Movatterモバイル変換


[0]ホーム

URL:


The Project Gutenberg eBook ofA viagem da Índia: poemeto em dois cantos

This ebook is for the use of anyone anywhere in the United States andmost other parts of the world at no cost and with almost no restrictionswhatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the termsof the Project Gutenberg License included with this ebook or onlineatwww.gutenberg.org. If you are not located in the United States,you will have to check the laws of the country where you are locatedbefore using this eBook.

Title: A viagem da Índia: poemeto em dois cantos

Author: Fernandes Costa

Release date: January 11, 2008 [eBook #24245]
Most recently updated: January 3, 2021

Language: Portuguese

Original publication: Lisboa: Imprensa Nacional, 1896

Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed
Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was
produced from images generously made available by National
Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).)

*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK A VIAGEM DA ÍNDIA: POEMETO EM DOIS CANTOS ***



A VIAGEM DA INDIA




Poemeto em dois cantos


por


FERNANDES COSTA








A VIAGEM DA INDIA






JUSTIFICAÇÃO DA TIRAGEM





3 exemplares em papel de linho branco nacional1:000 em papel de algodão de 1.ª qualidade



quarto centenario dodescobrimento da india


contribuições
da
sociedade de geographia de lisboa




A VIAGEM DA INDIA


Poemeto em dois cantos

por

FERNANDES COSTA






LISBOA

IMPRENSA NACIONAL

1896





A

LucianoCordeiro

o iniciador
e incançavelpropugnador do moderno movimento
geographico portuguez





CANTO PRIMEIRO



A IDA







CANTO PRIMEIRO



A IDA




I


Onde vae, Tejo em fóra, alusa armada?..
Naus altivas, possantes caravelas!
Vae em busca da India enfeitiçada,
Sobre as ondas azues, pandas as vélas.



II


E quem é, que essa genteassim conduz
A cumprir o prodigio nunca visto?
Accesa levam n'alma a viva luz
Da fé, e nos pendões a cruz de Christo!
[10]


III


Mas já vãolonge as quatroembarcações...
Parecem quatro pombas a voar,
Em demanda de ignotas vastidões,
Onde vão novo ninho edificar.



IV


Romeiros da romagem longa e vaga,
Que nova Terra Santa, ao longe,alveja?
Deus vos leve, romeiros, Deus vos traga,
E a vossa obra, eterna e benta seja!



V


Mas nas ondas o sol vaedescaíndo,
E quando o manto placido e sidereo
Da noite, o céu cobriu e o mar infindo...
Perdeu-se a lusa armada no mysterio.



VI


Nenhuns olhos humanos a seguiam;
Espantadas, porém, da audazempreza,
No céu alto, as estrellas repetiam:
«Vae ali a fortuna portugueza!»



VII


E aquella, que apontando sempre onorte,
Sobre a cupula movel, firmeestá,
Dizia: «Raça ousada! raça forte!
Dentro em pouco, outra irmã vosguiará!»
[11]


VIII


E, dentro em pouco, respondendo ao voto
Da irmã polar...lá vem surgindo a chamma,
Sobre as ondas ignotas, astro ignoto,
A divinaAkher-Nahr, fanal do Gama!



IX


Porém, agora, que mysterio summo!..
Já sobre oCarrosecondensa um véu;
O mar o engole, quando ao alto, a prumo,
Anda oCentauro percorrendo océu!



X


E, emquanto aHydravemsubindo, enorme,
Não baixa já,mas demandando a altura,
Longe oDragão, retorso edesconforme,
Busca do mar a fria sepultura.



XI


Depois, na vaga, aCassiopêa tomba,
E nascem estrellas, que ninguemconhece!
Lá vem do Sul, a remontar, aPomba,
Quando ao norte,Cepheu desapparece.



XII


Da armada a gente, a vista leva immersa,
Com pasmo natural, que nãosurprende,
N'aquella nova cúpula diversa,
Que sobre mar e terra a noite extende.
[12]


XIII


Ergue-se, agora, da longinqua esphera,
―ÓCruzmaravilhosa edeslumbrante!―
O symbolo christão, que n'alma impera,
Não vista, mas cantada pelo Dante!



XIV


E ao passo que ante os olhos vão surgindo
Os segredos, que guarda aimmensidão,
Dir-se-ía, que da treva está saíndo,
Á voz de Deus, segunda creação!



XV


E por todo o estrellado firmamento,
De cada estrella, esta perguntacáe:
«Quem viu tal aventura, tal portento?
D'onde vem esta gente, e aonde vae?»



XVI


No emtanto, os rudes peitos temerarios,
Dentro das naves, perguntandovão:
«Astros novos, propicios ou contrarios,
Estes astros do céu, que estrellassão?»



XVII


Onde vae, mar em fóra, a lusa armada?..
Vae em busca do eterno vellocino.
Olhos postos na cruz e a mão na espada,
Leva em si Portugal e o seu destino.
[13]


XVIII


O destino de um povo! Assim tranquillo,
Sob a luz das estrellas scintillando,
De Moisés o destino andou boiando,
N'uma cesta de vime, sobre o Nilo!



XIX


Na treva, ruge o mar sinistramente;
Nas almas pésa a noite...Muito embora!..
Avançam para o fulgido Nascente,
Hão de ver, no seu throno, a rosea Aurora!



XX


Vae ali cada um cumprir seu fado,
E Deus fará, que seja bemcumprido;
Em vão ha de rugir o mar irado,
Em vão clamar o céu desconhecido.



XXI


Por todos foi jurado,―e cada um,―
Levar a cabo um feito, aopé do qual,
Não houvesse, em annaes de povo algum,
Memoria d'outro feito assim igual.



XXII


Hão de tudo tentar que for preciso...
Descer á eterna sombra doprofundo,
Escalar os humbraes do paraiso,
Transpôr os proprios términos do mundo!
[14]


XXIII


Mal dá logar a crença, que osinflamma,
Ás visões, que opavor, na mente gera;
Em frente, muito em frente, a India os chama...
Atraz, já muito atraz, a patria espera!



XXIV


Vozes mil o silencio perturbando,
Da treva densa, em côro,vão subindo!
Serão monstros do mar, que estão bramando?..
Ou d'Africa os leões, que estão rugindo?..



XXV


Mas nenhum peito, a vozes taes se atterra;
A armada segue, pelo mar emfóra...
É Portugal, que vae dizendo á terra:
«É tempo já de despertaragora!»



XXVI


As ondas rugem; noite e dia, atroam;
Batem, com furia, nos bojudos cascos;
D'azas abertas, para os seus penhascos,
Corvos marinhos, crocitando voam.



XXVII


Dir-se-íam bandos de crueis harpyas,
No seu dominio temeroso e vasto,
Aves d'agoiro, a reclamar, sombrias,
Aquellas presas para o seu repasto.
[15]


XXVIII


Depois a calma, a infinda quietação!
Negro aviso de morte ingloria e lenta,
N'um mar de chumbo, sepulchral mansão,
Que obriga a ter saudades da tormenta!



XXIX


N'isto, uma nuvem, caprichoso fumo,
O azul remoto levemente empana;
Ligeira avança, e traz do norte o rumo...
É bom prenuncio... mas as naus engana!



XXX


Que extranha nuvem, é, porém,aquella?..
Corta a direito, consciente e viva!..
Trará no bojo horrisona procella?
Ou sôpro brando á calmaria estiva?



XXXI


Pasmam de vel-a os arduos navegantes!
Parece palpitar! que vida tem!..
São hostes mil de pombos emigrantes,
Que as terras vão buscar d'onde elles vêm!



XXXII


E os pombos, a quem tarda o quente ninho,
Vendo os mastros da armada festival,
Julgam ser os pinhaes de Portugal
Que foram recebel-os ao caminho!

[16]


XXXIII


E n'elles pousam confiadamente...
Pelas enxarcias, nos ovens, naspontes,
São cachos vivos, são tropeis, sãomontes...
Que as naus adornam sob o peso ingente!



XXXIV


Descancem ledos, nos humbraes sagrados!..
Ninguem lhes toca, n'um respeito mudo.
Destinos altos! vão assim trocados!
É Deus que o manda, Deus assim fez tudo!



XXXV


Mas quando, emfim, das naves se levanta
Aquella nuvem, que escurece o dia,
―Por que a levem á patria sacrosanta,―
Cada um, sua prece lhe confia!



XXXVI


Que traço argenteo, as ondas illumina?
Uma estrada de luz!.. Talvez a esteira
Deixada pela espuma crystallina,
Da nau do Dias, que as cortou primeira.



XXXVII


Sempre ao Sul, sempre ao Sul, a estrada avança!
De cada lado d'ella, o eterno escuro!
Extendeu-a no mar a mão da Esperança,
Na direcção da Gloria e do Futuro!
[17]


XXXVIII


Sempre ao Sul, sempre ao Sul, a estrada segue!
Ao termo d'ella, encontra-se o Ideal!
Em demanda do Sonho, que as persegue,
Navegam quatro naves de crystal!..



XXXIX


Partiram todas d'um paiz de fadas,
As quatro envoltas em celeste alvor;
Vão em busca das Ilhas Encantadas,
Onde dorme o divino Encantador!



XL


O caminho é de luz; porém, infindo;
Tem o termo, talvez, na immensidade!
Quem vae as quatro naves dirigindo?..
Vae o genio immortal da humanidade!



XLI


Anjo indómito, prompto a combater.
Curvado sempre ao seu destino mudo!
Vae a Fé, vae a Força, vae o Querer,
A Vontade, que emfim consegue tudo.



XLII


Inquebrantavel, vae da Historia a lei,
Essa, que aos povos amissão traçou;
O saber, o pensar de um grande rei,
E a tradição, que um rei maior deixou.
[18]


XLIII


De noite, recortando o vivo argento,
De dia, sobre as vagas de turqueza,
Lá vae, de Portugal o pensamento,
Ao leme de uma esquadra portugueza!



XLIV


Sempre ao Sul, sempre ao Sul! porém um dia
Hão de as proas dobrar-seao Oriente;
Então perdida a esteira, que hoje os guia,
Engano e trevas hão de ter sómente.



XLV


Sempre ao Sul, sempre ao Sul! eia! valor!
Na cerração, queao longe se condensa,
Mal sabem, que os aguarda a voz immensa
Do assombrado gigante Adamastor!



XLVI


Vão entrar nas paragens revoltosas,
―Paragens que ainda hoje o homemteme,―
Onde luctam as ondas alterosas,
E o vento, em turbilhões, contínuo geme.



XLVII


Onde, em furia, tres mares se combatem;
Onde o encontro se faz de trescorrentes;
Portas de inferno, onde Cerbéros latem,
De tripla fauce e triplicados dentes.
[19]


XLVIII


Portas divinas, onde Archanjos luzem,
Sente-o o Gama, no crentecoração;
Portas de luz, que ao exito conduzem;
Portas do Sonho! portas da Visão!



XLIX


Sempre ao Sul! sempre ao Sul! ao largo! emfóra!..
Mas a armada parece que se perde
Nas liquidas montanhas de um mar verde,
Que as naus afunda, e soffrego as devora!



L


E mais e mais ao Sul se aventuravam,
As gastas equipagens consumidas,
Em tal desesperar, que a Deus bradavam,
As almas lhes guardasse, e não as vidas.



LI


Mas em que mares vão agoraentrando,
Que o sol, tão pouco tempoali dardeja?..
É castigo de Deus, que os vae chamando
Aos confins onde eterna a noite seja?..



LII


Ali, a luz do sol se desvanece;
É tres vezes menor que anoite, o dia;
Em este despontando, logo desce
Na treva immensa, cada vez mais fria!
[20]


LIII


Não é esse,nãoé, nem por signaes,
Aquelle grande sol, de intensosbrilhos,
Que prateia as madeixas de seus paes,
E aquece as cabecinhas de seus filhos.



LIV


Não é aquelle o sol, de vivos raios,
Que pinta os verdes prados a matiz,
Que faz abrir as rosas dos seus maios,
E que doira os trigaes do seu paiz!



LV


O de lá, illumina comdoçura,
Beija a terra, e aquece-a com amor;
Este, aqui, é um sol de sepultura,
Mortiça luz, sem brilho e sem calor.



LVI


Não mais o solverão da sua terra!..
Com que saudade o dizem! quesaudade!..
Aperta-os ali dentro a immensidade!
O espaço, como um tumulo, os encerra!..



LVII


E sempre o Sul demanda a larga volta,
Que nas azas do vento a armada leva,
Para a morte, de certo, á véla solta,
Para o silencio... a solidão... a treva!..
[21]


LVIII


Cinco vezes, o Cabo, a armadaaffronta,
Cinco vezes, a armada o Cabo investe!
A costa retrocede, o céu remonta...
É força as proas apontar a leste!..



LIX


Foi Pero d'Alemquer, que o conseguiu,
Largos dias de teima usando e manha;
O piloto maior que o mundo viu,
O que soube fazer maior façanha.



LX


Mas se foi Alemquer, piloto astuto,
O que a volta avisada ao Cabo deu,
Foi o genio do Gama, resoluto,
Quem dobrou as vontades e venceu.



LXI


Assim o reconhece a armada inteira,
Que em salvas, o saúda, dealegria!..
E Adamastor escuta, a vez primeira,
A grande voz da lusa artilheria!



LXII


E quem desgraças taesprophetisou
Áquellas gentes, mais quetudo ousadas,
Ouviu, em plenas ondas subjugadas,
A resposta, que a armada lhe enviou!
[22]


LXIII


Ruge o colosso do que viu e ouviu!
Corre a envolvel-o acerração distante.
Mudo e quedo, o phantastico gigante,
Humilhado, de nuvens se cobriu!



LXIV


Emquanto ao Sul desciam, mar emfóra,
Tinha visto, de bordo a rude gente,
Das costas africanas vir a aurora,
Caír nas salsas ondas o poente.



LXV


Pasmava a gente, agora, do que via,
Suppondo a natureza ser mudada;
Sobre a terra, á sinistra, o sol descia!
Erguia-se do mar a madrugada!..



LXVI


Vão colhidos nagávea, agora, ospannos;
Baixos os mastros; mas as nauscorrendo!
Segredos são, que ninguem sabe; enganos,
Com que a mãe natureza os vae mantendo.



LXVII


Vagas taes, ninguem viu,tão revolvidas!
Agora, as nuvens tocam sempiternas!
Depois, as naus inteiras engulidas,
Precipitam-se em lôbregas cavernas.
[23]


LXVIII


E as naves, por não seremdispersadas.
Cada uma, na gávea seallumia.
―Como um grupo de estrellas conjugadas,
Umas ás outras são pharol e guia!―



LXIX


Onde vae, mar ignoto, a lusa armada?..
Nem enganos, nem trevas a detem!
Vae á India levar a Cruz e a Espada;
É ali, é ali, Jerusalem!



LXX


Ha contornos da magicavisão,
Nos vagos horisontes da miragem!..
Ninguem pense no termo da viagem,
Sem que surja a fulgente apparição!



LXXI


Antes de ao mar a armada se fazer,
Havia o forte Capitãojurado,
De nunca, em caso algum, retroceder
Nem um só palmo do caminho andado!



LXXII


E quando a desesperançaalgum vencia,
Irado, o Gama, então lheperguntava:
«Quando elle a mortes cem desafiava,
Quem é que uma só morte ali temia?»
[24]


LXXIII


E o mór peso tomando doseu cargo,
Em vendo levantar-se a maior guerra,
Quando a gente dizia: A terra! a terra!..
Gritava-lhes o Gama: Ao largo! ao largo!..



LXXIV


Hão de ver, o que o mundonunca vira:
Surgir do mar a Indiaabençoada,
Acenando, de longe, á lusa armada,
Em torres de esmeralda e de saphyra!



LXXV


Ou, então, enjeitados pelaGloria,
Figurarem, terriveis e sombrios,
Como espectros, no templo da memoria,
Eternamente, os homens e os navios!



LXXVI


Á nova Terra Santa! emfrente! em frente!
Romeiros da romagem longa e vaga!
Ah! Deus vos mostre a India refulgente!
Deus vos leve, romeiros, Deus vos traga!





CANTO SEGUNDO



A VOLTA









CANTO SEGUNDO



A VOLTA




I


Porém que vejo agora?..Empavezada,
Sobre as ondas azues, e panda avéla,
Do mar e das tormentas alquebrada,
Vem subindo rasteira caravela!



II


Avança a panno largo, ecom vontade;
Na praia, atroam vozes retumbantes;
Tocam sinos nas torres da cidade;
É louvado o Senhor dos Navegantes!
[28]


III


Aos pontos altos, prestes e ligeira,
Acode, a mais e mais, amultidão;
Tremúla, á brisa, o regio pavilhão
Sobre o Tejo, nos Paços da Ribeira.



IV


Que gentil! que bem segue a caravela,
Embalada nas aguas crystallinas!..
Tem toda a gente os olhos postos n'ella!
Vão salvando, na borda, as columbrinas!



V


Das naus respondem salvas redobradas:
No castello o canhão tambemresôa;
Por boas vindas dar, alvoroçadas
Ostenta quantas galas tem, Lisboa.



VI


A barca é d'oiro!.. Quedeslumbramento!
Envolve-a toda, luminosoalvôr!..
É a barca do eterno Encantamento;
Vem das Ilhas do grande Encantador!



VII


Em que espaço, em que ceusandou voando?
Nunca d'antes, ninguem no Tejo a viu!
Pomba perdida, não pertence ao bando,
Que ha muito tempo do pombal saíu.
[29]


VIII


Nave extranha, que o Tejonão conhece,
Traz cruz em pendão branco,por signal;
―Mas traz, tambem, o que a ninguem parece―
Traz a gloria maior de Portugal!



IX


Gloria, que a especie inteiranobilita,
E não sómente onome portuguez!
Grande empreza, phantastica, inaudita,
Que outra maior jamais alguem a fez!



X


E a barca vae seguindo, rio emfrente;
Branca visão, que nadaapagará!
Sobre a esteira de espuma reluzente,
O sulco aberto, aberto ainda está!



XI


E a barca vae seguindo, rio acima;
É seu condão aeterna mocidade!
Traz o sopro vital que tudo anima,
Traz o genio immortal da humanidade!



XII


Traz aquelles, que os maresignorados,
Passaram, com assombro, e sem pavor;
Os que foram ao longe ouvir os brados
E as funestas visões do Adamastor.
[30]


XIII


Que sulcaram do mar a immensidade,
Nas azas intangiveis da chimera,
Os sonhos transformando na verdade,
De polo a polo completando a esphera!



XIV


Os que viram as luzes doCruzeiro,
Dos tropicos na noite a scintillar,
Depois de terem visto o céu primeiro,
Com todo o norte, descaír no mar.



XV


Esses, de quem os astros repetiam,
Ao vel-os persistir na sua empreza,
Quando já nenhuns olhos os seguiam:
«Vae ali a fortuna portugueza!»



XVI


Os que os astros ouviram perguntando,
Na torrente de luz, que d'ellescáe:
«Quem deu ser a taes homens? como e quando?
D'onde vem esta gente, e aonde vae?»



XVII


Os que os astros ouvindo,responderam,
Sem desalento algum nocoração:
«Ó astros, que jámais nos conheceram,
Á India vamos; dae-nos vós amão!»
[31]


XVIII


Esses, de quem as ondas murmuravam,
Sob as quilhas pesadas das galeras,
Quando as proas altivas as rasgavam:
«Vão as portas abrir de novas eras!»



XIX


Os que viram, primeiro, o nuncavisto,
E o foram demandar, a tempo e azo,
Na luz confusa de um saber previsto,
Mas não levados pela mão do Acaso;



XX


Do velho mundo, os immortaespioneiros,
Em mundos novos demandando ingresso;
Missionarios do Bem e do Progresso;
Missionarios... e não aventureiros.



XXI


Os que foram, do caso conscientes,
Quebrando sellos, descobrindo lousas,
Perturbar em remotos continentes,
A quietação dos homens e das cousas.



XXII


Esses, de quem os povos assombrados,
Viram a altiva gente cavalleira,
Por mares nunca d'antes navegados,
Desenhando os confins da terra inteira.
[32]


XXIII


Esses, que em nova e pertinazcruzada,
―Povos inertes evocando ávida,―
Foram, sempre, deixando a patria amada,
Pelo mundo em pedaçosrepartida.



XXIV


Esses, que foram longe,raça dura!
Sondar o negro abysmo, sem receio,
Desvendar os mysterios da natura,
Meio mundo ensinando a outro meio.



XXV


Esses, que abandonando os deuseslares,
Na mais ousada empreza de gigante,
Para o seu curso dirigir nos mares,
Uma estrella do céu não foi bastante!



XXVI


Os que a patria exaltaram portugueza,
E quebraram, com brava galhardia,
A maritima força de Veneza,
E a fortuna da grande Alexandria.



XXVII


Os que o globo da terra devassaram,
E dando um mundo novo ao mundo velho,
Das columnas herculeas ao Vermelho,
O negro continente recortaram.
[33]


XXVIII


Os que tendo arrancado ao fero Islam,
Arzilla, Tanger, Ceuta e Azamor,
Hão de agora affrontar-lhe a gloria van,
E, em mar remoto, enchel-o de terror.



XXIX


E assim terão cumprido,heroicamente,
Duas vezes, a épicamissão,
Os pendões abatendo do Crescente,
Ante as glorias do symbolo christão.



XXX


Os que viram no céudiversos astros;
Aquelles para quem o mar do Sul,
Nos topes accendeu dos rijos mastros,
Do Santelmo divino a chamma azul.



XXXI


Os que viram mil cousas portentosas,
O sobre-natural, o sobre-humano;
Descer do céu as trombas sequiosas,
Bebendo em sorvos largos o Oceano.



XXXII


Os que investiram frias espessuras,
Onde escuro docel a noite eleva,
E demandando antarcticas alturas,
Chegaram quasi ás regiões da treva.
[34]


XXXIII


Os que affrontando a propria natureza
Foram a prima gente que sulcou,
Altos mares, de infinda profundeza,
Onde sonda nenhuma o fundo achou.



XXXIV


Os que tendo no peito a palpitar,
De raça mais que humana ocoração,
Iam, á raça humana abrir o mar,
Findando aquella eterna solidão.



XXXV


Os que foram, nas azas da vontade,
Á India, refulgente de oiroe luz,
Ver o berço da nossa humanidade,
Como os Magos o berço de Jesus.



XXXVI


Os que foram do Tejo ao Malabar,
Levando no regaço a paz e aguerra,
Chamar á vida, despertar a terra,
Do somno seu, profundo e secular.



XXXVII


Os que viram surgir a India ardente.
Acenando, de longe, á lusaarmada,
Huri, rainha e fada do Oriente,
Das torres de saphyra debruçada.
[35]


XXXVIII


Esses, que para erguer a patriahistoria,
Foram tentar emprezas immortaes,
D'onde se volta pela mão da Gloria,
Ou d'onde nunca se voltou jamais.



XXXIX


Esses, que emquanto andavamcompletando
Não vistos feitos,épicasacções,
Já o céu lhes estava destinando
A lyra inimitavel de Camões!



XL


Os homens grandes, cuja obra immensa,
Deviam memorar, no tempo alem,
―Refulgente prodigio de Arte e Crença,―
As naves portentosas de Belem!



XLI


Os que, salvos por Deus,―humildegente,―
Nos riscos tormentosos, que correram,
Sepultaram no mar, piedosamente,
Tantos, tantos irmãos que lhes morreram!



XLII


Lá vae a caravela, rioacima!
É ella a sombra da primeiraarmada!
A nova que em si traz, é quem a anima:
«Foi descoberta a India abençoada!»
[36]


XLIII


É isto o que ella clama evae dizendo;
É isto, o que ella a todosannuncía;
O sol da Meia Idade vae descendo,
O alvor desponta, já, de um novo dia!



XLIV


Mas, vendo-a, mal suppõe amultidão,
Sobre a tolda contando a pouca gente,
Que da gloria da humilde embarcação,
Viverá Portugal, eternamente.



XLV


Agora, a nave, as ancoras largou;
Içou, no mastro grande, ovellocino!
A patria em boas mãos depositou
A espada, a cruz, e todo o seu destino.



XLVI


Bemvindos sois ao berçohospitaleiro,
Romeiros da romagem do Ideal!
Pois fez, o esforço vosso, verdadeiro
O sonho que tivera Portugal.



XLVII


Cumpristes um gigante pensamento;
No mundo, o vosso nome, eternosôa;
Trouxe-vos Deusa porto esalvamento,
A vossa obra foi bemdita e boa!
[37]


XLVIII


E, largo tempo,―esplendida visão!―
Se ha de ver, Tejo acima, a caravela,
Como um barco de lenda, panda a véla,
Bordada a cruz de Christo em seu pendão!



XLIX


E um dia chegará,―diajocundo!―
Em que, no Tejo, que hoje aospés vos corre,
Hão de armadas estar, de todo o mundo,
Saudando a caravela, que não morre!



L


Monarchas hão de vir deimperios novos,
Em convivio fraterno, doce e amigo,
Unindo n'um só laço, os reis e os povos,
Saudar, em honra vossa, o reino antigo.



LI


E só por vós,se a mente menão erra,
Vós, que fostes do Gama oscompanheiros,
Marinheiros virão de toda a terra,
Á patria dos mais rudes marinheiros.



LII


Sonhados impossiveis conseguistes,
Vós, raçaaventureira, omnipotente!
Se muito foi, que a Portugal servistes,
Mais servistes, ainda, a extranha gente.
[38]


LIII


Pois da aguia, que os reis d'outr'oraviram,
Na terra inteira, as azas extendendo,
As aguias, d'hoje em dia, andam colhendo
As pennas, que das azas lhe caíram!



LIV


D'este povo, o passado causa espanto!
O que teve! o que pôdedividir!..
Cada um dos pedaços do seu manto
Dá hoje a um povo inteiro, que vestir!



LV


Quem havia de ver, o que se viu?
Agora, é Prometheuacorrentado,
Por famintos abutres devorado,
Na montanha da Gloria, a que subiu!



LVI


Venham, pois, ver a naveabençoada,
Do Tejo sobre as vagas diamantinas!
Nave eterna!.. Na pôpa leva as quinas,
E a figura do Gama, na amurada.



LVII


Que vejo?.. Quem tal quadroantecipou?
Desusado fragor no grande rio!..
Vinte esquadras, que o mundo aqui mandou,
Abrem alas ao fulgido navio!
[39]


LVIII


Em cada pôpa, umpavilhão ondula;
Vistosas cores, alegrando os ares!
Vêm ver, ainda, como audaz tremula
O pavilhão que os precedeu nos mares!



LIX


Monstros de ferro, enormescouraçados,
Venham aqui, de toda a terra, ovantes,
Pousar no Tejo, que sustinha d'antes
Sobre o seu dorso, galeões sagrados!..



LX


Naus d'alto bordo, carregadas d'oiro,
A mór riqueza, que se viuoutr'ora!
Dizêl-o ouvimos,―não hajaes desdoiro:―
«São bem mais leves estas naus deagora!»



LXI


E o Tejo, aberta a sua larga foz,
Com justo orgulho, vos recebe e chama!
Almirantes! sabeis, que honrar o Gama,
É honrar o maior de todos vós!



LXII


Lá vae a caravela, altivae calma
No meio do bramir da artilheria!
Não é sonho da nossa phantasia;
É nitida visão que temos n'alma!
[40]


LXIII


Da justiça reluz o dia, ahora;
O premio do serviço, emfim,chegou!
Mil bandeiras, que o mar conhece agora,
Vêm saudar a primeira, que o passou!



LXIV


Mas vós, povo indolente edescuidado,
Que a patria tantas vezes esqueceis,
Sêde digno, em memoria do passado,
Das honras, que ao presente recebeis!



LXV


Não tem direito, ninguemtal o diga,
A abandonar-se n'um dormir profundo,
Quem, tão grande passado, a tanto obriga,
Quem tal papel desempenhou no mundo!



LXVI


Um povo que se preza, nãodescança
Nem á sombra dos loirosconquistados;
A gloria é grande, mas pesada herança:
Mantel-a pura, deve dar cuidados.



LXVII


O preceito deixámosesquecido,
Embalados em vagasillusões;
Hoje vemos um céu de inquietações,
Por sobre as nossas almas extendido.
[41]


LXVIII


A gloria é armadurareluzente,
Que veste os peitos e rebrilha ao sol;
Não é fria mortalha, nem lençol,
Que o corpo envolva d'um heroe jacente.



LXIX


A gloria é um depositosagrado;
Quem o deixa fugir, por mal seguro,
As maldições merece do futuro,
Mostrando ser indigno do legado.



LXX


Ainda o mesmo genio em nóspalpita,
O mesmo sangue, em nossas veias,corre;
Somos o rijo povo, que não morre!
Pois, se morto parece, resuscita!



LXXI


E a raça, que ascendeu atal grandeza,
Não póde figurarentre asnações,
De mãos ligadas, amarrada e presa,
Á columna das proprias tradições.



LXXII


Tem de viver no tempo indefinido,
Em voz alta affirmando o seu direito
De povo, que entre os povos escolhido,
Aos povos, seus irmãos, impõe respeito.
[42]


LXXIII


E tu, que ésmãe bondosa, patriaamiga,
Sê madrasta cruel, altiva edura,
A todo o filho que de ti mal diga...
Nem descanço lhe dês de sepultura!



LXXIV


Pois não merece a luz queo allumia,
E que o berço lhe veste deesplendor,
Quem o nome de patria pronuncia,
Sem, lá no fundo, estremecer de amor!



LXXV


Lá vae a barca d'oiro,enfeitiçada!
Lá vae a deslumbrantecaravela!
Leva o Gama, de pé, junto á amurada,
E uma cruz escarlate em cada vela!



LXXVI


Lá vae a Barca-Sonho, rioem frente!
Pobre quem, dentro d'alma,não a vir!
Se leva a gloria do passado ingente,
Leva, tambem, a esperança no porvir!



 










Acabou de imprimir-se

Aos 24 dias do mez de agosto do anno

M DCCC XCVI

NOS PRELOS DA

Imprensa Nacional de Lisboa

PARA A

COMMISSÃO EXECUTIVA

DO

CENTENARIO DA INDIA



*** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK A VIAGEM DA ÍNDIA: POEMETO EM DOIS CANTOS ***
Updated editions will replace the previous one—the old editions willbe renamed.
Creating the works from print editions not protected by U.S. copyrightlaw means that no one owns a United States copyright in these works,so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the UnitedStates without permission and without paying copyrightroyalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use partof this license, apply to copying and distributing ProjectGutenberg™ electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG™concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark,and may not be used if you charge for an eBook, except by followingthe terms of the trademark license, including paying royalties for useof the Project Gutenberg trademark. If you do not charge anything forcopies of this eBook, complying with the trademark license is veryeasy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creationof derivative works, reports, performances and research. ProjectGutenberg eBooks may be modified and printed and given away—you maydo practically ANYTHING in the United States with eBooks not protectedby U.S. copyright law. Redistribution is subject to the trademarklicense, especially commercial redistribution.
START: FULL LICENSE

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE

PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
To protect the Project Gutenberg™ mission of promoting the freedistribution of electronic works, by using or distributing this work(or any other work associated in any way with the phrase “ProjectGutenberg”), you agree to comply with all the terms of the FullProject Gutenberg™ License available with this file or online atwww.gutenberg.org/license.
Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg™electronic works
1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg™electronic work, you indicate that you have read, understand, agree toand accept all the terms of this license and intellectual property(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by allthe terms of this agreement, you must cease using and return ordestroy all copies of Project Gutenberg™ electronic works in yourpossession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to aProject Gutenberg™ electronic work and you do not agree to be boundby the terms of this agreement, you may obtain a refund from the personor entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
1.B. “Project Gutenberg” is a registered trademark. It may only beused on or associated in any way with an electronic work by people whoagree to be bound by the terms of this agreement. There are a fewthings that you can do with most Project Gutenberg™ electronic workseven without complying with the full terms of this agreement. Seeparagraph 1.C below. There are a lot of things you can do with ProjectGutenberg™ electronic works if you follow the terms of thisagreement and help preserve free future access to Project Gutenberg™electronic works. See paragraph 1.E below.
1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation (“theFoundation” or PGLAF), owns a compilation copyright in the collectionof Project Gutenberg™ electronic works. Nearly all the individualworks in the collection are in the public domain in the UnitedStates. If an individual work is unprotected by copyright law in theUnited States and you are located in the United States, we do notclaim a right to prevent you from copying, distributing, performing,displaying or creating derivative works based on the work as long asall references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hopethat you will support the Project Gutenberg™ mission of promotingfree access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg™works in compliance with the terms of this agreement for keeping theProject Gutenberg™ name associated with the work. You can easilycomply with the terms of this agreement by keeping this work in thesame format with its attached full Project Gutenberg™ License whenyou share it without charge with others.
1.D. The copyright laws of the place where you are located also governwhat you can do with this work. Copyright laws in most countries arein a constant state of change. If you are outside the United States,check the laws of your country in addition to the terms of thisagreement before downloading, copying, displaying, performing,distributing or creating derivative works based on this work or anyother Project Gutenberg™ work. The Foundation makes norepresentations concerning the copyright status of any work in anycountry other than the United States.
1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
1.E.1. The following sentence, with active links to, or otherimmediate access to, the full Project Gutenberg™ License must appearprominently whenever any copy of a Project Gutenberg™ work (any workon which the phrase “Project Gutenberg” appears, or with which thephrase “Project Gutenberg” is associated) is accessed, displayed,performed, viewed, copied or distributed:
This eBook is for the use of anyone anywhere in the United States and most other parts of the world at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online atwww.gutenberg.org. If you are not located in the United States, you will have to check the laws of the country where you are located before using this eBook.
1.E.2. If an individual Project Gutenberg™ electronic work isderived from texts not protected by U.S. copyright law (does notcontain a notice indicating that it is posted with permission of thecopyright holder), the work can be copied and distributed to anyone inthe United States without paying any fees or charges. If you areredistributing or providing access to a work with the phrase “ProjectGutenberg” associated with or appearing on the work, you must complyeither with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 orobtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg™trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9.
1.E.3. If an individual Project Gutenberg™ electronic work is postedwith the permission of the copyright holder, your use and distributionmust comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and anyadditional terms imposed by the copyright holder. Additional termswill be linked to the Project Gutenberg™ License for all worksposted with the permission of the copyright holder found at thebeginning of this work.
1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg™License terms from this work, or any files containing a part of thiswork or any other work associated with Project Gutenberg™.
1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute thiselectronic work, or any part of this electronic work, withoutprominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 withactive links or immediate access to the full terms of the ProjectGutenberg™ License.
1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, includingany word processing or hypertext form. However, if you provide accessto or distribute copies of a Project Gutenberg™ work in a formatother than “Plain Vanilla ASCII” or other format used in the officialversion posted on the official Project Gutenberg™ website(www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expenseto the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a meansof obtaining a copy upon request, of the work in its original “PlainVanilla ASCII” or other form. Any alternate format must include thefull Project Gutenberg™ License as specified in paragraph 1.E.1.
1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,performing, copying or distributing any Project Gutenberg™ worksunless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providingaccess to or distributing Project Gutenberg™ electronic worksprovided that:
1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a ProjectGutenberg™ electronic work or group of works on different terms thanare set forth in this agreement, you must obtain permission in writingfrom the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the manager ofthe Project Gutenberg™ trademark. Contact the Foundation as setforth in Section 3 below.
1.F.
1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerableeffort to identify, do copyright research on, transcribe and proofreadworks not protected by U.S. copyright law in creating the ProjectGutenberg™ collection. Despite these efforts, Project Gutenberg™electronic works, and the medium on which they may be stored, maycontain “Defects,” such as, but not limited to, incomplete, inaccurateor corrupt data, transcription errors, a copyright or otherintellectual property infringement, a defective or damaged disk orother medium, a computer virus, or computer codes that damage orcannot be read by your equipment.
1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the “Rightof Replacement or Refund” described in paragraph 1.F.3, the ProjectGutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the ProjectGutenberg™ trademark, and any other party distributing a ProjectGutenberg™ electronic work under this agreement, disclaim allliability to you for damages, costs and expenses, including legalfees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICTLIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSEPROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THETRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BELIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE ORINCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCHDAMAGE.
1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover adefect in this electronic work within 90 days of receiving it, you canreceive a refund of the money (if any) you paid for it by sending awritten explanation to the person you received the work from. If youreceived the work on a physical medium, you must return the mediumwith your written explanation. The person or entity that provided youwith the defective work may elect to provide a replacement copy inlieu of a refund. If you received the work electronically, the personor entity providing it to you may choose to give you a secondopportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. Ifthe second copy is also defective, you may demand a refund in writingwithout further opportunities to fix the problem.
1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forthin paragraph 1.F.3, this work is provided to you ‘AS-IS’, WITH NOOTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOTLIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain impliedwarranties or the exclusion or limitation of certain types ofdamages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreementviolates the law of the state applicable to this agreement, theagreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer orlimitation permitted by the applicable state law. The invalidity orunenforceability of any provision of this agreement shall not void theremaining provisions.
1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, thetrademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyoneproviding copies of Project Gutenberg™ electronic works inaccordance with this agreement, and any volunteers associated with theproduction, promotion and distribution of Project Gutenberg™electronic works, harmless from all liability, costs and expenses,including legal fees, that arise directly or indirectly from any ofthe following which you do or cause to occur: (a) distribution of thisor any Project Gutenberg™ work, (b) alteration, modification, oradditions or deletions to any Project Gutenberg™ work, and (c) anyDefect you cause.
Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg™
Project Gutenberg™ is synonymous with the free distribution ofelectronic works in formats readable by the widest variety ofcomputers including obsolete, old, middle-aged and new computers. Itexists because of the efforts of hundreds of volunteers and donationsfrom people in all walks of life.
Volunteers and financial support to provide volunteers with theassistance they need are critical to reaching Project Gutenberg™’sgoals and ensuring that the Project Gutenberg™ collection willremain freely available for generations to come. In 2001, the ProjectGutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secureand permanent future for Project Gutenberg™ and futuregenerations. To learn more about the Project Gutenberg LiteraryArchive Foundation and how your efforts and donations can help, seeSections 3 and 4 and the Foundation information page at www.gutenberg.org.
Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non-profit501(c)(3) educational corporation organized under the laws of thestate of Mississippi and granted tax exempt status by the InternalRevenue Service. The Foundation’s EIN or federal tax identificationnumber is 64-6221541. Contributions to the Project Gutenberg LiteraryArchive Foundation are tax deductible to the full extent permitted byU.S. federal laws and your state’s laws.
The Foundation’s business office is located at 809 North 1500 West,Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887. Email contact links and upto date contact information can be found at the Foundation’s websiteand official page at www.gutenberg.org/contact
Section 4. Information about Donations to the Project GutenbergLiterary Archive Foundation
Project Gutenberg™ depends upon and cannot survive without widespreadpublic support and donations to carry out its mission ofincreasing the number of public domain and licensed works that can befreely distributed in machine-readable form accessible by the widestarray of equipment including outdated equipment. Many small donations($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exemptstatus with the IRS.
The Foundation is committed to complying with the laws regulatingcharities and charitable donations in all 50 states of the UnitedStates. Compliance requirements are not uniform and it takes aconsiderable effort, much paperwork and many fees to meet and keep upwith these requirements. We do not solicit donations in locationswhere we have not received written confirmation of compliance. To SENDDONATIONS or determine the status of compliance for any particular statevisitwww.gutenberg.org/donate.
While we cannot and do not solicit contributions from states where wehave not met the solicitation requirements, we know of no prohibitionagainst accepting unsolicited donations from donors in such states whoapproach us with offers to donate.
International donations are gratefully accepted, but we cannot makeany statements concerning tax treatment of donations received fromoutside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
Please check the Project Gutenberg web pages for current donationmethods and addresses. Donations are accepted in a number of otherways including checks, online payments and credit card donations. Todonate, please visit: www.gutenberg.org/donate.
Section 5. General Information About Project Gutenberg™ electronic works
Professor Michael S. Hart was the originator of the ProjectGutenberg™ concept of a library of electronic works that could befreely shared with anyone. For forty years, he produced anddistributed Project Gutenberg™ eBooks with only a loose network ofvolunteer support.
Project Gutenberg™ eBooks are often created from several printededitions, all of which are confirmed as not protected by copyright inthe U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do notnecessarily keep eBooks in compliance with any particular paperedition.
Most people start at our website which has the main PG searchfacility:www.gutenberg.org.
This website includes information about Project Gutenberg™,including how to make donations to the Project Gutenberg LiteraryArchive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how tosubscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.

[8]ページ先頭

©2009-2025 Movatter.jp