Dionísio, o Exíguo, mongecita (m. 540), foi o primeiro a utilizar o ano do nascimento de Cristo como referência na datação.
Anno Domini (A.D.) é uma expressão emlatim que significa "no ano do Senhor"[1] e é utilizada para marcar os anos seguintes aoano 1 docalendário mais comumente utilizado noOcidente, designado como "Era Cristã" ou, ainda, como "Era Comum". Aparecia em inscrições latinas e ainda é usada nalíngua inglesa, correspondendo à expressão "depois de Cristo" (DC,D.C. oud.C.) e em sucessão ao período "antes de Cristo" (AC,A.C. oua.C.).[2]
Esta era cronológica("Era Cristã" ou "Era Comum"), que é globalmente adotada, mesmo em países de cultura maioritariamente não cristã, para efeitos de unanimidade de critérios em vários âmbitos, como o científico e comercial, foi organizada de forma a contar o ano do nascimento deCristo como ano 1, marcando uma linha divisória no tempo a partir de então. A contagem dos anos assemelha-se à ordem dosnúmeros inteiros (com a exceção de que não existiu um ano zero — pelo que o ano1 a.C. foi imediatamente sucedido pelo ano1 d.C.),[3] pelo que também é comum referir os anos antes de Cristo por números inteiros negativos e os anos depois de Cristo por números inteiros positivos.
Utiliza-se, nesta forma de datação, os calendáriosJuliano eGregoriano. O termoAnno Domini é, por vezes, substituído pela expressão mais formal e descritivaAnno Domini Nostri Iesu Christi ("Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo"). É, por vezes, ainda substituído pela expressãona era da Graça. A forma de datação segundo oAnno Domini foi primeiramente utilizada naEuropa Ocidental durante oséculo VIII.Portugal foi um dos últimos países a adotar o novo método, imposto pelo reiDom João I, a15 de Agosto de1422, em substituição da "era de César". AEspanha já o usava desde meados do século precedente.[carece de fontes?]
Nem todos os países seguem o calendário ocidental:judeus emuçulmanos, por exemplo, organizam anos e meses de maneiras diferentes. Contudo, é o padrão internacional, sendo reconhecido por instituições internacionais como aOrganização das Nações Unidas ou aUnião Postal Universal. Isso justifica-se tanto pelo peso da tradição ocidental quanto pelo facto de que o Calendário Gregoriano foi, durante muito tempo, considerado astronomicamente correto.[carece de fontes?][nota 1]
A dataçãoAnno Domini só foi adotada naEuropa Ocidental a partir doséculo VIII. Tal como os outros habitantes do Império Romano, os primeiros cristãos usavam diversos métodos para especificar os anos, inclusive no mesmo documento. Tal redundância tornou-se útil para os historiadores que puderam, assim, elaborar tabelas comparativas de reinados e outros períodos políticos, com dados de crónicas de diferentes regiões, sob os mesmos governantes.[carece de fontes?]
Uma das formas mais comuns e mais antigas consistia na datação consular, que consistia em nomear os doisconsules ordinarii que iniciavam o seu exercício a1 de Janeiro do ano civil. Por vezes, a designação para o cargo de um dos cônsules, ou mesmo dos dois, podia não ocorrer até Novembro ou dezembro do ano precedente, pelo que, como as notícias levavam meses a chegar aos pontos mais afastados do Império, existem documentos em que o ano é definido como "depois do consulado de...".[carece de fontes?]
Outro método de datação, raramente usado, consistia noanno urbis conditae, ou "no ano da fundação da Cidade" (abreviadamente, AUC), sendo "a Cidade"Roma. (Note-se que, apesar de ser uma confusão frequente, a abreviatura AUC não significa exatamenteab urbe condita, que é o título da História de Roma escrita porTito Lívio, e que se adoptou para nomear esta era). A data da fundação de Roma era disputada entre os próprios romanos, mas os historiadores modernos adoptam, geralmente, a data proposta porVarrão, de753 a.C..[carece de fontes?]
No início doséculo V, o historiadoriberoOrósio usava a eraab urbe condita. Opapa Bonifácio IV, no início doséculo VII, terá sido o primeiro a utilizar, simultaneamente, esta forma de datação, e oAnno Domini, equivalendo a data de 607 = 1360anno urbis conditae.[carece de fontes?]
Outro sistema, menos usado do que é frequente pensar-se, consistia na indicação do ano de reinado de cadaimperador romano. No início,Augusto indicava os anos do seu governo contando as vezes em que foi investido no cargo de cônsul, ou as vezes em que oSenado de Roma renovava os seus privilégios tribunícios, alimentando a ideia de que os seus poderes lhe eram legitimamente adjudicados por estes órgãos de poder e não pelo fato de aproveitar o culto da personalidade de que já gozava, além do número delegiões sob o seu controlo. Os seus sucessores seguiram tal prática até que a memória da República Romana se foi esbatendo (nos final doséculo II ou início do III), quando começaram a usar explicitamente o seu ano de reinado.[carece de fontes?]
Também a pacificação de uma região porAugusto serviu como ponto de partida para um calendário. AEra Hispânica ou Era de César, que foi um calendário usado naPenínsula Ibérica durante mais de um milênio, tinha como ano-base o ano da imposição de uma nova taxa regular de impostos sobre os Ibéricos por Augusto, o que foi um marco simbólico do início daPax romana sobre as províncias daHispânia; muito embora outro motivo para o surgimento deste calendário pudesse ter sido a renovação do acordo doTriunvirato, que confirmou a Augusto o poder sobre a Península.[carece de fontes?]
Os ciclos deindicção (dolatimindictio) consistiam em quinze anos (cada um igual a umaindicção) que marcavam um ciclo determinado por um imposto, contando-se os anos a partir da data em que este era pago.Jesus Cristo nasceu no quinto ano deste ciclo.[4]
Coexistiam, ainda vários sistemas locais de datação ou eras de alguma importância, tal como o ano de fundação de uma dada cidade, o ano de reinado dos imperadorespersas e, mesmo, o ano de governo de um dadocalifa. Particularmente importantes foram aEra dos selêucidas (em uso até aoséculo VIII) e aEra de César (ouEra Hispânica).[carece de fontes?]
Da mesma forma, na Europa, até aoséculo XVI, não existia unanimidade quanto ao primeiro dia do ano, não sendo consensual, exceto emInglaterra, datá-lo no primeiro dia de Janeiro.[carece de fontes?]
Os primeiros cristãos nomeavam cada ano usando, combinadas, as datações consulares, os anos de reinado imperial e a datação a partir dacriação do mundo. A datação consular foi extinta quando o imperadorJustiniano I deixou de nomear cônsules em meados doséculo VI. Pouco depois, tornava-se oficial a datação pelo ano de reinado imperial. O último cônsul a ser nomeado foiAnício Fausto Albino Basílio em541. ASanta Sé manteve, entretanto, um contato regular, durante aIdade Média, com embaixadores doImpério Bizantino, pelos quais sabia com alguma certeza qual o imperador no trono, apesar do número elevado de mortes súbitas e deposições que se sucediam.[carece de fontes?]
O sistema doAnno Domini foi desenvolvido emRoma por um mongecita,Dionísio, o Exíguo, em527, como resultado secundário do seu trabalho no cálculo da data daPáscoa cristã. Cronistas bizantinos, comoTeófanes, o Confessor, mantinham, entretanto, critérios judaico-cristãos para as datas referidas nas suas crónicas universais, como a datação a partir da suposta data da criação do mundo por graça divina, de acordo com cálculos efetuados por estudiosos cristãos nos primeiros cinco séculos da Era Cristã. Tais eras, por vezes designadas comoAnno Mundi, "ano do Mundo" (de forma abreviada, AM), pelos acadêmicos atuais, nem sempre concordavam umas com as outras, existindo grandes discrepâncias. Nenhuma era deAnno Mundi dominava entre os vários estudiosos, ainda que a calculada porEusébio de Cesareia, historiador na época deConstantino I.São Jerónimo, tradutor daBíblia para o latim, foi um dos principais divulgadores no ocidente da era AM calculada por Eusébio. Outra era AM, especialmente adoptada no Oriente durante os primeiros séculos do Império Bizantino foi desenvolvida pelo mongeAniano de Alexandria.[carece de fontes?]
Os cálculos feitos pelo mongeDionísio, o Exíguo, para datar o nascimento deJesus Cristo são, em geral, considerados incorretos pela maioria dos académicos bíblicos, julgando-se que teria ocorrido emc. 8 –c. 4 a.C.. Sabe-se que Jesus terá nascido antes da morte deHerodes, o Grande, no ano4 a.C. — ano este que é determinado pelas informações dadas porFlávio Josefo quanto aos eclipses lunares ocorridos na Páscoa e aos acontecimentos que acompanharam a sua morte, tal como foi calculado porKepler.[carece de fontes?]
O primeiro historiador ou cronista a usar o Anno Domini como mecanismo de datação principal foiVítor de Tununa, escritorafricano doséculo VII. Poucas gerações depois, ohistoriadoranglo-saxãoBeda, que conhecia bem o trabalho de Dionísio, voltou a usar oAnno Domini na suaHistoria eclesiástica gentis Anglorum, ("História eclesiástica do povo inglês) terminada em731. Foi nesta obra que se usou pela primeira vez o equivalente, em latim, de "antes de Cristo" (Ante Christum — A.C.), estabelecendo o padrão da não existência de ano zero — ainda que tenha usado o zero no seu computus, ou determinação daPáscoa cristã. Tanto Dionísio como Beda dataram o Anno Domini como sendo o momento daencarnação ou concepção de Jesus Cristo por Graça doEspírito Santo e não no seu nascimento, aproximadamente nove meses depois.
A implantação do novo sistema foi gradual, primeiro em Itália e depois no resto do mundo cristão. A região de Inglaterra foi uma das primeiras a adotar oAnno Domini, graças à influência dos missionários romanos, como se pode verificar em documentos doséculo VII. No continente Europeu, oAnno Domini foi a era de eleição deAlcuíno de Iorque, durante aRenascença Carolíngia. A adoção do novo sistema de datação porCarlos Magno e pelos seussucessores está na origem do sucesso do mesmo nos séculos seguintes, até a época atual. Na Gália, o sistema só tornou-se vulgar a partir do ano 1000, o que justifica que os franceses usassem o termomillésime para designar os anos da era Cristã.[carece de fontes?]
Ainda que oAnno Domini já fosse comum noséculo IX, a designação "antes de Cristo", ou outra equivalente só se tornou vulgar a partir do final doséculo XV.[carece de fontes?]
↑No calendário gregoriano, cada ano tem, em média, 365,2425dias (ou seja, 365 dias, 5 horas, 49minutos e 12segundos), sendo assim, aproximadamente, há cerca de cincomilênios. O verdadeiroano trópico médio está, atualmente, muito próximo dos 365,2421875 dias, ou seja, 27 segundos mais curto. Contudo, relativamente ao ano doequinócio vernal, importante para a determinação da data daPáscoa Cristã, a antiga definição de ano, deLilius, mantém-se como um bom valor. O ano do equinócio vernal e o ano trópico médio têm sido, falsamente, considerados idênticos, mesmo por vários eruditos.