Nos seus primeiros anos, a família mudava-se com frequência, tal como ele próprio continuaria a fazer ao longo de sua vida. O paiMikhail Ossipovitch Eisenstein (1867-1920), era um famosoarquiteto[4] nascido noOblast de Kiev, descendente, pelo lado paterno, dejudeusalemães convertidos à ortodoxia russa e, pelo lado materno, desuecos.[5][6] A mãe de Serguei, Iulia Ivanovna Konetskaya, era de famíliarussaortodoxa, filha de um prósperocomerciante.[7][8][9]
Iulia deixou Riga no ano daRevolução de 1905, levando Serguei com ela paraSão Petersburgo.[10] Serguei voltaria algumas vezes a Riga, para ver seu pai, que mais tarde juntar-se-ia a eles.[11] O divórcio do casal seguiu-se a esse tempo de separação. Em 1910, Iulia deixa a família para morar em Paris. Eisenstein será educado na tradição cristã ortodoxa mas posteriormente tornar-se-á ateu.[12]
Em 1915, ingressa no Instituto de Engenharia Civil dePetrogrado.[13] Em 1917, abandona os estudos e incorpora-se aoExército Vermelho.. No entanto, não se engaja politicamente emoutubro de 1917, mas somente no início daGuerra Civil, o que acabaria por separá-lo de seu pai, que apoiava o lado oposto, que será derrotado.[14] Em consequência disso, seu pai vai para aAlemanha, enquanto Serguei se desloca para Petrogrado,Vologda eDvinsk.[15] Em 1920, Serguei é transferido para uma posição de comando emMinsk, após providenciar uma exitosapropaganda para aRevolução de Outubro. Nesta época, tem contato com o teatroKabuki e estudajaponês, aprendendendo cerca de trezentos caractereskanji. Mais tarde ele citaria essa forma de "pictografia verbal" como uma de suas influências estéticas, ajudando-o a "entender... as camadas mais íntimas do método da arte".[16][17]
Com o ator dekabuki japonês Sadanji Ichikawa II, Moscou, 1928
Em1920 Eisenstein muda-se paraMoscou e começa sua carreira noteatro, trabalhando emProletkult.[18] Suas produções receberam os títulosMáscaras de Gás,Ouça Moscou eEstupidez Suficiente em cada Homem Sábio,[19] Eisenstein trabalharia então comodesigner do produtor ediretor teatralVsevolod Meyerhold.[20] Em1923, Eisenstein começa sua carreira como um teórico,[21] escrevendoA Montagem das Atrações para o jornalLEF.[22] O primeiro filme de Eisenstein,O Diário de Glumov, também foi feito no mesmo ano comDziga Vertov contratado inicialmente como um "instrutor".[23][24] O filme fez parte da sua produção teatralO Homem Sábio.
Eisenstein teve constantes atritos com o regime deJosef Stalin, por sua visão docomunismo e por sua defesa daliberdade de expressão artística e da independência dos artistas em relação aos governantes, posição não tolerada num país onde aindústria cinematográfica tinha dificuldades para se nacionalizar, dada a escassez de recursos.
Ao longo de toda a sua carreira, nunca deixou de trabalhar e redefinir costantemente a ideia demontagem e suas possibilidades expressivas, passando damontagem das atrações para amontagem intelectual (oucinedialética) e para a chamadamontagem vertical.
Com 26 anos fezA Greve, mostrando que arte e política podiam andar juntas. Com 27, deu ao mundoO Encouraçado Potemkin, obra que é considerada, juntamente comCidadão Kane, deOrson Welles, das mais importantes na história do cinema.[25]
Eisenstein resolve então afastar-se deHollywood e, depois do curto idíliocapitalista, volta ao seu país para fazer¡Que viva México!, uma obra ambiciosa sobre a história de um país e sua cultura. Entretanto, as filmagens são interrompidas por problemas financeiros. Mas sua incursão ao Ocidente não passaria impune.Stalin estava desconfiado em relação a ele, e o clima geral de suspeita também se envolvia anomenklatura doPartido.
Em 1935, ele é encarregado de um outro projeto,O Prado de Bejine, mas aparentemente o filme acabou por ter os mesmos problemas de¡Que viva México!. Eisenstein, unilateralmente, decidira filmar duas versões do roteiro - uma para adultos e outra para crianças - mas falhou na definição de um claro cronograma de filmagem, estourou o orçamento e perdeu prazos.Boris Shumyatsky, o poderoso controladorde facto doGoskino ( Comitê Estatal para o Cinema da URSS) manda parar as filmagens e cancela os dois projetos seguintes do cineasta. Eisenstein é obrigado a pedir desculpas, publicamente, pelo excesso desimbolismo eformalismo de sua obra.[26] O que parece ter sido a salvação da carreira de Eisenstein é que Stalin se convencera de que a responsabilidade pelo desastre deO Prado de Bejine não teria sido tanto do realizador mas dos executivos que deveriam tê-lo supervisionado. A culpa recaiu, portanto, sobre os ombros de Shumyatsky,[27] que, no início de 1938 foi denunciado, preso, julgado e condenado comotraidor e executado.
Einsenstein recebe então a incumbência de filmarAlexandre Nevski, como uma peça depropagandaantigermânica, tendo um supervisor "oficial" designado para controlar seu trabalho, em 1938. Apesar de tudo, assim como já fizera noPotemkin, ele construiu uma obra-prima. A primeira parte da sua trilogia foi mesmo muito apreciada por Stalin. Einsenstein foi até condecorado com aOrdem de Lenin em 1939 e, em 1941, nomeado diretor artístico doMosfilm, o maior estúdio da URSS.
Em seguida, já com o prestígio recuperado, Eisenstein começaIvã, o Terrível (sobre oczar Ivan IV), que deveria ter três partes. Rodado entre1942 e1944, o filme recebeu a aprovação de Stalin para a primeira parte, e rendeu ao realizador oPrêmio Stalin, em 1945.[28] Na segunda parte, concluída em 1946, o czar Ivan não é mais descrito como um herói, mas como um tirano paranóico. A terceira parte, iniciada em 1946 e deixada inacabada, foi confiscada e parcialmente destruída.[28] A segunda parte tem cenas coloridas (a celebração final), graças a uma recuperação de películasAgfacolor alemãs, após aderrota de Stalingrado. Quando Stalin descobre a segunda parte de Ivan, decide imediatamente proibi-la. Eisenstein é censurado pela forma como havia representado a guarda pessoal de Ivan.[29] O filme havia sido considerado como uma crítica velada a Stalin e aoculto à personalidade.Ivã, o Terrível encerra a carreira de Eisenstein. O filme só foi lançado na União Soviética em1958.
Afinal, aquele que escrevera que "o cinema, naturalmente, é a mais internacional das artes"[30] morre sozinho, abandonado por todos, após umahemorragia ligada a uminfarto do miocárdio, em 10 ou 11 de fevereiro de 1948. Está sepultado noCemitério Novodevichy,Moscou, naRússia. Sua esposa faleceu em 1965.[31]
Goodwin, James (1993),Eisenstein, Cinema, and History,ISBN0252062698, Urbana: University of Illinois Press
Seton, Marie (1952),Sergei M. Eisenstein: A Biography, New York: A.A. Wyn,OCLC2935257
Artigos selecionados em:Christie, Ian; Taylor, Richard, eds. (1994),The Film Factory: Russian and Soviet Cinema in Documents, 1896-1939,ISBN041505298X, New York, New York: Routledge.
Эйзенштейн, Сергей (1968),"Сергей Эйзенштейн" (избр. произв. в 6 тт), Москва: Искусство,Избранные статьи