Nalíngua portuguesa, umapalavra (dolatimparábola, que por sua vez deriva dogregotranslit.parabolé) pode ser definida como sendo um conjunto de letras ou sons de umalíngua, juntamente com a ideia associada a este conjunto. A função da palavra é representar partes do pensamento humano, e por isto ela constitui uma unidade dalinguagem humana.[1][2]
Apesar da definição supra, não existe uma designação técnica suficientemente precisa para "palavra", já que nem sempre é possível delimitá-la: por exemplo, pode haver "palavras dentro de palavras", como embeija-flor.[3] Ainda, aintuição pode não ser recurso suficiente para tal delimitação, já que nem sempre a ideia (o aspectosemântico) coincidirá com a escrita (o aspectográfico): é o caso, por exemplo, de "de repente" e "depressa".[4]
Quando nos, referimos à palavra enquanto umconjunto de letras, ela é parte dalinguagem escrita ougráfica. Quando nos referimos à palavra enquanto umconjunto de sons, ela é parte da linguagem falada ouglótica. Em ambos os casos, este é o denominadoaspecto externo ourepresentação material da palavra, e a este aspecto externo, material, damos o nome devocábulo.[5]
Quando nos referimos à palavra enquantoíndice da ideia que ela representa (ou seja: quando falamos dosentido por trás da palavra escrita ou falada), estamos nos referindo aoaspecto interno ourepresentação imaterial da palavra, e a este aspecto interno, imaterial, damos o nome determo.[5]
É por isto que o correto é "explicar bem umtermo", não "explicar bem umvocábulo". Do mesmo modo, o correto é "pronunciar bem umvocábulo", não "pronunciar bem umtermo".
As palavras podem ser combinadas para criarfrases.
Uma palavra também pode ser definida como sendo um conjunto demorfemas. Contudo, embora nalínguaescrita a demonstração deste conceito seja relativamente simples (e em muitos sistemas de escrita as palavras sejam delimitadas por espaços entre si), há idiomas que não usam divisores de palavras. É o caso dosânscrito.
Além disto, em antigosmanuscritoslatinos (ejaponeses em que o uso dokanji era frequente) o uso de delimitadores de palavra era optativo.
Naslínguas flexivas, uma única palavra (por exemplo:cansado) pode assumir diferentes formas:
Ele estácansado
Ela estavacansada
A natação nos deixacansados
As duas irmãs chegaramcansadíssimas da escola
Neste caso, as formas que variam em gênero, número e grau não são consideradas palavras diferentes, mas formas distintas de uma mesma palavra. Emidioma que têm flexão de gênero, número, etc., considera-se a mesma "palavra" todas as formas que pertencem à mesma classe (por exemplo, o adjetivocansado), ainda quemorfemas modifiquem seus referentes. Dessa forma, tem-se que as palavras podem ser invariáveis, se são sempre empregadas da mesma forma (cada,alguém), ou variáveis, se podem se apresentar de maneiras diferentes de acordo com sua especificação morfossintática (o,a,os,as,leia,leem).[4] As invariáveis se apresentam sempre da mesma forma como constam em um dicionário. Na língua portuguesa,preposições,conjunções eadvérbios são sempre invariáveis;[4] enquantoArtigos,pronomes everbos são sempre variáveis[4] e, dentre osadjetivos esubstantivos, estes quase sempre são variáveis, apesar de existir alguns invariáveis (por exemplo:simples,tórax,bônus).[6]
Naslínguas aglutinantes, as palavras podem possuir um grande número de morfemas, equivalendo ao que em outros idiomas seriam frases complexas. Por exemplo, naslínguas iúpiques,angyaghllangyugtuq significa "ele quer comprar um barco grande". Estas palavras enormes continuam a ser palavras únicas, pois elas contêm apenas umlexema ("morfema lexical" ou "entrada de dicionário"): os demais morfemas são partículas gramaticais que perdem significado, quando avulsas.
Naslínguas analíticas, uma palavra quase sempre consiste de um único morfema. Entretanto, alguns conceitos são expressos pela combinação desílabas ougrafemas em uma única composição.
Na linguagemoral (oufalada, ouglótica), distinguir palavras individuais é ainda mais complexo: palavras curtas são pronunciadas de uma só vez, enquanto palavras mais longas requerem vários ciclos de respiração. Ofrancês falado possui algumas das características de uma língua aglutinante:je ne le sais pas (que significa "eu não sei disto") foneticamente torna-seʒənələsepa.
Como parte dos idiomas falados não possui escrita, é crucial saber determinar cientificamente os limites de cada palavra.
Há cinco formas de determinar onde, na linguagem oral, as palavras começam e terminam:
Pausa potencial: um falante é levado a repetir pausadamente uma determinada sentença. A tendência é que ele venha a inserir pausas onde as palavras são delimitadas. No entanto, tal método não é de todo seguro: o falante poderia facilmente quebrar palavras polissilábicas.
Indivisibilidade: um falante é levado a dizer uma frase e, em seguida, a repeti-la com alguns acréscimos. Assim,Morei nesta aldeia por dez anos tornar-se-iaMinha família e eu moramos nesta pequena aldeia por cerca de dez anos ou mais. Haverá uma tendência para que essaspalavras a mais sejam inseridas entre as palavras que já se encontravam na frase. Entretanto, alguns idiomas aceitaminfixos naspalavras como portadores de informação adicional.
Mínimas formas livres: esse conceito foi proposto por . Palavras são tidas como a menor unidade significativa da fala que podem significar algo por si mesmas. Isso agrupa fonemas (unidades sonoras) em lexemas (unidades de significado). Contudo, algumas formas escritas não são mínimas formas livres como se, isoladamente, elas fizessem sentido, como o artigoa e a preposiçãode.
Delimitadores fonéticos: alguns idiomas possuem regras específicas depronúncia que tornam fácil detectar onde começam e terminam as palavras. Por exemplo, numa língua que acentua regulamente a última sílaba de uma palavra, como ohebraico, é mais provável encontrar um delimitador de palavra após tais sílabas. Um outro exemplo é encontrado em idiomas que possuem regras deharmonia vocálica, como oturco: as vogais em uma determinada palavra compartilham da mesma "qualidade"; assim, um delimitador de palavra ocorre mais facilmente próximo do local onde uma vogal de outra "qualidade" é encontrada. Todavia, nem todos os idiomas possuem tais regras fonéticas, sendo exceção as que dispõem de tais regras.
Unidades semânticas: assim como as "mínimas formas livres", este método quebra uma frase em suas menores unidades significativas. Entretanto, idiomas contém palavras que possuem pouco valor semântico (e ainda possuem uso gramatical), ou unidades semânticas que são palavras compostas.
Na prática, oslinguistas aplicam uma combinação de todos os métodos listados acima com o intuito de delimitar o que vem a ser uma "palavra". E, mesmo com a cuidadosa aplicação desses referidos métodos, ainda não foi possível estabelecer um conceito geral, válido em todas as línguas, para definir "palavra".
Conforme Bechara, umainterjeição a rigor nem é uma pura palavra, mas uma "palavra-oração", pois sozinha pode significar um conteúdo de pensamento da linguagem emocional.[7]
A palavra é composta de um núcleo semântico que é sua base mórfica ou raiz. Além dela, os demais elementos são periféricos. A palavra pode ser composta apenas pela raiz, como emmar,feliz, ou possuir também morfemas periféricos, como emmarinho,infeliz.[6]
Dessa forma, classifica-se como palavra primitiva aquela cuja formação não teve origem a partir de outroradical (ex.: pedra, flor, casa, livro, papel).[8] Estas palavras em umprocesso derivacional podem dar origem a novas palavras (ex.: pedraria, florescer, caseiro, livraria, papelaria).[8]
↑abAbaurre, Maria Luiza; Pontara, Marcela Nogueira; Fadel, Tatiana (2005).Português: língua e literatura.1 2.ª ed. São Paulo: Moderna. p. 161.ISBN85-16-03845-9 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)