NaAntiguidade, a ilha encontra-se referida no "O périplo do mar Eritreu" (manuscrito anónimo,século I) como "Dioskouridou", em alusão ao autor greco-romanoDioscórides. Entretanto, em nossos dias oarqueólogo eantropólogoG. W. B. Huntingford, assinala que a toponímia "Socotorá" é de origemgrega, mas que procede dosânscrito "dvipa sukhadhara" ("ilha da felicidade").[6]
Para além da aparente população cristã que a Coroa portuguesa considerou urgente libertar da servidão imposta pelo rei muçulmano de Fartaque (noIémen), Socotorá, localizada à "mão esquerda entrando para o estreito, junto aocabo Guardafui", aparentava ser uma peça-chave para o controle do mar Vermelho. Por essa razão,Manuel I de Portugal traçou um plano de conquista da ilha, incumbindoTristão da Cunha eAfonso de Albuquerque dessa missão, e de nela instalarem uma fortaleza. Para esse fim, fez embarcar uma estrutura de madeira prefabricada em Lisboa. A conquista da ilha teve lugar em1507, sob o comando de Tristão da Cunha, após a tomada da Fortaleza de Çoco, guarnecida por 120 homens sob o comando do "muito valente cavaleiro e sem medo nenhum"Coje Abrahem, filho do rei deCaxem, cidade a alguns quilómetros do cabo Fartaque.[9]
As obras da fortificação ficaram a cargo do mestre de pedrariaTomás Fernandes.[10] Sob a invocação de São Miguel, ficou sob o comando do capitão D.Afonso de Noronha,[desambiguação necessária] tendo amesquita local sido convertida em igreja, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória, e a orientação de Frei António do Loureiro, guardião do mosteiro franciscano de São Tomé, o primeiro fundado extramuros e também o primeiro fundado noEstado Português da Índia.[11]
A infertilidade da terra e o isolamento da praça em pleno território controlado pelo inimigo, levou a que, tanto a guarnição militar quanto os religiosos, fossem assolados pela fome, pelas doenças e pelos levantamentos dos muçulmanos, recebendo socorro apenas após a conquista de Ormuz por Albuquerque (1507). Em pouco tempo, entretanto, a tese de que era essencial a ocupação de ilhas para o controle das rotas marítimas, começou a perder peso na estratégia portuguesa na região.[11] AFortaleza de Angediva havia sido abandonada (1506) e assim o seria o Forte de Socotorá (1511) e oForte de Quíloa (1512).
A evacuação de Socotorá fez-se com o recurso às naus deDiogo Fernandes de Beja, que não apenas fez demolir a fortificação até aos alicerces, como transportou toda a sua guarnição para reforço deGoa e mais de duzentas mulheres e demais cristãos da terra, assim como aartilharia e demais petrechos.[11]
Com a retirada portuguesa, o arquipélago passou para o controle dos sultõesMahra.
A ilha continuou a servir de ponto de aguada aos portugueses, tendo nela permanecido sempre um ou dois missionários. Alguns dos cristãos no local foram catequizados por SãoFrancisco Xavier aquando da sua passagem para a Índia (1542), que descreveu a ilha como "(...) terra desamparada e pobre, não crescendo nela nemtrigo, nemarroz, nemmilho, nemvinha, nemfruta: é muito estéril e seca".[12]
Entre1540 e1541 foi descrita por D.João de Castro, que registou: "(...) em todo o circuito da ilha não há porto nem outra alguma estância onde possa algum navio invernar seguramente". Em suas águas várias embarcações naufragaram, sendo a mais famosa ogaleão Santo António, sob o comando do capitãoManuel Pais da Veiga, tendo como piloto Aleixo da Mota,[13] em1601.[14]
Em termos económicos, os portugueses extraíam poucas matérias-primas, essencialmente o "sangue de dragão" (seiva dedragoeiro) ealoe, este último utilizado como adstringente e purgante intestinal.[13]
“
Verás defronte estar do Roxo estreito / Socotorá, com o amaro Aloe famosa.
O arquipélago é formado por uma ilha montanhosa principal, Socotorá (3625 km²), três ilhas menores, conhecidas coletivamente como "Os Irmãos" (Abd al Kuri,Samhah eDarsah), e ainda outras pequenas ilhotas desabitadas. Abd Al Kuri e Samha somam uma população de umas poucas centenas de pessoas, enquanto que Darsa está desabitada. A principal cidade é Hadiboh (43 000 habitantes em2004).
Socotorá é uma das ilhas de origem continental mais isoladas do mundo, separando-se provavelmente daÁfrica como uma falha durante oPlioceno médio, no mesmo conjunto de eventos que abriu oGolfo de Áden para o noroeste.
Oclima em geral éárido esemi-áridotropical (Köppen: BWh e BSh), com poucas chuvas, concentradas no inverno e mais abundantes nas maiores alturas do que nas zonas costeiras. O clima é fortemente influenciado pelamonção. De junho a setembro tradicionalmente a ilha era inacessível por causa dos fortes ventos.
Arquipélago de Socotorá
Os habitantes de Socotorá criam gado e cabras. A maioria vive sem eletricidade, água corrente ou estradas pavimentadas. Nos finais dadécada de 1990, foi implementado um Programa daOrganização das Nações Unidas para o Desenvolvimento dedicado à ilha. Assim, em julho de1999 um novo aeroporto internacional permitiu o acesso a Socotorá durante todo o ano.
O grande isolamento geológico do arquipélago, juntamente com o intenso calor e a falta de água, deu origem a uma interessante flora endêmica que é muito vulnerável a mudanças. Pelo menos um terço das 800 espécies de plantas que se encontram em Socotorá são endemismos. Os botânicos situam a flora de Socotorá entre as dez que correm os maiores perigos de extinção no mundo. Umas das plantas que se destacam é a "Dracaena cinnabari", uma árvore seiva de cor vermelha, procurada na Antiguidade para ser usada namedicina e na tinturaria.
Assim como ocorre com outras ilhas isoladas, osmorcegos são os únicosmamíferos nativos da ilha. Em contraste, a diversidade marinha é muito grande, e se caracteriza pela presença de espécies originárias das regiões biológicas próximas: oOceano Índico e oMar Vermelho.
↑HUNTINGFORD, G. W. B. "The Periplus of the Erythraean Sea. By an unknown author". (The Hakluyt Society. Second series, Vol. 151.) pp. xiv + 225; 9 ilustrações e mapas. Londres: The Hakluyt Society, 1980.
↑"Roteiro da navegação da carreira [sic da India feito por Aleixo da Mota pilloto della, segundo o que esperim[en]ta em trinta e sinquo annos q[ue] ha q[ue] nauega pella dita careira [sic] p[ar]a a India aonde te[m] feito seis viage[ns] de pilloto" [Manuscrito], [ca 1621]. - F. [1-48], enc. ; 27 cm.] in Biblioteca Nacional Digital. Consultado em 9 jun 2012.
Estes doisarquipélagos, localizados noAtlântico Norte, foram colonizados pelos portugueses no início doséculo XV e fizeram parte do Império Português até 1832, quando se tornaramprovíncias de Portugal. A partir de então passaram a ser consideradas como um prolongamento da metrópole europeia (as chamadasIlhas Adjacentes) e não como colónias. Hoje sãoregiões autónomas de Portugal.