Definem-se, hoje, comoalemães (emalemão:Deutsche) as pessoas que têm anacionalidade alemã, qualquer que seja a sua origem étnica, cultural ou religiosa.
O conceito de quem éalemão sofreu ao logo da história bastantes variações. Até oséculo XIX, o critério não era de ordem política, mas eram considerados alemães todos os falantes dos dialetos alemães, ou seja, principalmente os habitantes dos territórios hoje pertencentes àRepública Federal da Alemanha (emalemão,Bundesrepublik Deutschland), àÁustria e à maior parte daSuíça. Esta situação explicava-se, antes de tudo, pelo desmoronamento doSacro Império Romano-Germânico e a constituição, no espaço geográfico em questão, de grande número de unidades políticas, geralmente de pequenas dimensões. Com a fundação, em1871, de um Estado alemão abrangente, oImpério Alemão — que excluía a Áustria e a Suíça — o conceito de ser alemão passou a ser reduzido para os habitantes do território do novo país ou àqueles que lá têm origens. Os austríacos e os suíços de língua alemã devem desde então ser classificados comoalemães étnicos, do mesmo modo como minorias noutros países como aBélgica e aItália (na província autônoma deAlto Adige), mas também vários países da Europa do Leste — desde aRússia,[nota 3] osPaíses Bálticos e aPolónia até àRepública Checa,[nota 4] aHungria e aRoménia.[nota 5][nota 6]
Dobaixo latimalamanus, com o mesmo significado, tomada dogermânicoAlemannen, usado para referir-se a uma importante etnia que se constituiu no sul-oeste do território hoje pertencente àRepública Federal da Alemanha (emalemão,Bundesrepublik Deutschland). Formas derivadas encontra-se em várias línguas românicas — para além do português, no francês "allemand" e noespanholalemán. Porém cabe observar que não foi retomado por outras línguas: o termo usado na própria língua alemã éDeutsch e está na origem dotedesco emitaliano, doduits emneerlandês, e dotysk nas línguas escandinavas ~- enquanto o equivalente eminglês éGerman e em finlandês e estóniosaksa (derivado deSachsen ("saxónio").
Quanto ao gentílico 'germano', que também se aplica aos alemães, provém do latimGermanus, derivado do germânicogermannen ("homens da lança"), vocábulo com que se denominavam os povos que habitavam aEuropa Central, num território aproximadamente equivalente ao da atual Alemanha, chamado deGermania, termo que é atualmente utilizado peloitaliano e fonte do inglêsGermany (enquanto outras línguas retomaram do latim a designaçãoAlemania, termo que pelos romanos foi usado paralelamente aGermani).
O termo 'teutônico', ou a forma 'teuto', com o plural gentílico 'teutões' provem do plural latinoTeutoni, povo germânico da antiguidade que migrou durante gerações da Escandinávia até aos confins do Império Romano. O vocábulo por sua vez é oriundo doindo-europeuteuta, mesma origem do termo com o qual os alemães se denominam,Deutsch, e denominam sua terra,Deutschland ("terra alemã").
São consideradas alemãs étnicos aquelas pessoas que falam alíngua alemã, seguem acultura dominante da Alemanha/Áustria/Suíça e possuem origens no espaço germanófono (em alemãodeutscher Sprachraum). Atualmente, a maioria dos alemães étnicos vive no território daRepública Federal da Alemanha. Até a década de 1920, a maior parte da população daÁustria se considerava alemã, mas hoje em dia, após anos de independência, apenas entre 5–10% dos austríacos declararam-se como etnicamente alemães, apesar de todos (salvo ínfimas minorias de origem eslavo) serem alemães étnicos. O terceiro país que, predominantemente, faz parte do "espaço germanófono" é aSuíça, que, naturalmente, inclui fortes minorias de língua francesa e italiana bem como uma pequena minoriareto-românica. Pertencem ainda ao mesmo espaço oLuxemburgo (que tem uma minoria de francófonos e outra de lusófonos) e oLiechtenstein. Como é evidente, os habitantes da Alemanha, da Áustria, da Suíça, do Luxemburgo e do Liechtenstein têm hojeidentidades sociais nacionais claramente distintas, referidas aos estados a que pertencem.
Fora do "espaço germanófono" existem populações etnicamente alemãs, maiores ou menores, numa grande diversidade de países.
NaItália existe uma população de cerca de 400 000 pessoas na região autônoma doTirol Meridional (emalemão: Südtirol, emitaliano: Alto Adige) que falam alíngua alemã. Trata-se de uma parcela doImpério Austro-Húngaro que, por razões históricas, foi anexada pela Itália, após aPrimeira Guerra Mundial. Na região deAlsácia eLorena, naFrança, a população é na sua maioria etnicamente alemã, e ao longo da história as duas regiões pertenceram durante longos períodos à Alemanha, durante outros à França. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a França seguiu uma políticaassimilacionista que fez com que hoje apenas uma minoria ainda fale o alemão, embora os falantes do dialeto alemãoalsaciano sejam cerca de 1,5 milhão.[nota 7] Outras populações falantes do alemão podem ser encontradas nosPaíses Baixos (300 mil),Bélgica (60 mil)[nota 8] eDinamarca (15 mil). No primeiro caso, trata-se do resultado de migrações transfronteiriças que vão nos dois sentidos. Na Bélgica trata-se de uma das três comunidades linguísticas oficialmente definidas, com a particularidade de que a "Comunidade de Língua Alemã" compreende, para além das pessoas de nacionalidade belga, um contingente crescente de nacionais da Alemanha que decidiram fixar-se naquela parte da Bélgica. No caso da Dinamarca existe uma larga zona, que se estende de ambos os lados da fronteira com a Alemanha, onde alemães e dinamarqueses se misturam; deste modo, existe na Alemanha uma Comunidade de Língua Dinamarquesa, oficialmente reconhecida como tal, e na Dinamarca o equivalente para os alemães étnicos.
Nos países vizinhos ou próximos da Alemanha, como aPolônia, aRepública Checa, aHungria e aRoménia, a população etnicamente alemã sempre foi numerosa; porém, após aSegunda Guerra Mundial, a maioria dessas populações foiexpulsa pelos governos desses países (com exceção da Hungria) ou de tal modo limitada nos seus direitos que preferiu voltar para a Alemanha; mesmo assim, permanecem naqueles países minorias relativamente significativas. NaRússia, osalemães do Volga representam uma significativa população desde o século XVIII. Durante aSegunda Guerra Mundial, foram deslocados para aSibéria e para oCazaquistão. Muitos deles voltaram para a Alemanha, mas também neste caso mantém-se na Rússia uma comunidade significativa.
Fora da Alemanha, a maioria das pessoas etnicamente alemãs vivem naAmérica do Norte, principalmente nosEstados Unidos. Isso se deve ao fato da grande imigração de alemães ocorrida nos séculos XIX e XX. No censo de 2000, 44 milhões de norte-americanos (15% da população) declararam ter ascendência alemã, porém, apenas 1,5 milhão são falantes dalíngua alemã. A etnia alemã é a mais numerosa nos Estados Unidos. NoCanadá, 2,7 milhões de pessoas declararam ter ascendência alemã (9% da população).
Depois dos Estados Unidos, oBrasil possui a maior população etnicamente alemã. Baseado em estimativas, aproximadamente 5 milhões de brasileiros (3% da população) possuem ascendência alemã. Cerca de 600 000argentinos (2% da população) possuem ascendência alemã, noChile 500 000 a 600 000 pessoas (4% da população) possuem ascendência alemã. Significativas populações podem ser encontradas noParaguai,México,Peru e outros países latino-americanos.
Nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu um importante fluxo de imigrantes alemães. A imigração começou na primeira metade do século XIX, quando ainda não havia um Estado alemão formado, mas diversos reinos que formavam osEstados Alemães. O Sul do Brasil absorveu a maior parte desses imigrantes, que se dedicaram à agricultura familiar. Ainda hoje, nas regiões brasileiras em que imigraram, a influência alemã é visível.
O uso da língua alemã no Brasil entrou em declínio na década de 1930, quando foi proibida pelo ex-presidenteGetúlio Vargas, durante a ditadura doEstado Novo. O Brasil havia declarado guerra à Alemanha e os imigrantes alemães não podiam mais falar seu idioma natal. Alguns continuaram falando seus dialetos em casa e em lugares privados, mas a maioria acabou por adotar definitivamente o português como língua.
Dos cinco milhões de brasileiros que possuem ascendentes alemães,[2] são poucos aqueles que ainda mantêm laços afetivos com a Alemanha. Todavia, há um significativo número deteuto-brasileiros que se consideram primariamente alemães, principalmente as gerações mais antigas em zonas rurais e isoladas do Sul do Brasil. Embora assimilada, é inegável a contribuição da cultura germânica àcultura do Brasil, como por exemplo aOktoberfest realizado em cidades comoBlumenau, aBauernfest emPetrópolis —RJ, aMünchenfest emPonta Grossa, apommerfest emSanta Maria de Jetibá, e em diversas manifestações culturais que ocorrem sobretudo no sul do país, emSão Paulo e noEspírito Santo.
↑A população total do país é de ~ 85 milhões (2023), inclusive estrangeiros e pessoas de outra origem étnica. Note-se que na Europa, aAlemanha é o país com a mais alta proporção de imigrantes, sendo o grupo maior, de ~ 4 milhões, o de nacionalidadeturca.
↑Só uma minoria ainda tem uma identidade social étnica alemã.