Anastácio I (emlatim:Flavius Anastasius Augustus, emgrego:Ἀναστάσιος;romaniz.:Anastásios) foiImperador Romano oriental de 491 até à sua morte em 518. Durante o seu reinado, a fronteira oriental romana foi extensivamente refortificada, incluindo a construção deDara, uma fortaleza construída especialmente para se contrapor à fortalezasassânida deNísibis. Foi também sob seu comando que se construiu uma das mais fortificadas cidades medievais noAdriático, oCastelo de Dirráquio.
Anastácio nasceu na cidade deDirráquio em data desconhecida, mas acredita-se que não tenha sido depois de 430 ou 431, numa famíliailíria,[1] filho de Pompeu (n.c. 370), nobre local, e sua esposa Anastácia Constantina (n.ca. 410). Sua mãe eraariana, irmã de Clearco, também ariano, e neta por parte de pai de Galo (n.ca. 370), filho de Anastácia (n.ca. 352) e seu marido. Esta, por sua vez, era filha de Flávio CláudioConstâncio Galo (césar 351-354) com a esposa-primaConstantina (filha deConstantino).[2]
Anastácio tinha um olho negro e outro azul (heterocromia)[3] e, por isso, ganhou aalcunha deDicorus (emgrego:Δίκορος -"duas-pupilas").
Com a morte deZenão, Anastácio, um oficial do palácio (silenciário), tido em grande estima, foi alçado ao trono doImpério Romano do Oriente porAriadne, viúva de Zenão, que o escolheu em detrimento do irmão do falecido,Longino.
Ariadne se casou com Anastácio logo após sua ascensão em 20 de maio de 491. Seu reinado, apesar de posteriormente ter sido perturbado por guerras internas e externas, além de conflitos religiosos, começou auspiciosamente. Ele conseguiu o apoio popular através de uma cautelosa redução de impostos e demonstrou um grande vigor e energia na administração dos assuntos imperiais.
A primeira, que durou de 492 até 497, foi provocada pelos aliados deLongino, o irmão do imperador Zenão que fora candidato à sucessão juntamente com Anastácio. Abatalha de Cotieu, em 492, "quebrou a espinha" da revolta, mas umaguerra de guerrilha continuou nosmontes isauros por vários anos.
Naguerra contra a Pérsia (502-505),Teodosiópolis eAmida foram capturadas pelo inimigo, mas as províncias persas também sofreram muito, terminando com a recuperação pelos bizantinos de Amida. Ambos os adversários estavam exaustos quando se firmou a paz em 506 com base nostatus quo. Anastácio posteriormente construiu a fortaleza deDara para manter emxeque os persas emNísibis. As provínciasbalcânicas, porém, foram deixadas sem tropas e acabaram devastadas por invasões deeslavos ebúlgaros. Para protegerConstantinopla e suas redondezas contra eles, o imperador construiu aMuralha de Anastácio, que se estendia de Propôntida (mar de Mármara) até o Ponto Euxino (omar Negro).
O imperador era um ferrenhomiafisista, seguindo os ensinamentos deCirilo de Alexandria eSevero de Antioquia, que ensinavam umacristologia de "uma natureza encarnada de Cristo" numa união sem divisões das naturezas humana e divina, ao contrário do pregava oConcílio de Calcedônia e opapa. Porém, sua política eclesiástica era moderada e ele procurou manter o princípio por trás doHenótico de Zenão e a paz da igreja. Foram as demonstrações revoltosas da população bizantina que o levaram, em 512, a abandonar essa política e adotar diretamente um programa miafisista. Sua consequente impopularidade nas províncias europeias foi utilizada por um general de fécalcedoniana,Vitaliano, para organizar uma perigosa revolta, na qual ele foi auxiliado por umahorda dehunos (514-515). Ele foi finalmente derrotado numa vitória naval em Constantinopla liderada porMarino.
OAnônimo Valesiano traz um relato sobre a sua escolha de sucessor: Anastácio não conseguia se decidir sobre qual de seus três sobrinhos deveria sucedê-lo e, por isso, colocou uma mensagem sob um sofá e fez com que eles tomassem seus lugares na sala, que continha mais dois sofás idênticos. Ele acreditava que o sobrinho que se sentasse no sofá "especial" seria o herdeiro apropriado. Porém, dois deles se sentaram no mesmo sofá e o especial ficou vazio.
Então, depois de colocar o assunto nas mãos de Deus numa oração, ele determinou que a primeira pessoa a entrar no seu quarto na manhã seguinte seria o próximo imperador. Esta pessoa foiJustino, o chefe de sua guarda. Na realidade, Anastácio provavelmente jamais pensou nele como sucessor, mas o assunto foi decidido em seu nome após sua morte. No final de seu reinado, ele deixou o tesouro imperial 23 000 000 soldos (ou 160 000 quilos de ouro) mais rico.[4]
Anastácio morreu sem filhos em Constantinopla em 9 de julho de 518 e foi enterrado naIgreja dos Santos Apóstolos.
Anastácio morreu sem deixar herdeiros, mas tinha diversos parentes conhecidos. Seu irmão,Flávio Paulo, havia servido comocônsul em 496.[5] Uma cunhada, conhecida como Magna, era mãe de Irene e sogra de Olíbrio que, por sua vez, era o filho deAnícia Juliana eAreobindo.[6] A filha de Olíbrio e Irene era Proba, que se casara com Probo e era mãe de uma outra Juliana, mais jovem. Esta Juliana se casou com outro Anastácio e era mãe de Areobindo, Placídia e uma outra Proba, mais jovem.[7] Outro sobrinho de Anastácio eraFlávio Probo, cônsul em 502.[8] Cesária, irmã de Anastácio, se casou com Secúndio e eles era pais deHipácio ePompeu.[8]Anastásio Paulo Probo Mosquiano Probo Magno, cônsul romano em 518 era também um sobrinho-neto de Anastácio e sua filha, Juliana, se casou comMarcelo, um irmão deJustino II.[7] A família estendida de Anastácia também deve ter incluído algum candidato viável para o trono.[9]
↑Settipani, Christian, Continuite Gentilice et Continuite Familiale Dans Les Familles Senatoriales Romaines, A L'Epoque Imperiale, Mythe et Realite. Linacre, UK: Prosopographica et Genealogica, 2000. ILL. NYPL ASY (Rome) 03-983
↑Hugh Elton.«Anastasius (AD 491–518)».Florida International University – An Online Encyclopedia of Roman Emperors (em inglês). Roman-emperors.org
↑P. Brown, The world of late antiquity, W.W. Norton and Co. 1971 (p 147)