Reino: | Animalia |
Filo: | Chordata |
Classe: | Aves |
Ordem: | Accipitriformes |
Família: | Accipitridae |
Vigors, 1824 | |
Subfamília: | Accipitrininae |
Vigors, 1824 | |
Espécie: | M. guianensis |
O uiraçu é uma aveaccipitriforme da famíliaAccipitridae.
Conhecido também como gavião-real-falso, uiraçu-falso, gavião-sujo, gavião-de-penacho, gavião-do-brejo, águia-mateira, gavião-rei, gavião-coruja, uiraçu-cinza, gavião-preguiça, caiçara, gavião-caiçara, gavião-caipora. Segundo alguns autores estegênero é insuficientemente distinto do gêneroHarpia, o que é confirmado por meio de estudos moleculares, que sugerem ser injustificável a manutenção deMorphnus como um gênero distinto deHarpia.
Segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas daIUCN,Morphnus guianensis é indicado como espécie “quase ameaçada” (NT). No Brasil é severamente ameaçado em vários estados localizados na Mata Atlântica, sendo “criticamente ameaçado” (CR) em São Paulo e Santa Catarina e “regionalmente extinto” (RE) no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Seu nome científico significa: do (grego)morphnos = águia; e deguianensis = relativo ou originário da Guiana. ⇒Águia da Guiana.
Mede de 81 a 91 cm de comprimento, sendo as fêmeas maiores e mais robustas que os machos, fato comum aosaccipitriformes. Na cabeça, esbranquiçada ou acinzentada, apresenta penacho escuro, com uma única pena negra medial maior, diferenciando-o dogavião-real (Harpia harpyja), com duas penas. Pode apresentar-se tanto em fase clara como escura (melânica). Na fase clara, mais comum, o ventre é predominantemente branco, com estrias bege-claro, a partir do peito acinzentado. A cauda apresenta padrão barrado. Em vista dorsal, as asas são negras. O padrão melânico, pouco comum, foi inicialmente descrito como espécie distinta, o que foi desconsiderado posteriormente. Apresenta-se quase totalmente negro, ponteado de branco, com estrias brancas no ventre.
Omelanismo consiste no aumento da produção de melanina, conferindo coloração mais escura ao indivíduo. Indivíduos melânicos se associam normalmente com outros indivíduos da mesma espécie, já que o melanismo não traz doenças associadas como o albinismo.
O caso dos rapinantes
No caso de algumas espécies de rapinantes, os indivíduos melânicos são chamados de indivíduos morfo escuro, fase escura, ou o termo em inglês “dark morph”. Nesse caso, a mutação não surge ao acaso, sendo que ela já está estabelecida. Numa mesma ninhada é possível haver indivíduos melânicos e não melânicos. Os rapinantes “morfo escuro” apresentam essa coloração pelo resto da vida. O melanismo nesse caso dificulta a identificação das aves em campo, já que essas possuem uma coloração diferente da original e podem ser confundidas com outras espécies.
Espéciemonotípica (não são reconhecidassubespécies).
(Clements checklist, 2014).
Os registros de alimentação da espécie são em sua maioria notas isoladas, as quais relatam a predação de pequenos mamíferos, serpentes (famílias Colubridae e Boidae) e anfíbios anuros. Ainda, Trail (1987) observou um ataque sem sucesso sobre um lekdegalo-da-serra (Rupicola rupicola) e Bierregaard (1984) sobre um grupo dejacamim-de-costas-cinzentas (Psophia crepitans). Sick (1997) também relata acaça de outras aves, como jacus (Cracidae) e jacamins (Psophidae) embaixo de fruteiras. R. Czaban observou (2004), no Parque Nacional do Viruá (RR), um indivíduo predando durante dias uma mesma colônia de guaxe (Cacicus haemorrhous), dizimando os ninhos e predando os filhotes. Recentemente, observou-se que mamíferos são altamente representados na dieta do uiraçu, a qual inclui juparás (Potus flavus), esquilos (Sciurus sp.), filhotes de preguiça-de-três-dedos (Bradypus variegatus), marsupiais (Gomes, 2014) e 11 espécies de primatas de seis gêneros distintos (Costa-Araújoet al., 2015). Um quarto dos mamíferos registrados na dieta do uiraçu são primatas (Gomes, 2014), especialmente indivíduos de pequeno porte: micos-leões-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e outros micos (Saguinus spp.), micos-de-cheiro (Saimiri spp.), guigós (Callicebus caligatus), parauacus (Pithecia sp.) e até indivíduos jovens de macaco-aranha (Ateles paniscus) (Costa-Araújoet al. 2015).
O trabalho mais tradicional e completo sobre aatividade reprodutiva de M. guianensis é o de Bierregard (1984). Este autor localizou um ninho próximo a Manaus, Brasil, numa reserva florestal do Instituto de Pesquisas da Amazônia – INPA, na BR-174 (Amazonas-Roraima). Acompanhou um único ciclo reprodutivo da espécie e o desenvolvimento de um filhote que, por fim, sumiu do ninho, tendo sido provavelmente predado ou morto. Um fato interessante neste casal observado é que a fêmea apresentava omorfo negro da espécie, enquanto o macho apresentava morfo claro. Este casal produziu dois ovos e apenas um filhote nasceu. O ninho estava em uma árvore “jararana” (Lecythidaceae sp.), a aproximadamente 28 metros do solo.
Espécie rara, sendo considerado mais raro que o gavião-real.Pode ser encontrado em florestas conservadas ou com pouca alteração, chamadas de primárias e secundárias. Essa águia vive em altitudes que vão desde o nível do mar até acima dos mil metros. Vive sozinho ou em pares, passando boa parte do tempo imóvel, oculto em um poleiro alto de onde procura suas presas.
Possui ampla distribuição nos Neotrópicos, ocorrendo desde o México até o nordeste da Argentina. A distribuição da espécie foi recentemente revisada por Gomes & Sanaiotti (2015), incluindo-se novas localidades de ocorrência. Na América do Norte, há registros no sul do México. Na América Central, a espécie foi encontrada em Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá; na América do Sul, na Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Brasil, Argentina e Paraguai.
No Brasil, a espécie é tipicamente encontrada na Amazônia, mas ainda ocorre no Cerrado e na Mata Atlântica (Gomes & Sanaiotti 2015). No Cerrado pode ocorrer em qualquer ponto do Centro e Sudeste, havendo um registro em Minas Gerais (Moraeset al. 2015), disponibilizado no WikiAves (http://www.wikiaves.com.br/1711352). Na Mata Atlântica, no sul da Bahia (Costa-Araújoet al. 2015), Minas Gerais (Zorzinet al. 2006), Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina (Albuquerque, 1986; Albuquerqueet al. 2006) e Rio Grande do Sul (Gomes & Sanaiotti, 2015).