Foi diretor da Escola Militar deBerlim nos últimos treze anos de sua vida, período em que escreveuVom Kriege, obra publicada postumamente. Ficou conhecida a frase em que Clausewitz associaguerra epolítica: "A guerra é a continuação da política por outros meios". Especificamente, considerava fundamental que a guerra estivesse sempre submetida à política. Isso porque nenhuma guerra pode ser vencida sem a compreensão precisa dos objetivos e da disponibilidade de meios ou sem o cálculo racional das capacidades e das oportunidades ou, ainda, sem o estabelecimento dos limites éticos ao uso da força - sempre submetida aos objetivos políticos estabelecidos.
É considerado um grande mestre da arte da guerra. Suas lições detática eestratégia vão, entretanto, além dos exercícios militares propriamente ditos, para se constituírem, inclusive, numa profunda reflexãofilosófica acerca da guerra e dapaz. Tal reflexão contém observações éticas que são válidas para a formação militar em todo tempo, mesmo na ocorrência do que, nos nossos dias, veio a se chamar "guerra interna". Para Clausewitz, a destruição física do inimigo deixa de ser ética, quando ele pode ser desarmado em vez de morto.
Convencido da superioridade da defesa e das capacidades defensivas frente ao ataque e às capacidades ofensivas, a argumentação de Clausewitz comumente é sintetizada na noção de que o melhor ataque é uma ótima defesa. Mais precisamente, ele demonstra a superioridade da defesa, enquanto elemento de dissuasão e enquanto tática de combate, pois ela permitiria desde o desgaste do invasor em uma guerra de atrito até a possibilidade de escolha do momento correto para contra-atacar as forças adversárias.
Carl von Clausewitz nasceu em 1780 na cidade deBurg, cerca de 100 quilômetros deBerlim. Seu pai era umtenente da reserva que trabalhava no escritório local de taxação, seu avô paterno eraprofessor deteologia, que por sua vez, era filho de pastores luteranos; o avô materno era agricultor.[1] Após a morte deFrederico, o Grande, com uma reforma na estrutura das forças armadas daPrússia, o oficialato do exército prussiano passou a aceitar plebeus (não-nobres), incluindo as pessoas de origem humilde. Com isto, Karl von Clausewitz e outros dois de seus irmãos foram aceitos comocadetes. Posteriormente receberiam títulos de nobreza por influência do trabalho naburocracia doEstado prussiano.
A primeira experiência militar de Clausewitz foi aos doze anos, na campanha que expulsou os franceses daRenânia, no inverno e primavera de 1793. Depois da recaptura deMogúncia,seu regimento marchou para os montes Vosges, onde travou principalmente, uma guerra de destacamentos, incursões e emboscadas. Quando o exército foi desmobilizado em 1795, Clausewitz retornou à Prússia com algum conhecimento sobre escaramuças e táticas de pequenas unidades, ao contrário da maioria dos oficiais de infantaria, cuja principal, e talvez única, missão em combate era a de manter o correto alinhamento da frente de batalha e a rapidez das salvas de tiros de seus homens.[2]
Clausewitz serviu em uma pequena guarnição até 1801, período em que pode estudarhistória eliteratura, preparando-se para conseguir ingressar na recém-criada escola militar de Berlim, quando tinha 21 anos. Clausewitz foi influenciado peloidealismo germânico, tendo aprofundado seus estudos emFilosofia, estudandodialética e assistindo a aulas delógica eética do professor Johann G. Kiesewetter, um difusor das concepções deImmanuel Kant. Formado com destaque em 1804, foi a seguir designado para servir como ajudante do príncipeAugusto da Prússia. Em 1805, escreveu seu primeiro artigo, refutando as teorias sobre a guerra de Heinrich D. von Bülow. Clausewitz colocava em xeque as noções de batalha e estratégia utilizadas por Bülow, mas também redefinia a relevância política do uso ou ameaça de uso da força.
Derrotado naBatalha de Auerstedt contra as forças muito superiores deNapoleão Bonaparte, em 1806, foi levado para aFrança juntamente com o príncipe Augusto, retornando no outono de 1807. Clausewitz culpava as táticas obsoletas do exército e a falta de envolvimento do governo e da sociedade no conflito, como as principais causas da derrota. O diretor da escola militar deBerlim,Gerhard von Scharnhorst lideraria um processo de reformas que visava não apenas à uma profunda revolução nas estruturas militares, mas também da sociedade e economia do país; acabaria por quebrar o quase monopólio que a nobreza mantinha nos postos de oficiais enquanto humanizava o tratamento e instrução dadas aos praças. Os setores mais conservadores do exército resistiram às reformas por quase 5 anos, quando Clausewitz ganhou fama (entre os conservadores) de ser um "radical potencialmente perigoso".[3]
Clausewitz tornou-se assistente pessoal de Scharnhorst e ajudou a organizar medidas de rearmamento e inovações sociais sensíveis, como a ampliação dameritocracia e a obrigatoriedade de exames competitivos para seleção e promoção dos oficiais. Clausewitz tornava-se professor de estratégia e guerra irregular na nova Escola de Guerra. Em 1810 tornava-se tutor do príncipe regente e nos anos seguintes atuou na comissão encarregada de preparar os novos regulamentos operacionais e táticos do exército. Segundo Paret[4]:"A variedade das tarefas que realizou nesses anos deu a Clausewitz a oportunidade de conhecer os problemas intelectuais, técnicos, organizacionais e políticos da reconstrução de um exército quase a partir do zero."
Vom Kriege; frontispício da edição de 1832
Demitiu-se do cargo que ocupava em protesto no ano de 1811, quandoNapoleão Bonaparte forçava a Prússia a disponibilizar seu território para poderinvadir a Rússia. Em 1812, serviu como coronel russo, ocupando cargos noEstado-Maior deste país e participando da derrota das forças de Napoleão. Em 1813, retornou àPrússia Oriental, onde organizou a formação de uma milícia popular provincial de 20 mil homens. Ainda com uniforme russo, atuou como chefe do Estado-maior de uma pequena força internacional para expulsar os franceses da costa domar Báltico. Readmitido no exército prussiano, chefiou o estado-maior do 3º corpo, durante os100 dias, quando, naBatalha de Wavre, suas tropas impediram que o corpo de Grouchy reforçasse Napoleão emWaterloo.[5]
Foi contra uma nova guerra de vingança contra a França em 1814, pois argumentava que este país não deveria ser enfraquecido além de um certo limite pois era necessário para manter o equilíbrio de poder naEuropa. Em 1816, retomou seus estudos intensivos emhistória eestratégia. Em 1818, com 38 anos, tornou-se major-general e assumiu a diretoria da Escola de Guerra de Berlim.
Em 1819, começou a escrever a obraVom Kriege (em português, "Da Guerra"), completando os primeiros 6 livros de 8, bem como o rascunho dos livros 7 e 8. Em 1827, iniciou uma revisão da obra, que considerava que aindanão explicitava com suficiente clareza duas constantes que identificara pela primeira vez no início de seus vinte anos e que eram elementos-chave na sua teoria: a natureza política da guerra e os dois tipos básicos que a guerra assume.[6]
Em 1830, teve que abandonar a revisão deVom Kriege', em meio à possibilidade de uma nova guerra europeia e a mobilização do exército, quando foi nomeado Chefe do Estado-Maior.
É possível estabelecer algumas considerações a respeito da contemporaneidade da interpretação do pensamento de Clausewitiz sobre o terrorismo. A primeira, diz respeito a violência primordial, fonte do ódio e da inimizade e puramente emocional, elemento que se encontra presente mais do que nunca no terrorismo, que usa como arma a “comoção social” e o extremismo.
Outra consideração é que o jogo do acaso e da probabilidade, ou seja, a imprevisibilidade, é um elemento onipresente no terrorismo, uma vez que sua tática psicológica é baseada na aleatoriedade dos alvos em questão.
Por último, as organizações terroristas como Al-Qaeda e principalmente o Estado Islâmico, visam a obtenção de propósitos políticos, subordinando a guerra à mesma, no seu sentido mais amplo. Assim, emprega meios irracionais para atingir metas racionais, isto é, instrumentaliza a guerra de forma racional para fins políticos.[7]
FERRIS, J. & HANDEL, Michael I. (1995).Clausewitz, Intelligence, Uncertainty and the Art of Command.Intelligence and National Security, v. 10, n. 1 (January 1995).
MANSILLA, Armando B. (2003).La actualidad del pensamiento de Carl Von Clausewitz.Revista de Estudios Sociales, nº 16, octubre. p. 23-28. CESO, Centro de Estudios Socioculturales e Internacionales.http://publicacionesfaciso.uniandes.edu.co/paginas/res/rev16.pdf
MUHN, Gerhard (1993).La tattica tedesca nella campagna d'Italia, in Linea gotica avamposto dei Balcani, a cura di Amedeo Montemaggi - Edizioni Civitas, Roma1993.
PARET, Peter (2003).Clausewitz. p. 257-283. In: PARET, Peter (org.)Construtores da Estratégia Moderna: de Maquiavel à Era Nuclear. Rio de Janeiro: Bibliex. [cap. 7].
PROENCA JUNIOR, Domício & DUARTE, Érico Esteves (2007).Os estudos estratégicos como base reflexiva da defesa nacional.Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 50, nº 1, p. 29-46.http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v50n1/a02v50n1.pdf
RODRIGUES, Thiago.Guerra e política nas Relações Internacionais. São Paulo: Educ, 2010.