Isadora nasceu emSão Francisco, em 1877,[nota 1] a filha mais nova das quatro crianças do casal Joseph Charles Duncan (1819–1898), um banqueiro e negociante de artes, e Mary Isadora Gray (1849–1922). Seus irmãos eramAugustin Duncan eRaymond Duncan, e sua irmã Elizabeth Duncan, também era bailarina.[2][3] Logo após seu nascimento, seu pai foi exposto em um esquema ilegal de transações bancárias e a família foi à falência.[4]
Seus pais se divorciaram quando Isadora ainda era criança. Sua mãe então se mudou paraOakland com os filhos, onde começou a trabalhar como professora de piano e costureira.[2] Aos dez anos de idade, Isadora foi para a escola, mas ela a largou, achando-a muito restritiva. A família ainda assim era muito pobre e Isadora e os irmãos ganhavam alguns trocados ensinando dança para outras crianças na vizinhança.[4] Em 1896, Isadora entrou para a companhia de Teatro deAugustin Daly, mas ficou desiludida com o teatro. Seu pai, com sua terceira esposa e uma filha, morreram em 1898, no navio de passageirosSS Mohegan, na costa daCornualha.[5]
Foto deArnold Genthe de Isadora dançando descalça em sua turnê americana em 1915-18
Sua carreira como bailarina e coreógrafa começou muito cedo, ainda criança, ensinando os colegas da vizinhança. Isso continuou durante seus anos daadolescência.[6] Sua nova visão sobre a dança era evidente em suas primeiras aulas, na qual ela seguia seus instintos e improvisava, ensinando qualquer coisa que viesse em sua cabeça.[5] O desejo de viajar a levou aChicago, onde fez testes em várias companhias de teatro, até ingressar na companhia deAugustin Daly, o que a levou atéNova Iorque, onde sua nova visão da dança entrou em conflito com as peças e apresentações comuns do público. Foi em Nova Iorque que ela começou a ter aulas comMarie Bonfanti, mas logo ficou desapontada com a rotina extenuante dobalé clássico.[4][7]
Infeliz e sentindo que seu talento não era apreciado nosEstados Unidos, Isadora se mudou paraLondres, em1898. Apresentou-se para os ricos da sociedade londrina, buscando inspiração em vasos gregos e painéis antigos exibidos noMuseu Britânico. Com o dinheiro que ganhou com tais apresentações, ela conseguiu alugar um estúdio, onde desenvolveu melhor seu trabalho e passou a criar grandes apresentações no palco. De Londres, ela viajou paraParis, onde se inspirou na exposição doLouvre e naExposição Universal de 1900.[5][6]
Em 1902,Loie Fuller convidou Isadora para excursionar com ela, o que a levou por todo o continente europeu, onde criou novas peças e apresentações baseadas em sua técnica inovadora, que enfatizava o movimento natural do corpo, em contraste com a rigidez do balé tradicional.[4] Na maior parte de sua vida, Isadora excursionou e se apresentou por toda a Europa e nas Américas. Mesmo com reações mistas da parte da crítica, Isadora tornou-se extremamente popular por seu estilo único e inspirou muitos artistas visuais, comoAntoine Bourdelle,Auguste Rodin,Arnold Ronnebeck eAbraham Walkowitz, a criarem trabalhos que ilustravam sua dança.[8]
Isadora, porém, não gostava dos aspectos comerciais das performances para o público, como turnês e contratos, pois ela sentia que se distraía de sua verdadeira missão, que era criar beleza e educar os mais jovens. Para alcançar seu objetivo, ela abriu escolas de dança para ensinar a filosofia da arte para jovens mulheres. A primeira foi aberta em 1904, emBerlim, naAlemanha. Foi nesta instituição que nasceu o assim chamado grupo das "Isadoráveis", seis jovens moças, Anna, Maria-Theresa, Irma, Liesel, Gretel, e Erika, protegidas de Isadora, que dariam continuidade ao seu legado.[9] Isadora legalmente adotou cada uma das garotas, que levaram seu sobrenome adiante.[10] Depois de dez anos, Isadora abriu outra escola em Paris, mas ela fechou logo depois com a eclosão daPrimeira Guerra Mundial.[4][5][6]
Em 1914, Isadora mudou-se para os Estados Unidos, onde abriu outra escola de dança, emGramercy Park, Nova Iorque.Otto Kahn lhe deu acesso ao moderno teatro Century, na 60th Street, emManhattan para suas apresentações. Por volta dessa época, Isadora posou para vários ensaios fotográficos, sempre pelas lentes deArnold Genthe.[4] Em 1915, Isadora deixaria os Estados Unidos a bordo do RMSLusitania, naquela que foi a última viagem da embarcação, mas ela trocou de passagem na última hora, possivelmente devido a problemas financeiros.[11] Em 1921, suas tendências esquerdistas a levaram para aUnião Soviética, onde abriu uma escola de dança emMoscou. Porém, o governo soviético não a apoiou como prometido devido à sua escola nos Estados Unidos.[4]
Tanto na vida profissional como na vida pessoal, Isadora ignorava a moral tradicional. Ela era bissexual,[12] ateia[13] e comunista, tendo declarado abertamente suas ideias comunistas no palco.[4]
Isadora deu à luz duas crianças, os dois fora do casamento. A primeira, Deirdre Beatrice (n. 24 de setembro de 1906) era filha do designer teatral Edward Gordon Craig. E o segundo, Patrick Augustus (n. 1 de maio de 1910) era filho deParis Singer, filho do magnata da indústria da costuraIsaac Singer. As duas crianças se afogaram, junto da babá, em 1913, quando o carro onde estavam caiu noRio Sena.[4][10] Logo após o acidente, Isadora passou vários meses se recuperando da tragédia na ilha grega deCorfu, junto de seus irmãos. Ela também passou várias semanas noresort deViareggio com a atrizEleonora Duse. O fato de Eleonora ter terminado um longo relacionamento com a jovem feministaLina Poletti surgiu a especulação sobre o seu relacionamento com Isadora Duncan, mas não há indícios de que elas tivessem envolvimento romântico.[14]
Em sua autobiografia, Isadora conta que implorou ao jovem escultor italianoRomano Romanelli que dormisse com ela, pois queria ter um outro filho. Ela engravidou dele e deu à luz em 13 de agosto de 1914, mas o bebê morreu logo após o nascimento.[4][5]
Na noite de14 de setembro de1927, emNice, Isadora era passageira no automóvelAmilcar CGSS[15] de Benoît Falchetto e usava uma longa écharpe, pintada à mão, criada pelo artista russoRoman Chatov, um presente dado por sua amiga Mary Desti. Mary ainda aconselhou que Isadora usasse um casaco já que andaria em um carroconversível, mas Isadora queria usar apenas aécharpe. Num bizarro acidente, a longa écharpe, enrolada em seu pescoço, ficou presa nas rodas do veículo, puxando-a para fora do carro e quebrando seu pescoço. Isadora ainda foi levada ao hospital, mas chegou morta.[16][17]
O jornalThe New York Times, na edição de 15 de setembro de 1927, descreveu assim sua morte:
“
"Isadora Duncan, a dançarina americana, morreu tragicamente esta noite em Nice, na Riviera. De acordo com as informações chegadas de Nice, Miss Duncan foi lançada de maneira extraordinária de um automóvel aberto em que estava e teve morte imediata, devido ao impacto contra o pavimento de pedra."
↑abcA data de nascimento é geralmente citada como 27 de maio de 1878. No entanto, descobertas póstumas de documentos, como sua certidão de nascimento, revelaram que o nascimento de Isadora foi em 26 de maio de 1877. Outros documentos que poderiam corroborar essa data foram destruídos noterremoto de São Francisco, em 1906.[1]
Referências
↑Stokes, Sewell.«Isadora Duncan».Encyclopædia Britannica. Consultado em 28 de maio de 2015
↑Stern, Keith (2009).Queers in History: The Comprehensive Encyclopedia of Historical Gays, Lesbians, Bisexuals, and Transgenders.Dallas: BenBella Books. p. 34.ISBN9781935251835
↑Mazo, Joseph H. (1977).Prime Movers: The Makers of Modern Dance in America. Nova Iorque: Morrow. p. 384.ISBN978-0871272119
↑glbtq (ed.).«Duse, Eleanora (1859–1924)». glbtq: An Encyclopedia of Gay, Lesbian, Bisexual, Transgender, and Queer Culture. Consultado em 16 de dezembro de 2017. Arquivado dooriginal em 23 de julho de 2007