A Edição Pastoral da Bíblia sustenta que trata-se de uma história fictícia composta para encorajar o povo a resistir e lutar, escrita provavelmente em meados doséculo II a.C., durante a resistência dosMacabeus ou logo após. O livro apresenta a situação difícil do povo, oprimido por uma grande potência. Por trás deNabucodonosor II e seu império, podemos entrever a figura de qualquer dominador com seu sistema de opressão.[3]
De acordo com aJewish Encyclopedia, o autor do livro demonstra farto conhecimento da geografia mundial e das escrituras, no entanto ele comete o erro crasso de iniciar a história dizendo que ela se passa no décimo-segundo ano de Nabucodonosor, rei dos assírios emNínive, e em uma época depois do retorno dos judeus do exílio; isto seria uma forma de dizer ao leitor que o livro é ficção, e não história.[4]
Por outro lado, aTradução Ecumênica da Bíblia sustenta que o livro teria sido escrito no final do século II AC, ou mais tarde, e que se baseia em fatos reais que teriam ocorrido durante adominação persa, trata-se de umMidrash, no qual um núcleo que pode ser real é tratado com muita liberdade, amplificado por novos episódios fictícios, fecundado por alusões a textos bíblicos. Sendo que no caso doLivro de Judite cogita-se que o autor teria se inspirado: na astúcia deTamar (Gn 38), no assassinato deEglon porEhud (Jz 3:12-30), e deSiserá porIael (Jz 4-Jz 5), no combate entreDavid eGolias (I Sm 17), na intervenção deAbigail junto a DavidI Sm 25), entre outros.[5]
De acordo comJames Ussher, os eventos descritos no livro ocorreram nos anos657 a.C. e656 a.C.[6] Ussher interpretaNabucodonosor, citado neste livro, como um nome genérico usado para os reis da Babilônia, e identifica o rei da Assíria e da Babilônia como sendoSaosduchinus, que governou a Assíria e a Babilônia por vinte anos, a partir de668 a.C.[7]
O livro relata a história de uma piedosa viúva que sai da cidade cercada, dirige-se ao acampamento do exército inimigo e com sua beleza envolve o comandanteHolofernes, que se embriaga durante um banquete e tem sua cabeça cortada pela heroína desta história.[9]
Os três primeiros capítulos (Jt 1-Jt 3 descrevem os mecanismos de dominação das grandes potências: aparato militar, demonstração de força, intimidação, e também mostram como os pequenos países, intimidados, se submetem a tais pressões. A prepotência se torna verdadeiro ídolo, que exige adoração.[3]
Nos quatro capítulos seguintes (Jt 4 -Jt 7), é apresentado um país pequeno, que, apesar de dominado, se prepara para reagir, através de uma fé prática, e por outro lado, descreve a irritação do opressor, que não admite insubmissão e despreza o Deus libertador presente na história. O oprimido se vê tentado a fazer as pazes e a se conformar com a escravidão.[3]
Nos capítulos8 e9, a figura deJudite sugere dois símbolos que se complementam: a mulher corajosa que sai em defesa de seu povo oprimido e o próprio povo que renova sua força e fé, liderado por gente que enfrenta a covardia das autoridades e sai à luta.[3]
Nos capítulos10 a13, a beleza e artimanhas deJudite simbolizam a fé, que não dispensa os meios políticos na luta para eliminar os mecanismos centrais de repressão (cabeça deHolofernes). Diante de uma primeira vitória, os outros (Aquior) se unem porque começam a ter fé no Deus que liberta. Por fim, a vitória comemorada reacende o ideal de liberdade e o prazer de louvar o Deus verdadeiro, que vence os ídolos opressores.[3]
Diante da opressão, surge a questão de como proceder, havendo as alternativas de refugiar-se na fé, esperando que Deus resolva a situação, ou entrar no jogo da história, combatendo os poderosos com as mesmas armas. Disso, cabe refletir até que ponto Deus está presente na passividade ou na atividade histórica do seu povo.[3]
Nesse contexto, oLivro de Judite indica que a fé autêntica é aquela que encarna a fidelidade a Deus e ao seu projeto dentro da situação histórica concreta em que o povo está vivendo. Deus estará sempre aliado com aqueles que lutam para conquistar a liberdade e a vida, procurando destruir toda e qualquer forma deescravidão emorte. Tal luta, porém, não deve realizar-se de forma temerária. É preciso agir comdiscernimento, para realizar ação verdadeiramente eficaz, coerente com a fé que leva para a vida.[3]
Referências
↑Echegary, J. González et ali (2000).A Bíblia e seu contexto.2 2 ed. São Paulo: Edições Ave Maria. 1133 páginas.ISBN9788527603478
↑Pearlman, Myer (2006).Através da Bíblia. Livro por Livro 23 ed. São Paulo: Editora Vida. 439 páginas.ISBN9788573671346