Como foi uma excomunhão mútua, isto é, bilateral, a nomenclatura neutra para este evento éGrande Cisma, apesar de fontescatólicas romanas frequentemente apontarem paraCisma do Oriente. Algumas fontes ocidentais antigas utilizamGrande Cisma para falar doCisma do Ocidente, de tal forma que alguns autores chegaram mesmo a preferir a nomenclaturaCisma Oriente-Ocidente ou simplesmenteCisma de 1054.[3][4]
As relações entre Oriente e Ocidente por muito tempo se amarguravam pelas disputas eclesiásticas e teológicas.[5] Proeminente entre essas estavam as questões sobre a fonte do Espírito Santo ("Filioque"), se deve usar pão fermentado ou não fermentado naeucaristia, as alegações do papa de primazia jurídica e pastoral, e a função de Constantinopla em relação àPentarquia.[6]
O distanciamento entre as duas igrejas cristãs tem formas culturais e políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos.[7] As tensões entre as duas igrejas datam no mínimo da divisão doImpério Romano em oriental e ocidental, e a transferência da capital da cidade deRoma paraConstantinopla, noséculo IV.[8]
Uma diferença crescente de pontos de vista entre as duas igrejas resultou da ocupação doOcidente pelos outros invasoresbárbaros, enquanto o Oriente permaneceu herdeiro do mundo clássico. Enquanto a cultura ocidental foi-se paulatinamente transformando pela influência depovos como osgermanos, o Oriente permaneceu desde sempre ligado à tradição da cristandade helenística. Era a chamada Igreja de tradição e rito grego. Isto foi exacerbado quando ospapas passaram a apoiar oSacro Império Romano-Germânico no oeste, em detrimento doImpério Bizantino no leste, especialmente no tempo deCarlos Magno. Havia também disputas doutrinárias e acordos sobre a natureza da autoridade papal.[8][9]
A Igreja de Constantinopla respeitou a posição deRoma como a capital original do império, mas ressentia-se de algumas exigências jurisdicionais feitas pelos papas, reforçadas no pontificado deLeão IX(1048–1054)[9] e depois no dos seus sucessores. Para além disso, existia a oposição do Ocidente em relação aocesaropapismo bizantino, isto é, a subordinação da Igreja oriental a um chefe secular, como acontecia na Igreja de Constantinopla.
Uma ruptura grave ocorreu de 856 a 867, sob opatriarcaFócio. Sob o pontificado deste, a questão doFilioque tornou-se ponto de discórdia, com a condenação por parte do hierarca de sua inclusão nocredo do cristianismo ocidental e a taxação dela como herética. Desse modo, para o futuro as pendências não seriam apenas de natureza disciplinar e litúrgica, mas também de natureza dogmática, com o que se comprometia de modo quase irremediável a unidade da Igreja.
QuandoMiguel Cerulário se tornou patriarca deConstantinopla, no ano de 1043, deu início a uma campanha contra as Igrejas latinas na cidade de Constantinopla, ordenando o fechamento de todas em 1053, envolvendo-se na discussãoteológica da natureza doEspírito Santo, questão que viria a assumir uma grande importância nos séculos seguintes.[8][10]
Em 1054, olegado papal viajou a Constantinopla a fim de repudiar a Cerulário o título de "Patriarca Ecumênico" e insistir que ele reconheça a alegação de Roma de ser a mãe das Igrejas.[5] O principal propósito do legado papal foi procurar ajuda do Império Bizantino em vista daconquista normanda do sul da Itália, e lidar com recentes ataques porLeão de Ácrida contra o uso de pão não fermentado e outros costumes ocidentais, ataques que tinham apoio de Cerulário. Em face da recusa de Cerulário em aceitar as demandas, o líder do legado,cardealHumberto, excomungou-o, e Cerulário por sua vez excomungou Humberto e os outros legados.[5][11]
Houve várias tentativas de reunificação, principalmente nosconcílios ecumênicos deLyon (1274) eFlorença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras. Estas tentativas acabaram efetivamente com aqueda de Constantinopla em mãos dosotomanos, em 1453, que ocuparam quase todo o antigoImpério Bizantino por muitos séculos.[7] As mútuas excomunhões só foram levantadas em 7 de dezembro de 1965, pelo papaPaulo VI e o patriarcaAtenágoras I, de forma a aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos.[12] Somente recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de tentar recomeçar juntas, apagando o cisma.
Em 12 de fevereiro de 2016 oPapa Francisco tem um encontro histórico com oPatriarca de Moscou,Cirilo I, emCuba. Os dois líderes se reúnem privadamente noaeroporto de Havana por duas horas e apresentam uma declaração conjunta, na presença dopresidenteRaul Castro. Um dos principais motivos para o encontro de reaproximação das igrejas é a violência que ameaça extinguir a presença de cristãos — católicos e ortodoxos — noOriente médio e naÁfrica. Ambas se manifestam contra os ataques extremistas islâmicos e a destruição de monumentos cristãos, especialmente naSíria. Foi o primeiro encontro de um líder daIgreja Ortodoxa Russa com umPapacatólico romano em quase 1000 anos.[13][14]
↑abcdCross, F. L., ed., ed. (2005).The Oxford Dictionary of the Christian Church. Nova Iorque: Oxford University Press.ISBN 0-19-280290-9., article "Great Schism (1)"
↑Martin Lembke, aula no curso "Meetings with the World's Religions", Centre for Theology and Religious Studies, Lund University, Spring Term 2010.