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Pintura do simbolismo

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Júpiter e Semele (1894-1895), deGustave Moreau,Museu Gustave Moreau, Paris

Apintura simbolista foi uma das principais manifestações artísticas dosimbolismo, movimento cultural surgido no final doséculo XIX naFrança e que foi desenvolvido por vários países europeus. O início dessa tendência ocorreu napoesia, especialmente graças ao impacto deLas flores del mal (1868), deCharles Baudelaire, que influenciou fortemente uma geração de jovens poetas, incluindoPaul Verlaine,Stéphane Mallarmé eArthur Rimbaud. O termo "simbolismo" foi cunhado porJean Moréas em um manifesto literário publicado noLe Figaro em 1886. As premissas estéticas do simbolismo passaram da poesia para outras artes, especialmente pintura, escultura, música e teatro. A cronologia desse estilo é difícil de estabelecer, o ponto alto é entre 1885 e 1905, mas desde a década de 1860 já existiam obras que apontavam para o simbolismo, enquanto seu ponto culminante pode ser estabelecido no início daPrimeira Guerra Mundial.

Na pintura, o simbolismo era um estilo de cunhofantástico eonírico que surgiu como uma reação ao naturalismo da correnterealista eimpressionista, frente a cuja objetividade e descrição detalhada da realidade se opuseram a subjetividade e a encarnação do oculto e do irracional frente à representação, a evocação ou a sugestão. Assim como na poesia o ritmo das palavras servia para expressar um significadotranscendente, na pintura buscava-se o caminho da cor e da linha para expressar as ideias. Nesse movimento, todas as artes estavam relacionadas e, assim, a pintura deRedon era frequentemente comparada à poesia de Baudelaire ou à música deDebussy.[1]

"O cume” de 1912, obra simbolista do pintor Cesare Saccaggi, de Tortona.
"O cume" de 1912, obra simbolista do pintorCesare Saccaggi, de Tortona. O cume da montanha é representado por esta figura humana suntuosamente vestida, com edelvais na mão, à qual um jovem vestido de trapos e exausto no ato de fazer seu último esforço tenta dolorosamente agarrar-se; esta é uma cena que traduz um conceito típico da filosofia alemã do século XIX, o de "esforço" (Streben): enquanto a figura impassível simboliza a meta inatingível, o jovem exausto é o símbolo do desejo do homem de se superar na continuação e para estabelecer metas cada vez maiores e mais difíceis.[2]

Este estilo colocava uma ênfase especial no mundo dos sonhos emisticismo, bem como em vários aspectos dacontracultura e marginalidade, como oesoterismo, osatanismo, oterror, amorte, opecado, osexo e aperversão—sintomático neste sentido é o fascínio destes artistas para a figura dafemme fatale. Tudo isso se manifestou em consonância com odecadentismo, tendência culturalfinissecular que incidia sobre os aspectos mais existenciais da vida e no pessimismo como atitude vital, bem como a evasão e exaltação doinconsciente. Outra tendência ligada ao simbolismo foi oesteticismo, uma reação ao utilitarismo vigente na época e à feiura e materialismo da era industrial. Contra isso, arte e beleza ganharam autonomia própria, sintetizada na fórmula deThéophile Gautier "arte pela arte" (L'art pour l'art). Alguns artistas simbolistas também estavam ligados àteosofia e organizações esotéricas como aRosacruz.[3] Deve-se notar que estilisticamente havia grande diversidade dentro da pintura simbolista, conforme se denota pela comparação do exotismo suntuoso deGustave Moreau com a serenidade melancólica dePierre Puvis de Chavannes.[4]

O simbolismo pictórico foi relacionado a outros movimentos anteriores e posteriores: opré-rafaelismo costuma ser considerado um antecedente desse movimento, enquanto que, já começado oséculo XX, formou tronco junto aoexpressionismo, especialmente graças a figuras comoEdvard Munch eJames Ensor. Por outro lado, algumas escolas ou associações artísticas como aEscola de Pont-Aven ou o grupo dosNabis são consideradas simbolistas ou diretamente relacionadas com o simbolismo.[5] Eles também foram herdeiros até certo ponto doneoimpressionismo, cuja técnicapontilhista foi a primeira a romper com o naturalismo impressionista. Por outro lado, opós-impressionistaPaul Gauguin exerceu uma influência poderosa nos primórdios do simbolismo, graças à sua ligação com a Escola Pont-Aven e aocloisonismo.[3] Esta vertente também foi ligada aomodernismo, conhecido comoart nouveau na França,Modern Style noReino Unido,Jugendstil naAlemanha,Sezession naÁustria ouLiberty naItália.[6]

Características gerais

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A Arte (As carícias, a esfinge) (1896), deFernand Khnopff, Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica, Bruxelas

O simbolismo surgiu como uma reação às múltiplas tendências ligadas ao realismo no campo da cultura ao longo doséculo XIX. Fatores como o progresso da ciência desde oRenascimento—que nesse século levou aopositivismo científico, o desenvolvimento da indústria e do comércio originado com ocapitalismo e aRevolução Industrial, a preferência daburguesia pelo naturalismo cultural e o surgimento dosocialismo com sua tendência aomaterialismo filosófico, propiciaram ao longo do século uma clara preferência pelo realismo artístico, que foi denotado em movimentos como a pintura realista e impressionismo. Em contraposição a isso, primeiro os poetas e depois os artistas expressaram uma nova forma de entender a vida, mais subjetiva e espiritual, reflexo de suas angústias existenciais em um momento de perda de valores morais e religiosos, motivo pelo qual se adentraram na busca por uma nova linguagem e uma nova categoria de valores que manifestassem seu mundo interior, suas crenças, suas emoções, seus medos, seus desejos.[7] Segundo Johannes Dobai, "a arte simbolista tende a generalizar, por meio de imagens, uma experiência individual, ou melhor, inconsciente, do mundo".[8]

O simbolismo foi um movimentoeclético, reunindo vários artistas com preocupações e sensibilidades comuns. Mais do que um estilo homogêneo, foi um amálgama de estilos agrupados por uma série de fatores comuns, como temáticas, modos de entender a vida e a arte, influências literárias e musicais, e uma oposição ao realismo e ao positivismo científico. Foi um movimento às vezes contraditório, que mesclava por um lado o anelo de modernidade e de ruptura com a tradição, junto com, por outro lado, a nostalgia do passado, a feiura do decadentismo junto com a beleza do esteticismo, a serenidade com a exaltação, a razão com a loucura. Há também uma sobreposição entre vários estilos que coexistem simultaneamente:neoimpressionismo epós-impressionismo,modernismo, simbolismo,sintetismo,ingenuísmo; bem como entre as artes plásticas:pintura,escultura,ilustração,artes decorativas, e entre estas e apoesia, oteatro, amúsica.[9]

Moças à beira-mar (1879), dePierre Puvis de Chavannes,Museu Orsay, Paris

Ahistoriografia da arte encontrou dificuldades em estabelecer parâmetros estilísticos comuns para o simbolismo. Por algum tempo, considerou-se simbolista qualquer obra de arte da segunda metade doséculo XIX de conteúdo onírico ou psicológico. Por fim, considerou-se que se tratava de uma corrente cultural de amplo espectro que percorria uma linha do tempo entre o final doséculo XIX e o início do XX desenvolvida em toda a Europa—inclusive naRússia—e com algumas reminiscências nosEstados Unidos, uma corrente que aglutinava total ou parcialmente diversos estilos autônomos, como opré-rafaelismo inglês, osNabis franceses, o modernismo presente, por exemplo, emGustav Klimt, ou mesmo umexpressionismo incipiente perceptível na obra deEdvard Munch.[10] De acordo comPhilippe Jullian, "não existiu jamais uma escola de pintura simbolista, mas sim um gosto simbolista."[11]

O simbolismo exalta a subjetividade, a experiência interior. De acordo comAmy Dempsey, "Os simbolistas foram os primeiros artistas a declarar que o verdadeiro objetivo da arte era o mundo interno do estado deânimo e das emoções, ao invés do mundo objetivo das aparências externas." Para tanto, utilizaram osímbolo como veículo de expressão de suas emoções, o que se plasmou em imagens de forte conteúdo subjetivo e irracional, em que predominam os sonhos, as visões e os mundos fantásticos recriados pelo artista, com certa tendência ao mórbido e perverso, ao erotismo atormentado, à solidão e angústia existencial.[12]

Nesse estilo, o símbolo é um "agente de comunicação com o mistério", permitindo que intuições e processos mentais ocultos sejam expressos de uma forma que não seria possível em um meio de expressão convencional. O símbolo deixa patente o ambíguo, o misterioso, o inexprimível, o oculto. A arte simbolista exalta a ideia, o latente, o subjetivo, é uma exteriorização do eu do artista. Daí seu interesse por conceitos intangíveis, a religião, a mitologia, a fantasia, a lenda, bem como ohermetismo, oocultismo e inclusive o satanismo. Segundo o crítico Roger Marx, eram artistas que buscavam "dar forma ao sonho".[13]

A Ilha dos Mortos (1880), deArnold Böcklin,Kunstmuseum,Basel

Contra o naturalismo defende-se a artificialidade, contra o moderno, o primitivo, contra o objetivo, o subjetivo, contra o racional, o irracional, contra a ordem social, a marginalização, contra o consciente, o oculto e misterioso. O artista já não recria a natureza, mas constrói o seu próprio mundo, liberta-se expressiva e criativamente, aspira àobra de arte total, na qual cuida de todos os detalhes e se torna um criador absoluto.Paul Cézanne considerava a arte como "uma harmonia paralela à natureza"; eOscar Wilde afirmou que “a arte é sempre mais abstrata do que imaginamos. A forma e a cor nos falam de forma e cor, e isso é tudo". Com a arte simbolista, a autonomia da linguagem artística é alcançada: a arte rompe com a tradição e constrói um universo paralelo, abonando um terreno virgem que servirá de base para novas formas de compreensão da arte neste início deséculo XX: asvanguardas históricas.[14]

O simbolismo foi também um intento de salvar a culturahumanística ocidental, questionada desde que arevolução copernicana relegara aTerra como centro douniverso e, especialmente, desde que ateoria da evoluçãodarwiniana relegara oser humano de sua condição de soberano da criação. Diante do excessivo cientificismo da cultura ocidental oitocentista, os simbolistas buscam resgatar os valores humanos, mas se encontram em um cenário em que estes já estão desvirtuados, em crise, portanto o que recuperam são valores em decadência, o lado mais obscuro do ser humano, mas o único que podem resgatar. Segundo o historiador da arteJean Clair, seu "objetivo era transformar a crise cultural que atingiu seu apogeu nabelle époque em uma cultura de crise".[15]

O cíclope (1914), deOdilon Redon,Museu Kröller-Müller, Otterlo

Uma das características essenciais do simbolismo era a subjetividade, a exaltação do individualismo, o temperamento pessoal, a rebelião individual.Remy de Gourmont disse que "o simbolismo é, embora excessivo, intempestivo e pretensioso, a expressão do individualismo na arte"; eOdilon Redon era de opinião que "o futuro está em um mundo subjetivo".[16] Esta exaltação da vontade individual acarreta a ausência nesta corrente de marcas estilísticas distintivas que sejam comuns a todos os artistas, os quais se unem mais por uma série de conceitos abstratos em vez de um programa metodológico estabelecido. Entre esses conceitos compartilhados estão o misticismo, religiosidade e esteticismo, vinculados a uma filosofiaidealista impregnada de pessimismo de final de século que tem sua expressão máxima emNietzsche eSchopenhauer. Da mesma forma, comum à maioria desses artistas é o gosto pela magia, teosofia e ocultismo, e uma certa atração pelo satanismo.[16] Em relação a isso, uma obra de referência para artistas simbolistas foiA Filosofia do Inconsciente deEduard von Hartmann (1877), em que se afirmava que a arte deveria ser um método de penetrar no inconsciente e revelar seus mistérios mais ocultos.[17]

Em relação ao gosto pelo misterioso e pelo inconsciente, os simbolistas mostraram uma preferência especial pelaalegoria, pela representação de ideias através de imagens evocativas dessas ideias. Para isso, recorreram frequentemente aemblemas,mitologia eiconografia relacionadas com lendas medievais e figuras do folclore popular, especialmente nos países germânicos e escandinavos. Outra variante do oculto era a atração peloerotismo, latente em artistas comoMoreau ouRedon e evidente emRops,Stuck,Klimt,Beardsley ouMossa. Em última análise, essa atração também levou à exploração da morte ou enfermidade, como emMunch,Ensor eStrindberg.[17]

Anjos da noite (1891), porWilliam Degouve de Nuncques, Museu Kröller-Müller, Otterlo

Outra característica da arte simbolista era asinestesia, a busca de uma relação entre qualidades pictóricas (linha, cor, ritmo) e outras qualidades sensoriais como som e aroma: assim,Gauguin falava do "aspecto musical" de sua arte;Rimbaud relacionou as vogais com cores (A-preto, E-azul, I-vermelho, O-amarelo, U-verde); Baudelaire também aplicava cores a perfumes.[18] Essa inter-relação entre os sentidos foi teorizada por Baudelaire em suaCorrespondências (1857), na qual ele defendeu a expressividade da arte como meio de satisfazer todos os sentidos simultaneamente.[12] Por outro lado, o lituanoMikalojus Konstantinas Čiurlionis, que foi pintor e compositor, criou uma teoria segundo a qual a cor era o ponto de união entre as várias artes, que na pintura era o elo entre os vários motivos e na música era uma imagem da "ordem cósmica divina".[19]

A pintura simbolista defendia a composição de memória contra a pinturaà plein air defendida peloimpressionismo.[3] Uma de suas características essenciais era a linha, em contornos sinuosos de aparência orgânica, uma linha fluida e dinâmica, estilizada, em que a representação passa do naturalismo à analogia. A bidimensionalidade inerente à pintura é reivindicada, abandonando a perspectiva e a representação de um espaço ilusório, a gravidade, a aparência tridimensional.[20]

Entre os motivos preferidos pelos simbolistas estão temas tradicionais—embora frequentemente reinterpretados—e temas recém-inventados. Entre os primeiros estãoretratos,paisagens e pinturas narrativas de histórias e lendas, que servem como novas formas de simbolizar conceitos como amor, solidão, saudade, etc. O retrato simbolista é de introspecção psicológica, frequentemente idealizado, principalmente nas mulheres, em que se destacam os olhos, a boca e os cabelos. Baudelaire comparou olhos a joias e cabelos a uma sinfonia de aromas ou a um mar de ondas. Os olhos eram considerados espelhos da alma, geralmente nostálgicos e melancólicos. Já a boca pode ser grande como uma flor ou pequena como símbolo de silêncio, como na obra deFernand Khnopff. Quanto à paisagem, preferiam—da mesma forma que noRomantismo—lugares solitários e nostálgicos, evocativos, sugestivos, de preferência selvagens e abandonados, não maculados pelo homem, em horizontes abertos, quase infinitos. Não costumam ser paisagens vazias, mas em geral se recorre à presença humana, para a qual a paisagem é um veículo de evocação ou projeção de estados psíquicos.[21]

Fundo

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O Pesadelo (1781), deJohann Heinrich Füssli,Instituto de Artes de Detroit, Detroit

O simbolismo entendido como meio de expressão do "símbolo", isto é, de um tipo de conteúdo seja escrito, sonoro ou plástico que visa transcender a matéria para significar uma ordem superior de elementos intangíveis, sempre existiu na arte como manifestação humana, uma de cujas qualidades sempre foi a evocação espiritual e a busca de uma linguagem que transcenda a realidade. Assim, a presença do símbolo na arte pode ser percebida desde apintura rupestre pré-histórica e tem sido uma constante principalmente na arte ligada às crenças religiosas, da arteegípcia ouasteca àcristã,islâmica,budista ou qualquer das múltiplas religiões que hão surgido ao longo da história. Um fundo simbólico está presente na maioria dos movimentos da arte moderna, como oRenascimento, omaneirismo, oBarroco, orococó ou oRomantismo. Em geral, esses movimentos se contraporam com outros que colocavam maior ênfase na descrição da realidade—tendência em geral conhecida comonaturalismo—como oacademicismo, oneoclassicismo, orealismo ou oimpressionismo.[7]

A Luz do Mundo (1853), deWilliam Holman Hunt, Keble College,Universidade de Oxford

Alguns artistas renascentistas comoBotticelli eMantegna exerceram grande influência sobre os pintores simbolistas: o primeiro especialmente na Inglaterra (Beardsley,Burne-Jones,Ricketts) e o segundo na França com Moreau e Redon, e mesmoPicasso. Outros artistas renascentistas que deram grande importância ao conteúdo simbólico de suas obras foramGiorgione,Ticiano eAlbrecht Dürer, também admirados pelos simbolistas do século XIX. Um certo grau de simbolismo pode ser percebido também na obra de artistas barrocos comoRubens eCláudio de Lorena, bem como em um gênero amplamente tratado nessa época, o dasvanitas, cuja finalidade é, por definição, sempre simbólica: relembrar os observador do efêmero da vida e da igualdade ante à morte. No rococó (século XVIII ), uma referência especial para os simbolistas foiJean-Antoine Watteau, cujas obras se afastaram da alegoria simbólica convencional que havia sido frequente no Renascimento e no Barroco para explorar um simbolismo mais sutil e oculto, no qual é necessário aprofundar para compreender as intenções do artista e, portanto, se aproximar do movimento simbolista.[22]

As raízes mais próximas do simbolismo, já noséculo XIX, são encontrados no Romantismo e em algumas de suas ramificações, como onazarenismo e opré-rafaelismo. Já nesses movimentos se percebem alguns traços característicos do simbolismo, como o subjetivismo, a introspecção, o misticismo, a evocação lírica e a atração pelo misterioso e irracional. Artistas românticos comoWilliam Blake,Johann Heinrich Füssli,Caspar David Friedrich,Eugène Delacroix,Philipp Otto Runge,Moritz von Schwind ouLudwig Richter são o prelúdio do estilo desenvolvido pelos artistas simbolistas.[7] Outro precedente que é frequentemente considerado éFrancisco de Goya, um artista abrangendo o Rococó e o Romantismo—um gênio inclassificáveou—que preludia o simbolismo em obras comoO sono da razão produz monstros (1799,Museu do Prado, Madri).[23]

O Romantismo foi um movimento inovador que pôs a primeira fratura contra o principal motor que impulsionava os tempos modernos: a razão. De acordo comIsaiah Berlin, houve "uma deslocamento na consciência que partiu a espinha dorsal do pensamento europeu".[24] Para os românticos, o mundo objetivo dos sentidos não tinha validade, então eles se volveram à sua antítese: a subjetividade. Os artistas voltaram-se para o seu mundo interior, era seu próprio temperamento o que ditava as regras e não a sociedade. Diante das regras acadêmicas, deram primazia à imaginação, que seria o novo veículo de expressão. Tudo isso está nos alicerces da arte simbolista, a ponto de alguns especialistas considerá-lo parte do movimento romântico.[24]

O predecessor imediato do simbolismo foi o pré-rafaelismo, um grupo de artistas britânicos que se inspiraram—como o nome sugere—em pintores italianos anteriores aRafael, bem como nafotografia recém-surgida, com expoentes comoDante Gabriel Rossetti,John Everett Millais,William Holman Hunt,Ford Madox Brown eEdward Burne-Jones. Embora seu estilo seja realista, com imagens de grande detalhe, cores vivas e obra brilhante, suas obras são repletas de alusões simbólicas, muitas vezes de inspiração literária e de tom moralizador, além de forte misticismo. Sua temática se centra em inúmeras ocasiões em lendas medievais—especialmente ociclo arturiano—, o mundo renascentista ou dramas deShakespeare. Sua estética é geralmente voltada para a beleza feminina, uma espécie de beleza sensual, mas lânguida, com certo ar de melancolia e idealização da figura feminina.[25]

Fontes literárias

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O poeta viajante (sem data), deGustave Moreau, Museu Gustave Moreau, Paris

Em 18 de setembro de 1886,Jean Moréas publicou noLe Figaro um manifesto literário no qual definia o simbolismo como "o inimigo do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade e da descrição objetiva". Segundo Moréas, a arte era a expressão analógica e concreta da Ideia, na qual se fundem os elementos sensoriais e espirituais.[26] Por sua vez, o críticoCharles Morice definiu o simbolismo como a síntese entre o espírito e os sentidos (La Littérature de tout à l'heure, 1889).[3]

Um antecedente literário desse movimento foi o livroÀs Avessas (À rebours) deJoris-Karl Huysmans (1884), um hino ao esteticismo e à excentricidade como atitude vital, no qual ele relaciona a obra de alguns artistas comoGustave Moreau,Rodolphe Bresdin eOdilon Redon com o decadentismo.[3] Neste romance o protagonista Jean Floressas des Esseintes se retira do mundo para viver em um ambiente criado por ele no qual se dedica a desfrutar da literatura, música, arte, flores, joias, perfumes, licores e todas essas coisas que estimulam uma existência idealizada, longe da multidão enlouquecida. Como o título indica, o personagem vive "contra a natureza do senso comum, do senso moral, da razão, da natureza".[27] O protagonista enche sua casa de obras de arte simbolistas, que define como "obras de arte evocativas que o transportarão a um mundo desconhecido, abrindo novas possibilidades e agitando seu sistema nervoso através de eruditas fantasias, complicados pesadelos e suaves e sinistras visões".[28] Este livro foi considerado a "Bíblia do decadentismo", a revelação do sentimentofin de siècle.[29]

O simbolismo foi difundido por inúmeras revistas comoLa Revue wagnerienne (1885),Le Symbolisme (1886),La Plume (1889),La Revue blanche (1891) e, principalmente,La Pléiade (1886, rebatizada em 1889 comoMercure de France), que era o órgão oficial de simbolismo. Nesta última revista, o críticoGabriel-Albert Aurier definiu a pintura simbolista em 1891 como "idealista, simbolista, sintética, subjetiva e decorativa":[3]

A obra de arte será: 1. Idealista, para a qual seu único ideal será a expressão da ideia. 2. Simbolista, para o qual expressará essa ideia por meio de formas. 3. Sintetista, para a qual apresentará essas formas e esses signos, de acordo com um método geralmente compreensível. 4. Subjetiva, para a qual o objeto nunca será considerado como um objeto, mas como um signo de uma ideia percebida pelo objeto. 5. (Consequentemente, será) decorativa.[12]

Por outro lado, o poetaGustave Kahn apontou em 1886 que:

O objetivo essencial de nossa arte é objetivar o subjetivo (a externalização da ideia) em vez de subjetivar o objetivo (a natureza vista através dos olhos de um temperamento).[30]

No prefácio de seuLivre des masques (1896),Remy de Gourmont escreveu sobre o simbolismo:

O objetivo essencial de nossa arte é objetivar o subjetivo (a externalização da ideia) em vez de subjetivar o objetivo (a natureza vista através dos olhos de um temperamento).[30]

A pintura simbolista estava intimamente ligada à literatura, por isso muitas das obras dos literatos simbolistas serviram de inspiração para artistas, especialmenteEdgar Allan Poe,Charles Baudelaire,Gustave Flaubert,Gérard de Nerval,Arthur Rimbaud,Stéphane Mallarmé,Oscar Wilde,Maurice Maeterlinck,Stefan George,Rainer Maria Rilke, Richard Dehmel,Arthur Schnitzler eHugo von Hofmannsthal.[31]

Outras referências literárias de simbolismo são encontradas na filosofia pessimista deArthur Schopenhauer, em oposição ao positivismo deAuguste Comte, e na filosofia subjetivista deHenri Bergson e seu conselho para buscar a verdade por meio daintuição. Outra referência filosófica foiFriedrich Nietzsche.[32]

Além da França, o outro país que contribuiu de forma intensa para a teoria do simbolismo foi oReino Unido, berço do decadentismo. Ajudaram a esse campo alguns artigos do crítico e poetaArthur Symons na revistaSavoy, autor do ensaioThe Symbolist Movement in Literature (1900), onde advogou pelo simbolismo como uma tentativa de espiritualizar a arte e transformá-la em uma religião que substituiria a natureza pela fantasia.[33]

Esteticismo

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Ver artigo principal:Esteticismo
Retrato do conde Robert de Montesquiou (1897), deGiovanni Boldini,Musée d'Orsay, Paris. Protótipo dodândi, oConde de Montesquiou foi, provavelmente, o modelo do personagem Jean Floressas des Esseintes do livroÀs Avessas por Joris-Karl Huysmans (1884)

O simbolismo esteve intimamente ligado aoesteticismo, um movimento artístico-filosófico que, contra o materialismo da era industrial, opôs a exaltação da arte e da beleza, sintetizada na fórmula deThéophile Gautier de "arte pela arte" (l'art pour l'art), de que se falava até em "religião estética".[34] Esta posição pretendia isolar o artista da sociedade, buscar de forma autônoma sua própria inspiração e deixar-se levar apenas por uma busca individual da beleza.[35] A beleza se distanciou de qualquer componente moral, convertendo-se no fim último do artista, que chegava a viver sua própria vida como uma obra de arte—como pode ser visto na figura dodândi.[36] Para os estetas, a arte não deve ter qualquer função didática, moral, social ou política, mas deve apenas responder ao prazer e à beleza.[37]

Esse movimento surgiu no Reino Unido, berço daRevolução Industrial, onde, na primeira metade doséculo XIX, desenvolveram-se estilos artísticos—especialmente na arquitetura e nas artes decorativas—de cunho eclético, como ohistoricismo. Diante disso, começou a surgir um "mal-estar estético" (Aesthetic Discontent) que provocou uma reação a formas mais naturais e artesanais, como foi verificado com o movimentoArts & Crafts, que levou a uma reavaliação das artes decorativas. Tudo isso conduziu ao chamado "movimento estético" (Aesthetic Movement), liderado porJohn Ruskin, que defendeu a dignidade do trabalho artesanal e uma concepção de arte voltada para a beleza. Ruskin defendia um "evangelho da beleza", em que a arte é consubstancial à vida, é uma necessidade básica que faz o ser humano sair de sua condição animal; mais do que um enfeite de vida, a arte é a própria vida.[38]

Outro dos teóricos do movimento foiWalter Pater, que estabeleceu em suas obras que o artista deve viver a vida intensamente, seguindo a beleza como ideal. Para Pater, a arte é "o círculo mágico da existência", um mundo isolado e autônomo a serviço do prazer, elaborando uma autêntica metafísica da beleza.[39] Mais tarde, autores comoJames Abbott McNeill Whistler,Oscar Wilde,Algernon Charles Swinburne eStéphane Mallarmé desenvolveram essa tendência com um alto grau de refinamento baseado unicamente na sensibilidade do artista.[40]

Na França, Théophile Gautier transformou uma citação doCurso de Filosofia deVictor Cousin no lemal'art pour l'art, que foi o carro-chefe do esteticismo. Essa frase sintetizou a crença na autonomia absoluta da arte, que dispensa qualquer condicionamento moral ou ideológico para expressar a ideia de beleza como objetivo último do artista. Assim, a poesia simbolista se baseia na preciosidade e sensualidade, em efeitos líricos que refulgem como pedras preciosas, e a arte busca a sugestão da imagem, a riqueza do símbolo, a estética sensual que extraem até de elementos como o vício e a perversão, que são refinados até se obter uma imagem de forte impacto visual.[41]

Um fenômeno paralelo ao esteticismo foi odandismo, em que o culto da beleza é transportado para o próprio corpo: os dândis vestem roupas elegantes, se preocupam excessivamente com sua imagem pessoal, se interessam por moda e procuram estar atualizados nas últimas novidades de roupas; gostam de acessórios, como chapéus, luvas e bengalas. Em geral, são personagens urbanos, de origem burguesa—embora às vezes renunciem a essa distinção—, muitas vezes com profissões liberais e aficionado de novidades tecnológicas. Em termos de caráter, eram arrogantes e polêmicos, gostavam de ser admirados e até considerados celebridades. Como fenômeno surgido no Reino Unido, os dândis são filhos damoral vitoriana e, embora se rebelem contra ela, o fazem a partir de uma atitude passiva, reduzida à insolência, ao sarcasmo e ao ceticismo. Eles desdenham da vulgaridade e se concentram no prazer, seja ele físico ou intelectual.[42]

Decadentismo

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Ver artigo principal:Decadentismo
O pecado (1893), de Franz von Stuck, Neue Pinakothek, Munique
O pecado (1893), deFranz von Stuck,Neue Pinakothek, Munique
O escritorThomas Mann, em sua novelaGladius Dei (1902), entrelaçou estas duas imagens para forjar seu protótipo de mulher pecadora.

Odecadentismo foi uma corrente finissecular perceptível tanto na arte quanto na literatura, música e outras manifestações culturais, que enfatizaram os aspectos mais existenciais da vida e da sociedade, com uma atitude pessimista derivada da filosofia deSchopenhauer eKierkegaard, e uma atitude rebelde e antissocial inspirada em obras comoAs Flores do Mal de Baudelaire eÀs Avessas de Huysmans. Suas características gerais são o gosto pela elegância e fantasia, bem como pelo exótico—o que se denota em sua predileção por orquídeas, borboletas ou pavões; predileção pela beleza artificial, enquanto insultam a natureza; uma visão romântica do mal e das ciências ocultas; uma certa tendência para o grotesco e o sensacional, e um gosto pelo mórbido e perverso; rejeição da moralidade convencional; e uma concepção dramática da vida.[43]

A sensibilidade romântica foi levada ao exagero, especialmente no gosto pelo mórbido e terrorífico, e uma "estética do mal" emergiu, apreciável na atração pelo satanismo, magia e fenômenos paranormais, ou na fascinação pelo vício e desvios sexuais.[44] A arte simbolista superexcita os sentidos, o que produz uma sensação de decadência, que será o estado anímico próprio dofin de siècle.Paul Verlaine escreveu: "gosto da palavra "decadentismo". Ela tem um resplendor dourado e púrpura. Emite raios de fogo e o brilho de pedras preciosas".[41]

Desde 1886 foi publicada na França uma revista intituladaLe Décadent, que foi de certa forma o órgão oficial desse movimento. Em sua primeira edição, em 10 de abril de 1886, anunciava-se à sociedade o declínio de valores como moralidade, religião e justiça, e se assinalavam sintomas do processo de involução social como a história, a neurose, o hipnotismo e a drogadição. O decadentismo foi um movimento antiburguês e antinaturalista, que defendia o luxo, o prazer e a hipersensibilidade do gosto. No plano teórico, recorreu à obra de pensadores e filósofos comoFriedrich Nietzsche, que apontou o símbolo como base da arte;Henri Bergson, que se opôs à realidade objetiva e defendeu sua percepção subjetiva; eArthur Schopenhauer, cujo livroO mundo como vontade e representação (1819) influenciou poderosamente o pessimismo finissecular.[45]

Uma das características do decadentismo é a atração negra pela mulher perversa, afemme fatale, aEva transformada emLilith, a mulher enigmática e distante, perturbadora, a mulher queManuel Machado definiu como "quebradiça, viciosa e mística, virgem pré-rafaelita e gata parisina". Ela é uma mulher amada e odiada, adorada e vilipendiada, exaltada e repudiada, virtuosa e pecadora, que adotará inúmeras formas simbólicas e alegóricas, comoesfinge,sereia,quimera,medusa, gênio alado, etc. Tornou-se moda um tipo de beleza artificial eandrógina, ambígua, uma espécie de belezaleonardesca, de feições indefinidas, que terá um equivalente simbólico em flores como olírio ou em animais como ocisne e opavão.[46] Os simbolistas muitas vezes retratavam personagens como Eva,Salomé,Judite,Messalina ouCleópatra, protótipos da mulher fatal, da fêmea vampiresa que fazia da sexualidade feminina um poder perigoso e misterioso, frequentemente associado ao pecado, como se vislumbra na alegoria deO pecado, deFranz von Stuck (1893, Nova Pinacoteca, Munique).[47] Algumas das mulheres da época que serviram de referência para os artistas simbolistas e modernistas foram as dançarinasCléo de Mérode,La Bella Otero eLoïe Fuller, além da atrizSarah Bernhardt.[48]

Disseminação e legado

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A noite (1889-1890), deFerdinand Hodler,Museu de Belas Artes de Berna

A arte finissecular—simbolismo, modernismo—teve para sua disseminação uma série de mídias cada vez mais diversificadas, fomentadas pelos avanços tecnológicos e pela celeridade cada vez maior das comunicações. A nova arte contou com diversos meios propagandísticos, como revistas, exposições, galerias, cartazes publicitários, livros ilustrados, ateliês de produção e sociedades de artistas, escolas e academias particulares e outros tipos de canais de promoção e venda. A rapidez de difusão e reprodução levou à cosmopolitização do novo estilo e a uma certa vulgarização dele: as réplicas das obras de arte simbolistas geraram sua desvalorização a um certo gostokitsch, e a tentativa de encontrar uma nova linguagem longe da desprimorada estética burguesa às vezes degenerava em um pobre sucedâneo para ela.[49]

O simbolismo influenciou vários movimentos contemporâneos, como omodernismo e aarte ingênua, bem como vários dos primeiros "ismos" daarte vanguardista, como ofauvismo, oexpressionismo, ofuturismo, osurrealismo e até aarte abstrata: alguns dos pioneiros da abstração, comoKandinsky,Malevich,Mondrian eKupka, tiveram uma fase simbolista no início de sua obra.[50] O colorido fauvista foi herdeiro do simbolismo,cloisonismo esintetismo, numa linha evolutiva que começa com a cor lisa sem sombras dePuvis de Chavannes, continua com a cor esmaltada e encerrada nos contornos negros deÉmile Bernard, cor que Gauguin levou à sua expressão máxima e foi transmitida porSérusier aosNabis; o principal expoente do fauvismo,Henri Matisse, revelou que sua pinturaLuxo I foi inspirada emMoças à beira-mar de Puvis de Chavannes.[51] O expressionismo considerou artistas comoPaul Gauguin,Edvard Munch ouJames Ensor como antecedentes imediatos, e alguns artistas expressionistas tiveram uma primeira fase simbolista, comoGeorges Rouault,Alfred Kubin,Egon Schiele,Oskar Kokoschka,Franz Marc e Wassily Kandinsky. O futurismo, embora teoricamente oposto ao simbolismo, recebeu sua influência em grande medida, especialmente graças à obra deGaetano Previati; Artistas futuristas comoUmberto Boccioni,Giacomo Balla eCarlo Carrà estiveram próximos do simbolismo em seus primeiros trabalhos, assim comoGiorgio de Chirico, o maior expoente dapintura metafísica. Por sua vez, o surrealismo foi influenciado por artistas comoOdilon Redon,William Degouve de Nuncques eAlberto Martini, cuja marca é vista em artistas comoPaul Delvaux,René Magritte,Paul Klee ouSalvador Dalí.[52]

França

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A aparição (1874-1876), de Gustave Moreau, Museu Gustave Moreau, Paris

Como foi visto, a França foi o berço do simbolismo, tanto na pintura quanto na poesia e em outros gêneros artísticos.Gustave Moreau pode ser considerado o pai do simbolismo pictórico; em todo caso, sua obra antecede em duas décadas o surgimento do simbolismo "oficial", pois desde a década de 1860 Moreau já pintava quadros nos quais recriava seu mundo particular de fantasia luxuosa e detalhada, com temas baseados na mitologia, na história e naBíblia, com uma predileção especial por personagens fatais como Salomé.[53] Moreau todavia se formou no Romantismo sob a influência de seu professor,Théodore Chassériau, mas ele evoluiu para um estilo pessoal tanto em temática quanto em técnica, com imagens místicas com um forte componente de sensualidade,[54] um cromatismo resplandecente com acabamento de aparência esmaltada e uso declaro-escuro de sombras douradas.[55] Recebeu influência de artistas comoLeonardo,Mantegna eDelacroix, bem como daarte indiana,bizantina e domosaico greco-romano.[56] Seus trabalhos são de um cunho fantástico e estilo ornamental, com composições variadas densamente povoadas por todos os tipos de objetos e elementos vegetais, com um erotismo sugestivo que reflete seus medos e obsessões, no qual ela retrata um protótipo de uma mulher ambígua, entre a inocência e a perversidade:Édipo e a esfinge (1864, Museu Metropolitano de Arte,Nova York ),Orfeu (1865, Louvre, Paris),Jasão e Medeia (1865, Museu Orsay, Paris),Diomedes devorado por seus cavalos (1870, Museu de Belas Artes de Rouen),A aparição (1874-1876, Museu Gustave Moreau, Paris),Salomé (1876, Museu Gustave Moreau, Paris),Hércules e a Hidra de Lerna (1876, Instituto de Arte de Chicago),Cleópatra (1887, Museu do Louvre, Paris),Júpiter e Sêmele (1894-1896, Museu Gustave Moreau, Paris).[57] Ele viveu quase recluso em sua casa na Rue de Rochefoucauld parisiense—agora o Museu Moreau —onde produziu cerca de 850 pinturas, bem como desenhos e aquarelas.[58] Moreau foi o professor deHenri Matisse,Albert Marquet eGeorges Rouault, entre outros.[30]

O sonho (1883), de Pierre Puvis de Chavannes, Museu do Louvre, Paris

Outra referênciaavant-la-lettre foiPierre Puvis de Chavannes, um pintor singular cujo estilo difere totalmente do simbolismo barroco de Moreau, um estilo clássico e sereno que teria sido classificado de acadêmico se não fosse pela eleição de seus temas, onde se aprecia o uso de símbolo e alegoria como meio transmissor da mensagem.[50] foi ummuralista notável, um procedimento que o ajudou a desenvolver sua preferência por tons frios, que deram a aparência depintura a fresco. Tinha um estilo mais sereno e harmonioso, com uma temática alegórica evocando um passado idealizado, formas simples, linhas rítmicas e um colorido subjetivo, alheio ao naturalismo.[59] Em sua juventude passou brevemente pelas oficinas deDelacroix,Coutoure eChassériau e fez duas viagens à Itália, mas talvez o fator mais importante para a formação de seu estilo sereno e descontraído foi sua relação com a princesa grega Maria Cantacuzena, quem lhe transmitiu suaespiritualidade intensa.[60] Em 1861, com as alegorias deAGuerra e daPaz (Museu Municipal de Amiens) deu início à sua obra muralista, pela qual recebeu inúmeras encomendas em toda a França e que o tornariam famoso.[61] Ele fez murais nas câmaras municipais de Paris e Poitiers, noPanteão, naSorbonne e na Biblioteca Pública de Boston, entre outros. Seu estilo monumental baseava-se na ausência de profundidade, linearidade construtiva e majestade composicional, bem como na reflexão filosófica inerente às suas cenas.[62] Em 1890 ele fundou comRodin,Carrière eMeissonnier a Société Nationale des Beaux Arts, que organizou várias exposições de jovens artistas e novas tendências até 1910.[63]

O carro de Apolo (1905-1914), de Odilon Redon, Musée d'Orsay, Paris

Odilon Redon foi sucessivamente aluno deStanislas Gorin,Jean-Léon Gérôme,Rodolphe Bresdin eHenri Fantin-Latour.[62] desenvolveu uma temática fantástica e onírica, influenciada pela literatura deEdgar Allan Poe, que muito precedeu osurrealismo. Até aos cinquenta anos trabalhou quase exclusivamente no desenho a carvão e nalitografia, embora mais tarde se manifestou como um excelente colorista tanto a óleo como a pastel, com um estilo baseado num desenho suave e um colorido de aspecto fosforescente.[64] Ele foi influenciado por artistas comoHolbein,Dürer,o Bosco,Rembrandt,Goya,Delacroix eCorot. O materialismo científico também teve uma influência poderosa em seu trabalho: ele estudouanatomia,osteologia ezoologia, conhecimentos que se refletem em seu trabalho; daí sua preferência por cabeças com olhos fechados, semelhantes aosprotozoários.[65] Redon ilustrou várias obras de escritores simbolistas, como Edgar Allan Poe ouA tentação de Santo Antônio deGustave Flaubert (1886).[30] Em 1884 ele fundou aSociété des Artistes Indépendants.[66]

Alphonse Osbert estudou naÉcole nationale supérieure des beaux-arts de Paris, onde foi discípulo deHenri Lehmann,Léon Bonnat eFernand Cormon. Sua primeira referência estilística foi obarroco espanhol, com destaque aJosé de Ribera.[67] Ele também foi influenciado porGeorges Seurat e Pierre Puvis de Chavannes. Por meio de seu amigo, o crítico Henry Degron entrou no círculo deMaurice Denis e dosNabis, e frequentou assiduamente os salões dosrosacruzes. A produção de Osbert centrava-se numa espécie de paisagens bucólicas e oníricas de tons etéreos, com preferência pelo azul e malva, povoadas por figuras femininas em atitude imóvel e contemplativa.[68] Na maioria das vezes, essas figuras aludem àsmusas, vestidas com véus vaporosos e emolduradas em paisagens idílicas, geralmente de ambientação crepuscular.[67]

Tarde antiga (1908), de Alphonse Osbert,Petit Palais, Paris

Eugène Carrière começou como litógrafo antes de estudar na Escola de Belas-Artes, onde foi aluno deAlexandre Cabanel. Em 1890 fundou com Puvis de Chavannes a Société Nationale des Beaux Arts, onde expôs regularmente. Com um estilo realista, sua temática mergulha no simbolismo graças ao interesse pela sugestão emotiva, com uma técnica develatura em tons de cinza e marrom que seriam característicos de sua produção;[69] foi centrada principalmente em cenas domésticas, com um interesse especial nas relações mãe-filho. Uma de suas marcas foi envolver as figuras em uma névoa amarelada, comolimbos, efeito que isola as figuras e as separa do espectador, com o objetivo de enfatizar sua essência.[70]

Henri Fantin-Latour foi um pintor de estilo bastante realista, como evidenciado por seus retratos e naturezas mortas inspiradas porChardin. No entanto, suas composições inspiradas em temas musicais—especialmenteWagner,Schumann eBerlioz—têm um forte componente simbolista,[71] em composições nas quais ele recria mundos fantásticos povoados por ninfas de aparência pré-rafaelita.[72]

Lucien Lévy-Dhurmer foi um pintor erudito que sintetizou a técnica impressionista com o tema simbolista, especialmente em suas cenas de caráter fantástico; ele também foi um retratista e pintor de paisagens. Em sua obra, destacam-se a harmonia cromática e a idealização dos temas representados, nos quais se denota a influência da música deBeethoven,Fauré eDebussy.[73]

Lamento de Orfeu (1896), de Alexandre Séon, Musée d'Orsay, Paris

Alexandre Séon foi ilustrador e decorador, o mais talentoso dos discípulos de Puvis de Chavannes. Ele foi o fundador comPéladan eAntoine de la Metrusca autênticacauld do Salon de la Rose+Croix. Em 1891, fez um retrato de Péladan com uma aparência babilônica. Uma de suas melhores obras éLamento de Orfeu (1896, Musée d'Orsay, Paris).[74]

Edgar Maxence foi discípulo de Moreau e expôs regularmente no Salon de la Rose+Croix. A sua obra mostra um forte idealismo, com temas frequentemente de inspiração medieval e pinturas nas quais combina a pintura com elementos esculpidos. A partir de 1900 seu estilo tornou-se mais decorativo, com o que perdeu sua essência simbólica.[75]

Edmond Aman-Jean foi aluno de Lehmann na École des Beaux-Arts, onde conheceuGeorges Seurat, de quem se tornou amigo; ele também manteve amizade comMallarmé e Péladan. De constituição acadêmica, é considerado o mais "galante" dos simbolistas franceses. Ele colaborou com Puvis de Chavannes em seu muralBosque sagrado. Participou das exposições dos rosacruzes e desenhou o pôster para a de 1893.[76] Recebeu a influência pré-rafaelita, que é denotada em seus contornosarabescos, com um cromatismo de tons suaves e foscos. Dedicou-se especialmente ao retrato feminino, com figuras de delicados movimentos numa atitude triste e entediada, de devaneio e ensimesmamento.[77]

A revelação (1894), de Gaston Bussière, Musée Thomas-Henry, Cherbourg-en-Cotentin

Gaston Bussière estudou na École des Beaux-Arts de Paris com Alexandre Cabanel e Pierre Puvis de Chavannes. Influenciado por Gustave Moreau, ele também se inspirou na música de Berlioz e Wagner e na literatura deWilliam Shakespeare. Expôs várias vezes no Salon de la Rose+Croix. Destacou-se como ilustrador de livros, comoEsplendores e misérias das cortesãs deHonoré de Balzac,Esmaltes e camafeus deThéophile Gautier,Salomé deOscar Wilde e diversas obras deGustave Flaubert.[78]

Gustav-Adolf Mossa foi um simbolista tardio, influenciado por Moreau, o pré-rafaelismo e pintores renascentistas doQuattrocento. Em sua obra pode-se apreciar a influência de escritores como Mallarmé, Baudelaire e Huysmans. Como em muitos de seus correligionários, seu tema se centrou em inúmeras ocasiões na figura da mulher fatal, que ele considerava perigosa e corrompida. Seu estilo era carregado de ornamento, às vezes caricaturesco, de tom dramático e introspecção psicológica.[79]

Anjo com auréola (1894), de Louis Welden Hawkins, coleção particular, Paris

Georges de Feure foi pintor, cenógrafo emercante de arte. Seu estilo era muito decorativo e se dedicou preferencialmente à elaboração de pôsteres teatrais. Ele desenvolveu um tipo de imagem de mulhe à moda que fez muito sucesso nabelle époque. Foi também autor de aquarelas, que expôs no Salon de la Rose+Croix.[71]

Louis Welden Hawkins nasceu na Alemanha, filho de pai inglês e mãe austríaca, mas viveu na França quando criança. Ele estudou naAcadémie Julian. Sua técnica densa e meticulosa o aproxima mais do pré-rafaelismo do que do simbolismo, mas ele se moveu no ambiente simbolista, mantendo contato com escritores como Mallarmé,Jean Lorrain eRobert de Montesquiou, e expondo no Salon des Artistes Français, na Société Nationale, o Salon de la Rose+Croix e a Libre Estéthique emBruxelas.[80]

A guerra (1894), de Henri Rousseau, Musée d'Orsay, Paris

Georges Rouault foi aluno de Gustave Moreau, de cujo museu ele era curador desde 1903. Devido à influência de seu professor, suas primeiras obras foram simbolistas, embora mais tarde tenha mudado para o fauvismo e o expressionismo. Sua fase simbolista é caracterizada por uma luminosidade incendida—com predileção por ambientes noturnos—e um cromatismo evocativo e simbólico (Jesus entre os doutores,1894, Museu de Unterlinden, Colmar;O espelho, 1906, Museu Nacional de Arte Moderna, Paris).[81] Em sua obra é frequente a presença de personagens de aparência grotesca, geralmente juízes, palhaços e prostitutas.[82]

Outros expoentes do simbolismo francês foram:George Desvallières,Marcelino Desboutin,Charles Dulac,Charles-Auguste Sellier,Georges Lacombe eAntonio de la Gándara.[83]

Por fim, cabe citar um artista alheio ao movimento simbolista, mas cujo estilo tem alguma conexão com ele:Henri Rousseau, o máximo representante da chamadaarte naïf ("ingênua" em francês), termo aplicado a uma série de pintores autodidatas que desenvolveram um estilo espontâneo, alheio aos princípios técnicos e estéticos da pintura tradicional, por vezes tachado como infantil ou primitivo. Rousseau, aduaneiro de comércio, desenvolveu um trabalho pessoal, de tom poético e gosto pelo exótico, em que se perde o interesse pela perspectiva e se utiliza uma iluminação irreal, sem sombras ou fontes de luz perceptíveis, um tipo de imagens que influenciaram artistas comoPicasso ouKandinski e movimentos comopintura metafísica esurrealismo.[84] O trabalho de Rousseau foi altamente valorizado por artistas simbolistas como Redon e Gauguin, especialmente por seu colorido, que eles apontaram que transcendia uma "essência mítica". Uma das obras de Rousseau mais próximas do simbolismo foiA guerra (1894, Musée d'Orsay, Paris).[85]

Escola de Pont-Aven

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A visão depois do sermão (1888), de Paul Gauguin,Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo

Na cidadebretã dePont-Aven, uma série de artistas liderados porPaul Gauguin se reuniu entre 1888 e 1894,[86] onde desenvolveram um estilo herdeiro do pós-impressionismo com tendência ao primitivismo e gosto pelo exótico, com influências variadas variando daarte medieval—especialmente tapeçarias, vitrais e esmaltes—àarte japonesa. Eles desenvolveram uma técnica chamadacloisonismo, caracterizada pelo uso de zonas lisas de cor delimitadas por contornos escuros. Outro recurso estilístico introduzido por esta escola foi o denominadosintetismo, a busca da simplificação formal e do recurso à memória em oposição à pintura copiada do natural. Esse movimento foi difundido pelo crítico Albert Aurier e teve seu ponto culminante na exposição intituladaPintores e simbolistas e sintetistas, organizada noCafé Volpini em Paris em 1889. Entre os seus principais membros, além de Gauguin, estavamÉmile Bernard,Louis Anquetin,Charles Filiger,Armand Seguin,Charles Laval,Émile Schuffenecker,Henry Moret, o holandêsMeijer de Haan e o suíçoCuno Amiet.[87]

O fundador do grupo foi Paul Gauguin, um artista inquieto que ansiava por se afastar da sociedade ocidental e retornar à vida primitiva, mais original e espontânea, e a uma arte livre de regras acadêmicas e conceitos estereotipados. Depois de uma estadia naMartinica, em 1888 instalou-se na cidade bretã de Pont-Aven, uma aldeia montanhosa rodeada de florestas onde encontrou calma e inspiração para a sua arte.[88]

Mulheres bretãs em um pasto (1888), de Émile Bernard, Coleção Josefowitz, Lausanne

O discípulo mais talentoso de Gauguin foi Émile Bernard. No ambiente rústico e atemporal da Bretanha, Bernard desenvolveu uma nova forma de entender a imagem pictórica, baseada em configurações amplas de planos sólidos e linhas nítidas, com contornos marcados e cores violentas, reduzidas às sete cores do prisma. NaRevue Indépendante, o críticoÉdouard Dujardin chamou esse novo estilo decloisonnisme, pelo esmaltecloisonné), já que as cores se mostravam compartimentadas como nessa técnica medieval.[89] Junto com Bernard, seu principal expoente foi Louis Anquetin; ambos haviam sido alunos deFernand Cormon e eram fascinados porxilogravuras japonesas e vitrais.[90] Gauguin conheceu o trabalho de ambos os artistas em uma exposição no Grand Restaurant Bouillon em 1887 e, embora não tenha abraçado totalmente esta forma de pintar, especialmente em termos de contornos, suaVisão depois do sermão mostra sua influência, sobretudo nas cores saturadas.[91]

Duas obras de 1888 tornaram-se o manifesto deste grupo:Mulheres bretãs em um pasto, de Bernard eVisão depois do sermão de Gauguin. Este sintetizou as essências do novo estilo: concreção temática—a visão de uma cena religiosa sugerida pelo sermão e pelas mulheres que a contemplam no mesmo plano—cores puras, contornos marcados e ausência de modelagem. Essa concreção e simplificação dos elementos constituintes da pintura levaram a nova tendência a ser batizada também de sintetismo.[89] Nesta corrente, sintetizavam-se observação, memória, imaginação e emoção, elementos indispensáveis de uma pintura para Gauguin, além da forma e da cor, que são tratadas de forma livre e expressiva. Em sua busca por um novo estilo, Gauguin se inspirou em tapeçarias medievais, gravuras japonesas e arte pré-histórica, em busca de um estilo não naturalista que melhor descreveria os sentimentos do artista.[92]

Do restante do grupo, vale destacar Charles Filiger, um típico "artista amaldiçoado", bebedor empedernido, afastado do mundo—estabeleceu-se em Pont-Aven em 1889 e viveu na Bretanha o resto da vida—e psiquicamente instável, a ponto de se suicidar. Intensamente místico, desenvolve uma obra de pequeno formato, geralmente em guache, com linhas firmes mas um tanto ingênuas, o que outorga à sua produção um ar um tanto primitivo.[93]

Após a exposição Café Volpini de 1889, Gauguin instalou-se na aldeia deLe Pouldu comPaul Sérusier, onde repudiaram o sintetismo por ser "estilo estabelecido" e continuaram a sua investigação artística. Gauguin continuou a buscar uma supressão cada vez maior do modelo e da imitação da natureza, explorando novas formas de representação baseadas no primitivismo e uma certa influência da arte japonesa ePaul Cézanne (Autorretrato simbolista com halo, 1889, Galeria Nacional de Arte, Washington D.C.;O Cristo amarelo, 1889, Museu Albright-Knox, Buffalo). Finalmente, ele marchou para oTaiti em busca de uma maior essência selvagem e natural, e evoluiu para um estilo mais pessoal e intuitivo.[89] O trabalho de Gauguin influenciou o fauvismo, o expressionismo, o surrealismo e até mesmo a arte abstrata.[94]

Os Nabis

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Ver artigo principal:Nabis (artistas)
Le Talisman, l'Aven au Bois d'Amour (1888), de Paul Sérusier, Musée d'Orsay, Paris. Este trabalho impressionou vários alunos da Académie Julian e foi o nascimento do grupo Nabi

Denomina-seNabis um grupo de artistas ativos em Paris na década de 1890, diretamente inspirados por Paul Gauguin e a Escola de Pont-Aven.[95] Este grupo foi influenciado pelo esquema rítmico de Gauguin e se destacou por seu intenso cromatismo com forte expressividade. Eles se dissolveram em 1899.[95]

Após a estadia com Gauguin,Paul Sérusier ganhou grande admiração com sua obraO talismã (1888) entre um grupo de jovens alunos daAcadémie Julian, entre os quais estavamÉdouard Vuillard,Pierre Bonnard,Maurice Denis,Félix Vallotton ePaul Ranson. Eles formaram uma sociedade secreta chamadaNabis, de uma palavra hebraica que significa "profeta", um nome proposto pelo poetaHenri Cazalis.[96] Eles estavam interessados emteosofia e religiões orientais, e tinham uma relação estreita com o ambiente literário parisiense, especialmente com Stéphane Mallarmé. Seu estilo partia da pesquisa sintética e de certa influência japonesa para o avanço de uma arte cada vez mais afastada das premissas acadêmicas, na qual a pesquisa cromática, a expressividade do desenho e a vontade de transferir emoções para a linguagem plástica tinham maior relevância.[97] Eles costumavam se encontrar em um café na passagem Brady e, mais adiante, na casa de Paul Ranson no Boulevard de Montparnasse.[98] Outros artistas vinculados a este grupo foram:Henri-Gabriel Ibels,Ker-Xavier Roussel,Georges Lacombe, o dinamarquêsMogens Ballin e o holandêsJan Verkade.[91]

Os Nabis foram influenciados, além de Gauguin e do sintetismo, por Georges Seurat, Paul Cézanne, Odilon Redon e Pierre Puvis de Chavannes. Os seus princípios teóricos assentavam numa firme intenção de sintetizar todas as artes, de aprofundar nas implicações sociais da arte e de refletir sobre suas bases científicas e místicas. Em 1890, Denis publicou na revistaArt et Critique um manifesto intituladoDefinição do neotradicionalismo, no qual defendia a ruptura com o naturalismo acadêmico e o reconhecimento da função decorativa da arte. Em 1891 fizeram sua primeira exposição noChâteau de Saint-Germain-en-Laye, e em dezembro desse mesmo ano participaram da exposição dePintores impressionistas e simbolistas na Galerie Le Barc de Boutteville (Paris), onde foram aclamados como uma "segunda geração simbolista".[99]

Tarde de setembro (1891), por Maurice Denis, Musée d'Orsay, Paris

Sérusier era considerado o pai dos Nabis, mas foi o mais heterogêneo do grupo. Ao contrário dos restantes, que não abandonavam a cidade, preferia o campo, e depois das estadias em Pont-Aven e Le Pouldu fixou-se por algum tempo emHuelgoat e, definitivamente, emChâteauneuf-du-Faou, na Bretanha. Seu trabalho é caracterizado por seus personagens de aspecto primigênio, sem movimento ou relação com o meio ambiente, seres isolados e ensimesmados que parecem partes imóveis da natureza, como rochas ou árvores. Ele frequentemente se inspirava em contos de fadas e elfos, especialmente no folclore bretão. Ele também fez algumas naturezas-mortas de influência cezaniana.[100]

A valsa (1893), de Félix Vallotton, Musée d'art moderne André-Malraux, Le Havre

Um artista versátil, Maurice Denis é considerado por alguns o mais talentoso artista simbolista. Além de pintor, foi ilustrador, litógrafo e cenógrafo, além de crítico de arte.[101] Influenciado porIngres e Puvis de Chavannes, além de Gauguin, Bernard e o grupo Pont-Aven, e com certas reminiscências deBlake e da pré-rafaelita, desenvolveu uma obra de marcante sentimentalismo que denota uma concepção da vida naturalista e piedosa, quase ingênua em sua abordagem de pureza ditosa, em que se destacam o decorativismo, os contrastes cromáticos finos e uma harmonia de linhas puras, com um ar sereno e monumental. Além da produção pictórica, ilustrou livros comoResposta da pastora ao pastor deÉdouard Dujardin,Sabedoria dePaul Verlaine,Imitação de Cristo deThomas de Kempis ouViagem de Urien deAndré Gide.[102] Mais tarde, ele se concentrou em arte sacra e pintura mural, e fundou a Estudio de Arte Sacra.[92]

O suíço Vallotton se iniciou na xilogravura, com certa tendência modernista. Seu trabalho é caracterizado pelo erotismo e o humor negro, com nus de composição plana que mostram a influência da arte japonesa e rostos que parecem máscaras. SeuBanho em uma tarde de verão, que apresentou noSalon des Indépendants em 1893, foi amplamente criticado por sua mistura de impudor e tom irônico. No final da vida dedicou-se à paisagem, que se destaca pela luminosidade.[103]

Bonnard foi pintor, ilustrador e litógrafo. Era um excelente desenhista, com figuras de contornos suaves que expressam com delicadeza os mais sutis movimentos. Por sua maestria no manejo do pincel, ele foi apelidado de "o nabi japonês".[104] Junto com Vuillard, ele desenvolveu uma temática centrada em um tipo de imagens da atmosfera social que refletiam a vida cotidiana em cenas geralmente de interior, com uma forte carga de introspecção psicológica, estilo definido pela crítica como "intimismo". Expôs regularmente no Salon des Indépendants e noSalon d'Autumne. Depois ficou um tanto ligado ao fauvismo, mas sempre manteve uma essência pessoal.[105]

Vuillard também foi pintor e litógrafo e, como seu amigo Bonnard, seu trabalho se concentrava na intimidade. Seu estilo foi caracterizado pela modelagem de cores planas que lembra a Gauguin e Puvis de Chavannes. Aficionado de fotografia, às vezes a usava como ponto de partida para suas composições.[106]

Ranson estudou na École des Arts Décoratifs de Paris e na Académie Julian. Em seu trabalho, ele mostra seu interesse pelo ocultismo e pela religião. Em 1908 ele fundou a Académie Ranson, onde alguns de seus amigos Nabis ensinavam.[62] Influenciado pela arte japonesa, seu estilo é caracterizado por uma certa tendência ao monocromático e por contornos fortemente marcados.[107] Seu estilo era um tanto acadêmico, embora mostrasse maior originalidade em seus desenhos e ilustrações, bem como em seus cartões de tapeçaria, que eram bordados por sua esposa.[108]

Os Rosacruzes

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Cartaz doSalon de la Rose+Croix, 1892, deCarlos Schwabe,Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

AOrdem Rosacruz era uma sociedade secreta supostamente fundada por um místico medieval chamadoChristian Rosenkreuz, que teria alcançado sabedoria em uma viagem ao Oriente. Em 1612, um manifesto intituladoFama Fraternitatis e publicado emKassel levou ao renascimento dessa ordem esotérica, que mais tarde se dividiu em vários ramos, alguns deles ligados àMaçonaria. Em 1888, o MarquêsStanislas de Guaita fundou a Ordem Cabalística da Rosa Cruz na França, dedicada ao estudo dacabala, alquimia e ocultismo em geral. Pouco depois, em 1890, separou-se dela a Ordem da Rosacruz do Templo e do Graal, fundada porJoséphin Péladan—que usava o título deSâr ("mago" emcaldeu)—, mais longe do esoterismo e mais próxima à tradição católica. Também conhecida como Rosa Cruz Estética, esta nova ordem pôs uma especial ênfase no cultivo e divulgação da arte. Entre 1892 e 1897 a Ordem organizou uma série de salões artísticos —conhecidos comoSalon de la Rose+Croix—nos quais se expunham obras de arte preferencialmente no estilo simbolista. Os rosa-cruzes defendiam o misticismo, a beleza, o lirismo, a lenda e a alegoria, e rechaçavam o naturalismo, os temas humorísticos e os gêneros como a pintura histórica, a paisagem ou a natureza-morta.[109]

Em 1891 Péladan, o poetaSaint-Pol-Roux e o conde Antoine de la Rochefoucauld publicaram osMandamentos dos Rosacruzes sobre a estética, nos quais proibiam "qualquer representação da vida contemporânea", bem como "todos os animais domésticos ou usados para esportes, flores, naturezas-mortas, frutas, acessórios e outros exercícios que os pintores têm a insolência de expor". Em vez disso, "para promover o ideal católico e o misticismo, a Ordem acolherá todos os trabalhos fundados em lendas, mitos, alegorias, sonhos".[110]

O primeiro salão aconteceu na Galeria Durand-Riel, em Paris, de 10 de março a 10 de abril de 1892. Participaram artistas comoFélix Vallotton,Émile Bernard,Charles Filiger,Armand Point,Edgar Maxence eAlexandre Séon, bem como o jovemGeorges Rouault e o escultorBourdelle, e artistas estrangeiros comoJan Toorop,Ferdinand Hodler e vários membros do Belga grupoLes Vingt, comoXavier Mellery,George Minne eCarlos Schwabe.[111] No catálogo da exposição, esses artistas afirmaram que queriam "destruir o realismo e aproximar a arte das ideias católicas, misticismo, lenda, mito, alegoria e sonhos". Para isso, inspiraram-se nas obras de Poe e Baudelaire, bem como nas óperas wagnerianas e nas lendas arturianas.[112]

Artista, tu és rei: a arte é o verdadeiro reino. Quando tua mão escreve uma linha perfeita, os próprios querubins descem do céu e se miram nela como em um espelho. Desenho superespiritualizado, linha cheia de alma, forma plena, tu encarnas nossos sonhos.

 ―Joséphin Péladan, manifesto da I Exposição da Rose+Croix[113]

O simbolismopompier

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O homem entre o vício e a virtude (1892), de Henri Martin, Musée des Augustins, Toulouse

No final do século, o simbolismo exerceu uma certa influência na arte institucional, noacademicismo, um estilo ancorado no passado tanto na escolha dos temas como nas técnicas e recursos postos colocados à disposição do artista. Na França, na segunda metade doséculo XIX, essa arte era chamada deart pompier ("artebombeiro", um nome pejorativo derivado do fato de que muitos autores representavam heróis clássicos com elmos que pareciam capacetes de bombeiro). A arte acadêmica havia permanecido desde o início do século espartilhada em um estilo baseado em regras estritas inspiradas no classicismo greco-romano, mas também em outros autores classicistas anteriores, comoRafael,Poussin ouGuido Reni. Tecnicamente, eles se baseavam no desenho esmerado, equilíbrio formal, a linha perfeita, pureza plástica e um cuidado detalhismo, juntamente a uma coloração realista e harmônica.[114]

Alguns desses autores foram seduzidos pelo imaginário simbolista e sua evocação subjetiva e espiritual, mas o traduziram com um tom decorativo mais próximo do modernismo do que do próprio simbolismo, um estilo artificioso em que se destacam as figuras de mulheres lânguidas com cabeleiras onduladas pelo vento, os arabescos e a exuberante vegetação de flores enroladas. Alguns desses artistas foram:Jules-Élie Delaunay,Henri Le Sidaner,Émile-René Ménard,Henri Martin,Ernest Laurent,James Tissot,Ernest Hébert,Georges-Antoine Rochegrosse,Eugène Grasset,Charles Maurin eArmand Point.[32]

Bélgica e Holanda

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A bela Rosine (1847), de Antoine Wiertz, Museu Wiertz, Bruxelas

ABélgica foi o berço do simbolismo junto com a França, a tal ponto que artistas dos dois países estiveram em estreito contato e participaram de exposições em ambos os lados da fronteira. Tal como no país gaulês, existia um círculo literário e artístico notável liderado pelos escritoresMaurice Maeterlinck eÉmile Verhaeren, bem como pelo crítico de arteOctave Maus, factótum dos grupos artísticosLes Vingt e La Libre Esthétique. Também como na França, foram fundadas várias revistas que serviram de plataforma para o simbolismo, comoJeune Belgique,L'Art moderne,Wallonie eLa nouvelle société.[115]

O grupo Les Vingt esteve ativo entre 1883 e 1893. Foi formado inicialmente por vinte pintores, escultores e escritores, embora com o tempo tenha havido baixas e novas incorporações. Foi fundado por Octave Maus, com o intuito de fomentar a arte em seu país através de exposições, nas quais tivessem lugar as artes plásticas e decorativas como a música e a poesia, em estilos que iam do neo e pós-impressionismo ao simbolismo, sintetismo e modernismo. Entre seus membros iniciais se destacavamJames Ensor,Fernand Khnopff eThéo van Rysselberghe, enquanto mais tarde se incorporaram artistas posteriores comoFélicien Rops,Isidore Verheyden,Henry Van de Velde,Auguste Rodin,Paul Signac eJan Toorop. Seu meio de difusão foi o periódicoL'Art moderne, fundado em 1881.[116] Após a dissolução do grupo em 1893, Maus e Van Rysselberghe fundaram La Libre Estéthique, que continuou com seu trabalho de divulgação sobre arte com maior ênfase nas artes decorativas. Esta associação continuou seu trabalho até 1914.[117]

As tentações de Santo Antônio (1878), de Félicien Rops, Cabinet des Estampes de la Bibliothèque Royale Albert Ier, Bruxelas

Um predecessor do simbolismo na Bélgica foiAntoine Wiertz, um artista formado no Romantismo que construiu um estúdio em forma detemplo grego, hoje o Museu Wiertz, em Bruxelas. Suas obras têm uma feitura academicista, mas a escolha dos temas está próxima do simbolismo, como emA bela Rosine (1847, Museu Wiertz, Bruxelas), onde uma jovem nua contempla um esqueleto em cujo crânio está uma inscrição com o título da obra, do que resulta que a "bela" não era a jovem, mas o esqueleto.[118]

Félicien Rops foi um pintor e artista gráfico de grande imaginação, com uma predileção por um tema centrado na perversidade e no erotismo.[119] Ele se inspirou no mundo do fantástico e do sobrenatural, com inclinação ao satânico e as referências à morte, com um erotismo que reflete o aspecto sombrio e pervertido do amor.[120] Foi admirado peloSâr Péladan e Huysmans, que destacaram a "depravação" de seu trabalho. Huysmans escreveu sobre ele: "entre a pureza, cuja essência é divina, e a luxúria, que é o próprio diabo, Félicien Rops, com a alma de um primitivo invertido, penetrou no satanismo".[121] Ele ilustrou livros de Baudelaire, Mallarmé eBarbey d'Aurevilly.[82]

Fecho a porta atrás de mim (1891), de Fernand Khnopff, Nova Pinacoteca, Munique

Fernand Khnopff desenvolveu um tema alegórico-onírico de mulheres convertidas em anjos ou esfinges, com atmosferas inquietantes de grande refinamento técnico.[122] Influenciado porDürer,Giorgione,Tintoretto,Ingres,Delacroix,Whistler e os pré-rafaelitas, ele desenvolveu uma obra de profundo significado que desdenha a natureza e se inspira na arte em si, a partir da qual constrói uma segunda natureza. Um crítico de arte o definiu como um "esteta refinado que só sente a vida através da arte antiga".[111] Ele costumava usar fotos como base para suas composições, que às vezes tinham uma aparência quase fotográfica.[123] Autoproclamado misógino e obcecado pela beleza de sua irmã, ele elaborou um tipo de mulher andrógina, bem vestida como uma guerreira amazona em armadura ou metamorfoseada em uma esfinge, tigre ou jaguar. Suas imagens são evanescentes, banhadas por uma espécie de luz crepuscular, com preferência pelo pastel e pela aquarela, além do azul. Khnopff influenciou fortemente aSezession vienense e especialmenteGustav Klimt.[124]

Jean Delville se interessou pelo ocultismo e mostrou em seu trabalho obsessões secretas, onde suas figuras são uma mistura de carne e espírito.[120] Ele acreditava na existência de um fluido divino,reencarnação,telepatia,êxtase, feitiços e outros conceitos do oculto. Em 1895, ele publicou um livro intituladoDiálogo entre nós.Argumentação cabalística, oculta e idealista, no qual ele expôs suas ideias. Suas obras têm forte cunho onírico e abundam na iconografia satânica, como emOs tesouros de Sathan (1895,Musées Royaux des Beaux-Arts, Bruxelas).[125] foi um discípulo deSâr Péladan, e em sua esteira fundou em seu país o círculoPour l'art e oSalon d'art idéaliste.[111]

A entrada de Cristo em Bruxelas (1889), de James Ensor,Museu Getty, Los Angeles

James Ensor criou um mundo inspirado na loja de suvenires de sua família, na qual proliferavam objetos como máscaras, bonecos, brinquedos, conchas, fósseis, porcelanas e antiguidades. O interesse pela ciência, especialmente o mundo microscópico, também é denotado em sua obra. Entre suas referências artísticas se encontramBrueghel,o Bosco,Rembrandt,Goya,Turner eWhistler, bem como o ascendente imediato de Félicien Rops. Integrou-se no grupo Les Vingt, mas foi rejeitado por sua visão caricaturizada e grotesca da sociedade de seu tempo, como em sua obraA entrada de Cristo em Bruxelas (1888, Getty Museum, Los Angeles), que representa aPaixão de Jesus em no meio de um desfile de carnaval, obra que causou grande escândalo na época. Ele tinha preferência por temas populares, traduzindo-os em cenas enigmáticas e irreverentes, de caráter absurdo e burlesco, com um senso de humor ácido e corrosivo, focado em figuras de vagabundos, bêbados, esqueletos, máscaras e cenas de carnaval. Seu estilo é delirante, sem regras, de uma radical modernidade que preludia a arte de vanguarda, na qual as formas não refletem conteúdos, mas sim os deixam entrever, transluzir. São imagens deformadas, nas quais se revela uma forte introspecção psicológica, de cores arbitrárias, estridentes, dissonantes, com efeitos ofuscantes de luz. Como ele mesmo expressou, "uma linha correta não pode inspirar sentimentos elevados, nem pode expressar a dor, a luta, o entusiasmo, a inquietude, a poesia".[126]

Noturno no Parc Royal de Bruxelas (1897), por William Degouve de Nuncques,Museu de Orsay, Paris

William Degouve de Nuncques elaborou em sua fase mais puramente simbolista (1890) uma série de paisagens urbanas, com preferência para as configurações noturnas, com um componente onírico que foi precursor do surrealismo:Anjos da noite (1891, Museu Kröller-Müller, Otterlo),Cisne negro (1896, Museu Kröller-Müller, Otterlo),Efeito de noite (1896, Museu de Ixelles),Aurora (1897, Museu de Belas Artes de Ghent). Seu trabalhoA casa cega (1892, Kröller-Müller Museum, Otterlo) influenciouO Império das Luzes deRené Magritte (1954).[127] A maioria de suas imagens evocam sonhos de infância, de evocação intimista.[123]

Léon Spilliaert desenvolveu um estilo de formas simples e expressivas, em que o ritmo e o vazio provocam uma certa sensação de angústia, como emVertigem (1908, Musée des Beaux-Arts, Ostend) ouLuar e luzes (1909, Museum de Orsay, Paris). Ele padecia de insônia, então à noite perambulava pela cidade e encontrava inspiração para seus trabalhos nas solitárias paisagens noturnas. Também realizoumarinhas desertas e mares silenciosos de composição horizontal. Em outras ocasiões, ele mostrou um erotismo um tanto macabro e metafórico.[128] Seu estilo era um tanto ingênuo, com tendência ao arabesco e decorativismo, em que a influência nabi é percebida. Mais tarde, evoluiu para o expressionismo.[129]

Fauno ao luar (1900), de Léon Spilliaert, coleção particular

Xavier Mellery teve uma formação clássica que complementou na Itália, onde foi influenciado pelaescola veneziana—especialmenteCarpaccio e porMichelangelo daCapela Sistina. Em 1870 ele ganhou oPrix de Rome belga. Desde 1885 praticou a pintura mural, com imagens alegóricas que remetem à obra de Puvis de Chavannes. Seu estilo era severo e intimista, às vezes próximo ao expressionismo, com temas que evocam mistério e poesia. Foi membro do Les Vingt e expôs noSalon de la Rose+Croix. Foi o mestre de Fernand Khnopff.[75]

Léon Frédéric transita entre o realismo acadêmico e o simbolismo, com obras de alto misticismo nas quais também se revela seu compromisso social.[130] Seu estágio simbolista centrou-se na década de 1890, com uma influência especial do pré-rafaelismo, em um estilo preciso e de frio colorido com forte componente alegórico (Pensamento que se desperta, 1891). Ele costumava empregar o formato do tríptico:As idades do obreiro (1895-1897, Musée d'Orsay, Paris),O arroio, a torrente, a água estagnada (1897-1900, Musées Royaux des Beaux-Arts, Bruxelas).[131]

Todas as coisas morrem, mas todas serão ressuscitadas através do amor de Deus (1893-1918), por Léon Frédéric,Museu de Arte Ohara, Kurashiki

Émile Fabry tinha um estilo que lembrava osmaneiristas, com figuras deformadas de aparência melancólica.[132] Em 1892 ele fundou com Delville e Mellery oCercle pour l'Art. Expôs noSalon de la Rose+Croix em 1893 e 1895. Desde 1900 se dedicou especialmente à elaboração de afrescos para edifícios públicos.[71]

Constant Montald foi pintor e decorador, especializado em paisagens. Em 1884 estudou na École des Beaux-Arts de Paris e em 1886 ganhou o Prêmio de Roma belga; ele também passou estadias na Itália e no Egito. Impressionado com a visita àBasílica de São Marcos emVeneza, em suas obras utilizou-se assiduamente de fundos dourados, uma das características de sua produção junto com o uso de abundante vegetação. Influenciado pela arte bizantina e pré-rafaelita, seu estilo era ornamental, de ritmo sossegado, com ênfase em tons de azul e dourado.[79]

Henry de Groux foi pintor, escultor e litógrafo. Ele era um membro do Les Vingt, mas foi expulso em 1890 quando se recusou a ter suas obras expostas ao lado das deVincent van Gogh. Era amigo de Degouve de Nuncques, com quem partilhou um estudo em Bruxelas e Paris. Sua obra-prima éCristo dos ultrajes (1889, coleção particular), em que se retrata como Cristo. De caráter forte, seu trabalho denota sua impulsividade pessoal, mas foi estimado por personagens comoÉmile Zola eLéon Bloy.[80]

As três noivas (1893), por Jan Toorop, Museu Kröller-Müller, Otterlo

NaHolanda, o simbolismo não teve tanta implantação quanto no país vizinho, sendo um país protestante de economia capitalista, fatores que favoreceram o realismo na arte, como se pode verificar naEscola de Haia, que dominava o panorama artístico finissecular. Isso contribuiu para que um artista singular como Vincent van Gogh tivesse que se estabelecer na França.[133] Assim, poucos artistas abordaram o simbolismo, incluindoJan Toorop eJohan Thorn-Prikker, e em menor medidaRichard Roland Holst, que teve uma fase simbolista entre 1891 e 1900.[134] Outros artistas próximos ao simbolismo foramAntoon Derkinderen,Hendrikus Jansen eTheo van Hoytema.[135]

A noiva (1892-1893), de Johan Thorn-Prikker, Museu Kröller-Müller, Otterlo

Toorop foi um artista eclético, que combinou vários estilos na busca de sua própria linguagem, como o simbolismo, modernismo,pontilhismo, sintetismo gauguiniano, linearismo deBeardsley e aestampa japonesa. Dedicou-se especialmente aos temas alegóricos e simbólicos e, a partir de 1905, aos temas religiosos.[136] Foi autor deAs três noivas (1893, Museu Kröller-Müller, Otterlo), que denota a influência das sombras chinesas deJava—onde nasceu—, com figuras de braços longos e uma silhueta delicada. Segundo o próprio autor, a noiva central representava "a vontade mais manifesta e bela", a da esquerda "o sofrimento da alma" e a da direita "o mundo sensual".[137] Outra interpretação faz daquela no centro como a noiva do homem, a da esquerda, a de Cristo, e a da direita, a de Satã.[138] Em 1905 converteu-se ao catolicismo e voltou-se para os temas religiosos, com uma técnica pontilhista fragmentada que o orientou a um certo grau de expressionismo.[103]

Thorn-Prikker mudou do impressionismo para o simbolismo sob a influência de Toorop e por sua admiração pela obra de Maurice Denis. Mesmo assim, sua fase simbolista durou pouco, de 1892 a 1895. Motivos florais e arabescos abundam entre seus temas, com certa tendência à abstração e certo amaneiramento, pelo que foi criticado em sua época.[103]

Holst teve como Toorop e Thorn-Prikker contatos com o grupo Les Vingt e com os Rosacruzes. Em sua obra a influência deRossetti,Whistler eBeardsley é evidente.[139] Desde 1900, dedicou-se à arte monumental.[80]

Um dos pioneiros da vanguarda,Piet Mondrian, antes de chegar àabstraçãoneoplasticista, fez algumas obras simbolistas, geradas por seu interesse pelo esoterismo. Ele foi influenciado por Toorop, assim como Gauguin,Matisse eVan Dongen.[140] Nesta fase, centrada entre 1907 e 1910, passa a trabalhar com as cores primárias, o que seria um dos seus sinais distintivos já na sua fase abstrata.[141] Nas suas obras desses anos, usou um cromatismo vivo dividido em zonas, que recorda tanto o fauvismo quanto o pontilhismo, com uma simplificação formal que o aproximou do cubismo e, posteriormente, da abstração.[142]

Países germânicos

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A guardiã do paraíso (1899), de Franz von Stuck, Museum Villa Stuck, Munique

O simbolismo germânico foi um herdeiro direto do Romantismo e de sua paixão por lendas medievais, como o ciclo dosNibelungos. Também esteve fortemente relacionado com a literatura e a música, terreno, esta última, em que a obra deRichard Wagner teve uma influência poderosa. Entre os escritores do círculo simbolista destacam-seHugo von Hofmannsthal,Stefan George eRainer Maria Rilke, bem como, no campo da filosofia,Friedrich Nietzsche. Também aqui foram fundadas várias revistas, comoJugend,Pan,Fliegende Blätter eSimplicissimus.[143] Os principais centros de exposições foram em Viena, Berlim e Munique, cidades nas quais se criaram grupos artísticos conhecidos comoSezession:a de Munique em 1892,de Viena em 1897 ede Berlim em 1899. Embora mais vinculados ao modernismo do que ao simbolismo, eles tinham em comum com este o desejo de renovar a arte do academicismo, e promoveram a obra de vários artistas simbolistas em suas exposições.[144] Segundo Emile Langui, "na Alemanha e na Áustria o simbolismo é praticamente confundido comart nouveau, com a Secessão de Munique e Viena."[145]

NaAlemanha, o pioneiro do simbolismo foiHans von Marées. De formação clássica, depois de uma fase pontilhista, a influência deBöcklin o encaminhou ao simbolismo, em obras voltadas para a inter-relação e a harmonia entre o ser humano e a natureza, como denotamA Arcádia eO Século de Ouro.[146]

A morte do coveiro (1895-1900), de Carlos Schwabe,Museu do Louvre, Paris

Max Klinger foi pintor, escultor e gravador. Em sua obra se aprecia a influência de Goya,Menzel e Rembrandt, assim como a música deBrahms eBeethoven, e a atração pelo fantástico e inquietante é percebida.[147] De grande complexidade técnica e estilística, sua obra é repleta de fantasia e alusões simbólicas. Na sua obra pictórica destaca-se o seuJulgamento de Páris (1885-1887, Kunsthistorisches Museum, Viena), em que também desenhou a moldura, integrando-a num todo estruturado. Ele foi mais inovador como artista gráfico, especialmente aágua-forte, em um estilo que antecede o surrealismo, como denota sua sérieAventuras de uma luva (1881), que enfoca ofetichismo.[148]

Franz von Stuck foi um pintor, gravador, escultor e arquiteto, um dos fundadores da Secessão de Munique.[103] desenvolveu um estilo decorativo próximo ao modernismo, embora seu tema seja mais simbolista, com um erotismo de tórrida sensualidade que reflete um conceito de mulher como a personificação da perversidade:O pecado (1893, Nova Pinacoteca, Munique),O beijo da esfinge (1895, Szépművészeti Múzeum, Budapeste),Salomé (1906, Städtische Galerie, Munique).[149] foi o professor deWassily Kandinsky,Alexei von Jawlensky ePaul Klee.[150]

Carlos Schwabe foi o mais internacional dos artistas germânicos: nascido na Alemanha, passou a infância e a juventude na Suíça, enquanto adulto se estabeleceu na França, onde participou ativamente dos salões Rosacruz.[151] A influência pré-rafaelita é denotada em seu trabalho. Ele tinha uma predileção especial pelas flores, em cuja representação alcançou grande maestria, às quais aplicava um complexo simbolismo relacionado aos estados anímicos.[74]

Narciso (1900), de Ludwig von Hofmann,Museu Nacional de Varsóvia

Ludwig von Hofmann estudou primeiro emDresden eKarlsruhe, e completou seu treinamento naAcadémie Julian em Paris. Ele foi influenciado por Puvis de Chavannes e Max Klinger. Em suas pinturas—principalmente paisagens—ele combinou decorativismo modernista com temas simbolistas.[80]

Otto Greiner recebeu uma formação acadêmica, mas durante uma estadia na Itália conheceu Max Klinger, cujo trabalho o influenciou muito. Pintor, desenhista e gravador, o seu estilo é caracterizado pela sensualidade e requinte, bastante próximo do gosto burguês da época, e com uma inventividade especial em sua face simbólica e alegórica.[152]

Ferdinand Keller foi um pintor bastante academicista—foi professor e diretor da Academia de Belas Artes de Karlsruhe—que, graças à influência de Böcklin, por volta de 1900 optou pelo simbolismo, especialmente em paisagens de cores saturadas e aspecto decorativo[153]

Tumba de Böcklin (1901-1902), de Ferdinand Keller,Staatliche Kunsthalle, Karlsruhe

Franz Marc recebeu influência simbolista em sua juventude. Formado no meio acadêmico, em viagem a Paris em 1903 entrou em contato com o pós-impressionismo e os Nabis, além de Gauguin e o simbolismo. A partir de 1906 dedicou-se à pintura de animais, nos quais encontrou uma perfeita alegoria da pureza natural. Em 1910, ele entrou em contato comAugust Macke e Kandinsky, que o introduziram ao uso expressivo e simbólico da cor. Foi um dos fundadores do grupoDer Blaue Reiter, com o qual ingressou no expressionismo. Mais tarde, ele se interessou pororfismo efuturismo e se aproximou da abstração, mas sua carreira foi interrompida com sua morte no front naPrimeira Guerra Mundial.[154]

NaSuíça,Arnold Böcklin foi um herdeiro direto do Romantismo alemão e suas paisagens mostram a influência deCaspar David Friedrich. Seus temas exaltam a solidão, a tristeza, a melancolia, a morte como libertação. Suas paisagens são ideais, alheias à realidade objetiva, mas com um tom sombrio que reflete suas preocupações interiores. Ele se especializou em um tema de seres fantásticos, comoninfas,sátiros,tritões ounáiades, com um estilo algo mórbido.[155] Das suas viagens à Itália adquiriu o gosto pelos temas mitológicos e pela presença de ruínas nas suas obras, sempre com aquela atmosfera de mistério que o caracteriza. Sua obra mais conhecida éA Ilha dos Mortos (1880, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque), onde uma luz pálida, fria e esbranquiçada envolve a atmosfera da ilha para onde o barco deCaronte está se dirigindo. Seu trabalho influenciouMunch,Kandinsky,Chirico eDalí.[156]

Floresta sagrada (1882), de Arnold Böcklin,Kunstmuseum, Basileia

O outro grande nome da pintura suíça foiFerdinand Hodler, que evoluiu de um certo naturalismo para um estilo pessoal que denominou "paralelismo", caracterizado por esquemas rítmicos em que linha, forma e cor se reproduzem repetidamente, com figuras simplificadas e monumentais.[157] Suas obras são enquadradas em um espaço semi-abstrato, com figuras isoladas que parecem recortadas em paisagens vazias, nas quais se denota a influência de Puvis de Chavannes. São obras estilizadas, teatrais, que transcendem um forte misticismo, com fundos planos nos quais se percebe a influência medieval deHolbein.[158] Também o impressionou a obra deVelázquez, que conheceu em uma viagem a Madrid em 1878-1879. Em Paris, em 1890-1891, conhece a obra de Puvis de Chavannes, bem comoBlake e o pré-rafaeliteismo. Sua obraA noite (1890), embora tenha causado escândalo em Genebra, foi bem recebida na capital francesa, principalmente pelos Nabis. Em sua obra, a figura humana personifica ideias, comportamentos espirituais, ritmos vitais.[159]

O dia (1900), de Ferdinand Hodler,Kunstmuseum, Berna

NaÁustria, a figura deGustav Klimt se destacou. Ele teve uma formação acadêmica, para desembocar em um estilo pessoal que sintetizou impressionismo, modernismo e simbolismo. Tinha preferência pela pintura mural, de uma temática alegórica com tendência ao erotismo, e com um estilo decorativo povoado por arabescos, asas de borboleta oupavões reais, e com um gosto pela cor dourada que conferia às suas obras uma luminosidade intensa.[160] De pai ourives, ele estudou na Escola de Artes Aplicadas de Viena, o que explica o intenso decorativismo de seu trabalho. Em seu estilo também se percebe a influência dos mosaicos bizantinos deRavena, uma cidade que ele visitou em 1903. Em seu trabalho recriou um mundo de fantasia com forte componente erótico, com uma composição classicista em estilo ornamental, onde sexo e morte se entrelaçam, tratando a sexualidade sem tabus em aspectos comogravidez,lesbianismo oumasturbação.[153]

O Beijo (1907-1908), de Gustav Klimt,Österreichische Galerie Belvedere, Viena

A suntuosidaderococó de Klimt encerrava ao fundo as múltiplas preocupações que povoavam seu mundo interior: a esperança, o sono, a morte, o anseio pela eternidade.[161] Sua maior influência no início de sua carreira foiHans Makart, um pintorpompier da moda nas décadas de 1870 e 1880, bem como os acadêmicosGérôme eBoulanger ou os neo-helênicosLeighton eAlma-Tadema. Mais tarde, ele foi influenciado por Gustave Moreau, Whistler, Beardsley, Jan Toorop e Franz von Stuck, o que o levou a abandonar o academicismo. Também recebeu a influência de Péladan e dos Rosacruzes, especialmente em termos de absolutividade sexual. Uma último referente seria a arte japonesa.[162] Tudo isso o levou a uma combinação original de simbolismo e modernismo, que desenvolveu em obras como o teto do Grande Salão da Universidade de Viena (1900-1907, destruído em 1945), oFriso de Beethoven (1902, Österreichische Galerie Belvedere, Viena),As três idades da mulher (1905, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma),O beijo (1907-1908, Österreichische Galerie Belvedere, Viena) e o friso do Palácio Stoclet (1911, Bruxelas).[163]Alfred Kubin foi acima de tudo um desenhista: expressou em seus desenhos um mundo aterrorizante de solidão e desespero, povoado de monstros, esqueletos, insetos e animais horrendos, com referências explícitas ao sexo, onde a presença feminina desempenha um papel maléfico e perturbador.[164] Influenciado por Goya, Munch, Ensor, Redon e por seu ascendente mais direto, Max Klinger, sua obra reflete uma angústia existencial—ele tentou cometer suicídio, mas sua arma emperrou—e um profundo desespero que foi parcialmente curado na prática da arte.[165] Ele ilustrou obras dePoe,Wilde,Nerval eStrindberg. Mais tarde subscreveu-se ao expressionismo e foi membro doDer Blaue Reiter, bem como amigo de Franz Marc ePaul Klee.[73]

Assuero no Fim do Mundo (1888), pelo pintor austríacoAdolf Hirémy-Hirschl, considerada uma de suas pinturas simbolistas. O lendáriojudeu errante está entre o anjo da esperança e o espectro da morte, enquanto observa a personificação da humanidade morta.[166]

O simbolismo também é perceptível nas primeiras obras de dois jovens artistas que mais tarde se destacaram no expressionismo:Egon Schiele eOskar Kokoschka.[167] Schiele era um discípulo de Klimt. A sua obra girou em torno de um tema baseado na sexualidade, na solidão e no isolamento, com um certo ar devoyeurismo, com obras muito explícitas pelas quais foi mesmo preso, acusado de pornografia. Dedicado principalmente ao desenho, deu um papel fundamental à linha, com a qual embasou suas composições, com figuras estilizadas imersas em um espaço opressivo, tenso. Recria uma tipologia humana reiterativa, com um cânone alongado, esquemático, distante do naturalismo, com cores vivas e exaltadas, destacando o caráter linear, o contorno.[168]

Kokoschka foi influenciado por Van Gogh e o passado clássico, principalmente o barroco (Rembrandt) e aescola veneziana (Tintoretto,Veronese). Ele também esteve ligado à figura de Klimt, assim como ao arquitetoAdolf Loos. Suas primeiras obras tinham um estilo medieval e simbolista próximo dos Nabis ou doperíodo azul dePicasso. Mais tarde criou um estilo próprio, visionário e atormentado, em composições onde o espaço ganha grande destaque, um espaço denso e sinuoso, onde se vêem submergidas as figuras, nele flutuando imersas numa corrente centrífuga que produz um movimento em espiral. Sua temática costumava ser o amor, a sexualidade e a morte, por vezes também se dedicando ao retrato e à paisagem.[169]

Reino Unido

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A roda da fortuna (1883), de Edward Burne-Jones, Musée d'Orsay, Paris

A arte simbolista inglesa foi fortemente influenciada pela literatura deOscar Wilde eEdgar Allan Poe. Aqui a marca deixada pelo pré-rafaelismo foi de grande relevância, de fato alguns artistas pré-rafaelitas se voltaram para o simbolismo em seus trabalhos tardios, comoEdward Burne-Jones.[52] Partindo do medievalismo pré-rafaelita, e com uma influência especial de artistas renascentistas comoLeonardo,Mantegna,Botticelli,Signorelli eMichelangelo, Burne-Jones desenvolveu sua própria linguagem de grande inventividade formal, experimentando novas técnicas e formatos: ele tinha uma predileção especial por formatos altos e estreitos, com figuras alongadas e espaços não naturais. Tal como acontece com muitos outros artistas simbolistas, algumas de suas figuras têm uma aparência andrógina, como sua Afrodite dePigmalião: Os fogos da divindade (1878, Birmingham Museum and Art Gallery).[170]

Aubrey Vincent Beardsley foi principalmente um desenhista, caracterizado por um estilo de linha sinuoso muito próximo ao modernismo, embora seja considerado simbolista pela escolha de seus temas, muitas vezes com forte conteúdo erótico. O seu desenho foi influenciado pela pintura de vasos gregos, de estilo decorativo e algo perverso, rítmico e elegante, frívolo e com tendência para o grotesco.[171] Outras de suas influências foram Burne-Jones, Whistler, Mantegna, Botticelli, o rococó e arte japonesa.[172] Um exemplo prototípico de um dândi, seus temas favoritos também foram alguns dos mais recorrentes do simbolismo: afemme fatale, o ciclo arturiano e o universo artístico wagneriano.[173] Em 1891 ele ilustrou o livroSalomé de Oscar Wilde, onde transformou a feiura e a perversão em beleza e sugestão onírica, reunindo a linha modernista com o idealismo simbolista em uma das melhores obras da arte finissecular. SegundoArthur Symons, "Beardsley é o satírico de uma época que carece de convicções próprias e, portanto, como Baudelaire, não pode pintar o inferno sem apontar para um paraíso presente como contrapartida".[172] Ele morreu detuberculose aos 26 anos.[76]

Cavalos de Netuno (1892), de Walter Crane, Staatsgemäldesammlungen, Munique

Walter Crane foi pintor, ilustrador, tipógrafo e desenhista de cerâmicas, vitrais, tecidos, joias e pôsteres. Começou artisticamente no estilo pré-rafaelita, influenciado pelo românticoWilliam Blake, cujo estilo baseado em linhas vibrantes e arabescos influenciou fortemente o modernismo e o simbolismo inglês. OQuattrocento e a xilogravura japonesa também foram decisivos em sua obra. Esteve envolvido no movimentoArts & Crafts, de cuja Sociedade de Exibições foi membro do conselho diretor. Ele também foi um importante teórico e seu tratadoA linha e a forma (1900) teve grande popularidade no Reino Unido e nos Estados Unidos. Ele se concentrou em temas literários e mitológicos, com uma linguagem de símbolos fabulosa e onírica em que se destacam figuras metamorfoseadas e elementos da natureza exibidos em toda a sua força e esplendor, como em seusCavalos de Netuno (1892, Staatsgemäldesammlungen, Munique).[174]

Charles Ricketts foi pintor, escultor, gravurista, cenógrafo, escritor e colecionador de arte, mas foi em suas ilustrações que ele foi mais claramente simbolista, como nas que fez para o poema de Oscar WildeA esfinge.[175] Nos seus primeiros dias dedicou-se especialmente à ilustração e não foi até 1904 que começou a dedicar-se mais plenamente à pintura.[176]

A esperança (1886), de George Frederick Watts,Tate Gallery, Londres

George Frederick Watts buscou em suas obras a "poesia pintada sobre tela", uma pintura misteriosa influenciada porDante Gabriel Rossetti, Edward Burne-Jones eFernand Khnopff, além deTiciano eJoseph Mallord William Turner. A sua pretensão era pintar "grandes ideias", buscando a concordância entre a pintura, a literatura e a música, o que se refletiu num conjunto de imagens místicas e alegóricas de origem visionária, com tendência à estética dosublime. Sua imagem mais conhecida é a alegoria daEsperança (1886, Tate Gallery, Londres), na forma de uma garota vestida com uma túnica, com uma aparência pré-rafaelita, sentada em um globo terrestre, com uma lira nas mãos e vendada, em alusão à "esperança cega". Porém, a imagem melancólica da jovem provoca mais um sentimento de desesperança do que de esperança, jogando com a ambiguidade simbólica típica.[177]

The Lady of Shalott (1888), de John William Waterhouse, Tate Gallery, Londres

Frederic Leighton foi um pintor de feitio academicista, mas em numerosas ocasiões mostrou um gosto próximo ao simbolismo na escolha dos temas. Seus retratos de mulheres frias e distantes, mas belas e sensuais, alcançaram notável fama em sua época. Um bom exemplo éO espírito do cume (1894, Auckland Art Gallery Toi o Tāmaki, Auckland), no qual uma bela jovem vestida com uma túnica clássica observa um firmamento noturno sentada em um trono sobre uma montanha.[178]

John William Waterhouse também foi preferencialmente acadêmico, mas a partir de 1880 abordou um simbolismo de influência pré-rafaelita baseado em temas literários, com um estilo romântico e sonhador, sensual e de grande riqueza visual:The Lady of Shalott (1888, Tate Gallery, Londres),Hilas e as ninfas (1896, City Art Gallery, Manchester).[179]

Charles Conder, que viveu grande parte de sua vida na França, onde se integrou ao ambiente simbolista e rosa-cruz e foi amigo de Bonnard e Toulouse-Lautrec, desenvolveu uma obra fortemente influenciada pelo pintor rococóJean-Antoine Watteau, cujo estilo Conder pretendeu traduzir ao simbolismo, desenvolvendo uma série de obras—a maioria inspiradas nas lendas arturianas—ambientadas nas típicas cenas defête gallante watteaunianas.[180]

Também vale a pena mencionar o trabalho das irmãsFrances eMargaret Macdonald, integrantes da chamadaEscola de Glasgow, um círculo modernista dedicado principalmente à arquitetura e às artes decorativas liderado pelo arquitetoCharles Rennie Mackintosh—marido de Margaret. Seus desenhos eram mais voltados para a decoração, mas refletem um simbolismo com tendência abstrata que denota a influência de Jan Toorop.[181]

Países escandinavos

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O Grito (1893), de Edvard Munch,Galeria Nacional da Noruega, Oslo

Como em outros países, a inter-relação entre literatura e arte naEscandinávia foi intensa, e escritores comoBjørnstjerne Bjørnson,Henrik Ibsen eAugust Strindberg eram referências claras do simbolismo escandinavo.[143]

O principal expoente nórdico do simbolismo foi o norueguêsEdvard Munch, que criou em sua obra um universo pessoal que reflete sua angústia existencial, no qual se denota a influência da filosofia nietzschiana. Seu trabalho gira em torno de suas obsessões pessoais com amor e sexo, bem como sua concepção da sociedade como um ambiente hostil e opressor. Após alguns inícios no naturalismo e no impressionismo, o quadroA menina enferma (1885) deu início ao seu percurso mais pessoal, marcado pela expressão dos mais profundos sentimentos—numa ocasião comentou que o seu objetivo era "dissecar a alma". Em viagem a Paris em 1889 recebeu a influência de Van Gogh, Gauguin, Redon e Toulouse-Lautrec, enquanto a visão de uma grande cidade de avenidas retilíneas inspirou uma série de trabalhos sobre a solidão do ser humano em meio a grandes multidões de gente (Entardecer na rua Karl Johan, 1892, Bergen Kunstmuseum, Bergen;O Grito, 1893, Galeria Nacional da Noruega, Oslo;Ansiedade, 1894, Museu Munch, Oslo). Aos poucos foi se fechando mais em suas obsessões (erotismo, solidão, morte) e se afastando da representação realista para transcrever seus sentimentos em imagens, em que a cor não mais descreve, mas simboliza, converte-se uma linguagem de expressão interior; a linha às vezes é curva, rítmica e ondulante, às vezes excessivamente reta; e a atmosfera se transforma em violentos redemoinhos que cercam as figuras para realçar sua solidão. A imagem feminina em suas obras deriva da influência pré-rafaelita, mas é mais abstrata, na qual mais do que a descrição física se preocupa com a introspecção psicológica (Puberdade, 1886, Galeria Nacional da Noruega, Oslo). A obra de Munch esteve ligada ao expressionismo do início doséculo XX, do qual foi considerado um dos seus principais professores.[182]

NaNoruega,Halfdan Egedius eHarald Sohlberg também se destacaram. Egedius era um talento precoce que morreu aos vinte e dois anos. Basicamente, concentrava-se em cenas da vida camponesa e das sagas nórdicas.[183] Sohlberg focou em paisagens de tom misterioso que evocam a solidão humana.[184]

Partículas de pó dançando em raios de sol (1900), de Vilhelm Hammershøi, Museu Ordrupgaard, Copenhague

NaDinamarca,Vilhelm Hammershøi eJens Ferdinand Willumsen se destacaram. Hammershøi foi um virtuoso no manejo da luz, a qual considerava o principal protagonista de suas obras. A maioria de seus quadros se situavam em espaços interiores com luzes filtradas por portas ou janelas, com figuras geralmente de costas.[185] Willumsen evoluiu do realismo para o simbolismo e, eventualmente, o expressionismo.[186] Desenvolveu um estilo pessoal baseado na influência de Gauguin, com gosto por cores vivas, como emApós a tempestade ("Efter Stormen", 1905, National Gallery of Norway, Oslo), uma pintura marinha com um sol deslumbrante que parece estourar no céu.[187]

A Lenda de Aino (1891), de Akseli Gallen-Kallela,Ateneumin Taidemuseo, Helsinque

NaFinlândia, a figura principal foiAkseli Gallen-Kallela, formado na Escola de Belas Artes de Helsinque e naAcademia Julian de Paris, onde foi aluno deFernand Cormon. Na capital francesa conheceu a obra de Puvis de Chavannes eJules Bastien-Lepage, que o impressionaram profundamente. De volta a casa, desenvolveu um trabalho de estilo naturalista baseado na tradição e nas lendas épicas do folclore finlandês, como o épicoKalevala. Seu estilo combinava decorativismo e expressividade, com contornos marcados e cores planas.[188]

Um discípulo de Gallen-Kallela foiHugo Simberg, que também foi influenciado por Böcklin e Burne-Jones. Sua obra, povoada por animais estranhos e espíritos malignos, centra-se na morte, que ele geralmente representa realizando tarefas cotidianas, como cuidar de um jardim (O jardim da morte, 1896, Ateneumin Taidemuseo, Helsinki).[189]

Outro artista finlandês foiMagnus Enckell, que durante uma estada em Paris foi influenciado porManet, Carrière e Puvis de Chavannes, bem como por Péladan eÉdouard Schuré no campo espiritual. Posteriormente viajou pela Itália, Alemanha e Suíça, onde recebeu a influência de Böcklin. Com a virada do século, ele rompeu com o simbolismo.[101]

Na Suécia, destacou-seErnst Abraham Josephson. Começou na pintura acadêmica, mas a partir de 1881—talvez por uma enfermidade psíquica—sua obra adentrou no simbolismo, geralmente de tendência mística e algo paranoica.[190] Instalado na Bretanha, ele realizou práticasespíritas nas quais acreditava se comunicar com o místico suecoEmanuel Swedenborg.[153] Posteriormente viveu emEstocolmo, retirado da vida pública. Ele fez retratos, paisagens e pinturas inspiradas nas lendas nórdicas e na mitologia clássica, como as pinturas dedicadas àsondinas. Seu estilo é caracterizado por um cromatismo altamente contrastado, que influiu sobre o fauvismo e o expressionismo.[191] Foi o líder do movimento secessionista Konstnärförbundet.[184]

Carl Fredrik Hill começou com o impressionismo depois de se estabelecer em Paris em 1873. No entanto, em 1878 foi diagnosticado com esquizofrenia e, de volta ao seu país natal, seu estilo deu uma grande guinada e sua produção —principalmente no desenho—focou em visões fantásticas e alucinatórias, como paisagens irreais, arquitetura imaginária, animais estranhos e visões apocalípticas. Quase desconhecido na vida, uma exposição em Lund em 1911 o revelou como um dos mais talentosos artistas suecos de seu tempo.[192]

Também cabe mencionarAugust Strindberg, um ilustre escritor e dramaturgo que também se interessou pela pintura. Os seus primeiros trabalhos foram próximos das escolas deDüsseldorf eBarbizon mas, após um período de inatividade, entre 1890-1895 e 1900-1907, abordou o simbolismo, com um tema frequentemente centrado no mar e uma técnica que preludia o tachismo dos anos 1940-1950.[193]

Itália

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Amor nas fontes da vida (As fontes da juventude) (1896), de Giovanni Segantini, Galleria Civica d'Arte Moderna, Milão

Como em outros países, a arte italiana da época estava ligada a escritores comoGabriele D'Annunzio e revistas comoIl Convito.[52] O maior centro de divulgação da arte simbolista foiMilão, um importante centro industrial e comercial no norte do país.[194]

Giovanni Segantini foi um pintor de difícil classificação, de feitura neo-impressionista mas com uma escolha de temas frequentemente relacionados com o simbolismo, nos quais se percebe o traço pré-rafaelita.[195] Era interessado em literatura e filosofia: entre seus autores favoritos estavam Goethe, Nietzsche, Maeterlinck e D'Annunzio; e também emfilosofia oriental, especialmente hindu.[194] Sua etapa mais simbólica começou em 1891, com uma série de obras alegóricas marcadas por uma espiritualidade decadentista (O anjo da vida, 1894, Galleria Civica d'Arte Moderna, Milão). Em 1894 retirou-se para as altas montanhas alpinas, em busca de uma relação mais pessoal com a natureza, bem como o desejo de solidão e meditação. Sua técnica se tornoudivisionista, mas seu temática volveu-se mais simbólica, buscando na natureza uma religiosidade latente (Tríptico dos Alpes: natureza, vida e morte, 1896-1899, Museu Segantini, Saint-Moritz).[196]

Maternidade (1891), de Gaetano Previati, Banco Popular deNovara

Gaetano Previati desenvolveu um estilo alegórico e sentimental, muito admirado pelos futuristas.[62] Iniciado naScapigliatura, que o orientava para os temas românticos, a partir de 1890 sua técnica tornou-se divisiva, mas seus temas tornaram-se mais idealistas e mais próximos do simbolismo, com alguma influência de Rops e Redon.[197] Sua obraMaternidade (1891, Banco Popular de Novara) causou grande polêmica em seu país, mas lhe rendeu um convite para oSalon de la Rose+Croix em Paris.[194] Seu estilo é caracterizado por um cromatismo vivaz de intensa luminosidade e um aspecto antinaturalista:Tríptico do dia (1907, Câmara de Comércio de Milão),A queda dos anjos (1912-1913), Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma).[197]

O sol nascente (1903-1904), de Giuseppe Pellizza da Volpedo,Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma

Giuseppe Pellizza da Volpedo, formado no ambiente divisionista, evoluiu para um estilo pessoal marcado por uma luz intensa e vibrante, cujo ponto de partida é sua obraEsperanças perdidas (1894, coleção Ponti-Grün, Roma).[198] EmO sol nascente (1903-1904, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma), ele retratou uma luz do amanhecer refulgente que assoma a um horizonte montanhoso e parece explodir em uma miríade de raios que se espalham em todas as direções, com uma leitura simbólica que aponta para o compromisso social e político do artista, uma vez que o sol nascente foi tomado pelo socialismo como uma metáfora para a nova sociedade a que essa ideologia aspirava.[199]

Relâmpagos (1910), de Luigi Russolo, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma

Alberto Martini foi antes de tudo um ilustrador, considerado o melhor desenhista do simbolismo italiano. Influenciado por Dürer,Cranach, Moreau e Redon, seus temas se voltaram para o fantástico, o grotesco e o macabro. Ilustrou obras deDante,Boccaccio, Edgar Allan Poe, Mallarmé, Verlaine e Rimbaud. Sua obra de cunho onírico e de introspecção psicológica influenciaram o surrealismo, cujos artistas o consideraram um precursor.[200]

Giulio Aristide Sartorio foi aluno deMariano Fortuny. Ligou-se ao movimentoIn Arte, Libertas fundado porNino Costa, de tendência pré-rafaelita. Em sua produção destaca-se a representação da mulher fatal, em obras comoDiana de Éfeso (1895-1899, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma) eA Górgona e os herois (1897, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma).[201]

Outros representantes menos relevantes do simbolismo italiano foram:Felice Casorati,Luigi Bonazza,Vittorio Zecchin eGuido Cadorin.[202]

Destaca-se também um grupo de jovens pintores que mais tarde se tornaram grandes representantes dofuturismo, que no início de suas carreiras passaram por uma fase simbólica, comoUmberto Boccioni,Giacomo Balla eLuigi Russolo. Boccioni foi formado no divisionismo. Em 1907 conheceu Previati em Milão, que transmitiu seu interesse pela psicologia da imagem; também recebeu a influência da Sezession e de Edvard Munch (O luto, 1910, coleção particular).[203] Balla também partiu do divisionismo, enquanto posteriormente recebeu influência de Segantini, Pellizza e Previati; ele se concentrou nos aspectos sociais, reflexo de seus ideais socialistas e humanitários.[204] Russolo também se formou em divisionismo, mas sob a influência de Previati e Boccioni, ele desenvolveu uma série de trabalhos centrados no âmbito urbano e na era industrial interpretados em uma chave simbosita:Os relâmpagos, 1909-1910, Galeria Nacional de Arte Moderna, Roma.[205]

Em última análise, convém lembrar a etapa simbolista deGiorgio De Chirico, que mais tarde seria o principal expoente dapintura metafísica. Estudou em Munique, onde teve contato com a filosofia de Nietzsche e Schopenhauer, e com a pintura de Böcklin e Max Klinger. As suas obras inspiram-se no mundo clássico greco-romano, com um certo aspecto cenográfico:O centauro ferido, 1909, coleção privada.[206]

Espanha

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Tristão e Isolda (A morte) (1910), de Rogelio de Egusquiza,Museu de Belas Artes de Bilbao

O panorama artístico naEspanha finissecular estava monopolizado pela pintura acadêmica, que tinha como plataforma asExposições Nacionais de Belas Artes, refratárias à promoção de qualquer novidade artística, ao contrário dos salões parisienses.[207] Apesar de tudo, alguns artistas mantinham contatos com o restante da arte europeia—especialmente através da França—por isso eles foram capazes de desenvolver um estilo mais moderno, ligados sobretudo ao impressionismo, conforme indicado na obra deAureliano de Beruete eAgustín Riancho, ou o chamadoluminismo valenciano, representado porJoaquín Sorolla. No entanto, os exemplos de pintura simbolista eram bastante escassos e circunstrcitos à obra de alguns artistas individuais.[208]

Darío de Regoyos viveu algum tempo na Bélgica e foi membro fundador do grupoLes Vingt. Ele também frequentou os impressionistas em Paris e o círculo modernista barcelonês deEls Quatre Gats—em 1910 ele se estabeleceu definitivamente emBarcelona. Seu estilo era bastante próximo ao impressionismo—pincelada curta, paleta clara—mas alguns de seus temas se aproximam do simbolismo devido ao interesse por temas marginais, como mostra sua série de ilustraçõesA Espanha Negra, de uma viagem pela península em 1888 juntamente com o poeta belgaÉmile Verhaeren, em que desenvolve uma série de imagens com um tom amargo e, por vezes, algo sombrio da Espanha do momento.[209]

O pecado (1913), de Julio Romero de Torres, Museu Julio Romero de Torres, Córdoba

Ignacio Zuloaga foi também um intérprete dessa visão de uma Espanha atávica e tremenda, que captou nas viagens aLas Hurdes ou àSierra de Gredos com o Dr.Gregorio Marañón. Ele viveu por um tempo na França e na Itália, e era um admirador de Goya eEl Greco. Sua obra se destaca pelo realismo cru, com uma paleta cinza e sombria, com temática centrada em cenas populares espanholas.[210]

Rogelio de Egusquiza foi um pintor singular que evoluiu do academicismo e uma breve fase de influênciafortunyista para um simbolismo decorativo e exuberante fortemente influenciado pela obra de Wagner, muitos de cujos argumentos e personagens ele recriou em suas pinturas.[211]

Bruxas indo ao Sabbath (1878), de Luis Ricardo Falero

Julio Romero de Torres desenvolveu um estilo realista com certa tendência arcaizante em que, a partir de cenas docostumbrismo típico, dá a estas temáticas uma maior transcendência alegórica que as distingue dopintoresquismo banal da pinturadecimonônica espanhola para converter-las em cenas de evocação mística quase mística. Em sua obra se destaca a presença da mulher andaluza, em representações que reúnem misticismo e erotismo, envoltas em um halo misterioso, geralmente em paisagens desoladas que se perdem no infinito que antecedem algumas das paisagens surrealistas.[212]

Próximo ao estilo Romeriano estáMiquel Viladrich, um catalão formado em Madrid e Paris que triunfou sobretudo nosEstados Unidos,Argentina eMarrocos. Como Romero, ele praticou um realismo arcaizante, mas de aspecto maisnaïf, de raiz mais popular e com um tom mais tétrico.[213]

Eduardo Chicharro combinou o arabesco modernista com o idealismo simbolista, como em seu trípticoOs amores de Armida e Reinaldo (1904, Museo de Jaén), que denota a influência pré-rafaelita. Ele também fez trabalhos de gênero próximos ao estilo de Zuloaga.[214]

Luis Ricardo Falero, com uma técnica bastante academicista, tratou especialmente do nu feminino—geralmente fadas e ninfas—às vezes com um toqueorientalista, mas também de temas mágicos, astronômicos e de bruxaria. Ele viveu grande parte de sua vida emLondres, pelo que não é muito conhecido na Espanha, um país no qual nenhuma obra sua foi preservada.[215]

Por último, cabe citarNéstor Martín-Fernández de la Torre, mais conhecido simplesmente como Néstor, um pintor a meio caminho entre o modernismo e o simbolismo. Entre 1904 e 1907 viajou pela França, Bélgica e Reino Unido, onde foi influenciado por Whistler e pelos pré-rafaelitas. Sua especialidade foram quadros fantásticos em ambientes aquáticos, com cenas demonstros marinhos lutando com jovens efebos nus, como uma alegoria de forças elementais que só se superam com esforço. Suas composições eram bombásticas, ornamentadas, dinâmicas e intensamente coloridas, às vezes se aproximando dokitsch. Um bom exemplo éA noite, "poema do Atlántico" (1917-1918, Museo Néstor, Las Palmas de Gran Canaria). Após sua morte, sua obra caiu no esquecimento, mas sua figura foi recuperada porSalvador Dalí.[216]

Modernismo catalão

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A morfina (1894), de Santiago Rusiñol,Museu Cau Ferrat, Sitges

NaCatalunha, foi desenvolvido entre os finais doséculo XIX e os começos do xx}} o denominadomodernismo catalão, um estilo ligado ao modernismoart nouveau internacional mas que aqui teve características próprias ligadas ao renascimento da cultura catalã (Renaixença). Destacou-se sobretudo na arquitetura, com figuras de renome comoAntoni Gaudí,Lluís Domènech i Montaner eJosep Puig i Cadafalch, mas também na pintura e escultura. Foi um movimento heterogêneo, que reuniu várias tendências estilísticas: segundo uma classificação deJoan Ainaud de Lasarte (ElModernismo en España, 1969), o modernismo catalão poderia ser dividido em modernismo simbolista, impressionista e pós-impressionista.[217] O primeiro seria o mais próximo do simbolismo internacional, com influências do romantismo e do pré-rafaeliteismo, mas também do naturalismo e de outros estilos, o que proporcionou um grande amálgama e complexidade que se traduziu de maneira distinta em cada artista. Em sua produção, percebe-se um idealismo que dá grande relevância à iconografia e que se traduz na expressão nas personagens de ideias ou sentimentos, com especial predileção pela figura feminina.[218] Suas principais características foram a assimetria, a bidimensionalidade, a linha sinuosa, o gosto pela decoração floral, uma certa tendência medievalizante e, principalmente no que se atém ao simbolismo, uma predileção por temas alegóricos e simbólicos.[219]

Um dos máximos representantes deste movimento foiSantiago Rusiñol, estabelecido em 1890 em Paris junto comRamón Casas, onde se adentraram no movimento impressionista, com especial influência deManet eDegas, ou seja, do impressionismo com maior base tradicional, de pincelada longa e difusa em comparação com a curta e solta do impressionismo mais vanguardista.[220] No entanto, por volta de 1893-1894 Rusiñol evoluiu para um estilo mais plenamente simbolista: ele abandonou o realismo e direcionou seu trabalho para um tom mais mítico e estético, quase evasionista, como mostrado em seus painéis decorativos para o Cau Ferrat em Sitges 1896 (A Pintura, A Poesia, A Música).[221] Com o início doséculo XX encaminhou-se mais para o paisagismo, ainda com um certo cunho simbolista mas com maior tendência para o realismo.[222]

Composição com ninfa alada ao amanhecer (1887), de Alexandre de Riquer,Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona

Alexandre de Riquer foi pintor, gravador, decorador, ilustrador e desenhista de pôster, além de poeta e teórico da arte. Ele viveu por um tempo em Londres, onde foi influenciado pelo movimento pré-rafaelita eArts & Crafts . Destacou-se especialmente na ilustração de livros (Crisantemes, 1899;Anyoranses, 1902) e no desenho deex-libris, gênero que elevou a patamares de grande qualidade.[223]

Sonho (1897) de Joan Brull, Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona

Joan Llimona, fundador doCírculo Artístico de San Lucas, optou por um misticismo de forte religiosidade, como indicado em suas pinturas para a cúpula do camarim da igreja domosteiro de Montserrat (1898) ou os murais da sala de jantar da casa Recolons de Barcelona (1905).[221] Formado naEscola Lonja, ele estendeu seus estudos na Itália por quatro anos. Suas primeiras obras foram de gênero costumbrista, mas por volta de 1890 sua pintura enfocou a religião, com composições que combinam o realismo formal com o idealismo dos temas, com um estilo às vezes comparado aMillet e Puvis de Chavannes.[224]

Joan Brull estudou em Barcelona comSimó Gómez e em Paris comRaphaël Collin. Seu estágio mais simbolista centrou-se entre 1898 e 1900.[225] Em sua obra, destaca-se a representação da figura feminina, com garotas de beleza etérea que muitas vezes assumem a forma de fadas ou ninfas, como emCalipso (1896, Museu Nacional de Art da Catalunha, Barcelona) ouSonho (1897, Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona).[221]

Josep Maria Tamburini desenvolveu uma estética semelhante de figuras femininas idealizadas, como emHarmonias do bosque (1896, Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona).[226] Iniciado no academicismo, no qual demonstrou grande aperfeiçoamento técnico, posteriormente foi um dos pintores modernistas mais afins ao simbolismo, principalmente pelo seu conteúdo romântico.[227]

Sebastià Junyent foi um artista irrequieto, iniciado no impressionismo parisiense ao mesmo tempo que Casas e Rusiñol, mas que desenvolveu um trabalho pessoal em que sua fase mais simbólica se dá entre 1899, ano de suaClorose de influência de Whistler, e 1903, fecho em que realizou umaAnunciação que já assinalava um estilo mais arcaizante. Seu melhor trabalho nesses anos foiAve María (1902, coleção Junyent, Barcelona), que mostra um idealismo próximo aHenri Martin.[228] Pode ter influenciadoPablo Picasso, com quem dividiu um estúdio em Barcelona e a quem acompanhou a Paris.[229]

Entre os mais jovens estavamAdrià Gual eLluís Masriera . Gual foi, além de pintor, dramaturgo, cenógrafo, diretor de teatro e pioneiro do cinema. Iniciado no realismo, ele deu uma guinada radical para um modernismo de tendência simbolista em 1896 com seu livro ilustradoNocturno.Andante moderado. Seu melhor trabalho éO orvalho ("El rocío", 1897, Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona). Masriera destacou-se mais como ourives do que como pintor, mas também desenvolveu uma obra de notável conteúdo simbolista com um tom refinado e decorativo.[230]

Outros artistas dentro dessa tendência foram:Aleix Clapés,Lluís Graner,Laureà Barrau,Joaquim Vancells,Ramon Pichot eJosep Maria Xiró.[231]

Picasso

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Selo postalsoviético de 1971, em homenagem à obra de Pablo Picasso intituladaAcrobata sobre bola, realizada no período rosa do pintor. A pintura original está noMuseu Pushkin, Moscou

Por fim, vale destacar o período simbolista dePablo Picasso. Após uma formação acadêmica e um primeiro contato com a arte moderna durante a estadia em Barcelona, onde ingressou no círculo modernista, entre 1901 e 1907 optou por um estilo próximo do simbolismo, o que resultou nos chamados períodosazul (1901-1904) erosa (1904-1907) pelo artista de Málaga.[67]

No ambiente artístico-literário da cervejariaEls Quatre Gats em Barcelona, Picasso entrou em contato com o impressionismo, os Nabis, os simbolistas ingleses (Burne-Jones, Whistler, Beardsley), a filosofia de Nietzsche e Schopenhauer, a literatura de Ibsen, Strindberg e Maeterlinck e a música de Wagner.[232] Todas essas influências contribuíram para um período anímico em que imperavam no artista a tristeza e a melancolia—aumentadas pelo suicídio de seu amigoCarles Casagemas em 1901—o que se traduziu em seu período azul. Nessa época, ele fez sua primeira viagem a Paris em 1900, onde foi influenciado por Toulouse-Lautrec, Carrière,Daumier eThéophile Steinlen. A influência deIsidre Nonell também é denotada neste estágio, especialmente na modelagem e contornos simplificados. Seus trabalhos desse período enfocam a pobreza e a solidão, bem como a maternidade e a velhice (A vida, 1903, Museu de Arte de Cleveland;Desamparados, 1903, Museu Picasso de Barcelona). Sua principal característica estilística é o predomínio da cor azul, provavelmente sob a influência dosNoturnos de Whistler, os tons de azul esverdeado das últimas obras de Burne-Jones e aA vigília de Santa Genoveva de Puvis de Chavannes, um azul quase monocromático, além da simbólica associação dessa cor com a espiritualidade e—na obra de Verlaine e Mallarmé—com a decadência. Em 1904, já radicado em Paris, percebe-se a influência de artistas maneiristas e barrocos espanhóis comoEl Greco,Velázquez eZurbarán.[233]

No período rosa, passou da tristeza à alegria, com temas mais joviais centrados em figuras de circo, acrobatas, dançarinos e acrobatas (O Acrobata na Bola, 1905, Museu Pushkin, Moscou;Saltimbanco sentado com um menino, 1906, Kunsthaus Zürich). Isso também se refletiu em sua paleta, centrada em tons pastéis, com preferência pelo rosa, além do cinza.[234] Instalado em Paris, conheceu figuras relevantes da arte e da cultura, como Sergei Shchukin,Daniel Henry Kahnweiler, Leo eGertrude Stein,Henri Matisse eGuillaume Apollinaire.[235] O maior êxito de sua carreira e a relação comFernande Olivier o levaram a um maior otimismo, o que resultou em temas mais amáveis e cores mais suaves, com imagens repletas de ternura e uma certa nostalgia. Ainda assim, às vezes se vislumbra o dramatismo da etapa anterior, com personagens tristes e melancólicos e cenas com certo mistério, como emA família de saltimbancos (1905, National Gallery of Art, Washington D.C.).[236]

Leste

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A profetisa Libuše (1893), de Karel Vítězslav Mašek, Museu de Orsay, Paris

Um dos países onde o simbolismo mais se desenvolveu foi aBoêmia (atualChéquia), que até 1918 pertencia aoImpério Austro-Húngaro e, portanto, imersa na esfera artística ocidental, especialmente na germânica.[237] Um de seus melhores expoentes foiFrantišek Kupka, um discípulo do pintornazarenoFrantišek Sequens, que para pagar por suas aulas trabalhou comomédium espírita. Em 1895 ele viajou para Paris, onde foi influenciado por Ensor e Toulouse-Lautrec. Interessado pelo ocultismo, fez obras de um misticismo decorativo, fantástico e dramático:A mulher e o dinheiro (1899, Národní Galerie, Praga),Balada de Epona (As alegrias) (1900, Národní Galerie, Praga),O início da vida (1900-1903, Centre Georges Pompidou, Paris). Desde a década de 1910, seu trabalho se voltou para a abstração.[237]

Primavera (1896), de Alfons Mucha, coleção particular

Alfons Mucha foi um artista a meio caminho entre o modernismo e o simbolismo. Viveu e trabalhou em Viena e Munique antes de se estabelecer em Paris em 1887, onde estudou na Académie Julian. Posteriormente viveu vários anos nos Estados Unidos (1904-1911), até regressar à sua terra natal, onde se dedicou ao formato monumental. Ele foi pintor, gravador, desenhista, ilustrador de pôster, fotógrafo e designer de joias. Trabalhou como ilustrador para o jornalLa plume e teve muito sucesso na produção de pôsteres de teatro, principalmente paraSarah Bernhardt.[238] Suas composições baseavam-se frequentemente na fotografia, com um estilo ligeiro e elegante em que se destaca a imagem feminina, dotada de uma beleza sobrenatural, além de gosto pelo arabesco e pela decoração floral.[79]

Jan Preisler geralmente representava temas espirituais, estados anímicos tornados tangíveis, nos quais o próprio artista expressava suas intenções na obra. Ele tem um elemento em comum aqui com Edvard Munch, um artista que Preisler admirava.[62] Foi influenciado por Hans von Marées, Maurice Denis e Puvis de Chavannes. Sua obra mostra preocupação com o ser humano em todas as facetas da vida, desde as sentimentais à fantasia de contos e mitos, e aponta em grande medida para o expressionismo.[239]

Frenesi de exaltações (1893), de Władysław Podkowiński,Museu Nacional de Cracóvia

Karel Vítězslav Mašek foi pintor e arquiteto. Durante uma estada em Paris, onde foi aluno de Alphonse Osbert e Henri Martin, adotou o pontilhismo de Seurat, para posteriormente optar pelo simbolismo. Seu trabalho mostra um forte decorativismo, não em vão ele foi professor na Escola de Artes Decorativas de Praga.[146] Por vezes utilizou mosaicos coloridos luminescentes, como Klimt.[240]

Outros representantes do simbolismo tcheco são:Jakub Schikaneder,Max Švabinský,Antonín Slavíček eLudvík Kuba.[239]

APolônia passava por uma situação difícil nessa época, com seu territóriodividido em três partes entre a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro, e sua língua e cultura proscritas nas esferas russa e prussiana; foi no lado austríaco menos repressivo—centralizado emCracóvia —que a cultura polonesa mais se desenvolveu[238] Em relação ao simbolismo, um fator essencial foi a obra do escritorStanisław Przybyszewski, poeta e teórico da arte, figura provocadora, partidário do satanismo, que difundiu o simbolismo em seu país[241] Junto comStanisław Wyspiański fundou a revistaŻycie (Vida), a qual foi o órgão de uma associação artística chamadaMłoda Polska (Jovem Polônia), que promovia um simbolismo com tom decadentista, assim como oneorromantismo, impressionismo e o modernismo.[242]

Wyspiański foi um pintor, poeta e dramaturgo. Aluno do acadêmicoJan Matejko, ele também estudou literatura e história da arte. Ele expandiu seus estudos naAcadémie Colarossi parisiense, entre 1890 e 1894. Ao regressar ao seu país, introduziu o decorativismo secessionista na cena artística, o que ajudou a sua renovação.[243] Destacou-se como retratista e ilustrador, e também desenhou vitrais, como os da Igreja dos Franciscanos em Cracóvia.[244]

A morte (1902), de Jacek Malczewski,Museu Nacional de Varsóvia

Como o anterior,Józef Mehoffer foi aluno de Jan Matejko e estudou na Académie Colarossi em Paris, onde fez amizade com Gauguin e Mucha.[245] Ele fez ilustrações para as revistasŻycie eChimera . Ele também projetou vitrais, como os da igreja de São Nicolau emFriburgo.[75]

Jacek Malczewski também foi aluno de Jan Matejko, de quem tomou o gosto por temas históricos, mitológicos e religiosos.[246] Ele pintou numerosos autorretratos com diversos disfarces, às vezes interrelacionados com uma bela mulher que representa a morte. Preocupado com a situação em seu país, em seuHamlet polonês (1903, Museu Nacional de Varsóvia) pintou duas mulheres, uma com as mãos amarradas e outra rompendo suas correntes, representando a antiga e a nova Polônia.[146]

Eloé (1892), de Witold Pruszkowski, Muzeum Narodowe, Wrocław

Józef Pankiewicz começou no impressionismo e também teve contatos com o secessionismo vienense, mas depois recebeu a influência do simbolismo, com preferência pelo gênero do noturno (Cisnes no jardim da Saxônia, 1896, Museu de Cracóvia).[247] Foi membro da Sociedade Sztuka (Arte), fundada em Cracóvia em 1897 com o objetivo de promover a arte contrária ao academicismo e promover o circuito de exposições na Polônia. Os membros desse grupo mostravam tendências artísticas que iam do impressionismo e simbolismo ao expressionismo.[248]

Witold Wojtkiewicz enfoca o mundo da infância e do circo, com um estilo que combina o lírico com o grotesco e se aproxima do expressionismo e do surrealismo. Ele morreu com trinta anos.[243]

Outros expoentes do simbolismo polonês foram:Bruno Schulz,Władysław Ślewiński,Wojciech Weiss,Władysław Podkowiński,Witold Pruszkowski.[249]

NaHungria,József Rippl-Rónai se destacou. Discípulo do academicistaMihály Munkácsy, mudou-se para Paris e entrou em contato com o meio simbolista daquela cidade; ele também visitou a colônia artística de Pont-Aven, frequentou os Nabis e travou amizade com Whistler e Carrière. Em 1897, o mercanteSamuel Bing organizou uma exposição de sua obra com 130 quadros seus. Em 1902 ele regressou ao seu país natal. A sua obra apresenta uma certa monumentalidade e um ar solene, com tendência à monocromia e a sintetizar forma e cor, e uma paleta clara e amável.[250]

János Vaszary foi influenciado por Puvis de Chavannes, o que pode ser percebido em seu gosto pela pintura mural, principalmente em paisagens de composição estilizada com cotornos de fina linha negra, com figuras naturalistas de correto desenho anatômico.[250] Outro representante foiAladár Körösfői-Kriesch, semelhante em estilo ao anterior em seu contraste de formas planas e figuras anatomicamente bem definidas, com alguma influência de Gustav Klimt e do nazarenoMelchior Lechter. A sua obra denota um certo classicismo, com um cromatismo frio que contrasta com o seu gosto pela cor dourada.[250]

Desenho de bailarina paraO Pássaro de Fogo (1910) por Lev Bakst

NaRússia, o simbolismo desenvolveu-se em ampla inter-relação com a literatura deTolstoi eDostoievski e a música deRimsky-Korsakov.[52] Em 1898,Alexandre Benois eSergey Diaghilev fundaram o grupoMir Iskusstva (Mundo da Arte) em São Petersburgo, com o objetivo de renovar o panorama artístico russo e se desmarcar do academicismo. Entre as suas influências, além do modernismo e do simbolismo, estavam a arte popular e medieval, bem como o desenho infantil e a arte primitiva, de onde extraíram sua preferência pela simplificação formal e cores brilhantes, dois dos seus principais sinais de identidade. Tal como os Nabis, tinham como objetivo lograr uma síntese das artes, pelo que se preocuparam tanto com a pintura e a escultura como com a cerâmica ou a madeira, mas também se incursionaram nas artes cênicas, como se manifestam nosBallets Russes de Diaghilev. Em 1900,Lev Bakst, pintor, cenógrafo e figurinista, influenciado pelo modernismo e pela arte oriental, juntou-se ao grupo. O grupo editou uma revista de mesmo nome,Mir Iskusstva, e organizou exposições de artistas ocidentais. A primeira aconteceu em São Petersburgo em 1899, com obras de Degas, Monet, Moreau, Böcklin, Puvis de Chavannes e Whistler. A última, em 1906, marcou a estreia de alguns artistas de vanguarda comoMikhail Larionov,Natalia Goncharova eAlekséi von Jawlensky. Nesse mesmo ano, Diaguilev organizou uma exposição de arte russa noSalon d'Autumne em Paris. Depois disso, o grupo foi dissolvido. Entre 1910 e 1924 seu nome foi utilizado como sociedade expositiva, mas já voltado para a arte vanguardista.[251]

O Ballets Russos era uma companhia de balé criada em 1909 por Diáguilev, composta principalmente por bailarinos do Ballet Imperial doTeatro Mariinski de São Petersburgo, entre os quais se destacavaVaslav Nijinsky. Ela foi sucessivamente estabelecida em Paris,Monte Carlo, novamente Paris e Londres. Além da música e do balé, destacou-se especialmente por suas cenografias, decorações e figurinos, desenhados especialmente por Benois e Bakst, além de outros artistas comoNikolái Roerich,Konstantin Korovin eAleksandr Golovin. Alexandre Benois, de ascendência francesa, foi pintor, cenógrafo, historiador e crítico de arte. Em sua cenografia, ele combinou a arte tradicional russa com alguns elementos do rococó francês.[252] Lev Bakst estudou na Académie Julian parisiense e foi aluno deJean-Léon Gérôme.[76] Ele combinou a arte popular russa com a arte francesa moderna, em um estilo colorista que destaca por seu senso de ritmo.[253] Entre as principais produções da companhia estão:Danças Polovtsianas doPríncipe Igor, com cenários e figurinos de Roerich (1909);A festa, com cenários de Korovin e figurinos de Korovin, Bakst e Benois (1909);Os Jardins de Armida, de Benois (1909);Cleópatra, de Bakst (1909);As Sílfides, de Benois (1909);O Pássaro de Fogo, de Golovin (1910);Scheherezade, de Bakst (1910),Petrushka, de Benois (1911);O Espectro da Rosa, de Bakst (1911);A sesta de um fauno, de Bakst (1912); eA lenda de José (1914), de Bakst eJosep Maria Sert. A partir de 1914 os balés se distanciaram do estilo simbolista. A companhia foi dissolvida em 1929, após a morte de Diagilev.[254]

O demônio caído (1901), de Mikhail Vrubel, Museu Pushkin, Moscou

Desse grupo, destaca-se o trabalho deMikhail Vrubel. Ele estudou direito antes de começar a pintar aos 24 anos e passou cinco anos restaurando os afrescos na igreja de São Cirilo emKiev, mais tarde se estabeleceu em Moscou e iniciou sua carreira pessoal. Seus temas favoritos foram retratos, cenas de balé e representações mitológicas e alegóricas. Durante quinze anos fez várias obras inspiradas noO Demônio deLermontov, em que um demônio se apaixona por uma jovem e, para possuí-la, mata seu namorado; quando a jovem está isolada em um convento, ele a seduz, mas ela morre e o demônio é deixado sozinho. No trabalho de Vrubel, o demônio evolui de um ser de beleza sobre-humana para um ser esmagado e desesperado. Aos trinta e seis anos ele começou a ter sintomas de demência, aos quarenta perdeu a visão e morreu aos quarenta e quatro. Apelidado de "Cézanne Russo" porNaum Gabo, seu trabalho influenciouMalevich eKandinski.[255]

Sadko (1876), de Ilia Repin,Museu Estatal Russo, São Petersburgo

O simbolismo também influenciou a obra madura deIliá Repin, um pintor realista membro do grupoPeredvízhniki (Ambulantes), com um estilo melodramático de introspecção psicológica. Em 1890 ingressou no círculo de Mir Iskusstva e passou por uma fase simbolista.[62] Foi membro do comitê editorial da revista e participou de várias exposições organizadas por Diaguilev. No entanto, ele logo se separou do grupo, o qual considerava diletante, e continuou com seu estilo realista.[256]

Kuzma Petrov-Vodkin estudou em Moscou e Paris e viajou pela França, Itália, Grécia e África. Ele foi influenciado por Puvis de Chavannes, Hodler e Denis. Seu trabalho foca em conceitos ideais como beleza, amor e felicidade.[67] Seu estilo, muitas vezes inspirado em ícones russos tradicionais, é caracterizado por fortes contrastes cromáticos e o uso de perspectivas de cima para baixo. Em seu último estágio, evoluiu para o realismo.[257]

Valentin Serov foi aluno de Repin e expandiu seus estudos em Paris e Mônaco. Ele foi um retratista proeminente que fez imagens deNicolau II,Maksim Gorki eNikolai Rimski-Korsakov, entre outros. Foi um membro de Mir Iskusstva e um colaborador de Diaghilev.[74] Evoluiu de um certo impressionismo para um simbolismo influenciado pela arte tradicional russa e pela arte clássica grega.[258]

Outros expoentes do simbolismo russo foram:Viktor Zamiraylo,Konstantin Somov,Viktor Borisov-Musatov,Viktor Vasnetsov,[259]Wilhelm Kotarbiński[260] eNikolai Kalmakov.[261]

Casal de ginetes (1907), de Vasili Kandinski

Na Rússia, vale mencionar também a fase simbolista de dois jovens artistas que mais tarde se destacariam na arte de vanguarda:Vasili Kandinski eKasimir Malevich. Kandinski estudou direito, economia e política antes de se dedicar à arte. Em 1899 ele se estabeleceu em Munique, onde estudou comAnton Ažbe eFranz von Stuck. Entre 1903 e 1907 viajou pela Itália, França e África. Entre 1907 e 1914 viveu entre Berlim e Munique. Depois de alguns anos de volta à Rússia, em 1922 regressou à Alemanha e em 1933 estabeleceu-se na França. A primeira fase de sua obra pode ser enquadrada no simbolismo, em que sua fonte de inspiração foram contos e lendas eslavas, bem como elementos da religiosidade ortodoxa e uma certa tendência ao ocultismo, perceptível, por exemplo, na transcrição simbólica de suas cores. Em 1911 ingressou no grupo expressionistaDer Blaue Reiter e aos poucos se voltou para a abstração, da qual foi um de seus pioneiros.[153]

Malevich, futuro fundador dosuprematismo, teve em seus primórdios uma fase simbólica, caracterizada pelo erotismo aliado a um certo misticismo esotérico, com um estilo tendendo ao monocromático, com predomínio do vermelho e do amarelo:Mulher pegando flores (1908, coleção privada),Azinheira e dríades (1908, coleção particular).[262] Foi aluno de Borisov-Musatov, que por sua vez havia sido aluno de Moreau.[146] Influenciado por Maurice Denis, seu desenho tinha uma certa tendência ao primitivismo.[263]

Por último, é de referir olituanoMikalojus Konstantinas Čiurlionis, pintor e compositor, um artista inovador com tendência para a abstração. Interessado na mitologia lituana e na filosofia de Nietzsche eRudolf Steiner, seu estilo se moveu entre o simbolismo e o abstrato, em que se denota uma forte inspiração musical.[69] Entre 1906 e 1908 fez uma série de "abstrações musicais" (Composição,Sonata do mar,Sonata piramidal) que pretendiam transcender os ritmos musicais ao campo pictórico, em obras de tendência abstratizante que procuravam refletir em linhas simplificadas as energias cósmicas que buscava captar com seu trabalho.[264] Ele morreu pobre aos trinta e seis anos.[265]

Estados Unidos

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O copo da morte (1885), de Elihu Vedder, Virginia Museum of Fine Arts, Richmond

NosEstados Unidos o simbolismo teve pouca implantação, mas foi praticado por alguns artistas que o conheceram em viagens à Europa. Assim como no Reino Unido com o pré-rafaelismo, no país norte-americano o trabalho desenvolvido pelaEscola do Rio Hudson e, principalmente, porThomas Cole, pintor de origem britânica autor de paisagens de tom alegórico e romântico, costuma ser considerado um precedente, comoA Viagem da Vida (1842, National Gallery of Art, Washington D.C.), uma série de quatro telas que retratam o ciclo da vida humana: infância, juventude, maturidade e velhice, na forma de um viajante navegando em uma barca num rio (a Vida) guiado por um anjo da guarda.[266]

O panorama artístico americano era bastante hostil ao simbolismo, já que devido à sua idiossincrasia era mais propensa ao realismo: o positivismo científico ainda prevalecia ali e havia uma ideia viva de progresso, principalmente no campo econômico, já que não em vão este país junto, com o Reino Unido, foi o berço do capitalismo. Assim, alguns aspectos da cultura finissecular europeia eram vistos com suspeita, especialmente no que se referia ao decadentismo, que se chocava de frente com o fundamentalismo religioso fomentado pelo protestantismo. Neste país, ainda, a arte e a poesia eram consideradas atividades femininas.[267] Apesar de tudo, vários vestígios de arte simbolista foram produzidos, praticada por artistas de formação europeia, comoAlbert Pinkham Ryder,Arthur Bowen Davies,Elihu Vedder,Maurice Prendergast, eJohn White Alexander.[268]

Siegfried e as donzelas do Reno (1888-1891), de Albert Pinkham Ryder,Galeria Nacional de Arte, Washington DC..

Autodidata, Ryder produziu paisagens e marinhas, dois gêneros não muito tratados pelos simbolistas, mas com um ar visionário que os tornava—em suas próprias palavras—algo “melhor que a natureza, vibrando com a emoção de uma nova criação”. Inspiradas nas obras de Shakespeare,Byron, Wagner e Poe, bem como na Bíblia e na mitologia, suas obras expressam uma temática relativa à maldade e à morte.[121]

Davies também produziu paisagens de tipo alegórico, que denotam a influência simbolista por sua predileção por temas oníricos e sensuais, além de românticos e decorativos. Foi um dos organizadores daArmory Show, que apresentou obras de artistas simbolistas, além de impressionistas, fauvistas e cubistas, nos Estados Unidos.[121] Foi influenciado por Böcklin e o pré-rafaelismo.[69]

Instalado em Roma a partir de 1867, de onde ocasionalmente voltava à sua terra natal, Vedder foi influenciado pelo pré-rafaelismo e Odilon Redon, e embora muitas vezes tenha escolhido temas históricos e religiosos—além de paisagens—ele os reinterpretou ao modo simbolista, em imagens fantásticas e alegóricas, nas quais a figuração detalhista é subordinada ao conteúdo simbólico, como emO copo da morte (1885, Virginia Museum of Fine Arts, Richmond).[269]

Visões de glória (1896), de Arthur Bowen Davies, Phillips Collection, Washington D.C.

Alexander foi um pintor e ilustrador, formado em Munique, Florença e Veneza entre 1877 e 1881. Depois de uma estada em Nova York na qual se destacou como retratista, viveu em Paris entre 1890 e 1901, onde frequentou Whistler, Rodin, Mallarmé eHenry James. Ele foi diretor da National Academy of Design. Ele se destacou especialmente no retrato feminino.[76]

Maurice Prendergast também foi um artista intimamente ligado à Europa: entre 1891 e 1894 estudou nas academias Julian e Colarossi, recebendo especialmente a influência de Manet, Whistler, Seurat, Toulouse-Lautrec e os Nabis. Durante a transição do século sua obra se aproximou do impressionismo, e foi em meados da década de 1910 que se aproximou do simbolismo, em obras comoThe promenade (1914-1915, Instituto de Artes de Detroit). Na última fase de seu trabalho se aproximou do fauvismomatissiano.[270]

O simbolismo também influenciou por um tempoJohn Singer Sargent, um pintor classicista que se destacou como retratista social, às vezes próximo ao impressionismo. Em 1895, ele foi contratado para decorar a Biblioteca Pública de Boston, para a qual desenvolveu um ciclo de murais baseado emO Progresso da Religião, que denota influência simbolista, especialmente nas divindades pagãs do Oriente Próximo.[271]

Por último, vale a pena mencionarJames Abbott McNeill Whistler, um pintor americano radicado no Reino Unido que, embora ligado principalmente ao impressionismo, às vezes é associado ao simbolismo por causa de sua concepção idealista da arte, que ele considerava "uma divindade de delicada essência".[268] Permaneceu algum tempo na França, onde estudou na École des Beaux-Arts comCharles Gleyre. Lá ele conheceuLegros eFantin-Latour, com quem fundou aSociété des Trois. Em 1859 ele se estabeleceu em Londres, embora continuasse a viajar com frequência para a França. Ele era um dândi eminente e defensor del'art pour l'art, e rejeitava na pintura qualquer narrativa ou componente moral; Segundo ele, se “a música é a pintura do ouvido, a pintura deve ser a do olho”. Seu estilo era leve, com cores simples e tonalidades um tanto abstratas.[272] Whistler se distancia do simbolismo devido à sua ausência de conteúdo metafísico, mas ele contribuiu com conceitos importantes para a teoria simbolista, como a autonomia da arte em relação a qualquer conceito moral. O simbolismo também foi influenciado por seu gosto pela arte japonesa, sua decoração usando padrões inspirados em penas de pavão e sua tendência a intitular suas obras com conceitos musicais como "noturno", "arranjo" e "sinfonia".[273]

Ver também

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Referências

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