A ideia deamar os inimigos é recorrente em diversas religiões e se tornou, especialmente no Ocidente, conhecida através de passagens bíblicas nas quais relatam-se orientações de Jesus como«Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus» (Mateus 5:43–46) A mesma ideia torna a aparecer noEvangelho de Lucas, no qual se lê:«Digo, porém, a vós que me ouvis: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos insultam.» (Lucas 6:27–28).
Essa espécie de regra de ouro, entretanto, não aparece pela primeira vez noNovo testamento. Antes deJesus Cristo, o rabinoHillel já pregava o amor aos inimigos e muito antes deste, Buda fez o mesmo.[1] Deve-se notar, todavia, que ambos evangelhos citados trazem também passagens cujas interpretações podem seguir a direção oposta. Enquanto oEvangelho de Mateus traz adiante em seucapítulo 10, passagem na qual Jesus estabelece que"não veio trazer a paz, mas a espada", oEvangelho de Lucas por sua vez relata nocapítulo 22 que Jesus pediu que se "venda sua capa e compre uma espada" (Lucas 22:35–36)
O teólogo argentinoAriel Álvarez Valdés, que já teve problemas com o Vaticano devido a suas interpretações de textos bíblicos, afirma através de um estudo pretensamente etimológico que quando Jesus mandou amar os inimigos, não utilizou os verbos "erao", "stergo" e "fileo", mas sim o verbo "agapao". Sendo assim, o que se pediria então não é que amemos nossos inimigos do mesmo modo que amamos nossos entes queridos, mas sim apenas termos a capacidade de ajudar aqueles que nos ofenderam.[2]
ABíblia do Peregrino[3] observa que:
“ | O amor ao próximo, em particular aos inimigos, ocupa boa parte do discurso programático deJesus. Dirige-se a todos que escutam. Embora seja formulado em imperativos, não deve ser entendido como um novo código legal para regular uma conduta em determinados casos, mas como uma expressão de umespírito que anima de dentro toda a vida cristã. A motivação não deve ser interesseira; [...]. A motivação é o exemplo de Deus Pai, que seu Filho vem revelar, para devolver sua imagem aos homens. No centro soa aregra de ouro, que outros textos e culturas formularam em termos negativos ("não faças..." Tb 4,15; Eclo 31,15 num campo muito restritivo) eJesus exprime em forma positiva, muito mais exigente: "fazer"; porque oamor inculcado não se esgota em sentimentos (cf. Is 5,1-7). Aqui se vai à raiz daética: fazer o bem/fazer o mal nas relações recíprocas com os outros. [...] | ” |
ABíblia de Jerusalém[7] observa que oaramaico seria uma língua pobre em matizes, razão pela qual a expressão "odiarás teu inimigo" poderia originalmente ter sido dita como algo mais suave, equivalente a: "Tu não tens a obrigação de amar teu inimigo". Portanto a palavra "odiarás" talvez não seja a mais adequada, razão pela qual também é sugerida a expressão "terás aversão". Como indicação da passagem doAntigo Testamento que mandaria "odiar seus inimigos", a referida Nota de rodapé sugere:Eclesiástico 12:4–7.