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  1.  24
    A origem de Deus no imaginário dos homens.Frederico Rochaferreira -2016 - Multifoco.
    A bela manhã de sol era um convite a visitar meus pensamentos mais distantes, assim, absorto em minhas reflexões caminhava a passos lentos, sem perceber a presença de Alina, que observava sorrindo aquele meu ritual. Alina: Esse caminhar kantiano me diz que buscavas algo, ou melhor; alguma resposta. Estou certa? Lancio: Alina, que bom vê-la! É verdade. Caminhar estimula a circulação e os neurônios, consequentemente, é ótimo para raciocinar e ir em busca de respostas para delas obter perguntas, contudo é (...) sempre mais provável ao fim, encontrarmos um grande “nada”, um vazio, mas o que nos conforta é saber que o “nada” nunca é verdadeiro. Alina: Lancio, não seria o contrário, as perguntas gerando respostas? Lancio: O senso comum pensa assim, é o que a maioria das pessoas acredita, mas quando buscamos os primeiros princípios, muito do que procuramos não é conhecido, portanto inacessível a perguntas, o que resta é a esperança de cegos, tropeçarmos neste “nada” que sabemos irreal, para então sermos capazes de formular perguntas até então impossível de ser formulada. Alina: Poderia então dizer que o fim último do passeio filosófico é buscar respostas a perguntas inexistentes? Lancio: Há outros propósitos filosóficos, mas este é o propósito maior dos filósofos, porque, se uma incompreensibilidade é conhecida, significa que é fato a partir do qual todos os esforços devem ser engendrados à sua resolução. Todavia pode acontecer que o fato que dá origem à incompreensibilidade não seja verdadeiro, mas criado pela expectativa e assim sendo, o próprio homem é criador da incompreensão que busca compreender. Ao que é físico, a percepção e a correção de um erro é questão de tempo e às vezes de pouco tempo, ao que é metafísico, não há esta mesma percepção, neste caso é necessário transcender, buscar o fato antes que ele o seja. -/- Alina: Mas se imaginarmos que todos nós estamos propensos à mesma dúvida existencial, esse caminhar filosófico não seria uma exclusividade, mas comum a todos em algum momento, não é certo? Lancio: Sua reflexão nos leva de volta à pergunta: o que é a filosofia? E torno a dizer: Se disséssemos que é a arte de pensar, todos seriam filósofos. Se disséssemos que é a arte de imaginar, ainda assim cada um de nós poderia se dizer filósofo. No entanto, tanto o pensar como o imaginar pertence ao alicerce filosófico e se também pertence a todos como exercício da mente, porque nem todos podem ser filósofos? Uma manifestação verdadeira do pensamento pela busca de uma determinada verdade, não significa que se está fazendo filosofia, é necessário que se leve para mais além, esse pensar. Todos de alguma forma ao caminharem, caminham em direção a algo, seguem em direção aos seus objetivos profissionais, emocionais, seguem em direção às suas casas, sabendo que lá é o fim último de sua caminhada, onde os aguarda o pai, a mãe, o filho, a esposa, o gato, um banho quente ou as preocupações domésticas. Caminham em direção ao trabalho, à padaria, ao mercado, à farmácia, ao parque, ao shopping, ao teatro. O homem sempre segue um caminho que leva a um fim. Quando envelhecem, caminham menos, às vezes caminham do quarto à sala ou à cozinha ou à varanda. Quando debilitado, inerte numa cama, seus olhos e ouvidos caminham até a televisão ou a uma tela de computador ou apenas caminham por entre esparsas recordações. Há sempre um objetivo que se espera conhecido no final de cada caminhada para o homem, inclusive a morte. O filósofo, entretanto, não caminha somente para casa ou para o trabalho, mercado, farmácia ou para o parque, shopping ou teatro. Não caminha somente para a sala, cozinha ou varanda, seus olhos e ouvidos não caminham somente para a televisão, para uma tela de computador ou para uma paisagem ou uma recordação antiga e cara ou para as vozes que o cerca. Para todos os homens, cada caminho percorrido tem o seu fim e aos homens isto basta. Mas o que é fim para o homem comum, não é fim para o filósofo em seu ir e vir, em seu olhar, em seu ouvir, ele vai sempre além do fim comum a todos. Alina: Pelo que acabas de dizer não posso duvidar que imaginei indevidamente que todos tinham a mesma percepção. Contudo se a maior parte dos homens estão convictos, conformados ou inconformados com os fins cotidianos e com o fim último de suas vidas, há que ter uma razão que os move a pensar e agir como tal, por que essa mesma razão não age sobre os filósofos? Lancio: Sim, Alina, e a razão de que falas é a fé em um ser supremo, criador de tudo e de todos, que está no imaginário de homens e mulheres independente de raça, por isso, a crença age sobre os seres e os impulsiona a tal conduta, desde os centros mais desenvolvidos, às mais primitivas tribos espalhadas ao redor do mundo. O símbolo da divindade fixado na natureza humana é a razão que move o homem ao conformismo. Alina: Sabe Lancio, desde muito cedo tive minhas dúvidas a respeito das religiões, mas às vezes penso que a despeito de muitas delas agirem como comércio da fé, elas são um mal necessário que têm o papel anestésico e consolador para as desgraças e as dúvidas existenciais de milhares de homens e mulheres, mas o que sempre me fascinou é a presença de Deus, como você disse, no imaginário da raça humana. Milênios após milênios, geração após geração, Ele permanece, oculto, invisível, permitindo virtudes e atrocidades, sempre inatingível e pouco questionável. Por quê? Lancio: Bem, Alina, das dúvidas e questionamentos que cerca o ser humano no curso de sua existência está a orfandade, é este vazio que possibilitou com pouco esforço, a adoção de um criador, de uma divindade que pudesse ser a explicação de tudo aquilo que o homem não podia compreender, inclusive a ele próprio, e ser o Pai de tudo e de todos. Quando você fala em mal necessário, sei que pensa nos dias de hoje, mas a instituição de Leis Divinas em tempos remotos teve o mesmo sentido que acabas de expressar e foi certamente um meio eficaz de conter o barbarismo e domesticar os homens. Todavia o início desse processo é o temor do homem quando constata sua pequenez ante a grandiosidade dos fenômenos naturais e do próprio universo, por este motivo as primeiras adorações foram o sol, a lua [97] e as estrelas. Com a inevitável evolução estes objetos de devoção foram substituídos pela imposição das Leis [98], mas ainda hoje, nas comunidades mais primitivas é possível ver o mesmo culto ao sol e à lua, como há milhares de anos [99]. -/- Todavia, após a adoção de um ser supremo ouve sempre questionamentos desde os tempos mais remotos por diferentes classes de pensadores, mas a necessidade de regras e rédeas para a manutenção da ordem nas comunidades, tribos e reinos, sempre falou mais forte e a divindade nunca deixou de acompanhar as Leis, legitimando os atos dos legisladores que se passavam eles próprios, por instrumentos da Divindade. Desse modo Licurgo com suas Leis representava a vontade de Apolo, Moisés os desejos de Jeová e Minos cumpria os mandamentos de Zeus [100]. Este modelo de Leis Divinas dos antigos gregos e hebreus são heranças de tradições egípcias, levadas por suas expedições com o intuito de obter obediência dos povos onde fixava colônias [101], mas também pela estreita convivência de algumas tribos com a cultura do Nilo [102], todavia eles mesmos, os egípcios, tinham na classe sacerdotal, uma escola de conhecimento e não de superstição. Seus ensinamentos não constavam de nenhum princípio que não fosse racional, nenhum elemento fabuloso, seus costumes tinham por fundamento; princípios morais, razão de utilidade e lembranças históricas [103], que transmitiam pelo método simbólico e ritualístico, o primeiro dando a compreensão dos fenômenos da natureza e o segundo repetindo atitudes e comportamentos viciosos ou valorosos de seus antepassados ou de fatos acontecidos. A incompreensão do que era ensinado nas exclusivas Escolas de Mistérios por parte dos menos afortunados, que não tinham acesso a estes centros de estudos, deu lugar a superstições e mitos, fenômeno fabuloso que viria a ser utilizado por Legisladores em suas Leis, como rédea à civilidade, uns no entanto abusando da credulidade, faz plenamente Divina a Lei que redige, criando então o embrião das antigas religiões. (shrink)
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  2.  21
    A razão filosófica.Frederico Rochaferreira -forthcoming -Philbrasil.
    “Autor reescreve a história abordando temas polêmicos, como a origem de Deus no imaginário dos homens, a fábula de Cristo e a tradição judaica do santo Graal, sendo fonte de pesquisa para seus leitores.” Às vezes parece que é preciso ser um PhD para abrir um livro de filosofia e você pensa, é melhor deixar as questões filosóficas para os filósofos da mesma forma que a ciência para os cientistas. Frederico Rochaferreira entende que isso é trágico, para as nossas vidas (...) e claro, para a filosofia. Em A Razão Filosófica ele tira dos filósofos o pensamento filosófico e o coloca no centro de nossa humanidade, como uma recompensa ao nosso mais profundo esforço para o entendimento. Investigando as obras de alguns dos mais importantes pensadores de todos os tempos, ele nos guia através dos dilemas mais inquietantes da história e mostra o quão importante é examinar a natureza dos acontecimentos, mesmo aqueles solidamente estabelecidos pela tradição e que ora pairam como verdadeiros, ora duvidosos no imaginário dos homens. Desafiar o leitor a pensar e repensar conceitos tidos como verdadeiros, duvidosos ou nebulosos; é a proposta do autor, que vai além dos limites da razão prática, amparado em sólidas referências, para dizer, por exemplo; que Deus foi uma criação dos homens para domesticar os próprios homens. Escrito em linguagem acessível, o livro prende o leitor pela magia do diálogo, onde Alina, uma estudante de filosofia e o filósofo Lancio, constroem com perguntas e respostas, uma catedral de conhecimentos. (shrink)
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  3.  36
    A traição da Igreja ao fundador da sua Doutrina ou a fábula de Cristo.Frederico Rochaferreira -forthcoming -Philbrasil.
    Devemos olhar o mito como um grande quebra cabeça da história, cujas peças esparsas precisam ser unidas corretamente e, mesmo assim, não é certo que as peças unidas possam vir a formar um quadro de acontecimentos reais. É provável que a causa primeira da distorção de fatos e acontecimentos em mitos ou fábulas, estivesse na incompreensão da língua, assim como aconteceu, em grande medida, com a criação do romance cristão, contudo, superada essa incompreensão, julgou-se bom e necessário à ordem dos (...) acontecimentos, manter o mito fabuloso, da história. -/- Alina: ah! Sobre o Novo Testamento, tenho forte inclinação em crer naqueles que dizem que sua redação final tem muito pouco dos escritos primitivos, mas não acredito que isso se deva à incompreensão da língua, Lancio, como dizes, pode ter ocorrido com os mitos. -/- Lancio: eu entendo o que queres dizer. Você fala do Cristianismo de Constantino, quando o imperador romano deu status de religião de Estado à seita dos galileus e, nesse tempo e momento, toda redação do texto religioso não passa pela incompreensão do semítico e sim pelo interesse do Estado e da Igreja. Mas quando o movimento messiânico judaico, nos seus primeiros anos, passa a aceitar não judeus em suas sinagogas, sua literatura, até então restrita a um pequeno grupo de zelosos, passa a ser redigida indiscriminadamente, formando um sem números de evangelhos permeados de simbolismos que não poderiam ser compreendidos plenamente pelos não judeus e como era bom aos olhos e às intenções daqueles que estavam por trás desse movimento, muitas das incompreensões passaram a ser propositais (143). -/- Para uma visão do simbolismo nos textos religiosos, o Zohar é uma fonte brilhante. Um exemplo; com a palavra deserto: Em Samuel I, IV, 8, está escrito: "Estes são os Deuses que golpearam os egípcios com toda a sorte de pragas no deserto". DESERTO na expressão dos sábios judeus significa linguagem, fazer por meio das palavras, como em: “Quem é este que sobe do deserto?” (Cântico dos Cânticos, III, 6) , análogo à expressão “E tua linguagem é graciosa” (Cântico dos Cânticos, IV, 3), ou “A palavra se levantou da montanha” (Salmos LXXV,7). Similarmente “Voz que clama no deserto” (Isaias 40, 3). No Novo Testamento “A voz que clama no deserto” ( Marcos I,3, Lucas III,4, Mateus III,3), Portanto, como nunca existiu praga no Egito, a não ser pelos escritos de um povo que em determinada época, oprimido, os amaldiçoou, a História nunca evidenciou qualquer vestígio dessas pragas, apesar dos esforços. Percebemos que uma forma alegórica na redação de um texto pode custar muitos estudos e investigações mal sucedidas. -/- Também a redação do Novo Testamento se utiliza dessas alegorias, e com as figuras mais proeminentes do seu Corpo de Doutrina. (Sefer Ja Zohar, prologue,125 – 129). -/- A referência comparativa da incompreensão da língua extensiva ao romance cristão, diz respeito aos primeiros anos do messianismo judaico, quando a quarta filosofia (144) transpõe os portões de Jerusalém e ganha a mente e os corações dos gentios. -/- Alina: tens razão, a primeira lembrança que me veio foi o Concílio de Niceia, por isso minha descrença quando falou em incompreensão da língua. Mas o que estou percebendo é que a história cristã não foi gerada somente pelo simbolismo piedoso daquela gente, mas também pela utilização da incompreensibilidade do símbolo como fundamento da crença, ou estou pensando de forma errada? -/- Lancio: pensas corretamente, Alina. Houve a princípio a incompreensão do real significado das palavras, já que os nomes hebraicos, em sua maioria, eram sentenças abreviadas (145) e outras palavras que além de serem sentenças, eram tidas como códigos, próprias da astúcia dos escribas, o que hoje é facilmente identificável na literatura periférica judaica, como o Zohar, ou o “Livro do Esplendor”. -/- Alina: perdoe, Lancio, mas quando falas em quarta filosofia transpondo os portões de Jerusalém...? -/- Lancio: nos últimos séculos, Alina, os hebreus se dividiam em três partidos ou seitas ou, como denominou o historiador Flavio Josefo, em filosofias, que eram os Saduceus, os Fariseus e os Essênios. A quarta seita, partido ou filosofia, surge na Judeia por volta do ano 6 DC, fundada por Judas, O Galileu, um sofista cuja família ficaria em evidência por várias décadas e suas ações culminaram com dois registros históricos: o desaparecimento do reino judeu e o nascimento do Cristianismo. É uma longa e bela história, Alina. -/- . (shrink)
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  4.  17
    A ética dos miseráveis.Frederico Rochaferreira -forthcoming -Philbrasil.
    Ética. O que é isso? -/- Ética é o que dizemos ser o valor maior da conduta humana e esse valor, que aprendemos através do ensino e da educação é a parte frágil que se soma ao valor fixado em nossa natureza pela herança genética, por isso, não podemos dizer que somente através do saber adquirido o homem forma o seu corpo de caráter para o bem ou para o mal, para as ações virtuosas ou para as ações viciosas, o (...) valor que de fato baliza a conduta humana é aquele fixado em cada natureza por sua ancestralidade. -/- Mas se perguntássemos às pessoas o que entendem por ética, com certeza ouviríamos que é fazer a coisa certa. Mas o que é a coisa certa? É seguir o sentimento? É seguir o que cada um de nós entende ser correto? E se o que entendo ser correto não for o seu entendimento? Ser ético é seguir os preceitos da crença que se professa? Ser ético é seguir as leis? -/- Muitos que professam determinadas crenças pensam e agem diferentes daqueles que professam crenças diferentes, então muitas e diferentes ações que uns julgam lícitas, outros segundo suas crenças não as entendem assim. Definir ética não é tão simples, mas todos concordam que ética é fazer a coisa certa. -/- Mas o que é a coisa certa? Muitos diriam que é seguir o sentimento daquilo que julga ser correto, ocorre que muitas vezes quando seguimos nosso sentimento fazemos a coisa errada, o que é comum quando envolve família ou amigos. Ser ético é seguir as leis? Bem, as leis tendem a seguir padrões éticos, mas não podemos estar seguros de que as leis são éticas. Em um passado próximo tivemos a lei que regulamentava a escravidão, mais recentemente, o apartheid. No Brasil há um sem número de leis ambíguas criadas para servir ao Estado, não ao povo, por exemplo, a carga de impostos em produtos essenciais e a indústria das multas. É possível dizer que ser ético é seguir os padrões de uma sociedade, seguir o que ela aceita por força da tradição, de uma doutrina política ou religiosa? Digo que não. A sociedade em grande medida pode desviar-se do comportamento ético pela força e indução de seus governos. Vimos isso acontecer nos regimes chinês e soviético, no nazismo alemão, no fascismo italiano e em países cujo sistema moral está fundamentado na corruptocracia como ocorre nos países da América Latina e África, onde as ações corruptas têm papel fundamental na crescente crise da desigualdade social. Assim, devemos entender que a ética não é uma ciência exata, é um valor maleável que permeia as normas que recomendam o senso de lealdade, do sentimento piedoso e da honestidade para com o próximo. (shrink)
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  5.  37
    Frederico rochaferreira - filósofo reescreve a história revelando segredos E enigmas, no mais profundo esforço para O nosso entendimento.Frederico Rochaferreira -2016 -Divulga Escritor 22.
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  6.  292
    Segredos & enigmas revelados.Frederico Rochaferreira -2016 - Rio de Janeiro: Multifoco.
    Apesar de ter florescido no século XII, a tradição do Graal, remonta ao século VI, com a história da “Destruição e Conquista da Bretanha”, escrita pelo clérigo Gildas, que não parece querer retratar mais do que fatos da época envolvendo líderes locais com status de Rei, lutas pelo poder, batalhas e assassinatos em família, todavia, se alguma tradição subterrânea (prática comum entre os judeus) havia, envolvendo esses personagens, sobre isso, Gildas, nada falou. -/- A memória desses homens guerreiros volta à (...) tona em meados do ano 828, em “A História dos Britânicos”, de Nennius, e mais tarde na “História dos Reis da Grã-Bretanha”, de Geoffrey of Monmouth, entre os anos de 1138 -1139. A tradição ressurge entre os anos de 1181 e 1190, com Chrétien de Troyes, que escreve “Perceval, a História do Graal”, que fica inacabada com sua morte. Poucos anos depois, entre 1191 e 1202, Robert de Boron escreve a “História do Graal ou José de Arimatéia”, onde introduz elementos cristãos, como o cálice da Última Ceia que recolheu o sangue do Cristo. No mito, José é preso, Cristo o visita e explica os mistérios do cálice. Após deixar a prisão, José viaja com seus sogros e outros seguidores para oeste, fundando uma dinastia de guardiões do Graal, de quem o rei Artur é descendente. Quase em seguida, surge “Parzival”, de Wolfram Schenbach, escrito entre os anos de 1195 – 1215, que, sem dúvida, é a obra mais robusta em simbolismos e que maior interesse desperta; o autor, por exemplo, não se refere ao Graal como “cálice sagrado”, mas o designa como “pedra”, expurgando, por assim dizer, o simbolismo cristão posto no romance por Robert de Boron e introduzindo o simbolismo judaico. -/- Agora, a questão da literatura arturiana parece estar ligada a algum tipo de tradição marginal que remonta aos primórdios do cristianismo, similarmente à queda da Judeia, já que absorve ambos os elementos. Chrétien de Troyes, que iniciou este novo ciclo da tradição, deixa a entender que escreveu sua história a pedido de Philip I, Conde de Flandres, da Casa de Alsace, isso por que o prólogo da obra (316) é dedicada a seu patrono com altos elogios, apresentando-o como o mais bravo dos homens do Império de Roma, dedicatória similar feita a uma obra anterior, encomendada por Maria de Champagne. Outro dado que chama a atenção, é a possibilidade de Chrétien ter sido um judeu convertido, hipótese fundamentada no fato de a cidade de Troyes ter sido um grande centro de comércio e ensino judaicos, mas também pela assinatura em um de seus poemas, “Philomena”, onde se refere como “Crestien li Gois” e o termo “Goy” implicaria um judeu convertido (317). -/- Logo a seguir à obra de Chrétien, Robert de Boron retoma a tradição acrescentando motivos cristãos e, tal como seu antecessor, a serviço de um nobre, Gautier de Montbéliard (318), da Casa de Montfaucon. Apesar de a obra de Robert ter se popularizado pelos elementos novos que introduziu, não é aquela que mais desperta interesse entre os estudiosos, no entanto, a adição de símbolos cristãos em uma tradição a princípio não cristã, pode referir-se a desvio de foco, mais que a qualquer outro objetivo, ideia que é reforçada quando entendemos que os autores escrevem a pedido de determinadas famílias nobres. Quase ao mesmo tempo, surge a obra capital do romance do Graal, escrita pelo alemão Wolfram Schenbach, que, não fugindo à regra, liga sua história à Casa de Anjou, na época, a família mais poderosa na Europa Ocidental e na Terra Santa, onde seus membros se revezavam como reis de Jerusalém. Um dado curioso é que Philip I, Conde de Flandres da Casa de Alsace, patrono da Chrétien de troyes era primo em primeiro grau do Rei Balduíno, de Jerusalém, da Casa de Anjou. -/- Wolfram Schenbach cita Kyot de Provence, identificado como Guiot de Provins, como sendo sua fonte (319). Historicamente, Guiot foi um autor renomado e popular em sua época, monge e porta voz dos Templários, que escreveu, desde canções de amor, a críticas à Igreja e também canções de adoração ao Templo, o que parece indicar uma origem judaica. Segundo Wolfram, kyot encontrou na cidade de Toledo (320) um antigo manuscrito escrito por Flegetanis, um judeu forçado ao batismo cristão, contendo a história “daquilo que era chamado Graal”, esse é um ponto importante quando entendemos que estamos lidando com uma tradição judaica e não cristã. Depois de ler o manuscrito, Kyot passa a investigar alguns dados nele contido, em vários centros da Europa, buscando principalmente as obras de escrita latina, encontrando finalmente, na França, nos anais da Casa de Anjou (321) ; a história de Mazadan e o registro de sua família (322). -/- O que essa informação quer nos dizer, nas entrelinhas, é que os registros familiares de Mazadan, foram reconhecidos como sendo os mesmos dos manuscritos de Flegetanis, no entanto, alguns estudiosos de “Parzival” dão como não confiável a referência ao personagem Kyot de Provence, não o identificando a Guiot de Provins (323), talvez porque Wolfram não faz qualquer referência ao poeta até o livro oito, para, abruptamente, citá-lo no livro nove, onde explica toda a história. Quero dizer que a referência feita no livro nove e não antes, como seria habitual, denota um antigo simbolismo judaico de utilizar o algarismo “nove” como expressão da verdade (324), veja, por exemplo, a fundação da Ordem do Templo por simbólicos “nove” cavaleiros, não mais, não menos. Das obras, portanto, sobre o romance do Graal, aquela que merece estudo e investigação é Parzival, se quisermos um motivo dentre tantos, a “coisa” que os outros autores chamam Graal, Wolfram não denomina “cálice”, mas “pedra”. -/- William: Lancio; pensei ter entendido quando você falou sobre o simbolismo do cálice associado ao romance do Graal. Mas agora estou confuso, quando diz que o cálice foi um motivo cristão adaptado a essa tradição e a que merece estudo e investigação é aquela em que o Graal não é simbolizado pelo cálice e sim por uma pedra. -/- Lancio: William, quando falamos ou escrevemos sobre simbolismo, o discurso ganha muitas e diferentes interpretações e todas estarão sempre em conformidade com a capacidade daqueles ou daquelas que nos ouvem ou nos leem, mas, todos aqueles que forem além da leitura ou do simples ouvir, questionarão e esses saberão mais. Quando me referi ao cálice como símbolo, associando-o à tradição do Graal, o fiz como ilustração simbólica a uma ritualística, nesse caso; o cálice é aquele que toma variadas formas, que é maleável a diversas leituras e interpretações, que é histórico e é judeu, não é fábula e por isso é também pedra. -/- William: desculpe, Lancio, eu continuo sem entender. A que cálice que também é pedra você se refere? -/- Lancio: o mesmo símbolo que sempre representou a tradição do Graal, não em Robert de Boron, mas em Wolfram Schenbach. Novamente, William, o cálice, antes de ser um símbolo cristão pela fábula de José de Arimatéia, é um símbolo judaico e quando discorri sobre esse simbolismo, era o cálice judaico ou o que se designou chamar de cálice, que Wolfram chamou de “pedra”, o símbolo em questão. -/- William: por maior esforço de memória, eu não consigo compreender a substituição de cálice por pedra dentro do mesmo simbolismo. Quando você deu o exemplo do coração como cálice, sim, é passível de entendimento, mas substituir o coração por pedra e manter o mesmo significado simbólico? -/- Lancio: a dúvida corajosa é a boa dúvida e isso em qualquer disciplina, por ser ela capaz de provocar perguntas capitais. Em poucas palavras, com o que já ouviu; você será capaz de entender o simbolismo do cálice. Primeiro devemos buscar, nas tradições judaicas, um ato ritualístico em que o cálice participe e não é difícil encontrá-lo, pois há no seio do judaísmo uma tradição em que o cálice ou vaso de ouro, como também é chamado, participa, refere-se ao sacrifício das frutas frescas, (omer), contudo, esse simbolismo em que está inscrito o cálice, nada diz à nossa investigação, é uma tradição judaica e nela se encerra, mas não podemos dizer o mesmo da sua representação nas moedas cunhadas pelos seguidores de Judas, o Galileu, quando estes tomaram Jerusalém e o Templo em 66 DC, dando início à primeira revolta contra Roma, proporcionando ao reino judeu, um breve período independência (326). Assim, torna-se ele, o cálice, símbolo daquela revolta e mais do que isso, torna-se o cálice um símbolo em si mesmo, capaz de servir à lembrança e à memória. Quando fiz referência ao simbolismo do cálice, era a esse simbolismo que me reportava e quanto à sua metamorfose em pedra, falarei agora. -/- Wolfram chama aquilo que representa o Graal, não de “cálice”, mas de “lapsit exiliis”, cuja tradução, apesar dos esforços de pesquisa e imaginação, definitivamente não está resolvida. -/- O nome “lapsit exillis” reúne assim como o nome “Lazalies”, “Mazadan” ou “Terdelaschoye”, um sentido propositadamente ambíguo, por isso há sempre dificuldade quanto a seu estudo (337), se é possível encontrar um tímido consenso sobre o significado da palavra lapsit, como sendo “pedra”, no que se refere à palavra composta, entretanto, não há consenso algum quanto ao significado, sendo muitas e corajosas, as interpretações que se tem buscado dar, inclusive com o sentido de “pedra do exílio” ou “pedra exilada”(338), que embora esteja no cesto das interpretações fantasiosas, devo dizer que não deveria, porque “pedra” é uma palavra largamente utilizada nos escritos judaicos com sentido além do literal, significando família, isso é possível devido a composição das palavras na língua hebraica, constituídas em sua maioria por duas ou mais palavras menores, assim pedra, “even”, soletrado, alef, beit, nun, é um acrônimo para av - ben, que significa “pai e filho”, representando a palavra pedra, esse conceito. -/- Esse simbolismo permeia toda a literatura judaica cristã (339). Quando, por exemplo, se diz em determinado versículo que Jacob pegou “pedras” e colocou sob sua cabeça como travesseiro e em outro versículo que Jacob ao acordar tirou a “pedra”, no singular, que tinha posto anteriormente sob sua cabeça; isso revela uma aparente discrepância, no entanto, isso significa, à luz dos intérpretes da Lei, que as “pedras”,no plural, significam os 12 filhos de Jacob, as 12 tribos de Israel que se fundiram em um só povo, uma só nação, uma só “pedra.”(340) Portanto, chamar o Graal por “lapsit exiliis” ou “pedra exilada” ou “pedra do exílio” ou ainda “pedra no exílio”, pelo simbolismo hebreu, significa o mesmo que dizer; família exilada, família do exílio ou família no exílio, termo aplicável ao povo judeu em geral e às famílias judias em particular, mas por ser o romance do Graal uma tradição relacionada a uma família específica, é a essa família que devemos buscar. (shrink)
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