Medina(emárabe:المدينة المنورة;romaniz.:al-Madinah al-Munawwarah) é uma cidade localizada no oeste daArábia Saudita, na região doHejaz. Oaglomerado possui cerca de 1 milhão e 300 mil habitantes (estimativa 2006) e é uma das cidades sagradas doislamismo. Até 622, quando o profeta islâmicoMaomé entrou na cidade durante o episódio da história do Islamismo conhecido comoHégira, designava-seIatrebe (Yathrib ouIatreb). Do ponto de vista histórico-religioso, Medina foi a primeira cidade regida por princípiosteocráticos adotados por Maomé, difusor do islamismo.
A primeira menção à cidade remonta aoséculo VI a.C., aparecendo em textosassírios (Crônica de Nabonido) como Iatribu.[5] Na época dePtolomeu, o oásis era conhecido como Látripa (Lathrippa).[6] Os primeiros povos a se instalar nooásis de Medina foram as tribos de Banu Matrauil e Banu Haufe que traçam sua linhagem deSem, filho deNoé. Estas tribos foram as primeiros a plantar árvores e cultivar na cidade. Quando as tribos iemenitasBanu Aus eBanu Cazeraje chegaram, havia cerca de 70 tribos árabes e 20 tribos judaicas em Medina.
Os judeus chegaram à cidade noséculo II, na sequência dasGuerras judaico-romanas. Houve três importantes tribos judaicas que habitaram a cidade até oséculo VII: aBanu Cainuca, aBanu Curaiza e aBanu Nadir.[7]ibne Cordadebe relatou mais tarde que durante a dominação doImpério Sassânida na região deHejaz, os Banu Curaiza atuaram como coletores de impostos para oxá.[8] Durante a guerra entre judeus e romanos noséculo III, muitos judeus fugiram deJerusalém e migraram para o local de seus ancestrais, Iatrebe (atual Medina).
A situação mudou após a chegada do Iêmen de duas tribosárabes, chamadas Banu Aus e Banu Cazeraje. No início, essas tribos eramdependentes dos judeus, mas, posteriormente, elas se revoltaram e se tornaram independentes.[9] Por volta do final doséculo V,[10] os judeus perderam o controle da cidade para os Banu Aus e Banu Cazeraje. AEnciclopédia Judaica relata que eles agiram da seguinte forma"solicitaram ajuda do lado externo e massacraram traiçoeiramente, em um banquete, os principais judeus". Assim, as tribos Banu Aus e Banu Cazeraje finalmente tomaram o controle em Medina.[7]
A maioria dos historiadores modernos aceita a alegação de fontes muçulmanas que, após a revolta, as tribos judaicas se tornaramclientes (subordinadas) aos Aus e Cazeraje.[11] De acordo comWilliam Montgomery Watt, a clientela das tribos judaicas não é corroborada pelos relatos históricos do período anterior a 627, e sustentou que os judeus mantiveram a independência política.[9]
Ibne Ixaque fala de um conflito entre o último rei iemenita doHimiar (ou Reino Himiarita)[12] e os moradores de Iatrebe. Quando o rei estava passando pelo oásis, os moradores mataram seu filho, e o governante iemenita ameaçou exterminar o povo e cortar aspalmeiras. De acordo com ibne Ixaque, ele foi impedido de fazê-lo por doisrabinos da tribo Banu Curaiza, que imploraram ao rei para poupar o oásis, porque seria o lugar "para onde um profeta do coraixita migraria para ser sua casa e local de descanso". O rei iemenita, desta forma, não destruiu a cidade e se converteu aojudaísmo. Ele levou os rabinos com ele e, em Meca, os rabinos teriam reconhecido aCaaba como um templo construído porAbraão e aconselharam o rei a fazer o que o povo de Meca fazia: circundar o templo, venerá-lo e honrá-lo, raspar a cabeça e comportar-se com toda a humildade até deixar seu recinto." Ao se aproximarem do Iêmen, conta ibne Ixaque, os rabinos mostraram ao povo local um milagre ao saírem ileso de um incêndio, convertendo os iemenitas ao judaísmo.[13]
Algumas vezes, as tribos Banu Aus e Banu Cazeraje brigaram entre si, sendo que na época daHégira (migração deMaomé e seus seguidores para Medina), eles estavam em luta por 120 anos e se consideravam inimigos mortais.[14] As tribos Banu Nadir e Banu Curaiza eram aliadas da tribo Banu Aus, enquanto a tribo Banu Cainuca era aliada da tribo Cazeraje.[15] Eles lutaram um total de quatro guerras.[9]
A última e mais sangrenta batalha foi a deBuate,[9] travada alguns anos antes da chegada deMaomé.[7] O resultado da batalha foi inconclusivo e a contenda continuou.Abedalá ibne Ubai, um chefe Cazeraje, se recusou a participar da batalha, o que lhe valeu a reputação de equidade e paz. Até a chegada de Maomé, era o habitante mais respeitado de Iatrebe.
Em 622,Maomé e osmuhajirun deixaramMeca e chegaram a Iatrebe, um evento transformaria o panorama político e religioso completamente; a longa inimizade entre as tribos Aus e Cazeraje foi reduzida uma vez que muitos habitantes destas duas tribos adotaram oIslamismo. Maomé, ligado a tribo Cazeraje através de sua bisavó, logo virou o chefe e uniu os muçulmanos convertidos de Iatrebe sob o nome deAnsar (os "patronos" ou "os ajudantes"). Após a chegada de Maomé, a cidade aos poucos passou a ser conhecida como Medina (literalmente "cidade" emárabe). Alguns consideram esse nome como um derivado da palavraaramaica Medinta, que os habitantes judeus teriam usado para a cidade.[16]
De acordo comibne Ixaque, osmuçulmanos e osjudeus da região assinaram um acordo, aConstituição de Medina, que comprometeu as tribos judaicas à cooperação mútua com os muçulmanos. A natureza deste documento, como registrado por ibne Ixaque e transmitido poribne Hixame, é objeto de controvérsia entre os historiadores modernos, muitos dos quais consideram que este "tratado" é, possivelmente, uma montagem de acordos, orais e não escritos, de diferentes datas, e que não está claro exatamente quando eles foram feitos.[17]
A Batalha de Badr foi uma batalha fundamental no início doislamismo e uma virada na luta de Maomé com seus oponentes entre oscoraixitas em Meca.
Na primavera de 624, Maomé recebeu informação de suas fontes de inteligência que uma caravana de comércio, comandada porAbu Sufiane ibne Harbe e protegida por trinta a quarenta homens, estava viajando daSíria de volta paraMeca. Maomé reuniu um exército de 313 homens, o maior exército que os muçulmanos já haviam posto em campo. No entanto, muitas fontes muçulmanas primitivas, incluindo oAlcorão, indicam que nenhuma luta séria era esperada,[18] e o futuro califaOtomão ficou para trás para cuidar da esposa doente.
À medida que a caravana se aproximava de Medina, Abu Sufiane começou ouvir dos viajantes e dos cavaleiros sobre uma emboscada planejada por Maomé. Ele enviou um mensageiro chamado Dandã a Meca para alertar os coraixitas e obter reforços. Alarmados, os coraixitas reuniram um exército de 900 a 1000 homens para salvar a caravana. Muitos dos nobres coraixitas, incluindoAnre ibne Hixame,Ualide ibne Utba, Xaiba eOmaia ibne Calafe, ingressaram no exército. Entretanto, parte do exército regressou posteriormente para Meca, antes da batalha.
A batalha começou com os melhores de ambos os exércitos se apresentando para entrar em combate. Os muçulmanos enviaramAli,Ubaidá ibne Alharite (Obeida) eHâmeza ibne Abedal Motalibe. Em um combate três-a-três, os muçulmanos liquidaram os melhores de Meca, Hâmeza matou sua vítima logo no primeiro ataque, embora Ubaidá tenha sido mortalmente ferido.[19]
Na sequência, ambos os exércitos começaram a atirar flechas um contra o outro. Dois muçulmanos e um número desconhecido de coraixitas foram mortos. Antes da batalha começar, Maomé havia dado ordens para os muçulmanos atacar com suas armas de longo alcance, e só enfrentar os coraixitas com armas brancas quando eles avançassem.[20] Posteriormente, ele deu ordem para atacar, atirando um punhado de pedras em direção ao exército de Meca, o que era provavelmente um gesto tradicional árabe, enquanto gritava "Desfiguradas sejam aquelas faces!".[21][22] O exército muçulmano gritou"Yā manṣūr amit!"[23] e avançou sobre as linhas coraixitas. O exército de Meca, sem força e entusiasmo para a luta, rapidamente desistiu e fugiu. A batalha em si durou apenas algumas horas e já estava terminada no início da tarde.[21] O Alcorão descreve a força do ataque dos muçulmanos em muitos versos, que se referem aos milhares de anjos descendo do céu em Badr para massacrar os coraixitas.[22][24] Antigas fontes muçulmanas interpretam essas palavras literalmente, e existem várioshádices onde Maomé debate com oAnjo Jibril seu papel na batalha.
AUbaidá ibne Alharite (Obeida) foi dada a honra de ser "quem atirou a primeira flecha pelo Islamismo", enquantoAbu Sufiane ibne Harbe mudou de lugar para escapar do ataque. Em retaliação por este ataque, Abu Sufiane ibne Harbe solicitou uma força armada de Meca.[25]
Durante todo o inverno e primavera de 623 outros grupos de ataque foram enviados por Maomé de Medina.
Em 625,Abu Sufiane ibne Harbe, rei de Meca, que pagava impostos regularmente para oImpério Bizantino, novamente liderou uma força de Meca contra Medina. Maomé marchou ao encontro desta força, mas antes de chegar à batalha, cerca de um terço das tropas sob comando deAbedalá ibne Ubai se retirou. Mesmo assim, as tropas de Medina marcharam adiante para a batalha, e, embora em número muito inferior, os muçulmanos foram bem-sucedidos inicialmente e empurraram as linhas de Meca para trás, deixando a maior parte do acampamento de Meca desprotegido. Quando a batalha parecia estar próxima de uma vitória muçulmana, um erro grave cometido por uma parte do exército muçulmano mudou o resultado da batalha. A desobediência às ordens de Maomé pelos arqueiros muçulmanos, que deixaram os seus postos designados para espoliar o acampamento de Meca, permitiu um ataque surpresa da cavalaria de Meca, liderada pelo veterano de guerraCalide ibne Ualide, trazendo o caos para as fileiras muçulmanas. Muitos muçulmanos foram mortos e até o próprio Maomé quase morreu, saindo gravemente ferido. Os muçulmanos tiveram que se retirar das encostas de Uude. O exército de Meca não aproveitou sua vitória para invadir Medina e retornou para Meca.
Painel representando a mesquita de Medina (atualmente na Arábia Saudita). Encontrada emİznik (Turquia),século XVIII
Em 627, Abu Sufiane ibne Harbe mais uma vez liderou as forças de Meca contra Medina. Por causa de uma trincheira escavada pelos habitantes de Medina para proteger a cidade, este evento tornou-se conhecido como a "Batalha da Trincheira". Depois de um prolongado cerco e vários conflitos, o exército de Meca se retirou. Durante o cerco, Abu Sufiane ibne Harbe havia feito um acordo com a tribo judaica remanescente dos Banu Curaiza para atacar os muçulmanos por trás das linhas. O plano, no entanto, foi descoberto pelos muçulmanos e o ataque frustrado. Isto representou uma violação daConstituição de Medina, e, após a retirada de Meca, Maomé marchou imediatamente contra os Curaiza e cercou seus redutos. Os judeus finalmente se renderam. Alguns membros da tribo Banu Aus intercederam em favor dos seus antigos aliados e Maomé concordou com a indicação de um dos seus chefes,Sade ibne Muade, como juiz. Sade julgou pela lei judaica que todos os membros masculinos da tribo deveriam ser mortos e as mulheres e crianças feitas prisioneiras, como estabelecia oAntigo Testamento em caso de traição (Deuteronômio).[26] Esta ação foi concebida como uma medida defensiva para garantir que a comunidade muçulmana pudesse estar segura de sua sobrevivência em Medina. O historiador Robert Mantran argumenta que a partir deste ponto de vista a ação foi bem-sucedida - a partir deste ponto, os muçulmanos já não se preocupavam mais essencialmente com a sobrevivência, mas sim com a expansão e conquista.[26]
Nos dez anos seguintes daHégira, Medina se tornou a base a partir da qual Maomé atacava e era atacado, e foi daí que elemarchou sobre Meca, tornando-se seu governante sem batalha. Mesmo quando alei islâmica foi estabelecida, Medina permaneceu por alguns anos a cidade mais importante doIslã e a capital docalifado.
Sob os quatro primeiros califas, conhecido como oCalifado Ortodoxo, o império islâmico se expandiu rapidamente e passou a incluir centros históricos da civilização, comoJerusalém,Damasco eMesopotâmia. Após a morte de Ali, o quarto califa, a sede do califado foi transferida para Damasco e depois paraBagdá. A importância de Medina diminuiu e ela se transformou mais num lugar de importância religiosa do que de poder político. Após a fragmentação do Califado, a cidade se submeteu a vários governantes, incluindo osMamelucos noséculo XIII e, finalmente, desde 1517, osturcos otomanos.
Em 1256, Medina foi ameaçada pelo fluxo de lava da última erupção doHarrat Rahat.[27]
No início doséculo XX, durante aPrimeira Guerra Mundial, Medina testemunhou um dos mais longos cercos na história. Medina era uma cidade doImpério Otomano. O governo local estava nas mãos doshachemitas comoxarifes ouemires de Meca.Facri Paxá era o governadorotomano de Medina.Ali bin Hussein, oxarife de Meca e líder do clã Hachemita, revoltou-se contra o califa e se aliou com aGrã-Bretanha. A cidade de Medina foi cercada por suas forças, Facri Paxá resistiu bravamente durante oCerco de Medina desde 1916, mas em 10 de janeiro de 1919, foi forçado a se render. Após a Primeira Guerra Mundial, o hachemitaSaíde Ali ibne Huceine foi proclamado rei da independenteHejaz, mas, em 1924, ele foi derrotado porIbn Saud, que integrou Medina e Hejaz em seureino da Arábia Saudita.
O projeto "Cidade de Conhecimento Econômico de Medina", uma cidade focada em indústrias baseadas no conhecimento, tem sido planejado e é esperado impulsionar o desenvolvimento e aumentar o número de postos de trabalho em Medina.[28]
Medina está localizada no lado ocidental da Arábia Saudita nas coordenadas24° 28′ 00″ N, 39° 36′ 00″ L a 619 metros acima do nível do mar.[4] Está situada 430 km a norte deMeca (Makkah Al-mukarama), 150 km a leste doMar Vermelho e 850 km da capitalRiad. O município possui área total de 589 km², sendo 293 km² correspondente aárea urbana (cidade).[1]
Medina possui umclima desértico, caracterizado por uma aridez constante e temperaturas geralmente muito quentes durante o dia. As manhãs de inverno possuem temperaturas bem mais frescas.
De acordo com o últimocenso realizado em 2004, o município possui 994 175 habitantes, sendo 918 889, ou seja, 92,4% em sua área urbana.[32] Adensidade demográfica é de 1 687,9 hab/km² no município 3 136,1 hab/km² apenas na área urbana (cidade).
Distribuição da população por sexo e nacionalidade (sauditas/não-sauditas)[32]
No passado, a educação em Medina estava centrada nos cantos e nas escolas corânicas espalhados pela cidade, e ao longo do tempo deixou de existir todas estas, sendo substituídas por escolas, universidades e centros educacionais.
Escolas: Medina inclui cerca de 309 escolas, incluindo 112 escolas primárias e 95 do ensino médio públicas e 102 escolas privadas.
OAeroporto Internacional Príncipe Mohammad Bin Abdulaziz é o principalaeroporto que serve a cidade de Medina, está localizado 15 km a nordeste do centro da cidade e é um dos principais locais de chegada e partida de peregrinos provenientes do exterior com destino àsperegrinações deHaje eUmra, emMeca. Inaugurado em 1972, inicialmente como aeroporto doméstico, pois os voos internacionais estavam limitados ao período da Hajj, foi transformado em 2006 em aeroporto internacional, devido ao aumento significativo no número de voos para os períodos da Hajj e Umrah.[33][34][35]
Para o futuro, Medina estará ligada a Meca através do projeto chamado "trem expressoDuas Mesquitas Sagradas", um projeto de ferrovia elétrica com extensão de 450 km, que vai ligar Meca a Medina passando porJeddah eRabigh. A primeira fase do projeto cobrirá a construção de cinco estações de passageiros, incluindo duas em Meca, duas em Jeddah noAeroporto Internacional Rei Abdulaziz e no centro da cidade, e a quinta estação em Medina. É esperado para a segunda fase a construção de uma outra estação em Rabigh.[33]
↑Firestone 118. Para pontos de vista disputando a data inicial da Constituição de Medina, ver e.g., Peters 116; "Muhammad", "Encyclopaedia of Islam"; "Kurayza, Banu", "Encyclopaedia of Islam".
↑«quarto».The Biography of Mahomet, and Rise of Islam. Extension of Islam and Early Converts, from the assumption by Mahomet of the prophetical office to the date of the first Emigration to Abyssinia by William Muir (em inglês). [S.l.: s.n.]
↑abRobert Mantran,L'expansion musulmane Presses Universitaires de France 1995, p. 86.
↑«Harrat Rahat» (em inglês). Global Volcanism Program — Department of Mineral Sciences — National Museum of Natural History — Smithsonian Institution. Consultado em 17 de julho de 2010