Carlismo designa o grupo formado no estadobrasileiro daBahia em torno inicialmente da liderança deAntônio Carlos Magalhães (1927-2007), que durante quatro décadas foi opolítico mais importante do estado e um dos mais influentes do Brasil.[1][2]
Entre suas características está a defesa de umatecnocracia naadministração pública, apresentada como garantia deeficiência dos governos.[3] Se inicialmente o carlismo caracterizava apenas a liderança de ACM, apoiada noclientelismo e no controle dosmeios de comunicação através docoronelismo eletrônico,[4] mais tarde o termo se tornou uma expressão do grupo político ligado a ele e, numa terceira concepção, um modo de fazer política, aliandomodernização econômica econservadorismo político.[5]
Em seus últimos anos de vida,ACM perdeu parte do seu prestígio político e chegou a ter que rivalizar com o "soutismo", o grupo chefiado pelo governadorPaulo Souto.[6] Com a morte deACM, o carlismo entrou em declínio. Além disso, os carlistas passaram a adotar um discurso mais moderado, até mesmo aproximando-se de rivais históricos, como oPT.[7]
Em 2012, contudo, odeputado federalACM Neto, principal herdeiro político doavô, mostrou a recuperação do grupo ao ser eleitoprefeito deSalvador em segundo turno contra opetistaNelson Pelegrino.[8] A sua gestão foi tão bem aprovada que conseguiu areeleição em 2016 com 73,99% dos votos válidos ainda em primeiro turno.[9] E mesmo após o fim do seu mandato, em 1.º de janeiro de 2021, manteve-se como uma figura muito influente no município, tendo em vista que seu vice,Bruno Reis foi eleito e reeleito prefeito da capital, em2020 e em2024, com apoio deACM Neto.[10][11]
Em2022,ACM Neto foi candidato a governador daBahia, e liderou a maioria das pesquisas no primeiro turno. Porém, a forte campanha do adversárioJerônimo Rodrigues (PT), que contou com o apoio deLula, conseguiu derrotar o ex-prefeito da capital. Apesar da derrota eleitoral, a figura de ACM Neto cresceu muito no estado da Bahia, e mostrou que não perdeu força emSalvador, ao conquistar o voto de mais de 60% dos soteropolitanos.[12] Pesquisas eleitorais de 2025, de pré-campanha, apontaram que o maior representante atual do carlismo era o favorito para vencer adisputa de 2026.[13]
O fenômeno docoronelismo eletrônico implica a intermediação de uma rede de relações entre instâncias locais e nacionais de formaclientelista, na qual ocoronel angaria verbas públicas de publicidade governamental, aproveita da instalação deretransmissoras porPrefeituras Municipais, bem como daaudiência e custos reduzidos com a afiliação à grande rede nacional e oferecendocapilaridade e apoio político (governamental) à mesma. Essa atuação é fruto de sua incapacidade em atender a lógica demercado ecompetir com conteúdo qualificado e/ou distribuiçãoeficaz. Essa precariedade econômica se dá no contexto de serviços ofertados por meio denovas tecnologias da informação e de comunicação e a reciprocidade de favores, nasociedade da informação. Ademais, o coronel não é necessariamente oradiodifusor, mas a figura que consegue atuar nachefia política, nacoerção e arbitragem social; tampouco o coronelismo é idêntico aomandonismo, clientelismo oupatrimonialismo.[14]
Assim, considerando ascomunicações brasileiras marcadas pelo sistema de "coronelismo eletrônico", constitui instrumento exemplificativo desse sistema ogrupo midiático controlado por décadas pela família Magalhães, da qual fazem parte figuras dapolítica baiana.[14][15][16][17] Como exemplo tradutor desse sistema, a emissora é a cabeça de umarede estadual afiliada a umgrande grupo midiático nacional (isto é, TV Globo/Grupo Globo).[14] Por meio da emissora e comoliderança política, o político e empresárioAntônio Carlos Magalhães (ACM) operou sua estratégia de conservar a si e sua família dentro daelite política,dominando espaços dedebate público e controlando oacesso à informação peloeleitorado, como também promovendo imagens positivas de seus integrantes e aliados e ataque aadversários.[14] Por consequência, isso compromete o exercício dacidadania e fragiliza ademocracia.[14][18]
De forma mais específica, durante sua história, houve reclamações diversas de utilização política da TV Bahia e do grupo midiático do qual faz parte para dar visibilidade midiática e força eleitoral.[14][16][19] Em 1993, a TV Bahia se envolveu em novas controvérsias devido à relação familiar de parte de seus acionistas com Antônio Carlos Magalhães. Durante o mandato da prefeita deSalvadorLídice da Mata, opositora a ACM, a emissora foi alvo de críticas por parte da gestão municipal devido à exibição de reportagens sobre os problemas da administração da capital baiana. Segundo as acusações da prefeita, a cobertura dos problemas da cidade estaria sendo feita com o intuito de beneficiar o grupo político do governador naeleição municipal de 1996. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Salvador afirmou que naquele ano, 600 matérias negativas relativas à gestão de Lídice foram exibidas nos telejornais da estação.[20]
Em 2001, TV Bahia se recusou a cobrir aPasseata de 16 de maio e transmitir as imagens àRede Globo, da qual é afiliada. A passeata foi umprotestoestudantil realizado na dentro daUniversidade Federal da Bahia (isto é, área sob jurisdição federal) que demandava acassação do então senador ACM e foi alvo de violência pelaPolícia Militar da Bahia (órgão estadual).[15] Esse episódio de recusa foi informado durante o telejornalJornal Nacional, da Globo, e, então, circularam na imprensa informações de que o canal perderia sua afiliação com a rede carioca devido a uma suposta desestabilização na relação entre os grupos.[21] A movimentação, no entanto, foi negada pela Globo, que ratificou ter boa relação com a Rede Bahia[22] e renovou o contrato com o grupo baiano em 21 de junho.[23]
Durante aseleições municipais de 2012, em 21 de julho, foi anunciado que o então candidato a prefeito de Salvador,Nelson Pelegrino, entraria com uma ação contra aTV Bahia, acusando-a de beneficiar o também candidato da época, ACM Neto, em reportagem que falava a respeito do quinto aniversário de morte do senador Antônio Carlos Magalhães, exibida na edição do dia anterior do telejornalBahia Meio Dia, pelo fato do mesmo ter sido entrevistado e participado da matéria.[24] Em 3 de agosto, no entanto, aJustiça Eleitoral julgou a acusação como improcedente. Segundo a juíza da 18.ª Zona Eleitoral, Ângela Bacellar Batista, não ocorreu quebra de isonomia, já que o então candidatoMário Kertész, que disputava o mesmo cargo eletivo, também foi entrevistado e participou da reportagem.[25]
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