípcios utilizaram de substâncias químicas comoarsênio,cobre,petróleo,alabastro,calcário,carvão,hematita,óxido de ferro,azurita,malaquita,cobalto,sal,sílex moído,mercúrio, etc.[342] Alguns dos papiros descobertos ao longo das escavações no Egito contêm diversas receitas químicas que incluem: testar a qualidade ou purificar metais, formar ligas, imitar metais preciosos ou pérolas, produzir pigmentos.[343]

Legado

Ver artigo principal:Cultura do Antigo Egito
Turistas montados em umcamelo na frente daPirâmide de Quéfren. AsPirâmides de Gizé são um dos pontos turísticos mais populares do Egito

A cultura e monumentos do Antigo Egito, deixaram um legado duradouro para o mundo. Sua arte e arquitetura foram amplamente copiadas e suas antiguidades levadas a vários cantos do mundo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação dos viajantes e escritores ao longo de séculos. O fascínio por antiguidades e escavações no início doIdade Contemporânea esteve na origem dainvestigação científica desta civilização e levou à maior valorização do seu legado cultural.[344]

Algumas práticas religiosas (circuncisão, práticasesotéricas eocultistas e certas concepções doAlém) são características visíveis em certas crenças atuais. Algumas palavras (comoquímica) e expressões (comoanos de vacas magras) são de origem egípcia, além de terem sido eles os inventores do ancestral do papel, opapiro.[325] Também contribuíram com alguns símbolos daalquimia, como a serpenteouroboros e afênix.[345][346][347]

O culto da deusaÍsis, por exemplo, tornou-se popular noImpério Romano, comobeliscos e outras relíquias sendo transportadas para Roma.[348] Os romanos também utilizavam materiais de construção importados do Egito para erguer estruturas em estilo egípcio. Os primeiros historiadores comoHeródoto,Estrabão,Diodoro Sículo estudaram e escreveram sobre a terra que passou a ser vista como um lugar de mistério.[349]

Frontispício daDescription de l'Égypte(1809–1829)

Durante aIdade Média eRenascimento, a cultura pagã egípcia entrou em declínio após a ascensão, primeiro docristianismo e depois doislã, mas o interesse na antiguidade egípcia continuou nos escritos de estudiosos medievais muçulmanos comoDulnune eAlmacrizi.[350] Nos séculos XVII e XVIII, viajantes e turistas europeus trouxeram de volta as antiguidades e escreveram histórias de suas viagens, levando a uma onda deegiptomania em toda aEuropa. Esse interesse renovado enviou coletores para o Egito, que levaram, compraram ou foram presenteados com muitas antiguidades importantes.[351]

Embora a ocupaçãocolonial europeia do Egito tenha destruído uma parte significativa do legado histórico do país, alguns estrangeiros tiveram atuações mais positivas.Napoleão, por exemplo, organizou os primeiros estudos em egiptologia quando levou cerca de 150 artistas e cientistas para estudar e documentar ahistória natural do Egito, que foi publicado naDescription de l'Égypte.[352]

Noséculo XX, o governo egípcio e os arqueólogos reconheceram a importância do respeito cultural e integridade nas escavações. OConselho Supremo de Antiguidades agora aprova e supervisiona todas as escavações, que visam encontrar informações ao invés de tesouros. O conselho também supervisiona os museus e programas de reconstrução de monumentos concebidos para preservar o legado histórico do Egito.[353]

Notas

  1. Nacada IIc–IIIa2 abrange o período entre 3 500 e3 220/3 200 a.C., enquantoNacada IIIb–IIIc abrange o período entre 3 220/3 200 e3 000 a.C..[21][70]
  2. Em 2012, foi descoberto noSinai, noBaixo Egito, uma inscrição do faraóIri-Hor, que governou em data incerta duranteNacada IIIb(3220/3200–3150 a.C.) antes deNarmer, na qual é feita menção aMênfis, indicando que já teria sido fundada muito antes.[99]

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