Caminho de Ferro do Monte | |
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Subida para o Monte, após a Estação do Pombal | |
Informações principais | |
Área de operação | Ilha da Madeira![]() |
Tempo de operação | 1893–1943 |
Operadora | Companhia do Caminho de Ferro do Monte |
Frota | 5 locomotivas |
Sede | Funchal |
Especificações da ferrovia | |
Extensão | 3,911 m |
Bitola | bitola métrica 1 000 mm (3,28 ft) |
Caminho de Ferro do Monte | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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OCaminho de Ferro do Monte (vulgarmente conhecido comoComboio do Monte ouElevador do Monte) foi uma ferrovia de via única emcremalheira que ligava o Pombal, noFunchal, aoTerreiro da Luta, noMonte (Madeira,Portugal), numa extensão de 3,911 m. Os primeiros lanços deste caminho de ferro entraram ao serviço em 1893 e 1894[1], mas a linha só foi concluída em 1912.[2]
Em finais do Século XIX, o Monte era uma das zonas mais procuradas por turistas e doentes na Ilha da Madeira, sendo nessa altura conhecida como aSintra Madeirense.[3] Com efeito, o Monte tinha sido o local de eleição das famílias mais abastadas do Funchal para a construção das suas quintas.[3]
Os estudos para oCaminho de Ferro do Monte foram feitos em 1886, pelo engenheiroRaul Mesnier Ponsard, que procurou criar um plano para depois ser usado na construção da linha.[4] Mesnier já se tinha celebrado pela construção doElevador do Bom Jesus, em Braga, tendo no entanto manifestado as suas dúvidas em relação ao planeado funicular do Monte.[3]
A ideia para a construção de um elevador ou caminho de ferro de cremalheira partiu de António Joaquim Marques, que obteve o consentimento daCâmara Municipal doFunchal na sessão de 17 de Fevereiro de 1887.[4][5][6] Outro dos principais promotores deste caminho de ferro foi o comendador Manuel Gonçalves.[7]
No entanto, surgiram algumas dificuldades imprevistas, e em 24 de Julho de 1890 a autarquia do Funchal autorizou a transferência da concessão para o capitão Manuel Alexandre de Sousa.[4] Vencidas as dificuldades em reunir o capital,[6] foi assinado o contrato com o concessionário, formando a Companhia do Caminho-de-Ferro do Monte.[4] Este documento estabelecia que o município seria responsável pela expropriação dos terrenos necessários para a construção do caminho de ferro, embora as despesas fossem asseguradas pela empresa.[4] A empresa teria a posse da estrada durante nove anos, findos os quais passaria para a posse pública.[4] Em 22 de Janeiro de 1891, a câmara aprovou o projecto para o elevador.[4]
As obras iniciaram-se a 13 de Agosto de 1891.[8] Os primeiros trabalhos foram no sítio da Confeiteira, onde foi necessária a construção de grandes muralhas.[4] Em 1893, o material circulante para o Caminho de Ferro do Monte chegou ao Funchal na embarcação dinamarquesaConcordia, vindo da Bélgica.[3] O primeiro troço, entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia, foi inaugurado a 16 de Julho de 1893,[5][6] com a presença do governador civil, do bispo e de outras entidades da Madeira.[3] O comboio inaugural era formado por uma locomotiva e por uma carruagem.[3] Poucos dias depois iniciaram-se os serviços regulares, tendo o primeiro comboio saído da estação do Pombal por volta das 4 horas da manhã.[3] O percurso entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia era feito normalmente em cinco minutos, e o preço dos bilhetes era de oitenta réis.[3]
As obras foram inicialmente dirigidas por Manuel Alexandre de Sousa, que também ocupou a posição de fiscal técnico da companhia, mas em 29 de Agosto de 1893 foi dispensado, passando os trabalhos a serem supervisionados pelos engenheiros civis Aníbal e Adriano Trigo, que tiveram de corrigir os vários erros cometidos pelo seu antecessor.[4]
Em 5 de Agosto de 1894, o comboio chega ao lugar de Atalhinho, na freguesia do Monte, situado a 577 m de altitude.[2] É nesta fase que entra em funcionamento alocomotiva a vapor, importada daAlemanha.[5] A inauguração da linha até ao Atalhinho foi celebrada com grandes festejos na freguesia do Monte.[4]
O relatório e contas da empresa relativo a 1894 refere que as obras até ao Atalhinho custaram 44.899$67,9 réis, uma quantia importante para a época, dos quais 2.229$210 tinham sido empregues no rebaixamento de uma parte da estrada, que tinha uma inclinação superior ao que as locomotivas podiam vencer.[4]
Em 16 de Setembro de 1903, aGazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que algumas das locomotivas se encontravam em mau estado de funcionamento, motivo pelo qual foi ordenado à empresa que tomasse todas as medidas necessárias para garantir a segurança do público.[9] Nesta altura, a companhia possuía três locomotivas, das quais apenas uma era nova, enquanto que as outras já tinha sido reparadas.[9] A Gazeta reportou igualmente que se estava a discutir a formação de uma associação, para adquirir o Caminho de Ferro do Monte.[9]
A 12 de Julho de 1910, a Companhia do Caminho-de-Ferro do Monte, em assembleia geral, decidiu prolongar o comboio até ao Terreiro da Luta.[2] A pretensão foi aprovada pelaCâmara Municipal do Funchal em 4 de Agosto desse ano.[2]
A construção do Caminho de Ferro do Monte e de outras grandes obras de modificação na cidade despertou um grande interesse por parte dos maiores comerciantes britânicos no Funchal, interesse esse que começou a desaparecer a partir da Década de 1910.[10]
A 24 de Julho de 1912 o comboio chega finalmente ao Terreiro da Luta, a 850 m de altitude,[2] ficando, no total, com uma extensão de 3.911 m[2] e as seguintes paragens:[8] Pombal, Levada de Santa Luzia, Livramento, Quinta Sant’Ana (Sant’Ana), Flamengo, Confeitaria, Atalhinho (Monte), Largo da Fonte, e Terreiro da Luta. Na mesma data, inaugura-se na estação do Tereiro da Luta oChalet Restaurant-Esplanade, um restaurante panorâmico que era explorado pela própria Companhia do Caminho-de-Ferro do Monte, com capacidade para 400 clientes e considerado a par com o melhor nível internacional.[2][5]
Durante as obras, a companhia do caminho de ferro lutou contra grandes dificuldades financeiras, tendo sido necessário recorrer ao crédito por duas vezes, e durante muito tempo não conseguiu distribuir o dividendo aos accionistas.[4]
A situação da empresa conseguiu estabilizar durante algum tempo após a inauguração da linha, apesar dos elevados preços do carvão de pedra e daPrimeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918,[4] que fez reduzir o número de turistas na Madeira, levando a uma redução dos preços.[3]
Em 4 de Março de 1915, a câmara do Funchal recebeu um ofício do arquitectoVentura Terra, onde dizia que tinha terminado o Plano Geral de Melhoramentos para a cidade, onde tinha introduzido várias modificações, incluindo a cobertura daRibeira de Santa Luzia.[11] Ao longo da ribeira deveriam ser construídos largos passeios laterais, desde a avenida marginal até um largo ou rotunda que seria construído perto da estação do caminho de ferro.[11] Desta forma, os turistas iriam ser canalizados desde a zona baixa da cidade até à estação do Pombal, utilizando depois o comboio até ao Monte, onde já tinham sido construídos dois hotéis.[11]
A Companhia do Caminho de Ferro do Monte possuía igualmente a Quinta do Belo Monte, onde foi instalado um hotel que teve uma grande procura desde o princípio do Século até à década de 1940, e que foi posteriormente convertida num externato da congregação do Coração de Jesus.[12]
Entre as Estações | Extensão | Inauguração |
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Pombal - Levada de Santa Luzia | 1000 m | 16 de Julho de 1893[5] |
Levada de Santa Luzia - Atalhinho (Monte) | 1500 m | 05 de Agosto de 1894 |
Atalhinho (Monte) - Terreiro da Luta | 1411 m | 24 de Julho de 1912 |
Apesar da melhoria da situação financeira do Caminho de Ferro do Monte, não conseguiu reunir capitais suficientes para substituir o seu material circulante, que já estava a mostrar graves sinais de desgaste.[7] Esta situação levou ao acidente[7] de 10 de Setembro de 1919, quando se deu uma explosão na caldeira de uma locomotiva, quando o comboio subia em direcção ao Monte. Deste acidente resultaram quatro mortos e vários feridos,[3] entre os 56 passageiros a bordo.[5] Devido a este desastre, as viagens foram suspensas até 1 de Fevereiro de 1920. A 11 de Janeiro de 1932, aconteceu novo desastre, desta vez por descarrilamento. A partir de então, turistas e habitantes viraram as costas ao caminho de ferro, considerando-o demasiado perigoso. Aliando este facto àII Guerra Mundial, que se iniciou entretanto, verificou-se uma falta de turistas naMadeira e a companhia do caminho de ferro entrou em crise.[5] Outro factor que contribuiu para o declínio do caminho de ferro foi a construção de estradas de turismo, que desenvolveu o transporte rodoviário.[4]
Devido às condições financeiras da empresa e ao mau estado do material circulante, não foi possível manter o caminho de ferro em funcionamento.[7] Assim, em Abril de 1943 deu-se a última viagem do comboio[5], tendo a linha sido logo desmantelada,[6] e o material vendido como sucata.[3] Apesar das condições precárias em que operou nos últimos anos, este caminho de ferro ainda atraía alguns passageiros, especialmente os habitantes locais, que após o seu encerramento ficaram sem meios de transporte.[7]
Em 16 de Novembro de 1948, a Gazeta dos Caminhos de Ferro transcreveu uma notícia do jornalEco do Funchal, onde se reportou que tinha sido vendido o Caminho de Ferro do Monte.[7] O material foi vendido a um preço quase irrisório, segundo a opinião da altura, enquanto que as antigas instalações foram deixadas ao abandono.[7] Parte do material resultante do desmantelamento, nomeadamente os carris, foi para a sucata e parte foi utilizado na reparação doElevador do Bom Jesus, emBraga.[6]
OCaminho de Ferro do Monte era uma via férrea de cremalheira, no sistemaRiggenbach.[9] Desenvolvia-se em via única de bitola métrica, excepto nas estações do Livramento e do Monte, onde havia um desvio para permitir o cruzamento de comboios.[2] As composições eram formadas por uma única carruagem, que era empurrada (no sentido ascendente) ou sustida (no descendente) pela locomotiva; o peso da carruagem mantinha-a em contacto com a locomotiva, pelo que não havia necessidade de atrelagem.[8] A carruagem tinha espaço para sessenta pessoas, dividido por cinco compartimentos.[3] Na Rua do Pombal situava-se a estação principal e os escritórios da companhia.[2] A linha tinha um comprimento total de cerca de 3850 m, dos quais 2500 m eram entre o Pombal e o Monte.[4]
Este caminho de ferro foi construído essencialmente para transportar os turistas desde a cidade do Funchal até à zona do Monte, embora tenha sido igualmente utilizado pelas populações locais, especialmente os habitantes da cidade, nas suas deslocações diárias.[7] No seu auge, o Caminho de Ferro do Monte constituiu uma importante mais-valia como parte da indústria turística da ilha.[4]
A companhia possuía cinco locomotivas (quatro construídas pelaMaschinen-Fabrick Esslingen[2] e uma pelaSLM Winterthur[2]) e cinco carruagens de passageiros (com capacidade para 60 pessoas[2]). Existia ainda um vagão plataforma para transporte de bagagem.
Em outubro de 2003 aCâmara Municipal doFunchal lançou um concurso público internacional para a reconstrução doCaminho de Ferro do Monte — uma «mais valia patrimonial», de acordo com o presidente da edilidade.[5] O caderno de encargos, que consignava com um direito de exploração de 50 anos, pressupunha um troço emfunicular entre o Largo do Monte e o Terreiro da Luta, e uma ligação por «comboio de animação turística daí até ao largo das Babosas (local de chegada doTeleférico do Monte), bem como a recuperação, com materiais da época, de edifícios de apoio.[5]
Posteriormente, existiu um projecto para a recuperação e reactivação deste serviço, num empreendimento conjunto daCâmara Municipal doFunchal e da empresaTeleféricos da Madeira.[13] O projecto contemplava a construção de um caminho de ferro do tipofunicular entre as antigas estações do Terreiro da Luta e do Monte, seguindo o antigo traçado da linha.[13] Não se prevê, no entanto, a reconstrução do serviço até ao centro do Funchal. Este projecto está suspenso por dificuldades de financiamento face à conjectura económica actual, não se prevendo uma data para a sua concretização.[13]