Denomina-seculturapunk[1] os estilos dentro dacontracultura que possuem certas características comuns àquelas ditaspunk, como por exemplo o princípio de autonomia dofaça-você-mesmo, o interesse pela aparência agressiva, a simplicidade, o sarcasmoniilista e a subversão da cultura.
Entre os elementos culturaispunk estão: oestilo musical, amoda, odesign, asartes plásticas, ocinema, apoesia, e também um comportamento social que incluí princípioséticos e políticos, expressões linguísticas, símbolos e outros códigos de comunicação. Surge dentro do contexto de contracultura, como reação à não violência doshippies e à opressão ocorrida pelo elitismo cultural.
Opunk surgiu por volta de 1974 nos Estados Unidos, quando os frequentadores do clube de música "Country Bluegrass and Blues" -CBGB (emNova Iorque) e underground local formaram, ou apoiaram, bandas contra o entãoprog rock ehippie (uma das referências é a bandaRamones) cultivado a filosofia da individualidade e a independência.[2]
Ou seja, uma manifestação cultural juvenil semelhante aos das década de 1950 e 1960, caracterizado por um estilo baseado em música, moda e comportamento. Um revivalismo da culturarock and roll com as seguintes características:
Músicas curtas, dançantes e do estilorocker/greaser;
culto à juventude, com uso de jaquetas de couro estilo motociclista, camiseta branca e calçajeans;
Diversão e rebeldia.
Há controvérsias sobre o movimento ter surgido nos Estados Unidos. A cena novaiorquina de 1975 se enquadrou mais ao gêneroNew Wave e ao que, mais tarde, veio ser chamado deproto-punk. Com exceção dos Ramones, as bandas comoBlondie,Talking Heads eTelevesion estavam distantes da estética sonora e das letras que caracterizam o Punk Rock.
Enquanto orock and roll tradicional ainda criava estrelas dorock que distanciavam o público do músico, opunk rock rompeu este distanciamento trazendo o princípio da música supersimplificada (pouco mais que trêsacordes, facilmente tocados por qualquer pessoa sem formação mínima musical) e instigando naturalmente outros adolescentes a criarem suas próprias bandas. Opunk rock chega à Inglaterra e influencia uma série de jovens pouco menos de um ano depois.
Extremamente empolgado pela apresentação dos Ramones, Mark Perry abandona seu emprego e produz o primeirofanzinepunk, oSniffin' Glue ("cheirando cola"), com a intenção de promover esta nova agitação cultural. O fanzine foi o símbolo marco para o "Do it yourself" (faça-você-mesmo)punk, não tinha quase nenhum recurso financeiro e era marcado pelo estilo visual deliberadamente grosseiro e com senso de humor ácido.
Embora com origem estadunidense, os ideaispunk foram apenas estabelecidos ao chegar naInglaterra na década de 1970,[3] com o princípio de "qualquer um pode montar uma banda" e o espírito renovador dopunk rock se mesclaram a uma situação de tédio cultural e decadência social. Ganhado um teor político devido à realidade de desemprego e decadência econômica da sociedade na época, desencadeando opunk propriamente dito.
Além de ridicularizar clássicos dorock and roll, as músicas da banda costumavam demonstrar um profundo pessimismo e niilismo, agredindo diretamente diversos elementos da cultura vigente, sempre em tom sarcástico e agressivo. Logo chamam a atenção de entusiastas que começam a acompanhar os shows produzindo eles próprios de forma caseira estilos de roupas e acessórios, em geral rearranjos de roupas tradicionais como ternos, camisas e vestidos, com itens sadomasoquistas, pregos, pinos, rasgos e retalhos.
Essas características —sarcasmo, interesse pelo grosseiro e o ofensivo, valorização do faça-você-mesmo, reutilização de roupas e símbolos de conhecimento geral em um novo contexto bizarro, crítica social, desprezo pelas ideologias, sejam políticas ou morais, e pessimismo — somadas ao estilo empolgante e direto dopunk rock, definiram a primeira encarnação do que hoje entendemos como subculturapunk.
A partir de1977, esta posturapunk se tornou um fenômeno impactante na maior parte do mundo e pouco a pouco foi se transformando e ramificando em subgêneros.
O movimentopunk se estabeleceu em diversas regiões do país em momentos diferentes do final década de 1970 e no decorrer de 1980. Porém foi na cidade de São Paulo, precisamente no bairro da Vila Carolina, onde desde o início da década de 1970, já se formava uma cenapré-punk influenciada por bandas de protesto estadunidenses e inglesas, comoMC5,The Stooges eDust. Assim em 1978, surge a primeira bandapunk brasileiraRestos de Nada, criada pelo guitarristaDouglas Viscaino como uma forma de protestar contra a repressão do governo militar e, mostrar que a juventude lutava por uma sociedade melhor. Conscientizar a população através das músicas com letras libertárias a lutarem contra a forma de sistema imposta pela ditadura. Inspiradas nesse ideal, muitas outras bandas se formaram para também criticar o regime, tais quais como:AI-5,Detrito Federal,Condutores de Cadáver,Cólera,Aborto Elétrico.
Assim, no Brasil opunk teve uma forma mais combativa que no exterior, com o regime ditatorial militar da época, baseado na opressão e o autoritarismo, que foram de encontro os ideais de liberdade.[3] Mas, esta cultura espalhou-se aos poucos pelo território brasileiro, devido o mercado musical não ter interesse na nova forma transgressora de música, somada a censura na mídia. Como alternativa, os festivais de música punk serviram para espalhar os ideais da cultura.[3]
Por volta de 1977, o estilo punk-rock chegou em Brasília, através de filhos de políticos e embaixadores que trouxeram do exterior álbuns das bandas que estavam nas paradas inglesas da época.
A partir do fim da década de 1970, o conceito de "culturapunk" adquiriu novo sentido com a expressãomovimentopunk, que passou a ser usada para definir sua transformação emtribo urbana, substituindo uma concepção abrangente e pouco definida da atitude individual e fundamentalmente cultural pelo conceito demovimento social propriamente dito: a aceitação pelo indivíduo de umaideologia, comportamento e postura supostos comum a todos membros do movimentopunk ou da ramificação/submovimento a que ele pertence. O movimentopunk é uma forma mais ou menos organizada e unificada, com o intuito de alcançar objetivos — seja a revolução política, almejada de forma diferente pelos vários subgrupos do movimento, seja a preservação e resistência datradiçãopunk, como forma cultural deliberadamente marginal e alternativa à cultura tradicional vigente na sociedade ou como manifestação de segregação e autoafirmação por gangues de rua. A culturapunk, segundo esta definição, pode então ser entendida como costumes, tradições e ideologias de uma organização ou grupo social.
Apesar de, atualmente, o conceito "movimentopunk" ser a interpretação mais popular de "culturapunk", nem todos indivíduos ligados a esta cultura são membros de um grupo ou movimento. Um grande número depunks definem o termo "punk" como uma manifestação fundamentalmente cultural e ideologicamente independente, cujo aspecto revolucionário se baseia nasubversão não coerciva dos costumes do dia a dia sem, no entanto, se apegar a um objetivo preciso ou a um desejo de aceitação por um grupo de pessoas, representando uma postura distinta do caráter politicamente organizado e definido do movimentopunk e de seu respectivo interesse na preservação da tradiçãopunk em sua forma original ou considerada adequada.
Esta diferença de postura entre omovimentopunk e outros adeptos da cultura é responsável por constantes conflitos e discussões, violentos ou não, que ocorrem em encontros destes indivíduos em ruas e festivais, ou através de meios de comunicação alternativos como revistas, fanzines e fóruns.
Amoda é, junto à música, o aspecto cultural mais característico e evidente dopunk. O termomoda, no entanto, não é bem aceito pela maioria dospunks e influenciados pela subculturapunk pois é entendido estritamente comomodismo, aceitação social, comércio e/ou mera aparência. Costuma-se empregar o termo "estilo", com o significado de "roupa como afirmação pessoal" (apesar de este também ser um dos significados da palavra "moda"), ou mais comumente ainda o termo "visual", utilizado em quase toda a subcultura alternativa brasileira, não somente no meiopunk.
O estilopunk pode ser reconhecido pela combinação de alguns elementos considerados típicos (alfinetes,patches, lenços à mostra no bolso traseiro da calça, calçasjeans rasgadas, calças pretas justas, jaquetas de couro com rebites e mensagens inscritas nas costas, coturnos,piercings, tênisconverse, correntes, corte de cabelomoicano (colorido ou espetado etc.) ouspike (espetado dos lados, atrás e em cima) e, em alguns casos, lápis ou sombra no olho, sendo esta combinação aleatória ou de acordo com combinações comuns à certos subgênerospunk. Ou, ainda, o reconhecimento pode ser pelo uso de uma aparência que seja desleixada, "artesanalmente" adaptada e que carregue alguma sugestão ou similaridade com opunk sem necessariamente utilizar os itens tradicionais do estilo.
A modapunk, em sua maioria, é deliberadamente contrastante com a moda vigente e por vezes apresenta elementos contestadores ou ofensivos aos valores aceitos socialmente — no entanto, um número considerável depunks e alguns subgêneros apresentam uma aparência menos chamativa (por exemplo, o estilo tradicionalhardcore). Há, também, indivíduos intimamente ligados a esta subcultura que não têm interesse algum ou deliberadamente se recusam a desenvolver uma aparênciapunk, em geral motivados pelas diversas críticas que a modapunk recebeu durante sua história (veja o artigo principal:modapunk).
As variações dos elementos das roupaspunk e o surgimento de ramificações de estilo estão associados, na maioria dos casos, ao surgimento de novos sub-gêneros musicais, influências ideológicas e de elementos de outras culturas que em determinados momentos dividiam mesmo espaço com opunk. A ideia popularmente difundida e equivocada de que todos os elementos do estereótipopunk foram "planejados" cuidadosamente como simbolismo da ideologialibertária/anarquista —por exemplo o coturno, originalmente trazido a cultura punk por influência da culturaskinhead, que é comumente e erroneamente justificado como símbolo de repúdio aoExército — é com frequência aceita entre novos punks que acabam desta forma propagando e consequentemente agregando pouco-a-pouco um sentido simbólico que não existia anteriormente à moda punk.
Enquanto o estilopunk desligado de um movimento costuma utilizar com liberdade os elementos, combinando peças intuitivamente e utilizando outros itens que não fazem parte do estilo clássico, os membros dos diversos grupos do movimento punk consideram fundamental algumas combinações tradicionais de elementos, uma vez que elas identificam o grupo (e consequentemente a ideologia) específico que o indivíduo pertence.
Em diversos países, incluindo oBrasil, a roupa é, na maioria das vezes, o elemento que desencadeia as brigas de rua entre gangues, membros de grupos divergentes do movimentopunk e outros movimentos que repudiam opunk. A combinação arbitrária de elementos costuma não ser bem vista porpunks de gangues e subgrupos do movimento pois é interpretada como uma demonstração de ignorância sobre os costumes, a aparência e as ideologiaspunk ou fruto de uma tentativa da cultura vigente se apropriar desse estilo. Este desentendimento pode culminar no desprezo, ridicularização ou hostilidade para com o indivíduo ou, nos casos dos grupos violentos, na coerção, furto de peças e agressão.
O primeiro elemento culturalpunk desenvolvido foi a música. A músicapunk desde suas origem até os dias de hoje passou por diversas mudanças e subdivisões, englobando características que vão desde opop rock irônico e politicamente indiferente, ao ruidoso discurso político panfletário, entre outras características. Apesar disso, nos diversos estilos de músicapunk o caráter antissocial e/ou socialmente crítico é bastante recorrente e a ausência destas características é vista por alguns como justificativa para o não reconhecimento de uma banda como sendo do estilopunk. Estilos muito distintos dopunk rock também são desconsiderados com frequência.
O estilopunk rock tradicional caracteriza-se pelo uso de poucos acordes, em geralpower chords,solos breves e simples (ou ausência de solos), música de curta duração e letras rebeldes, sarcásticas que podem ser politizadas ou não, em muitos casos uma manifestação de antipatia à cultura vigente. Estas características não devem ser tomadas como uma definição geral depunk rock, pois bandas e variações bem difundidas do gênero apresentam características muitas vezes antagônicas a estas, como por exemplo as músicas longas e complexas doTelevision (uma banda deprotopunk), o experimentalismo cacofônico doCrass (uma banda mais voltada ao ideologiapunk anarquista), a tendência de sociabilização das bandas dehardcore moderno e o discurso sério de algumas bandas politizadas.
Desde o seu início, a subculturapunk teve ideias apartidárias e a liberdade para acreditar ou não em um Deus oureligião qualquer. Porém, por causa do tempo de existência, seu caráter cosmopolita e amplo, ocorreram distorções de todas as formas, em diversos países, dando ao movimentopunk uma cara parecida mas totalmente particularizada em cada país.
Por se assemelhar em diversos aspectos com oanarquismo (isso posteriormente: a princípio, o movimentopunk era apolítico),punks e anarquistas passaram a colaborar entre si e muitas vezes participando das ações.
Passaram, então, a existir muitospunks que também eram realmente anarquistas, e posteriormente surgiu oanarcopunk, este ganhou um novo rumo com redirecionamento a uma nova militância política, com discursos e ações mais ativas, opondo-se àmídia tradicional, aoEstado, às instituições religiosas e grandes corporações capitalistas.
A músicapunk, desde seu início, foi marcado como um estilo musical de contestação, seja como uma resposta musical ácida e crítica aos rumos que a música rock havia tomado na época com orock progressivo, ou de forma ideológica criticando opiniões preconceituosas de músicos famosos derock no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, como o apoio de algumas bandas depunk rock estreetpunk aorock against racism.
O gosto por certas bandas e gêneros musicais é algumas vezes interpretado como identificação de um indivíduo a uma certa postura ideológica distinta dentro da subculturapunk, como oniilismo, oanarquismo, a cultura de rua, entre outras.
No Brasil, bandas podem ser repudiadas por gruposanarcopunksbrasileiros, como Vírus 27 eGarotos Podres pelas relações desses artistas com a subcultura skinhead e careca, ou como oRatos de Porão por ter o reconhecimento da mídia, enquanto estas mesmas bandas podem ser bem aceitas e favoritas entre outrospunks. Da mesma forma que os outros elementos culturais, o porte de símbolos por certas bandas comumente associadas a determinados grupos ideológicos, muitas vezes desencadeiam a hostilidade e a violência de adeptos de gangues e grupos do movimentopunk com ideologia contrária, fato esse muito comum nos grandes centros urbanos brasileiros.
Em outros países, principalmente em países europeus, atualmente há mais tolerância às diferenças musicais, ideológicas e culturais distintas, como uma forma de se unir tendo as raízes musicais como um elo em comum, contra grupos e indivíduos com posturas ideológicas discriminatórias e opressoras como onazismo e ofascismo.
Alguns punks evitam relações com a mídia tradicional por filosofia, e é bem comum que não seja de conhecimento público o nome de escritores dezines - publicações alternativas,poetas,artistas plásticos, bandas, já que cada componente do seu grupo faz sua própria mídia, através da propaganda, que consiste na publicação de zines, promoção de eventos como palestras,gigs (expressão idiomática inglesa que significa "show" ou "festival", utilizada na cultura alternativa britânica e que foi adotada por alguns punks brasileiros), passeatas, panfletagens e sistemas de boletins-noticiários.
Essa característica do movimentopunk acarreta problemas para os seus integrantes que por algum motivo adquirem espaço na grande mídia, como foi o caso do cantor e atualmente apresentador de programa de televisão, o brasileiroJoão Gordo, vocalista da bandaRatos de Porão e considerado por muitos adeptos do movimentopunk brasileiro como um oportunista.
As divergênciaséticas e comportamentais ou o simples desenvolvimento de certos estilos dentro e em harmonia com opunk criaram ao longo de sua história vários sub-gêneros que vão desde a criação de filosofias de vida à mera formação de umestilo musical e de vestuário particulares.
Referências
↑Dicionário escolar da língua portuguesa/Academia Brasileira de Letras. 2ª edição. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 2008. p. 1 047.
↑Bianchin, Victor (4 de julho de 2018). Mundo Estranho Cultura.«O que foi o movimento punk?». Abril Mídia S. A.Revista Superinteressante. Consultado em 10 de agosto de 2018
↑abcRodrigues, Lucas de Oliveira.«Estilo punk».Brasil Escola. Sociologia. Universo Online. Consultado em 22 de agosto de 2018