Durante 15 anos, Liu foi o terceiro homem mais poderoso da China, atrás somente do presidenteMao Zedong e do primeiro-ministroZhou Enlai. Originalmente preparado para ser o sucessor de Mao, acabou por antagonizar o presidente no começo dos anos 60, antes daGrande Revolução Cultural Proletária, e a partir de 1966 passou a ser objeto direto de crítica até ser expurgado. Desapareceu da vida pública em 1968, sendo rotulado como o "comandante do quartel-general da burguesia chinesa", o maior "seguidor da via capitalista" e traidor darevolução.
Morreu sob forte tratamento médico no final de 1969, mas foi postumamente reabilitado porDeng Xiaoping em 1980, recebendo assim um memorial em seu nome.[1]
Liu nasceu em uma família de camponeses moderadamente rica na vila deHuaminglou,[2]Ningxiang, província deHunan;[3] sua cidade natal ancestral está localizada no condado deJishui,Jiangxi. Estudou na Escola Secundário Zhusheng de Ningxiang, e foi indicado para ter aulas em Xangai para preparar-se para estudar na Rússia. Em 1920, ele eRen Bishi filiaram-se no Corpo da Juventude Socialista; no ano seguinte, Liu foi recrutado para estudar na da Universidade dos Trabalhadores do Leste em Moscou, da Internacional Comunista.[2]
Ingressou no recém formadoPartido Comunista da China em 1921. No ano seguinte, retornou à China, atuando como secretário do Sindicato dos Trabalhadores de Toda a China liderou diversas greves de ferroviários, novale Yangtzé e emAnyuan na fronteiraJiangxi-Hunan.[2]
Em 1925, Liu tornou-se membro do Comitê Executivo da Federação do Trabalho de Toda a China baseado emCantão. Durante os próximos dois anos, liderou diversas campanhas políticas e greves emHubei eXangai. Trabalhou comLi Lisan em Xangai em 1925, organizando a atividade dos comunistas após oIncidente de Trinta de Maio. Após seu trabalho em Xangai, Liu viajou paraWuhan. Ele foi brevemente preso emChangsha e então voltou para Cantão para ajudar a organizar a longa greve de 16 meses de Cantão-Hong Kong.[2]
Foi eleito para o Comitê Central do Partido em 1927, e foi nomeado como chefe do Departamento de Trabalho.[4] Liu voltou a trabalhar na base do Partido em Xangai em 1929, e foi nomeado secretário do Comitê do Partido daManchúria em Fengtian.[2] Em 1930 e 1931, esteve presente nas Terceira e Quarta Plenárias do Sexto Comitê Central, e foi eleito para o Comitê Executo Central (i.e., Politburo) daRepública Soviética da China entre 1931 e 1932. Ao final de 1932, Liu deixou Xangai e viajou para oSoviéte de Jiangxi.[3]
Liu virou Secretário do Partido da província deFujian em 1932. Ela acompanhou aLonga Marcha em 1934 pelo menos até a crucialConferência de Zunyi, mas foi enviado para as então chamadas "Áreas Brancas" (áreas controladas peloKuomintang) para reorganizar as atividades clandestinas no norte da China, centrado em torno dePequim eTianjin. Passou a ser Secretário do Partido noNorte da China em 1936, liderando os movimentos anti-japoneses na área com a assistência dePeng Zhen,An Ziwen,Bo Yibo,Ke Qingshi,Liu Lantao, eYao Yilin. Liu dirigiu o Birô Central de Planícies em 1939; e, em 1941, o Birô Central da China. Algumas fontes japonesas alegam que as atividades de sua organização levaram aoIncidente da Ponte Marco Polo, em julho de 1937, o que deu ao Japão a desculpa para iniciar aSegunda Guerra Sino-Japonesa.[2]
Em 1937, Liu viajou para a base comunista emYanan; em 1941, ele passou a ser um comissário político doNovo Quarto Exército.[2] Ele foi eleito como um dos cinco Secretários do Partido Comunista da China no7º Congresso Nacional do Partido Comunista da China em 1945. Após o congresso, ele passou a ser o líder supremo de todas as forças comunistas naManchúria e no norte da China, uma posição frequentemente ignorada pelos historiadores.[2]
O trabalho de Liu focou em questões organizacionais do partido e assuntos teóricos. Ele era um comunista de estilo mais ortodoxo-soviético, e favoreceu o planejamento do estado e o desenvolvimento da indústria pesada. Ele também elaborou sobre suas crenças políticas e econômicas em seus escritos. Seus trabalhos mais conhecidos incluemComo ser um Bom Comunista (1939),Sobre o Partido (1945), eInternacionalismo e Nacionalismo (1952).
Como resultado, Liu ganhou influência dentro do partido; em abril de 1959, sucedeu Mao comoPresidente da República Popular da China. No entanto, Liu começou a dar indícios de preocupações com relação aos resultados do Grande Salto naPlenária de Lushan, realizada em agosto de 1959.[2] Como forma de corrigir os erros do Grande Salto Adiante, Liu e Deng lideraram reformas econômicas que reforçaram seu prestígio entre o aparato do partido e a população nacional. As políticas econômicas de Deng e Liu foram notáveis por serem mais moderadas do que as ideias radicais de Mao.[2]
Liu foi anunciado publicamente como sendo o escolhido para suceder Mao em 1961;[2] no entanto, por volta de 1962 a sua oposição às políticas de Mao fizeram com que Mao desconfiasse dele.[5] Após o sucesso de Mao em restaurar seu prestígio durante os anos 60,[6] a queda eventual de Liu passou a ser "inevitável". A posição de Liu como o segundo líder mais poderoso do Partido Comunista contribui para a rivalidade de Mao com ele tanto quanto as crenças políticas de Liu ou as alianças faccionais que surgiram nos anos 60,[5] indicando que a posterior perseguição a Liu foi o resultado de uma luta por poder que foi além dos objetivos e do bem-estar tanto da China como do Partido.
Por volta de 1966, alguns líderes seniores na China questionaram a necessidade de uma ampla reforma para combater os crescentes problemas de corrupção e burocracia dentro do Partido e do governo. Com o objetivo de reformar o governo para que fosse mais eficiente e leal ao ideal comunista, o próprio Liu presidiu a reunião ampliada doPolitburo que oficialmente deu início àRevolução Cultural. No entanto, Liu e seus aliados políticos rapidamente perderam o controle da Revolução Cultural logo após seu início, quando Mao usou o movimento para progressivamente monopolizar o poder político e destruir seus inimigos.[5]
Ainda que houvessem outras causas, a Revolução Cultural, declarada em 1966, era abertamentepró-Mao, e deu a Mao poder e influência para purgar o Partido de seus inimigos políticos nos mais elevados níveis do governo. Juntamente com o fechamento de escolas e universidades na China, e as exortações de Mao para que os jovens chineses randomicamente destruíssem antigas construções, templos, arte, e atacassem seus professores, administradores de escolas, líderes partidários e pais,[6] a Revolução Cultural também aumentou o prestígio de Mao a um nível em que vilas inteiras adotaram a prática de oferecer orações a Mao antes de cada refeição.[6]
Tanto na política nacional como na cultura popular chinesa, Mao foi estabelecido como uma espécie de semideus que não respondia para ninguém, purgando qualquer um que ele suspeitava de oposição[7] e dirigindo as massas e aGuarda Vermelha para "destruir virtualmente todas as instituições do estado e do partido".[6] Após a Revolução Cultural ser anunciada, muitos dos membros mais experientes do Partido que demonstraram qualquer tipo de hesitação em seguir a direção de Mao, incluindo Liu Shaoqi eDeng Xiaoping, foram removidos de seus postos quase imediatamente; e, com suas famílias, submetidos à crítica das massas e humilhação.[6]
Liu Shaoqi em 1966, primeiro ano da Revolução Cultural
Liu e Deng, junto com muitos outros, foram denunciados como "seguidores do caminho capitalista". Liu foi rotulado como um "traidor" e "o maior seguidor do caminho capitalista no Partido", sendo substituído da posição de Vice-Presidente porLin Biao em julho de 1966. Em 1967, Liu e sua esposaWang Guangmei foram colocados em prisão domiciliar emPequim. Liu foi removido de todas as suas posição e expurgado do Partido em outubro de 1968.Após sua prisão, Liu desapareceu da vida pública.
Liu foi espancado regularmente durante sessões de denúncia pública após sua prisão em 1967. Foram-lhe negados medicamentos para suadiabetes, até então uma doença de longo prazo, e parapneumonia, que ele desenvolveu após sua prisão. Liu recebeu eventuais tratamentos somente quandoJiang Qing temia que ele fosse morrer; ela desejava que Liu fosse mantido vivo para servir como um "alvo vivo" durante o9º Congresso do Partido realizado em 1969.[carece de fontes?]
No Congresso, Liu foi denunciado como um traidor e agente inimigo.Zhou Enlai leu o veredito do Partido de que Liu era "um traidor criminoso, agente inimigo e sarna a serviço dos imperialistas, revisionistas modernos e reacionários doKuomintang". As condições de saúde de Liu não melhoraram após ser denunciado no Congresso, e ele morreu pouco depois.[8][9]
Em um diário escrito pelo principal médico de Liu, ele contestou os alegados mal tratos que Liu supostamente recebeu durante seus últimos dias. De acordo com o Dr. Gu Qihua, havia uma equipe médica dedicada a cuidar da doença de Liu; entre julho de 1968 e outubro de 1969, Liu teve um total de sete ocorrências de pneumonia em razão da deterioração de seu sistema imunológico, e houve um total de 40 consultas de grupo realizadas por profissionais médicos especializados para o tratamento desta doença. Liu foi monitorado de perto diariamente pela equipe médica, e eles se esforçaram ao máximo dadas as circunstâncias adversas. Ele morreu de doença em 12 de novembro 12 de 1969, e foi cremado no dia seguinte.[10]
Em fevereiro de 1980, dois anos apósDeng Xiaoping chegar ao poder, a Quinta Plenária do 11º Comitê Central do Partido Comunista da China publicou a "Resolução sobre a Reabilitação do Camarada Liu Shaoqi". A resolução declarava que a expulsão de Liu era injusta e removeu todos os rótulos de "renegado, traidor e sarna" que estavam associados a ele na época de sua morte. Também declarou que Liu fora "um grande marxista e revolucionário proletário" e o reconheceu como sendo um dos principais líderes do Partido Comunista. Lin Biao foi acusado de "inventar evidências falsas" contra Liu, e por trabalhar com aGangue dos Quatro para sujeitá-lo à "conspiração política e perseguição física". Uma cerimônia memorial nacional de alto padrão foi realizada para Liu em 17 de maio de 1980, e suas cinzas foram espalhadas no mar deQingdao de acordo com seus últimos desejos.[11][12]
Liu casou cinco vezes, incluindo com He Baozhen (何宝珍)[14] andWang Guangmei (王光美).[15] Sua terceira esposa, Xie Fei (谢飞), era de Wenchang,Hainan, e uma das poucas mulheres naLonga Marcha de 1934.[16] Após sua morte em 1969, Wang Guangmei, sua esposa, foi levada à prisão por Mao Zedong durante a Revolução Cultural; ela foi submetida a condições adversas em confinamento solitário por mais de uma década.[17]
"Fifth Plenary Session of 11th C.C.P. Central Committee",Beijing Review, No. 10 (10 de março de 1980), pág. 3–10, descrição de sua reabilitação oficial.